quarta-feira, 8 de março de 2017

Dilma Rousseff e as Mulheres de Tejucupapo, por Armando Coelho Neto

Dilma Rousseff e as Mulheres de Tejucupapo, por Armando Coelho Neto

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por Armando Coelho Neto
 
Neste Dia Internacional da Mulher fica em aberto um convite ao leitor para comemorar a data com a ousadia feminina. A referência é a legítima Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, cuja garra encontra parâmetro em outras díspares guerreiras. Nesse GGN a Coração Valente já teve seu nome associado à Joana Darc, a colombiana Policarpa Salavarrieta Ríos (La Pola) e à destemida Bárbara Alencar. Hoje, o resgate das Mulheres de Tejucupapo é uma reverência à Dilma e as brasileiras que de forma aguerrida abraçaram a luta como profissão de fé.
 
Aconteceu em Pernambuco, em 24 de abril de 1646, ano em que os holandeses já haviam praticamente perdido o domínio que, durante algum tempo, mantiveram sobre quase todo Pernambucano.
 
Era um domingo, dia em que os homens do vilarejo costumavam ir ao Recife, a cavalo, para vender, nas feiras da capital, os produtos da pesca. A presunção dos holandeses era que, estando os varões fora da cidade, o lugarejo estaria desprotegido.
 
Alojados no forte Orange, na Ilha de Itamaracá, sob o comandado do almirante Lichthant, saíram pelo mar e tentaram ocupar o pequeno distrito que, segundo pesquisadores, possuía apenas uma rua larga, “quase uma praça, ladeada por casas simples, destacando-se ao final dela a Igreja de São Lourenço de Tejucupapo, de arquitetura jesuítica”.
 
O episódio está incorporado ao imaginário dos pernambucanos e ficou conhecido como a Batalha de Tejucupapo que, liderada por Maria Camarão, teria se tornado o primeiro combate com participação feminina, registrado em território nacional. As outras mulheres seriam Maria Quitéria, Maria Clara e uma tal Joaquina, cujo sobrenome as fontes convencionais históricas não registram.
 
Segundo consta, Maria Camarão havia constatado a superioridade bélica dos holandeses, que somavam 600 soldados alojados no forte Orange. Diante disso, com um crucifixo em punho, saiu percorrendo o vilarejo convocando as mulheres a pegar em armas e ajudarem os homens na luta contra as tropas inimigas. Munidas de paus e pedras, tiveram a ideia de usar água fervente com pimenta.
 
Sobre a bravura daquelas mulheres, aliadas às outras, cabe registrar que “a atitude não teria sido exatamente política ou religiosa. As tejucupapenses não estariam defendendo a permanência portuguesa no Brasil. Como também não brigaram contra a expansão holandesa na América. Elas estariam simplesmente defendendo sua vila, suas vidas e seus filhos dos invasores. Principalmente porque não contavam com a presença dos homens da comunidade”, registra o site Mania de História.
 
Os poucos homens que ficaram em Tejucupapo enfrentaram os invasores à bala, enquanto as mulheres escondidas em trincheiras, que elas mesmos cavaram, atacavam com o que jamais esperariam os soldados holandeses: os olhos dos inimigos e o fator surpresa. Segundo consta, 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo, sobretudo flamengos. Era o começo do fim da já então combalida dominação holandesa no Brasil.
 
O avanço dos debates sobre as questões femininas intensificaram buscas sobre as Mulheres de Tejucupapo. Em 2002, foi criada uma medalha denominada Heroínas de Tejucupapo, uma condecoração destinada a enaltecer mulheres que se destacaram nas áreas de ciências jurídicas, medicina, ensino, segurança, entre outras profissões, no estado de Pernambuco.
 
O resgate histórico compreende uma peça anual encenada ao ar livre pelo Clube de Mães da Vila de Tejucupapo (Goiânia/PE), em comemoração ao aniversário da vitória daquelas mulheres. A peça já foi transformada num curta dirigido por Marcílio Brandão, com roteiro dele em companhia de Cláudio Bezerra.
 
Na cidade de Olinda/PE, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (2015), foi inaugurado um espaço cultural que passará a abrigar múltiplas contribuições no campo das artes e da dinâmica social. No campo da música, o cantor e compositor pernambucano, Maciel Salu, transformou o assunto numa canção, cuja letra enaltece a bravura das Mulheres de Tejucupapo. A peça musical tem um precioso arranjo instrumental de rabeca. Noutras áreas, as famosas heroínas viraram objeto de teses, dissertações e até nome de conjunto habitacional.
 
Resgatar as Mulheres de Tejucupapo na data de hoje é uma forma de dignificar a garra feminina. Mais que isso, é a constatação de que suas memórias estão bem representadas e dignificadas na verve da Presidenta Dilma Rousseff, que quando ela voltar - porque é certo que volta, o fará perfumada e de alma lavada. O coração valente e pulsante trilhará triunfal sobre o escombro da maldade. Dilma Rousseff voltará à cena com sua própria garra, ainda que não se possa prevê se subindo a rampa do Alvorada ou uma tribuna oficial do povo. Mais que um anseio isso é uma certeza, porque a Nação não poderá viver mais tempo com a nódoa da covardia.
 
Armando Coelho Neto é jornalista e advogado, Delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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