Dilma Rousseff e as Mulheres de Tejucupapo, por Armando Coelho Neto
qua, 08/03/2017 - 07:34
por Armando Coelho Neto
Neste Dia Internacional da Mulher fica
em aberto um convite ao leitor para comemorar a data com a ousadia
feminina. A referência é a legítima Presidenta do Brasil, Dilma
Rousseff, cuja garra encontra parâmetro em outras díspares guerreiras.
Nesse GGN a Coração Valente já teve seu nome associado à Joana Darc, a
colombiana Policarpa Salavarrieta Ríos (La Pola) e à destemida Bárbara
Alencar. Hoje, o resgate das Mulheres de Tejucupapo é uma reverência à
Dilma e as brasileiras que de forma aguerrida abraçaram a luta como
profissão de fé.
Aconteceu em Pernambuco, em 24 de
abril de 1646, ano em que os holandeses já haviam praticamente perdido o
domínio que, durante algum tempo, mantiveram sobre quase todo
Pernambucano.
Era um domingo, dia em que os homens
do vilarejo costumavam ir ao Recife, a cavalo, para vender, nas feiras
da capital, os produtos da pesca. A presunção dos holandeses era que,
estando os varões fora da cidade, o lugarejo estaria desprotegido.
Alojados no forte Orange, na Ilha de
Itamaracá, sob o comandado do almirante Lichthant, saíram pelo mar e
tentaram ocupar o pequeno distrito que, segundo pesquisadores, possuía
apenas uma rua larga, “quase uma praça, ladeada por casas simples,
destacando-se ao final dela a Igreja de São Lourenço de Tejucupapo, de
arquitetura jesuítica”.
O episódio está incorporado ao
imaginário dos pernambucanos e ficou conhecido como a Batalha de
Tejucupapo que, liderada por Maria Camarão, teria se tornado o primeiro
combate com participação feminina, registrado em território nacional. As
outras mulheres seriam Maria Quitéria, Maria Clara e uma tal Joaquina,
cujo sobrenome as fontes convencionais históricas não registram.
Segundo consta, Maria Camarão havia
constatado a superioridade bélica dos holandeses, que somavam 600
soldados alojados no forte Orange. Diante disso, com um crucifixo em
punho, saiu percorrendo o vilarejo convocando as mulheres a pegar em
armas e ajudarem os homens na luta contra as tropas inimigas. Munidas de
paus e pedras, tiveram a ideia de usar água fervente com pimenta.
Sobre a bravura daquelas mulheres,
aliadas às outras, cabe registrar que “a atitude não teria sido
exatamente política ou religiosa. As tejucupapenses não estariam
defendendo a permanência portuguesa no Brasil. Como também não brigaram
contra a expansão holandesa na América. Elas estariam simplesmente
defendendo sua vila, suas vidas e seus filhos dos invasores.
Principalmente porque não contavam com a presença dos homens da
comunidade”, registra o site Mania de História.
Os poucos homens que ficaram em
Tejucupapo enfrentaram os invasores à bala, enquanto as mulheres
escondidas em trincheiras, que elas mesmos cavaram, atacavam com o que
jamais esperariam os soldados holandeses: os olhos dos inimigos e o
fator surpresa. Segundo consta, 300 cadáveres ficaram espalhados pelo
vilarejo, sobretudo flamengos. Era o começo do fim da já então combalida
dominação holandesa no Brasil.
O avanço dos debates sobre as questões
femininas intensificaram buscas sobre as Mulheres de Tejucupapo. Em
2002, foi criada uma medalha denominada Heroínas de Tejucupapo, uma
condecoração destinada a enaltecer mulheres que se destacaram nas áreas
de ciências jurídicas, medicina, ensino, segurança, entre outras
profissões, no estado de Pernambuco.
O resgate histórico compreende uma
peça anual encenada ao ar livre pelo Clube de Mães da Vila de Tejucupapo
(Goiânia/PE), em comemoração ao aniversário da vitória daquelas
mulheres. A peça já foi transformada num curta dirigido por Marcílio
Brandão, com roteiro dele em companhia de Cláudio Bezerra.
Na cidade de Olinda/PE, em comemoração
ao Dia Internacional da Mulher (2015), foi inaugurado um espaço
cultural que passará a abrigar múltiplas contribuições no campo das
artes e da dinâmica social. No campo da música, o cantor e compositor
pernambucano, Maciel Salu, transformou o assunto numa canção, cuja letra
enaltece a bravura das Mulheres de Tejucupapo. A peça musical tem um
precioso arranjo instrumental de rabeca. Noutras áreas, as famosas
heroínas viraram objeto de teses, dissertações e até nome de conjunto
habitacional.
Resgatar as Mulheres de Tejucupapo na
data de hoje é uma forma de dignificar a garra feminina. Mais que isso, é
a constatação de que suas memórias estão bem representadas e
dignificadas na verve da Presidenta Dilma Rousseff, que quando ela
voltar - porque é certo que volta, o fará perfumada e de alma lavada. O
coração valente e pulsante trilhará triunfal sobre o escombro da
maldade. Dilma Rousseff voltará à cena com sua própria garra, ainda que
não se possa prevê se subindo a rampa do Alvorada ou uma tribuna oficial
do povo. Mais que um anseio isso é uma certeza, porque a Nação não
poderá viver mais tempo com a nódoa da covardia.
Armando Coelho Neto é jornalista e advogado, Delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
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