“Um
marinheiro que se preze tem uma mulher em cada porto. E uma mulher que
se preze não diz ao marido que se vai encontrar com um marinheiro”. Kakakakakaka. Feliz 2015 para todos.
FICO
com uma lágrima no canto do olho quando passeio pela cidade de Maputo e
me recordo de bares como a Cervejaria Fonte Nacional, Goa, O Submarino,
Alfacinha, Califórnia, Portugália, Águia D’ouro, África Bar, Cisne, Ó
Manel, Chouriço Assado, Berlengas, O Púcaro, Tchukelane, etc., e
verifico que estes excelentíssimos lugares, infelizmente, ou já não
existem, ou já não são a mesma coisa.
A
minha nostalgia aumenta quando me lembro que alguém, um dia, teve o
cuidado de fazer uma distribuição “equitativa” de bares pela cidade de
Maputo, para que os citadinos (e não só!) pudessem saborear uma cerveja
muito bem tirada.
O
título deste artigo, “Cerveja só sai com refeição”, parece algo
demagógico e virtual, sobretudo para os mais novos que não viveram, na
pele, os desafios das carências dos anos 80/90. Todavia, tem várias
interpretações.
Para
os consumidores de cerveja era, pois, uma forma que os vendedores
(bares) encontravam para lhes vender, além da cerveja, também refeições,
o que na verdade não lhes interessava. Porque havia carência de quase
tudo, eles pagavam também as refeições, mas consumiam apenas a cerveja.
Cerveja
é cerveja, mais nada. A sede de um copo de cerveja bem gelada só se
mata com um copo de cerveja bem gelada. Pode consumir duzentos litros de
água bem gelada, a sede não vai passar.
É
um produto atípico que merece o mesmo tratamento na produção, na
comercialização, assim como na definição de políticas sobre o seu
consumo.
Um
reconhecido e vigoroso alcoólatra (“chidakwa”) geralmente não gosta de
cerveja e raramente a consome. Sempre que consome está a divertir-se
depois de consumir aquilo que lhe faz alcançar o seu objectivo que é
ficar embriagado o mais rápido possível. Para ele a cerveja é cara e não
dá efeito desejado por isso não lhe interessa.
Cerveja
é uma bebida de classe, nos ambientes onde se consome cerveja debate-se
assuntos muito sérios da sociedade. Fala-se de política, do desporto,
de religião e fundamentalmente das profissões de cada ciclo de
interesse. Por exemplo, geralmente os jornalistas frequentam os mesmos
bares separando-os entre os de rádio, televisão e imprensa, e os debates
nestes ciclos são muito fortes.
A
minha maior preocupação neste texto é que estes ciclos de interesse
profissionalizantes estão a degradar-se com a transformação dos seus
pontos de encontro em bancos, mercearias, casas de modas, farmácias,
ferragens e outros tipos de estabelecimento comercial.
Há
dias encontrei um amigo, de longa data, e dei-lhe a primeira novidade.
“Ouve, o Goa fechou” ele respondeu indignado “o quê?”. Daí nasceu a
conversa que me levou a este texto.
Infelizmente
esta é a face oculta do modelo económico sobre o qual a nossa vida está
sendo orientada. Mudou o papel do Governo, de actor para facilitador e
transferiu para a sociedade, as responsabilidades de fazer.
É
da mesma forma que não é tarefa do Governo comprar autocarros de
transporte público de passageiros, sim garantir a legislação, a
definição de estratégias e mecanismos para que as empresas públicas ou
privadas do ramo funcionem com sustentabilidade e viabilidade.
É
triste ver alguém que vive fora de Moçambique há dois anos, voltar ao
país e perder-se na cidade de Maputo, e marcar um encontro para copos
com amigos em farmácias, bancos ou casas de modas. Como consolação deixo
aqui uma opinião aos bancos que transformarem bares em balcões para, no
mínimo, designarem os balcões com o nome do antigo bar.
Qualquer coisa como “Balcão Alfacinha”, “Balcão Goa”, “Balcão Chouriço Assado”, e por ai adiante.
Na
verdade é uma triste realidade económica com a qual temos que aprender a
conviver. Os homens de negócios tendem a buscar alternativas no mercado
para maximizar a rendibilidade dos seus negócios. Infelizmente algumas
passam pelo arrendamento das suas instalações e emigração para outros
ramos de negócio, com uma renda garantida “à priori”.
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