sexta-feira, 3 de março de 2017

Afonso Dhlakama anuncia tréguas por mais dois meses


Anúncio feito na manhã de hoje
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou na manhã de hoje, o alargamento das tréguas por um período de dois meses. O anúncio foi feito durante uma teleconferência.
"A partir das zero horas de amanhã, dia 4 de Março, entra em vigor um novo processo de tréguas, de dois meses, até o dia 4 de Maio" disse Afonso Dhlakama.
Na ocasião, o líder da Renamo confirmou a existência de contacto permanentes com o Presidente da República, Filipe Nyusi e garantiu que o processo da paz está bem encaminhado.
Dhlakama disse ainda que uma nova figura, "de reconhecido mérito" ao nível internacional, não revelado, vai e juntar ao grupo de contacto que já está a trabalhar.
Desde que iniciaram os contactos ao mais alto nível entre os dois maiores líderes políticos do país, a Afonso Dhlakama tem sido deixada a responsabilidade de anunciar tudo quanto tem a ver com as tréguas. Foi assim durante a semana do Natal, altura em que foi anunciado o primeiro período de tréguas (uma semana), e no dia 3 de Janeiro, quando foram prorrogadas por mais 60 dias. 
mais 60 dias à procura da paz
Sábado termina mais um cessar-fogo e tudo indica que será prolongado. Frelimo e Renamo falam em “paz efectiva”. As duas partes querem espaço para experimentar um novo modelo de negociações.
Moçambique ensaia nas próximas horas um novo modelo de negociações para a paz, desta vez com menos pessoas sentadas à mesa, menos estrangeiros e mais contactos directos entre os líderes da Frelimo e da Renamo.
Tal como na ronda de negociações anterior, que durou seis meses e terminou em Dezembro do ano passado, as expectativas são grandes. Não desapareceram as reservas crónicas quanto à capacidade de os dois partidos chegarem a um acordo duradouro, mas o novo modelo é considerado por muitos envolvidos e observadores como um possível ponto de viragem.
Moçambique, um país em stand-by
O cessar-fogo declarado no Natal termina este sábado à noite. António Muchanga, porta-voz da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), garantiu num comunicado escrito que as forças do seu partido vão manter as tréguas a partir de 5 de Março. Espera-se também que Afonso Dhlakama, o líder da Renamo, anuncie a qualquer momento o prolongamento do cessar-fogo por mais 60 dias, disse ao PÚBLICO António Chichone, representante da Renamo em Portugal. "O anúncio deve ser feito esta sexta-feira."
Na segunda, o Presidente Filipe Nyusi voltou a falar ao telefone com Dhlakama e a seguir sublinhou o facto de, nesta nova ronda de negociações, serem “moçambicanos que estão a discutir sobre problemas de Moçambique”, numa perspectiva negociada e sem ultimatos. Nos últimos meses, à mesa das negociações estavam dezenas de estrangeiros, entre os quais o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, e o coordenador da equipa de mediação era o italiano Mario Raffaeli, indicado pela União Europeia.
A Renamo está a usar um tom semelhante. “Estamos optimistas e acreditamos que tudo tem um fim”, disse Chichone numa entrevista por telefone. Como exemplo deste novo desanuviamento político, o representante da Renamo para Portugal e para a Europa sublinha que, desde há duas ou três semanas, “os delegados da Renamo voltaram a poder fazer trabalho político” e estão a “movimentar-se livremente” em todo o país. António Chichone não se refere aos deputados na Assembleia da República (cerca de 90) nem aos membros das assembleias distritais e municipais (cerca de 300), mas aos delegados do partido que, nas suas palavras, “estavam interditos de exercer a sua função política — durante meses, ninguém podia defender a Renamo publicamente, as pessoas eram mortas. Em 2016, desapareceram mais de 100 membros da Renamo. Isso hoje já não está a acontecer.”
Em on e em off, aos microfones da Assembleia da República ou nos bastidores, muitos especialistas que conhecem de perto a política moçambicana demonstram uma razoável esperança neste início do segundo round das negociações, incluindo diplomatas que acompanham o processo de paz há largos anos. Veronica Macamo, da Frelimo e presidente da Assembleia da República, disse num debate parlamentar esta semana que gostaria muito de ver debatido na Assembleia um projecto de lei sobre a descentralização — e ainda durante a actual legislatura. No mesmo dia, Ivone Soares, chefe da bancada parlamentar da Renamo e sobrinha de Dhlakama, disse que acredita que o actual cessar-fogo é "definitivo”. A expressão “paz efectiva e definitiva” é a mais usada nos últimos dias em todos os media moçambicanos.
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