Chanceler defende importância da separação de poderes, antes do referendo constitucional turco, numa visita com o acordo de refugiados e o terrorismo na agenda.
Sofia Lorena 2 de Fevereiro de 2017, 19:02
Foto Merkel no palácio presidencial de Erdogan Umit Bektas/Reuters
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Foi a sua terceira e a mais difícil visita à Turquia desde Março do ano passado, quando a União Europeia assinou com o seu aliado o pacto sobre refugiados e imigrantes que permitiu baixar drasticamente o número dos que chegam à Europa vindos das costas turcas. Desta vez, a ida de Angela Merkel a Ancara esteve envolvida em polémicas e tensões e a chanceler levava na mala muitas críticas para fazer ao Presidente turco.
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“A chanceler não precisa de conselhos. Sabe o que tem a fazer”, dissera, o ministro do Interior, Thomas de Maizière, numa entrevista antes da viagem.
Na narrativa feita pela imprensa turca do encontro, os dois líderes discutiram temas de interesse comum, da imigração ao combate ao terrorismo, passando pelas relações económicas. É preciso chegar aos últimos parágrafos dos textos publicados nos sites para encontrar as preocupações manifestadas pela chanceler sobre os ataques à liberdade de imprensa em curso na Turquia, assim como esta frase, dita por Merkel na conferência de imprensa conjunta: “A separação de poderes e a liberdade de expressão devem ser garantidas”.
Merkel referia-se assim ao referendo constitucional de Abril, quando os turcos votarão um reforço inédito dos poderes do chefe de Estado – os críticos dizem que o equilíbrio de poderes desaparece, com juízes nomeados pelo Presidente e o Parlamento destituído das suas capacidades legislativas e de vigilância do poder executivo. A consulta, disse a líder alemã, deve ser supervisionada por uma delegação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).
Esta foi, claro está, a primeira das visitas de Merkel desde o golpe falhado de 15 de Julho na Turquia, uma conspiração que Erdogan usou como pretexto para purgar a função pública de possíveis opositores – mais de 100 mil pessoas foram suspensas ou afastadas dos seus empregos e 43 mil estão detidas ou a aguardar julgamento, incluindo 150 jornalistas, para além de terem sido encerradas dezenas de publicações consideradas críticas do regime.
“Com o golpe, vimos os turcos a erguerem-se pela democracia e pelas regras da democracia”, afirmou Merkel, recordando como a população saiu à rua para enfrentar os militares golpistas. “É precisamente por isso que, nesta fase decisiva, é importante que a liberdade de opinião e a diversidade da sociedade sejam respeitadas. A propósito disto, também discutimos a liberdade de imprensa”, acrescentou. “A oposição faz parte da democracia.”
“Terroristas na Alemanha”
As relações entre Ancara e a UE pioraram muito com o golpe. Bruxelas e muitas capitais europeias, Berlim à cabeça, têm sido muito críticas da reacção de Erdogan. Este, por seu turno, sentiu-se abandonado por um bloco aliado que tardou em criticar a tentativa de derrubar o Governo do seu AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) que envolveu uma tentativa de o capturar ou matar.
Ancara acusa o Hizmet, a organização do líder islâmico Fethullah Gülen (exilado nos Estados Unidos), de estar por trás do golpe e quer que Berlim extradite vários suspeitos membros desta rede, incluindo dois procuradores que acredita estarem na Alemanha.
Erdogan também quis discutir os 40 militares que se encontram em instalações da NATO na Alemanha e que terão pedido asilo no país, afirmando-se disponível para partilhar provas da sua traição, com Merkel a insistir que caberá à justiça avaliar caso a caso. Na véspera, o vice-primeiro-ministro Veysi Kaynak subiu o tom, acusando a Alemanha de ser “um país que abriu a porta a todos os terroristas que dão dores de cabeça à Turquia”.
A chanceler alemã, rosto europeu do controverso acordo que atribuiu um total de seis mil milhões de euros (ao longo de vários anos) a Ancara para ajudar os sírios na Turquia, em troca de receber os candidatos a asilo que cheguem à Grécia, deu ao aliado um pequeno presente, ao afirmar que os dois países membros da NATO devem cooperar mais no combate “a todo o tipo de terrorismo”. Para Erdogan, a luta contra o Daesh não é mais importante do que aquela que trava contra os curdos do PKK, cujos aliados sírios são apoiados pelos EUA para combaterem em conjunto os jihadistas.
Sofia Lorena 2 de Fevereiro de 2017, 19:02
Foto Merkel no palácio presidencial de Erdogan Umit Bektas/Reuters
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Foi a sua terceira e a mais difícil visita à Turquia desde Março do ano passado, quando a União Europeia assinou com o seu aliado o pacto sobre refugiados e imigrantes que permitiu baixar drasticamente o número dos que chegam à Europa vindos das costas turcas. Desta vez, a ida de Angela Merkel a Ancara esteve envolvida em polémicas e tensões e a chanceler levava na mala muitas críticas para fazer ao Presidente turco.
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“A chanceler não precisa de conselhos. Sabe o que tem a fazer”, dissera, o ministro do Interior, Thomas de Maizière, numa entrevista antes da viagem.
Na narrativa feita pela imprensa turca do encontro, os dois líderes discutiram temas de interesse comum, da imigração ao combate ao terrorismo, passando pelas relações económicas. É preciso chegar aos últimos parágrafos dos textos publicados nos sites para encontrar as preocupações manifestadas pela chanceler sobre os ataques à liberdade de imprensa em curso na Turquia, assim como esta frase, dita por Merkel na conferência de imprensa conjunta: “A separação de poderes e a liberdade de expressão devem ser garantidas”.
Merkel referia-se assim ao referendo constitucional de Abril, quando os turcos votarão um reforço inédito dos poderes do chefe de Estado – os críticos dizem que o equilíbrio de poderes desaparece, com juízes nomeados pelo Presidente e o Parlamento destituído das suas capacidades legislativas e de vigilância do poder executivo. A consulta, disse a líder alemã, deve ser supervisionada por uma delegação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).
Esta foi, claro está, a primeira das visitas de Merkel desde o golpe falhado de 15 de Julho na Turquia, uma conspiração que Erdogan usou como pretexto para purgar a função pública de possíveis opositores – mais de 100 mil pessoas foram suspensas ou afastadas dos seus empregos e 43 mil estão detidas ou a aguardar julgamento, incluindo 150 jornalistas, para além de terem sido encerradas dezenas de publicações consideradas críticas do regime.
“Com o golpe, vimos os turcos a erguerem-se pela democracia e pelas regras da democracia”, afirmou Merkel, recordando como a população saiu à rua para enfrentar os militares golpistas. “É precisamente por isso que, nesta fase decisiva, é importante que a liberdade de opinião e a diversidade da sociedade sejam respeitadas. A propósito disto, também discutimos a liberdade de imprensa”, acrescentou. “A oposição faz parte da democracia.”
“Terroristas na Alemanha”
As relações entre Ancara e a UE pioraram muito com o golpe. Bruxelas e muitas capitais europeias, Berlim à cabeça, têm sido muito críticas da reacção de Erdogan. Este, por seu turno, sentiu-se abandonado por um bloco aliado que tardou em criticar a tentativa de derrubar o Governo do seu AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) que envolveu uma tentativa de o capturar ou matar.
Ancara acusa o Hizmet, a organização do líder islâmico Fethullah Gülen (exilado nos Estados Unidos), de estar por trás do golpe e quer que Berlim extradite vários suspeitos membros desta rede, incluindo dois procuradores que acredita estarem na Alemanha.
Erdogan também quis discutir os 40 militares que se encontram em instalações da NATO na Alemanha e que terão pedido asilo no país, afirmando-se disponível para partilhar provas da sua traição, com Merkel a insistir que caberá à justiça avaliar caso a caso. Na véspera, o vice-primeiro-ministro Veysi Kaynak subiu o tom, acusando a Alemanha de ser “um país que abriu a porta a todos os terroristas que dão dores de cabeça à Turquia”.
A chanceler alemã, rosto europeu do controverso acordo que atribuiu um total de seis mil milhões de euros (ao longo de vários anos) a Ancara para ajudar os sírios na Turquia, em troca de receber os candidatos a asilo que cheguem à Grécia, deu ao aliado um pequeno presente, ao afirmar que os dois países membros da NATO devem cooperar mais no combate “a todo o tipo de terrorismo”. Para Erdogan, a luta contra o Daesh não é mais importante do que aquela que trava contra os curdos do PKK, cujos aliados sírios são apoiados pelos EUA para combaterem em conjunto os jihadistas.
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