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Escrito por Adérito Caldeira em 27 Fevereiro 2017 |
Decorridos pouco mais de dois anos do seu primeiro mandato Presidencial quase sem cumprir nenhum promessa eleitoral, ainda sem nenhum obras de vulto no País real e tentando gerir a maior crise económica e financeiras das últimas décadas Filipe Jacinto Nyusi procura com o Sustenta inverter a concepção de desenvolvimento rural.
“Este mega-projecto do meu Governo, que terá como finalidade, tirar gradualmente as famílias rurais da pobreza, constitui o assumir do investimento nas famílias moçambicanas como mecanismo principal de promoção do desenvolvimento sustentável, integrado e inclusivo e redução das assimetrias regionais e locais”, disse o Chefe de Estado no evento que marcou a apresentação pública do Sustenta.
Embora o Presidente Nyusi tenha afirmado que o Sustenta é do seu Governo os 40 milhões de dólares norte-americanos do projecto estão a ser pagos pelo Banco Mundial e destinam-se não só ao financiamento da agricultura e pecuária mas também ao desenvolvimento florestal, ainda a expansão de infra-estruturas rurais consideradas estratégicas e outras actividades que a instituição de “Bretton Woods” considera importantes.
Relativamente a promessa de “tirar gradualmente as famílias rurais da pobreza” tudo indica tratar-se de falácia, a julgar pelos documentos oficiais do Sustenta que o @Verdade teve acesso.
Sustenta só via banco, mas cinco distritos onde está a ser implementado não têm bancos
Não é novidade que um dos problemas do desenvolvimento agrário no nosso País é o acesso ao crédito específicos aos riscos do sector. O Sustenta vai sim disponibilizar diversas linhas de crédito para investimento em equipamentos agrícolas, infraestruturas agrícolas e comercialização porém não se destinam aos camponeses mas sim aos denominados “pequenos agricultores comerciais emergentes” e às Pequenas e Médias Empresas do sector.
Por outro lado os denominados “pequenos agricultores comerciais emergentes” só poderão beneficiar das linhas de financiamento do Sustenta, entre 252 mil e 5,5 milhões de meticais com juros até 10%, se comparticiparem com pelo menos de 10% do valor e ainda endividarem-se junto dos bancos comerciais para os outros 40% do montante que pedirem. Quer isto dizer que para quase metade do seu financiamento vão pagar as taxas de juros exorbitantes em vigor na banca comercial.
Para dificultar ainda mais o acesso aos financiamentos do Sustenta os seus beneficiários devem ser clientes dos bancos comerciais, pois além da comparticipação os fundos são disponibilizados através do E-Sistafe, portanto nunca em numerário.
Já as Pequenas e Médias Empresas agrárias, que segundo os políticos poderão financiar-se com 5,5 a 55 milhões de meticais do Sustenta, na realidade só poderão ter acesso a 20% do valor que pretendam, o resto terá que ser com fundos próprios ou empréstimos dos bancos comerciais.
Para os camponeses existe apenas a possibilidade de beneficiarem-se de créditos até 15 mil meticais para a aquisição de insumos e serviços de preparação da terra.
Outra contradição do Sustenta é que cerca de 10 milhões de dólares norte-americanos serão investidos no “aumento da capacidade institucional a nível local para o processo de regularização de terras (delimitação de terras comunitárias e titulação)”. Contudo o Ministério da Terra e Desenvolvimento Rural(MITADER) parece ter-se esquecido que nenhum dos dez distritos possui um plano de ordenamento territorial, tal como todos outros de Moçambique.
Quiçá antes do Sustenta, ou outra iniciativa para beneficiar o povo, o MITADER deveria assegurar o estabelecimento de medidas e procedimentos regulamentares que assegurem a ocupação, utilização racional e sustentável de todos os recursos naturais, a valorização dos diversos potenciais de cada região, das infra-estruturas, dos sistemas urbanos e da segurança das populações através da elaboração do plano de ordenamento territorial de cada distrito que o Decreto 23/2008 determinou que deveriam existir até 2010.
Tal como outros projectos para acabarem com a pobreza no nosso País cerca de 20% do valor disponibilizado pelo Banco Mundial nem sequer chegará a sair de Maputo, será gasto na remuneração e mordomias do emaranhado de burocratas e políticos que supostamente estarão a trabalhar na implementação do Sustenta.
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
Financiamentos do Sustenta não são para camponeses, destinam-se a quem tenha conta bancária e dinheiro para comparticipar
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