“Um homem que é capaz de fazer isto é capaz de fazer tudo”, disse Sócrates de Cavaco, referindo-se ao caso das escutas a Belém de 2009.
Numa entrevista em que usou palavras muito duras para responder às críticas de Cavaco Silva, cujo livro Quinta-feira e outros dias descreveu como “um vil e mesquinho ataque” contra si, José Sócrates disse esta segunda-feira, em entrevista à TVI, que reparou, a dado momento, numa “certa consonância entre as insinuações do [antigo] Presidente da República e as suspeitas do Ministério Público, que o visam na Operação Marquês, em que é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. E defendeu a ideia de que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro foram constituídos arguidos neste processo apenas para lhe darem um aspecto de “substância”, aproveitando o facto de estarem já a ser investigados num outro, o caso Rio Forte (sobre transferências de verbas entre a então PT que administravam e o Grupo Espírito Santo).Sócrates garantiu nunca ter intervindo na Caixa Geral de Depósitos (CGD) para esta, enquanto accionista da PT, votar contra a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Sonae sobre a empresa de telecomunicações. Também vincou que, mesmo que a CGD tivesse votado a favor da OPA, os votos do banco público não teriam chegado para que a tentativa de aquisição tivesse sucesso. Com isto, pretendeu evidenciar que não faria sentido o ex-líder do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado (também arguido na Operação Marquês) corromper o primeiro-ministro para influenciar a Caixa a adoptar uma posição que era irrelevante.
José Sócrates também garantiu que a única vez que interveio na gestão da PT foi quando se pôs a hipótese de a empresa vender por completo a participação na Vivo, por o antigo primeiro-ministro considerar estratégico para o interesse nacional manter a presença no mercado brasileiro.
A afirmação, de Cavaco, no livro Quinta-feira e outros dias, de que o Governo de Sócrates teria pedido à Caixa Geral de Depósitos para conceder uma garantia a uma empresa concorrente à construção da Auto-Estrada Transmontana, é para Sócrates, uma falsidade facilmente refutável. A reunião sobre esse assunto aludida por Cavaco é por este situada em 2009, quando o concurso para a auto-estrada tinha sido lançado em 2007.
Mas é sobretudo a propósito do caso das escutas a Belém, também de 2009, que Sócrates ataca Cavaco com mais violência. Afirma que o email do jornalista do PÚBLICO revelado pelo DN, um email privado cujo fac-símile o antigo primeiro-ministro leu na entrevista, o livro do ex-assessor de Cavaco, Fernando Lima, são duas “provas” de que o ex-Presidente “arquitectou uma tramóia”, uma “conspiração”, que visava difundir a ideia de que o Governo de Sócrates espiava electronicamente Belém. “Um homem que é capaz de fazer isto é capaz de fazer tudo”, sentenciou Sócrates.
José Sócrates também garantiu que a única vez que interveio na gestão da PT foi quando se pôs a hipótese de a empresa vender por completo a participação na Vivo, por o antigo primeiro-ministro considerar estratégico para o interesse nacional manter a presença no mercado brasileiro.
Vítima de "um padrão"
O ex-chefe de Governo disse-se vítima de “um padrão” no comportamento da “direita política” portuguesa, comportamento que estendeu a Cavaco Silva e ao Ministério Público: quando não consegue vencer o adversário com melhores políticas, argumentos ou retórica, ataca-lhe o carácter. Sócrates disse, aliás, que é o que tem acontecido com o actual Governo PS, a quem reconhece “um indiscutível sucesso” que leva a oposição de direita a atacar o carácter do actual primeiro-ministro, chamando reiteradamente “mentiroso" a António Costa.Mas é sobretudo a propósito do caso das escutas a Belém, também de 2009, que Sócrates ataca Cavaco com mais violência. Afirma que o email do jornalista do PÚBLICO revelado pelo DN, um email privado cujo fac-símile o antigo primeiro-ministro leu na entrevista, o livro do ex-assessor de Cavaco, Fernando Lima, são duas “provas” de que o ex-Presidente “arquitectou uma tramóia”, uma “conspiração”, que visava difundir a ideia de que o Governo de Sócrates espiava electronicamente Belém. “Um homem que é capaz de fazer isto é capaz de fazer tudo”, sentenciou Sócrates.
ANÍBAL CAVACO SILVA
Sócrates acusa Cavaco de deturpar e conspirar. “É um homem capaz de fazer tudo”
Ex-primeiro-ministro respondeu ao livro de Cavaco Silva. Acusa o ex-Presidente de deturpar as conversas e provocar a crise política de 2011. Diz que é um homem capaz de tudo, a propósito das escutas.
Sócrates contra Cavaco. O ex-primeiro-ministro acusou o antigo Presidente de deturpar as conversas que manteve com ele enquanto esteve à frente do Governo. Em entrevista à TVI, José Sócrates diz que Cavaco Silva preparou uma “conspiração” para atacar os seus adversários políticos e para permitir que o seu partido ganhasse as eleições de 2009 (que o PS veio a ganhar, derrotando o PSD). E “um homem que é capaz de fazer isto, é capaz de fazer tudo”, disse esta segunda-feira.
A entrevista no Jornal da 8 foi justificada como a defesa de Sócrates perante as revelações feitas pelo primeiro livro de memórias de Cavaco Silva sobre a sua presidência. O primeiro tema é o caso das alegadas escutas ao Presidente da República, noticiadas pelo jornal Público na pré-campanha das legislativas de 2009. José Sócrates reconhece que este episódio marcou um ponto de inversão na relação que tinha com o Presidente.
Começando por distinguir: “Há memórias e há bisbilhotice política”, o ex-primeiro-ministro critica a falta de sentido de Estado do ex-Presidente por ter escrito sobre reuniões em que só estavam presentes duas pessoas, sem testemunhas. Nunca um Presidente da República fez tal coisa.
Mas para Sócrates, o principal problema não é revelar as conversas, mas sim deturpá-las. E a acusa Cavaco Silva de faltar à verdade na versão de que deu deste acontecimento em particular. E de “transformar conversas num ataque político traiçoeiro a um adversário político”.
Contrariando a tese publicada pelo ex-Presidente de que o episódio das escutas foi uma “construção tenebrosa da máquina do PS”, José Sócrates diz que há provas de que não foi assim e recorda o mail de um jornalista do Público, divulgado antes das legislativas de 2009, onde era divulgada a fonte da noticia dada em agosto pelo Jornal de que o Presidente suspeitava que estava a ser alvo de escutas, lançando a suspeita sobre o PS e o Governo então liderado por José Sócrates.
Cita ainda o livro de memórias do ex-assessor do Presidente que é citado no mail como fonte, para recordar que Fernando Lima diz que não fez nada à revelia.
Na entrevista a Judite de Sousa, o ex-primeiro-ministro lembra ainda que confrontou o então Presidente da República com a noticia e que lhe pediu que a desmentisse. E que Cavaco recusou, alegando que não iria de propósito interromper as férias no Algarve para esclarecer a questão. Eu perguntei sobre alhos e respondeu bugalhos, disse Sócrates. A resposta do então Presidente era sobre a alegada colaboração de colaboradores seus na campanha do PSD.
Sócrates garante que não suspeitava da intervenção do Presidente na história das escutas até ter sido publico o mail a revelar que a informação tinha saído de Belém . “O sentimento que fica quando leio este mail é repugnância”. José Sócrates acusa ainda Cavaco Silva de ter sido estado na origem do que classificou como “tramoia” e “conspiração” para combater um adversário político e permitir que o seu partido ganhe as eleições — na verdade quem ganhou essas eleições foi o PS, mas sem maioria.
Lança várias perguntas: “Como poder ser tão jesuítico”, para dizer que a responsabilidade era de uma “tenebrosa campanha do PS”? Porque iría o PS colocar noticias que eram contra o partido? Para responder: “Um homem que é capaz de fazer isto, é um homem capaz de fazer tudo”.
Sócrates diz que Cavaco “provocou a crise política” de 2011
A entrevista focou ainda o papel do Presidente da República na queda do Governo de Sócrates, em março de 2011, na sequência do chumbo do PEC IV. Confrontado com o testemunho de Cavaco Silva que só dissolveu o Parlamento porque o então primeiro-ministro se demitiu, Sócrates diz que foi o contrário. E acusa Cavaco de ter estado por trás da crise política que levou ao seu afastamento e, pouco tempo depois, à ajuda internacional.
O ex-Presidente da República, diz, “comportou-se sempre como o principal fautor da crise política, manobrou na sombra. Ele provocou a crise política, dando o braço ao PSD para derrubar o Governo”. Sócrates ataca ainda a opinião dada por Cavaco Silva no primeiro livro sobre a sua Presidência de que Portugal iria sempre precisar de ajuda internacional, mesmo que o PEC IV (um programa com várias medidas de austeridade negociado com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu) fosse aprovado pela oposição.
Bava e Granadeiro foram trazidos para “encher o processo” contra Sócrates
Se a defesa face às revelações do livro do ex-Presidente é o pretexto para esta entrevista, a segunda do ex-primeiro ministro à TVI depois da sua detenção em novembro de 2014, Sócrates não deixa de comentar o inquérito criminal de que é alvo há dois anos e meio. Voltar a denunciar o incumprimento dos prazos legais para deduzir acusação contra si, a investigação decorre há 43 meses, assinalando que isso põe em causa os seus direitos constitucionais. Acusa o Ministério Público de não querer prazos para deduzir acusação. E o que espera do último prazo, indicativo, 17 de março, para ser apresentada a acusação?
Estou preparado para que o Ministério Público reconheça que não tem nada contra mim e que seja feito o arquivamento do processo”.
E as novas suspeitas arguidos que têm surgido recentemente na Operação Marquês e que envolvem o antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, e os ex-gestores da Portugal Telecom, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro?
José Sócrates compara a outras empresas e negócios que foram investigados, como o Grupo Lena, Parque Escolar e Vale do Lobo, para dizer que não têm fundamento. Lembrando que os Zeinal Bava e Granadeiro, que foram constituídos arguidos na Operação Marquês na sexta-feira passada, estavam a ser investigados num inquérito autónomo, relacionado com os investimentos da PT na Rioforte, diz que foram trazidos para encher substância o seu processo.