Sócrates foi entrevistado na noite desta segunda-feira na TVI LUSA/ANDRÉ KOSTERS
Numa entrevista em que usou palavras muito duras para responder às críticas de Cavaco Silva, cujo livro Quinta-feira e outros dias descreveu como “um vil e mesquinho ataque” contra si, José Sócrates disse esta segunda-feira, em entrevista à TVI, que reparou, a dado momento, numa “certa consonância entre as insinuações do [antigo] Presidente da República e as suspeitas do Ministério Público, que o visam na Operação Marquês, em que é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. E defendeu a ideia de que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro foram constituídos arguidos neste processo apenas para lhe darem um aspecto de “substância”, aproveitando o facto de estarem já a ser investigados num outro, o caso Rio Forte (sobre transferências de verbas entre a então PT que administravam e o Grupo Espírito Santo).Sócrates garantiu nunca ter intervindo na Caixa Geral de Depósitos (CGD) para esta, enquanto accionista da PT, votar contra a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Sonae sobre a empresa de telecomunicações. Também vincou que, mesmo que a CGD tivesse votado a favor da OPA, os votos do banco público não teriam chegado para que a tentativa de aquisição tivesse sucesso. Com isto, pretendeu evidenciar que não faria sentido o ex-líder do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado (também arguido na Operação Marquês) corromper o primeiro-ministro para influenciar a Caixa a adoptar uma posição que era irrelevante.
José Sócrates também garantiu que a única vez que interveio na gestão da PT foi quando se pôs a hipótese de a empresa vender por completo a participação na Vivo, por o antigo primeiro-ministro considerar estratégico para o interesse nacional manter a presença no mercado brasileiro.
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Sócrates mostrou impressão de um email trocado entre dois jornalistas do PÚBLICO DR
Vítima de "um padrão"
O ex-chefe de Governo disse-se vítima de “um padrão” no comportamento da “direita política” portuguesa, comportamento que estendeu a Cavaco Silva e ao Ministério Público: quando não consegue vencer o adversário com melhores políticas, argumentos ou retórica, ataca-lhe o carácter. Sócrates disse, aliás, que é o que tem acontecido com o actual Governo PS, a quem reconhece “um indiscutível sucesso” que leva a oposição de direita a atacar o carácter do actual primeiro-ministro, chamando reiteradamente “mentiroso" a António Costa.
A afirmação, de Cavaco, no livro Quinta-feira e outros dias, de que o Governo de Sócrates teria pedido à Caixa Geral de Depósitos para conceder uma garantia a uma empresa concorrente à construção da Auto-Estrada Transmontana, é para Sócrates, uma falsidade facilmente refutável. A reunião sobre esse assunto aludida por Cavaco é por este situada em 2009, quando o concurso para a auto-estrada tinha sido lançado em 2007.
Mas é sobretudo a propósito do caso das escutas a Belém, também de 2009, que Sócrates ataca Cavaco com mais violência. Afirma que o email do jornalista do PÚBLICO revelado pelo DN, um email privado cujo fac-símile o antigo primeiro-ministro leu na entrevista, o livro do ex-assessor de Cavaco, Fernando Lima, são duas “provas” de que o ex-Presidente “arquitectou uma tramóia”, uma “conspiração”, que visava difundir a ideia de que o Governo de Sócrates espiava electronicamente Belém. “Um homem que é capaz de fazer isto é capaz de fazer tudo”, sentenciou Sócrates.
Sócrates acusa Cavaco de deturpar e conspirar. “É um homem capaz de fazer tudo”
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Ex-primeiro-ministro respondeu ao livro de Cavaco Silva. Acusa o ex-Presidente de deturpar as conversas e provocar a crise política de 2011. Diz que é um homem capaz de tudo, a propósito das escutas.
Sócrates contra Cavaco. O ex-primeiro-ministro acusou o antigo Presidente de deturpar as conversas que manteve com ele enquanto esteve à frente do Governo. Em entrevista à TVI, José Sócrates diz que Cavaco Silva preparou uma “conspiração” para atacar os seus adversários políticos e para permitir que o seu partido ganhasse as eleições de 2009 (que o PS veio a ganhar, derrotando o PSD). E “um homem que é capaz de fazer isto, é capaz de fazer tudo”, disse esta segunda-feira.
A entrevista no Jornal da 8 foi justificada como a defesa de Sócrates perante as revelações feitas pelo primeiro livro de memórias de Cavaco Silva sobre a sua presidência. O primeiro tema é o caso das alegadas escutas ao Presidente da República, noticiadas pelo jornal Público na pré-campanha das legislativas de 2009. José Sócrates reconhece que este episódio marcou um ponto de inversão na relação que tinha com o Presidente.
Começando por distinguir: “Há memórias e há bisbilhotice política”, o ex-primeiro-ministro critica a falta de sentido de Estado do ex-Presidente por ter escrito sobre reuniões em que só estavam presentes duas pessoas, sem testemunhas. Nunca um Presidente da República fez tal coisa.
Mas para Sócrates, o principal problema não é revelar as conversas, mas sim deturpá-las. E a acusa Cavaco Silva de faltar à verdade na versão de que deu deste acontecimento em particular. E de “transformar conversas num ataque político traiçoeiro a um adversário político”.
Contrariando a tese publicada pelo ex-Presidente de que o episódio das escutas foi uma “construção tenebrosa da máquina do PS”, José Sócrates diz que há provas de que não foi assim e recorda o mail de um jornalista do Público, divulgado antes das legislativas de 2009, onde era divulgada a fonte da noticia dada em agosto pelo Jornal de que o Presidente suspeitava que estava a ser alvo de escutas, lançando a suspeita sobre o PS e o Governo então liderado por José Sócrates.
Cita ainda o livro de memórias do ex-assessor do Presidente que é citado no mail como fonte, para recordar que Fernando Lima diz que não fez nada à revelia.
Na entrevista a Judite de Sousa, o ex-primeiro-ministro lembra ainda que confrontou o então Presidente da República com a noticia e que lhe pediu que a desmentisse. E que Cavaco recusou, alegando que não iria de propósito interromper as férias no Algarve para esclarecer a questão. Eu perguntei sobre alhos e respondeu bugalhos, disse Sócrates. A resposta do então Presidente era sobre a alegada colaboração de colaboradores seus na campanha do PSD.
Sócrates garante que não suspeitava da intervenção do Presidente na história das escutas até ter sido publico o mail a revelar que a informação tinha saído de Belém . “O sentimento que fica quando leio este mail é repugnância”. José Sócrates acusa ainda Cavaco Silva de ter sido estado na origem do que classificou como “tramoia” e “conspiração” para combater um adversário político e permitir que o seu partido ganhe as eleições — na verdade quem ganhou essas eleições foi o PS, mas sem maioria.
Lança várias perguntas: “Como poder ser tão jesuítico”, para dizer que a responsabilidade era de uma “tenebrosa campanha do PS”? Porque iría o PS colocar noticias que eram contra o partido? Para responder: “Um homem que é capaz de fazer isto, é um homem capaz de fazer tudo”.
Sócrates diz que Cavaco “provocou a crise política” de 2011
A entrevista focou ainda o papel do Presidente da República na queda do Governo de Sócrates, em março de 2011, na sequência do chumbo do PEC IV. Confrontado com o testemunho de Cavaco Silva que só dissolveu o Parlamento porque o então primeiro-ministro se demitiu, Sócrates diz que foi o contrário. E acusa Cavaco de ter estado por trás da crise política que levou ao seu afastamento e, pouco tempo depois, à ajuda internacional.
O ex-Presidente da República, diz, “comportou-se sempre como o principal fautor da crise política, manobrou na sombra. Ele provocou a crise política, dando o braço ao PSD para derrubar o Governo”. Sócrates ataca ainda a opinião dada por Cavaco Silva no primeiro livro sobre a sua Presidência de que Portugal iria sempre precisar de ajuda internacional, mesmo que o PEC IV (um programa com várias medidas de austeridade negociado com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu) fosse aprovado pela oposição.
Bava e Granadeiro foram trazidos para “encher o processo” contra Sócrates
Se a defesa face às revelações do livro do ex-Presidente é o pretexto para esta entrevista, a segunda do ex-primeiro ministro à TVI depois da sua detenção em novembro de 2014, Sócrates não deixa de comentar o inquérito criminal de que é alvo há dois anos e meio. Voltar a denunciar o incumprimento dos prazos legais para deduzir acusação contra si, a investigação decorre há 43 meses, assinalando que isso põe em causa os seus direitos constitucionais. Acusa o Ministério Público de não querer prazos para deduzir acusação. E o que espera do último prazo, indicativo, 17 de março, para ser apresentada a acusação?
Estou preparado para que o Ministério Público reconheça que não tem nada contra mim e que seja feito o arquivamento do processo”.
E as novas suspeitas arguidos que têm surgido recentemente na Operação Marquês e que envolvem o antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, e os ex-gestores da Portugal Telecom, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro?
José Sócrates compara a outras empresas e negócios que foram investigados, como o Grupo Lena, Parque Escolar e Vale do Lobo, para dizer que não têm fundamento. Lembrando que os Zeinal Bava e Granadeiro, que foram constituídos arguidos na Operação Marquês na sexta-feira passada, estavam a ser investigados num inquérito autónomo, relacionado com os investimentos da PT na Rioforte, diz que foram trazidos para encher substância o seu processo.
Sim, credibilidade tem o MP, certo? Que o prendem e dizem que há "muitas provas contra ele". Sócrates ficou preso mais tempo do que devia e não foi acusado de absolutamente nada. Então se havia tantas provas contra ele tal como foi dito...então porque não foi condenado? Isso é intrigante e não deixa de ser um bocado cómico.
Claro que Cavaco é capaz de tudo. Vejam até que pensa que o Socras é um trafulha, o que é manifestamente uma inverdade. Pensará, vejam o desplante, que o Socras foi até capaz de arruinar o país só para enriquecer um amigo e, pensar-se isso, é manifestamente insuportável. Sabendo nós que Cavaco é um inveterado forreta, pensará também que o 44 era bem capaz de morrer à fome com as cerca de 30.000 fotocópias mensais que o amigo religiosamente lhe mandava pelo Pernalonga. Depois, poupadinho como é Cavaco, achará igualmente que o Socras faria muito mal em sustentar mais mulheres do que o Zé Camarinha passou a ferro durante a sua permanente e confessada vida de gigolô. Definitivamente, Cavaco é mesmo capaz de tudo. Só não foi capaz de perceber que estava perante uma trupe capaz de fazer inveja no modus vivendi e de atuação à Camorra Napolitana. Sim Cavaco é literalmente capaz de tudo. É bem capaz de neste momento se estar a rir a bandeiras despregadas por um qualquer inimputável narcisista estar a rabiar que nem uma barata tonta. Cavaco é mesmo capaz de tudo ... PIM!
Também foi o Sócrates quem permitiu a ida de 10.000 milhões de euros para os paraísos fiscais, entre 2011 e 2015, sem o pagamento dos impostos devidos ? Ou foi esse homem de "muito bom carácter," que a Cristas assim elogiou, mais o Pedro dos Olhinhos Fechados e a sua ajudante, Maria Aldrabona ?
Não é o responsável pela informação da TVI que escreveu um livro com o título - 'Eu gosto de Sócrates'?! Estou convencido que sim. Se me enganei peço desculpa.
Eu não gosto quer do Cavaco quer do Sócrates. Mas acho engraçado que haja tanta gente nos comentários a julgar e a acusar Sócrates de ser criminoso sem isso estar provado, e no entanto são os mesmos que chamam calúnias e "fake news" às notícias que dão conta dos devaneios de Trump e do perigo que ele representa!
A julgar pelo que tenho lido, tenho muito medo de si. Com todo o respeito (censureur oblige!), o tipo de regime que você parece apreciar é o da repartição de riqueza. Aceder à riqueza de todos para a distribuir pela oligarquia e pelas clientelas. Distribuída a riqueza dos que a pouparam e dos que a criaram, sem mais onde ir buscar, sobra a miséria. Bem sei que você imagina um regime de produção colectivo onde se produz (com que matérias primas?), se consome (para quem ainda tem dinheiro) e se exporta (quem lhe vai comprar se você ainda não pagou o que deve?).
O problema é que já se fizeram revoluções e se chacinaram pessoas à custa dos seus ideais.
Percebe agora porque tenho muito mais medo de si, das suas idéias, do que de Trump?
Diga-me um comentário meu onde eu já defendi alguma dessas coisas que você disse que eu defendo.
Simplesmente não existe.
Sou de esquerda na questão dos direitos sociais e civis (e é pura e simplesmente por este motivo que eu ataco o Trump, por causa da administração dele estar recheada de pessoas machistas, racistas, misóginas, homofóbicas, transfóbicas, etc), e na questão económica sou de direita. O capitalismo foi o único modelo económico que até agora mostrou ser capaz de criar enormes quantidades de riqueza e alevancar a qualidade de vida de milhões e milhões de pessoas, não só a nível material mas também de direitos sociais e civis. Eu apoio totalmente o capitalismo, apoio totalmente as maiores empresas capitalistas do mundo, e as mais lucrativas, sobretudo de Silicon Valley, como a Apple, Google, Facebook, Microsoft, etc, e que curiosamente têm a mesma opinião do que eu relativamente à globalização e aos direitos humanos, e que foram (e continuam a ser) importantíssimas na consciencialização da sociedade para os direitos das minorias, os quais eu defendo. O capitalismo tem essa coisa maravilhosa que é criar riqueza material, e ainda ser um motor imprescindível de apoio aos movimentos sociais de luta pelos direitos das minorias, como a LGBT ou a população negra.
Eu critico Trump porque não gosto de machistas, racistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos, nem gosto da política dele de anti-globaliação e de protecionismo, que curiosamente vai em contraciclo com a liberdade económica e o capitalismo que eu defendo. Quem é que é perigoso afinal? Perigoso é o Trump, um milionário que enriqueceu usufruindo da liberdade de capitais que o sistema capitalista oferece, mas que agora defende o proteccionismo na maior economia do mundo. E que para além disso se opõe aos direitos das minorias.
Hum! Caro Manuel RB, também eu tenho medo do sr. Bruno Santos. Quer dizer, não propriamente dele, mas sim da alucinação coletiva que ele manifestamente representa. É que diz-nos a História antiga e recente que foram ideologias redutoras desse tipo que aportaram ao mundo as piores desgraças. Mas ele, pela foto, parece ser ainda jovem. E talvez venha a aprender algo que lhe mude os horizontes.
Qual ideologia redutora? Dificilmente encontrarás um maior defensor do capitalismo do que eu. Eu sou tão defensor do capitalismo, e tão mais defensor do capitalismo do que tu, que defendo aquelas que são as empresas que constituem o expoente máximo do capitalismo a nível global: empresas como a Apple, Google, Microsoft, Facebook, etc. Empresas essas que para além de promoverem o desenvolvimento tecnológico e civilizacional, criam imensa riqueza, empregam muita gente, e ainda apoiam os movimentos de luta pelos direitos sociais e civis das minorias, tal como os direitos da população negra, os direitos dos homossexuais, os direitos dos muçulmanos.
E tu? És tão capitalista como eu? Ou só és capitalista até ao patamar do BES, da Portugal Telecom, do Salgado, do Granadeiro e do Bava, mas não passas daí?
Calma! O capitalismo que o Bruno defende, è o chamado capitalismo burgues certo? È o unico do interesse da esquerda! Porque outra forma nao tem interesse, pelo menos para a esquerda, da qual Francisco louca è um verdadeiro militante, e grande defensor.
A meio da entrevista quase me deixei levar pela canção de embalar e comecei a acreditar que era um homem honesto a denunciar os crápulas dos seus inimigos. Foi quando me recompus, dei duas pancadas na cabeça e finalmente recordei que este é o homem que teve direito a uma Operação do MP, que esteve preso preventivamente e que parece ser o cabecilha do maior esquema de corrupção da história de Portugal, envolvendo altas figuras do Estado e do mundo empresarial.
Só não entendo o papel da TVI no meio disto tudo. Isto já parece "as notícias" que a TVI faz sobre a vida do Tony Carreira. Uma espécie de avença para transformar publicidade em tempo de antena nos telejornais. Será que o Eng. Pinto de Sousa também paga?
Pode ser que Cavaco não tenha sido 'escutado', mas que os emails do Público foram, disso ninguém tem dúvida. Logo, quem é que tinha interesse em revelar os emails do Público?