terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O Oráculo de Delfos


Alguns economistas fazem-se de Oráculo de Delfos moderno. Alguns, não todos. Há uma maioria que é séria, tem consciência dos limites da sua disciplina e não confunde o conhecimento que a sua aplicação pode produzir com presciência e infalibilidade. Esses são os economistas académicos de verdade, gente, portanto, que tem consciência de que a economia é uma ciência profunda que pode fazer uma grande diferença para um país quando é feita de forma séria. Fazer ciência de forma séria não é apenas aprender os factos, as ideias e as habilidades que definem uma determinada disciplina. É também prestar atenção a questões lógicas que são comuns à toda ciência e são garante da comunicação entre pessoas minimamente inteligentes.
Em 1984 a revista inglesa, The Economist, entrevistou 16 pessoas (4 ex-ministros de finanças, 4 estudantes de economia, 4 executivos de multinacionais e 4 varredores de ruas de Londres) pedindo-lhes que vaticinassem como em 10 anos seria a taxa de cresimento, de inflação e de câmbio. Dez anos depois o resultado foi miserável. Os varredores de ruas, contudo, empataram com os executivos em primeiro lugar, seguidos dos estudantes e ex-ministros das finanças. Nos EUA, regularmente, avaliam-se os prognósticos feitos por um dos organismos mais fortes da Casa Branca, nomeadamente o Conselho dos Assessores Económicos, que reúne as mentes mais finas da economia americana. Cada avaliação produz o mesmo resultado: são poucos os prognósticos que se concretizam. O mesmo acontece na Alemanha com o Conselho dos Cinco Sábios. Passam a vida a corrigir os seus prognósticos...
A questão não é que o economista que faz prognóstico não seja conhecedor da sua disciplina e seus instrumentos. Nem é porque a economia, como ciência, não preste. Não. A questão é que um bom economista é como um bom cientista político, jurista ou, já agora, sociólogo: pode produzir descrições excelentes do estado actual das coisas, mas quando a partir dessas descrições quer fazer vaticínios abandona o terreno seguro do seu conhecimento e fica refém do mundo que é muito mais complexo e imprevisível que a bola de cristal à sua frente. O que dá força aos seus vaticínios já não é a economia, mas sim as suas convicções pessoais, os seus dissabores e mágoas, as suas preferências ideológicas, enfim, tudo que é do pelouro do arbitrário. Aquilo que diz que vai acontecer é aquilo que gostaria que acontecesse só para as pessoas verem que tinha razão.
Uma previsão baseada na estatística é uma probabilidade, nunca uma certeza. É sempre condicional. A probabilidade de morrer se alguém saltar dum prédio de 50 andares é bem alta, mas a partir desta constatação concluir que toda a pessoa que saltar dum prédio de 50 andares vai morrer é logicamente incorrecto. Logicamente, digo bem. Para essa conclusão estar correcta seria necessário dizer “se”, isto é, se alguém saltar e não ficar preso em alguma coisa durante a queda, se alguém saltar e não for recebido por bombeiros lá em baixo, se alguém saltar e não cair por cima dum grupo de fofinhas de Maputo, etc. Isto é, o importante num prognóstico não é a sua materialização, mas sim as circunstâncias em que se materializou. E isso, mais do que gritar para quem queira ouvir, “não disse, não disse?” é o que contribui para o desenvolvimento da ciência. Investigadores sérios não ficam aí a darem palmadinhas nas costas uns dos outros pela coincidência entre o seu vaticínio e a realidade futura, mas reflectem sobre as condições em que o vaticínio se concretizou e procuram acrescentar, a partir dessa discussão, mais elementos para seja qual for o modelo que usaram para fazer o vaticínio cientes de que mesmo esse modelo melhorado continuará refém da imprevisibilidade.
Há dois factores que contribuem para a degradação de algumas formas de fazer economia ao estatuto de charlatanismo no nosso contexto. Um é a nossa credulidade natural como pessoas que resulta da nossa necessidade de certezas. É difícil viver na incerteza, oprime-nos como pessoas que gostaríamos de saber o que vai ser de nós amanhã e isso, por sua vez, torna-nos vulneráveis aos que gostam de vender certezas. Dentro deste contexto de credulidade intervém também a ingenuidade. Ficamos impressionados com a coincidência, mas nunca perguntamos aos vaticinadores quantas vezes acertaram nos seus vaticínios e em que circunstâncias, não perguntamos quantas vezes as mesmas coisas que eles dizem que vão dar berro aconteceram no passado ou com outros e não deram berro e nem mesmo queremos saber porque cargas de água só eles fazem parte da minoria clarividente e conseguem ver as coisas tão bem.
Esta última pergunta não é colocada porque os clarividentes têm o hábito de apresentar os seus vaticínios como o que vai acontecer se deixarmos pessoas más fazerem o que estão a fazer. Normalmente, o que essas pessoas más fazem é algo como um gigantesco esquema de burla. As decisões que segundo eles vão levar ao pricipício são tomadas por bandos de gatunos movidos por interesses próprios. Ainda dentro deste contexto, os que formulam reticências em relação aos vaticínios são apresentados como estando a soldo dos gatunos, como sendo intelectualmente incompetentes e como sendo oportunistas. Dentro desse quadro, os clarividentes veem-se como vítimas de perseguição e como pessoas cujas vozes não devem ser ouvidas por dizerem verdades incómodas. Rejeitar o vaticínio dum clarividente é colocar-se na desconfortável posição de ter de explicar porque não nos importamos com a sorte dos outros e porque preferimos defender gatunos. Ninguém, a não ser masoquistas como eu, quer estar nessa situação.
O segundo factor é um certo desconhecimento de – ou reluctância – em aceitar que o sistema político tem as suas regras. A principal característica do sistema político, sobretudo numa democracia, é que ele não produz necessariamente as melhores soluções. Ele produz soluções possíveis. Não é por acaso que se descreve a política como a arte do possível. Um país não é um projecto económico académico em que economistas se sentam e procuram pela melhor política económica e depois esta é aplicada tal e qual foi pensada. Qualquer solução, por muito boa que seja tecnicamente, implica perdas aqui e acolá, sacrifícios deste ou daquele grupo e vantagens para uns e outros. Para que ela tenha alguma probabilidade de ser implementada os decisores políticos têm que acomodar os interesses em jogo e essa acomodação, mais do que as leis inexoráveis da economia, é que determina o seu sucesso. Naturalmente que dentro desse contexto existem as más intenções, os interesses individuais ou de grupos, interesses esses que são contrários ao interesse da maioria. Só que constatar isso é trivial.
Há coisa de dois meses comprei um livro com o título “Un président ne devrait pas dire ça...” (“Um presidente não devia dizer isso...”) da autoria de dois jornalistas franceses, Gérard Davet et Fabrice Lhomme. Muito interessante. Os jornalistas fizeram entrevistas regulares com o presidente francês, François Hollande, durante os primeiros meses da sua presidência. Antes da sua eleição, eles tinham combinado que iriam fazer isso sob condição de o presidente ser franco e honesto contando tudo, incluíndo o porquê das aus decisões. Nunca li melhor etnografia do poder político do que o que vem contido neste livro. O que o livro documenta é justamente este lado da política que muita gente não toma seriamente em consideração quando analisa os processos políticos. Quem pensa que as coisas no nosso país não andam porque temos os políticos que temos a fazerem o tipo de coisas que só eles sabem fazer não entende nada de política. Só posso aconselhar a leitura desse livro.
E é justamente isso que eu quero dizer. Ao desconhecimento do funcionamento da política junta-se, entre nós, o recurso àquelas palavras que pensam por nós, tipo capitalismo, corrupção e incompetência, palavras que mais do que os factos económicos em causa são o que, na verdade, dá força aos vaticínios e permite que mentes menos robustas se rigozijem com o charlatanismo. Essas pobres mentes são bombeardadas com números e terminologia científica misturados com insultos a quem discorda e a inevitável auto-vitimização – convenientemente esquecendo que quem tem o hábito de insultar e fazer pouco dos outros são eles mesmo – e as mentes fracas ficam impressionadas. Pensam que ciência é isso mesmo. E como querem certezas, caiem na armadilha da credulidade.
Albert Einstein vaticinou há quase sessenta anos, perante a ameaça nuclear, que só um governo mundial poderia travar a iminente auto-destruição da humanidade. Inteligente que era escolheu bem as suas palavras: o que é iminente à escala humana? E o facto de isso ainda não ter acontecido não quer dizer que não venha a acontecer... Ou Paul Krugman, Prémio “Nobel” de Economia de 2008, durante a crise asiática dos anos noventa profetizou o fim dessas economias se os países não introduzissem controlos cambiais. Ninguém lhe ligou e alguns anos depois as economias recuperaram... Estava equivocado? Não! Tinha apenas saído do campo onde ele poderia realmente falar com autoridade e conhecimento de causa.
Eu que sou um simples sociólogo ciente não só da inutilidade da minha disciplina como também das minhas próprias limitações, nunca me atreverei a fazer vaticínios. E se os fizer, fá-los-ei dentro do espírito probabilístico em que vaticínios devem ser feitos. E se por ventura as coisas acontecerem como vaticinado nunca terei o despudor intelectual de reclamar clarividência porque sei que as coisas da vida são muito mais complexas do que o pequeno mundo que habita o meu subconsciente.
Phu, karingana, u nga lorhi!
Ricardo Santos
Ricardo Santos Há uma dimensão que tu não referes e que é para mim essencial: trata-se da dimensão sentimental, do coração. O coração também existe quando se fala de economia e de política. Muitas vezes, as análises feitas dentro das balizas que acabas de utilizar, tendem a esquecer essa vertente. Há sangue vivo no meio da política e da economia. Sangue vivo e quente!
Elisio Macamo
Elisio Macamo plenamente de acordo. essa dimensão é fundamental.
Gabriel Muthisse A beber canhu...
Fernando Banze
Fernando Banze Esses economistas beberam muito do mito de Édipo.
Acho que já deveriam criar um espaço para eles, no sentido de não se limitar apenas a questões de economia. Na incerteza que vivo, acho importante termos uns adivinhos na praça. Kkk
Alvaro Simao Cossa
Alvaro Simao Cossa A Economia é um estudo muito atraente, complexo e que exige grandissima dedicação, um economista que fica alguns meses fora do mercado pode ser um produto com vida de prateleira vencida, enquanto um fisico ou químico não. Outra coisa prof Elisio Macamo custa-me dizer que este economista é sério e aquele não é sério, o economista sabe ou não sabe!, o saber quantifica e a seriedade qualifica neste caso. Nós trabalhamos principalmente com números, o bla bla só nos faz divertimento, com isso não ganhamos o nosso pão, usamos a política como alicerces, mesmo a economia política deve ursar mais números que política para ser economia. A segunda coisa, a economia como a história e outras ciências sociais, é feita pelos seres humanos mas não obedece 100% a um plano humano como muitos pensam que o nosso governo devia partejar ovos de ouro para a nacão, porque a economia tem leis que são naturais que não dependem da vontade do homem. A descrição de uma tendência de desenvolvimento da economia nunca foi prognosticada 100% certa por ninguém, porque a economia é dinámica e porta categorias e unidades interligadas, interdependentes e vivas que sempre se movem. Em uma avaliação preliminar de qualquer prognóstico económico, nós os economistas apontamos sempre as limitações e condições da probabilidade do cumprimento de acordo com a descrição que fazemos, e o prognóstico sempre sofre desviações no processo do desenvolvimento das actividades económicas, aqui também é justo mencionar os efeitos não intencionais da acção intencional, Filipe Kotler fala de efeitos psicológicos que influenciam ao ecomista ao fazer prognóstico, por isso alguns economistas tratam de embelezar as suas previsões se o verdadeiro prognóstico indicar resultados negativos, dando sempre uma acentuação nas recomendações e ou a uma segunda possibilidade (variante) do desenvolvimento da situação. Um economista no mercado é o primeiro produto que se vende, por isso ele obedece não só o mercado, mas também a quem lhe paga, daqui pode ser a grande diferença entre os prognósticos feitos por uns e por outros economistas mesmo se todos forem sérios, neste caso qualificativo. O que temos que fazer é escutar todos os prognósticos para evitarmos a queda livre sem bons meios de protecção individual ou colectiva. Temos que saber ouvir.
Elisio Macamo
Elisio Macamo sim, mas nós os sociólogos também trabalhamos com números. o que une a ciência é a lógica, é a esse nível que podemos atravessar barreiras disciplinares. o princípio de condições necessárias e condições suficientes é válido para todos nós. só não é relevante para quem coloca o seu conhecimento ao serviço da ideologia.
Alvaro Simao Cossa
Alvaro Simao Cossa Concordo plenamente Elisio Macamo, mas infelizmente, sempre, muitos cientistas trabalharam ao serviço da ideologia. Talvez seja o instinto de auto-preservação
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco Imagino que o Elisio Macamo vai saltar de um prédio de 50 andares. Bom proveito. O que te faltou dizer é que a única função de fazer previsões é precisamente avaliar probabilidades com base no conhecimento existente para identificar desafios e opções. Se alguém te mostrar as probabilidades de sobrevivência saltando sem para quedas do topo de um prédio de 50 andares, é lógico que vais não saltar se não quiseres espatifar-te. Mas se quiseres saltar salta, só não leves uma nação inteira contigo, nação essa que foi mantida ignorante sobre que a estavas a empurrar para o abismo às escondidas e só o soube ao bater no chão. Salta sozinho e se queres levar outros contigo, pelo menos tem a decência de lhes passar toda a informação que tens. Aí eles podem também saber qual é a sua probabilidade de sobrevivência. Uma achega sobre o Paul Krugman e a crise asiática - não é verdade que ninguém lhe prestou atenção. Prestaram e usaram o que acharam que deviam usar da discussão do Krugman. Os asiáticos não recusaram que tinham uma crise e nunca pararam de a estudar e tentar encontrar caminhos, ouvindo muita gente, incluindo o Krugman, que há muitos anos era já um crítico acérrimo da experiência asiática (fortemente anti política industrial). Mesmo assim ouviram. O que fazemos nós? Escrevemos posts a não discutir nenhum problema - não discutimos a crise e os seus contornos, não discutimos narrativas, não discutimos opções. Discutimos as probabilidades de sobrevivência saltando do topo de um prédio de 50 andares e tentamos desacreditar qualquer previsão crítica da situação. Certamente, é muito mais importante dizer que é possível sobreviver saltando de um prédio de 50 andares do que é discutir a nossa crise e o sair dela. Acho que muitos aqui já saltaram e não sabem. Quando chegarem, avisem. Eu vou mandar flores. Boa noite.
Gabriel Muthisse Como se discute com alguém (opções, narrativas, constrangimentos, equilíbrios...) que não te reconhece honestidade nas opções que tomas? Como debater o país com alguém que passa, em todos os seus textos, a ideia de que ee o único que ama o país, a ideia de que ee o único que se interessa pelo povo (seja qual for a ideia que tenha desse tal povo)? Como debater com alguém para quem os outros são bandidos mancomunados com os capitalistas internacionais? Para quem os outros são um grupo de bandidos que, quando se reúnem, só pensam nos seus interesses egoístas? Na verdade, ee essa ideia que tu passas dos outros, Carlos Nuno Castel-Branco.

Mesmo que a gente repita que, nessas coisas, não ee uma questão de Santos e Demónios, tu não consegues te libertar dessa visão maniqueísta do mundo (ou de Moçambique). Deve ser do tipo de comunismo que estudaste. Mas, caro amigo, não há ninguém que ame Moçambique do que os outros aqui!
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco Gabriel Muthisse, como discutir com alguém que deturpa todo o comentário crítico para poder discutir? Podes dizer onde é que no meu comentário acima eu passei a ideia de todos os outros serem bandidos e eu ser o único que ama o país? Quando há dias foste ao meu mural dizer que concordavas com o meu texto e o meu apelo a discutir as análises e narrativas, viste nesse texto alguma referência a dizer que outros são bandidos e eu sou o único a amar o país? Porque usas cinto de segurança quando guias o carro? Será que pensas que qualquer um que não use o cinto de segurança vai ter um acidente, ou será porque estás a tentar diminuir a probabilidades de ficares seriamente magoado se tiveres um acidente, mesmo sabendo que a probabilidade de teres um acidente é imensamente menor que a probabilidade de morreres se saltares do topo de um prédio de 50 andares? Porque é que o Elisio Macamo, em toda a sua sapiência, nunca discute os factos e a análise, nunca apresenta narrativas alternativas, mas limita-se a tentar desacreditar essas outras análises por meio de "elisionismo" "intelectual" - a suspeita da possibilidade de alguém estar errado. Portanto, a partir do momento que haja a probabilidade quântica de alguém sobreviver a uma queda de 50 andares, não ouças se alguém disser para não saltar e salta se te apetecer. Pensas, Gabriel, que ests discussão ajuda a explicar e a sair da crise? Se queres discutir a crise e como sair dela, ou, mesmo, se queres argumentar que estamos firmes e não há crise alguma, desde que façamos uma discussão sobre o assunto, é óptimo. Se queres seguir a senda do "elisionismo", que consiste em simplesmente plantar dúvidas, mesmo quando não fazem qualquer sentido e são de natureza ilógica e não científica, para que nenhuma análise crítica possa ser discutida a sério, então fica na tua. Eu vou continuar a usar estatística, lógica e conhecimento sobre o funcionamento da economia para fazer a minha discussão o melhor que posso. Quando quiseres discutir a análise e a narrativa diz, se eu não tiver cacana posso arranjar tseke e conversamos. Abraços.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Carlos Nuno, o teu texto, no teu mural, estava bom. Era uma base para debater. Estou a ser sincero. Era atípico da maioria das tuas colocações, cheias de culpabilizacoes. O mundo, Carlos, ee muito mais complexo do que os nossos laboratórios, ou do que as nossas bancas de análise. Decidir, gerír, governar, ee procurar aquilibrios, sempre precários, no meio dessa complexidade toda. Para um debate saudável ee preciso reconhecer isso. E partir do princípio de que os outros também têm honestidade, têm boas intenções para com o país.

Eu até queria debater aquele texto. Mas vi um comentário de um amigo virtual teu, cujo nome não me lembro, que voltava a puxar o assunto para Santos e Pecadores. Ou seja, entrava o elemento "crença" contra o qual ee impossível debater.
O país enfrenta desafios difíceis. Se nós nos mantivermos nesta acrimoniosa lengalenga, entrincheirando-nos nas nossas feiras de vaidades, as coisas continuarão a acontecer apesar de nós!
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco Tu estás a fazer afirmações sobre a maioria dos meus textos sem sequer os leres, muito menos entenderes. Há textos em que exigi responsabilidades, mas a maioria dos meus textos são analíticos. Podes concordar ou discordar da análise, mas podes discuti-la e apresentar a tua. Ficar no "elisionismo" de tentar impedir qualquer debate que não siga as linhas definidas não dá. Lê todos ou uma amostragem aleatória dos meus textos e verifica se a tua afirmação é verdadeira. Mesmo que seja, porque é que tentar aprender das lições de um processo previsível é merecedor de tanta afronta desintelectual? Porque é que neste caso específico o debate e os assuntos não têm nenhum interesse, mas todo o interesse fica na pessoa que fez a análise? Se eu te aconselhar a usar cinto de segurança quando guias vais recusar porque eu sou apóstolo da desgraça? É isso?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Kkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkk, Carlos Nuno Castel-Branco, estás a exagerar! A questão nunca foi de recusar o cinto de segurança. A questão ee tu dizeres põe o cinto do fabricante afegão e eu decidir usar o cinto do fabricante do Djibuti. E, quando o acidente acontecer tu dizeres que o mesmo se deveu a que eu não quis usar o cinto que tu recomendaste. Recusar um cinto de segurança seria completamente necio, e não esse o caso.

Ademais, eu posso ter tido razões ponderosas para ter usado o cinto do Djibuti. Tu te recusas a reconhecer legitimidade nas minhas razões. Vês nelas simples vontade de enriquecer capitalistas daquele país, ao mesmo tempo que eu abocanho o meu quinhão, em prejuízo do povo sofredor. Ee esta narrativa que eu disputo.
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco Eu não estou a exagerar. Tu estás a deturpar. Eu não disse para por cinto do Afeganistão. Eu disse para por cinto e diminuir a velocidade. E tu disseste que o carro ainda podia puxar mais. Eu avisei que à medida que aceleras mais e mais nas condições prevalecente a probabilidade de acidente aumenta. Tu disseste que eu era apóstolo da desgraça. Quando houve acidente eu disse para revermos o processo e aprendermos da experiência. E tu disseste que eu só me estava a gabar, que sou oráculo, feiticeiro, adivinho, penso que estão todos errados e são todos bandidos. Então, eu escrevi um texto que explica os passos seguidos e disse para discutirmos essa narrativa, ver onde estão os erros e apresentar outras narrativas se houver. Tu concordante. Depois veio o elisionismo e aplaudiste. Então, queres discutir os assuntos ou queres ficar no mundo dos não factos alternativos do elisionismo? Escolhe. PS: discutir os assuntos não significa ficar de acordo. Só significa mesmo discutir os assuntos com uma base lógica e de informação que ambos possamos entender, mesmo que estejamos em desacordo.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Eu não conheço o Elisionismo. Por acaso sou amigo do Elisio, da mesma forma que o sou teu.

Na questão que nos ocupa, diria o seguinte: há economistas no IESE, e dos bons. Há economistas no Estado, igualmente bons. Os economistas do IESE fizeram estudo
s e prognósticos. Os economistas que estão no Estado e, muitas vezes, consultores externos, fazem estudos que suportam decisões do executivo. Por norma, e nisso tenho experiência pessoal, as decisões do executivo são precedidas de estudos sérios.

Coincidem sempre, as previsões do IESE e as decisões tomadas pelo governo? Claro que não! Mas isto não autoriza qualquer dos lados e demonizar o outro.

Veja, Carlos Nuno, os economistas em presença não são só os desses dois grupos. Há economistas do FMI, do Banco Mundial, do Banco de Moçambique, das universidades, alguns alinhando por posições de esquerda e outros mais pela direita. Todos estes fazem estudos, fazem recomendações. Todos estes devem ser lidos e tomados a serio. Nenhum destes grupos de estudiosos deve presumir que sabe mais que os outros. Mesmo em caso de desastre. Nenhum deles, se quiser ser sério, pode sugerir para o público que se tivéssemos seguido os seus prognósticos não teríamos desastre. Este ee o meu ponto, meu grande amigo
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco O meu ponto, e o dos economistas do IESE, não é e nunca foi que deveriam ter seguido o nosso conselho. O nosso ponto sempre foi que deveriam ter ouvido. Façam o que entenderem fazer, mas oiçam, leiam, e não comecem com classificações menos civilizadas em função de gostarem ou não do que houvem. Quando toda a a análise diferente é considerada suspeita e os analistas são atacados, as pessoas vão perguntar com que base essa análise é vista com suspeição política e com que base as pessoas são atacadas. Quando isto acontece sistematicamente, as pessoas vão tornar-se inimigas. O que temos estado a fazer recentemente é tentar recuperar o processo, relembrar debates, relembrar questões para aprendermos. Talvez doa, mas é necessário.Há um outro elemento de contextual. Durante muito tempo qualquer análise desalinhada era rejeitada com suspeita política e ataque aos analista. Não será tempo de reconhecer isso e tentar limpar a história e as relações. Afinal, muitas das críticas até eram válidas e teriam sido úteis se tivessem sido escutadas. Isso não quer dizer que os problemas teriam sido evitados, quer dizer que teria sido útil escutar a crítica. Sabes, Gabriel, um dia um ex colega teu, possivelmente amigo também, pediu-me para fazer uma apresentação ao PR AEG sobre a crise económica. Eu perguntei-lhe qual seria a utilidade dessa apresentação, e ele respondeu que seria para o PR ouvir. Então eu fiz uma contra sugestão: fazer um painel de analistas nacioanis e talvez internacionais, 3-4 pessoas, com análises e experiencias diferentes, para fazerem um debate com o PR para lhe dar e ao governo diferentes abordagens, ficando com um quadro mais completo do debate e dos seus váriso ângulos e nuances. Eu disse que o IESE poderia encarregar-se de organizar e financiar isso, que faríamos sugestões de nomes e com toda a informação necessária para o PR aprovar quem poderia estar no painel, etc. Até hoje estou à espera da resposta. Na altura eu ainda era director do IESE, cargo que deixei a 12 de Setembro de 2012. Faz as contas sobre há quanto tempo estou à espera da resposta. Será que este painel teria evitado a crise? Seria excessiva ingenuidade acreditar que sim. Mas será que ouvir não só os que estão do nosso lado pode ajudar a ter uma compreensão mais ampla e rigorosa das questões pode ajudar? Certamente. Sobre o governo ter normalmente feito bons estudos sobre as suas decisões, gostaria de chamar a atenção para dois pontos: a avaliação da qualidade da avaliação das grandes decisões de investimento público, que é bastante negativa (ver, por exemplo, relatório do FMI sobre as finanças públicas de 2014-15; e um estudo independente por dois economistas sobre as opções de investimento e sustentabildiade da dívida em relação com a exploração dos hidrocarbonetos, de 2014-15); as dívidas ilíictas, que alguns continuam a teimar chamar "supostamente ilícitas". Eu não estou a acusar o governo de ter um mau sistema de avaliação de decisões de investimento público de propósito, para poderem roubar. Não estou a dizer isso. Estou apenas a mencionar que há muita evidência de que o sistema de avaliação das decisões de investimento público ainda é muito deficiente. Sendo assim, não é demais ler e ouvir análises diferentes sem preconceitos sobre os analistas. Voltando à vaca fria. Temos um problema em mão - uma crise económica com todos os contornos de uma bolha económica que explodiu e implodiu. Este cenário era previsível e foi discutido. A análise, os dados, os processos, os métodos estão disponíveis na literatura produzida. Discordas? Tens outras análises, outros dados e outras narrativas? Isso é óptimo. Vamos discutir isso. O que não ajuda nada é continuar a tentar iludir a sitiação e as pessoas com post que procuram ridicularizar a ousadia de fazer uma análise e de tentar discuti-la e, pior ainda, tentar fazer essa ridicularização com recurso a argumentos (propositadamente ou não) cientificamente muito problemáticos ao ponto de porem em causa a cientificidade de quem os faz, e sem avançar nenhuma forma de discussão alternativa. Parece (repito, parece) que a intenção não é discutir mas evitar a discussão ridicularizando-a antes de ela ter acontecido. Isso, amigo Gabriel, não ajuda. Não ajuda o debate e o enriquecimento da reflexão, mas, sobretudo, não ajuda a tratar da crise.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse O meu primeiro comentário explica a animosidade, Carlos Nuno. Um dia podíamos sentar, a beber cerveja, a reler todos os teus textos, os mais elaborados e os postos no facebook, íamos encontrar na maioria deles a desqualificação do outro, a sugestão de que as decisões do Governo são enformadas pela sujeição cega ao capitalismo internacional, a sugestão de que o Governo toma decisões tendo em vista o enriquecimento egoísta dos seus membros em prejuízo do povo sofredor... Ee óbvio que com estes pressupostos não ee possível debater.

Nunca te perguntaste porque algumas pessoas nem sequer lêem o que escreves? A explicação está em que tu lhes pintas como gente só com propósitos dolosos.

Se adoptares um outro tom, mesmo que defendas opções diferentes, as pessoas vão te ouvir
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco eu conheço os textos, Gabriel Muthisse, fui eu que os escrevi. então faz a selecção dos textos e vamos discutir esses que tiveres selecionado. Mas ou lês todos ou fazes uma selecção aleatória, senão não vale. Deixa-me ir trabalhar. Mas a cerveja, com discussão de economia ou de futebol, é sempre bem vinda, sobretudo se a companhia for boa.
Hiuane Abacar
Hiuane Abacar Me estranha o facto de os dois a primeira concordarem que com cerveja vão discutir assuntos tão sérios!!! Por favor debate sem influência de álcool.Doutro modo será difícil vos levar (isto é, a vossa conversa, análise, debate, etc.) a sério.
Abraço
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Pode ser que quando Hiuane Abacar bebe cerveja o faça para ficar inconsciente de bebedeira. Kkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkk. Eu e Carlos Nuno Castel-Branco podemos ficar uma tarde inteira a falar assuntos sérios (a discordar na maioria deles) enquanto bebemos cerveja. Já o fizemos algumas vezes, discordamos muito, concordamos em algumas coisinhas e a nossa relação ficou incólume. Abraço
Elisio Macamo
Elisio Macamo obrigado, Gabriel Muthisse, pelas achegas. quando alguém não quer discutir e quer ficar dentro da sua zona de conforto faz o que o Carlos Nuno Castel-Branco tem o hábito de fazer. acusa os outros de estarem a deturpar as coisas e a impedir a discussão. pelos vistos essa discussão tem que tomar como verdade aquilo que ele disse. o meu texto é claro e só para pegar o ponto que levantas, carlos nuno, se eu tivesse saltado do prédio este fim de semana não teria sido necessariamente porque fizeste essa previsão. tão simples quanto isso. o resto é conversa fiada.
Alvaro Simao Cossa
Alvaro Simao Cossa Obrigado pela tua humildade Gabriel Muthisse, porque nunca poes em causa a faculdade intelectual de ninguem nas discussoes, sempre tenho observado que discutes assuntos e nao intelectualidade das pessoas. A sabedoria pode-se adquirir na escolinha mesmo com professores altivos, mas a humildade nunca se pode adquirir com um grosseiro, nao serve a desqualificacao, mesmo se alguem for especialista dos assuntos que se estao a tratar, este deve saber ouvir aos outros que, talvez, possam enriquecer a sua sabedoria, pelo menos pela simples humildade de saber escutar. Para ti Elisio Macamo Ungatwi Makondlo ya ku won'ha gwanyi ( nao se leve pela detraccao) porque mesmo se houvesse fabricas para martelar intelectuais a sua materia prima nao seria a arrogancia, mas a humildade sim seria.Temos que aprender a ouvir os outros e tirar o util em cada pensamento prof Elisio Macamo!. Acho que o nosso amigo Carlos Nuno Castelo Branco nao pode ver esta discussao como algo pessoal, mas sim licao para todos e nao e' necessariamente a desqualificacao dos outros que nos da' autoridade da razao, senao o nosso raciocinio do qual se tira consequencia util ou logica, todos sempre aprendemos um do outro, ninguem esta' certo em tudo. Todas as ideias sabichonas estao erradas, porque nao sao resultado de pensamento, caso contrario de ilusao.
Djoko Chemane
Djoko Chemane Acho que é um texto bastante pertinente e cai como um soco no estômago de qualquer um com pretensões de pensador na nossa esfera pública que abunda em vaticínios, remédios santos, ufanismos...auto vitimização. Acho que o reparo não recai só aos economistas como toca todas as disciplinas, por um lado, por outro, em função de alguns comentários que li neste poste, gostaria de dizer algumas coisas: que a discussão da crise não se limita só a economia nem a discussão dos fatos. Podemos discutir a crise em qualquer disciplina e em diferentes vertentes como os pressupostos para a discussão da própria crise, etc.
Elisio Macamo
Elisio Macamo sim, não é só válido para a economia. a questão é lógica e de honestidade intelectual. há muito espírito do velho testamento entre nós, do profeta jeremias...

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