quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Médico legista diz que agressão com punho não pode causar ferida perfurante


“Caso Josina Machel”
No segundo dia do julgamento, o Tribunal Judicial do Distrito Urbano Número Um dedicou a sessão à audição de 17 pessoas arroladas no processo, entre testemunhas, declarantes e peritos. Tal como no primeiro dia, a pequena sala ficou sobrelotada de familiares e amigos de Josina Machel, e do réu Rofino Licuco. Do lado de fora, ficou muita gente, sobretudo activistas que dão a cara pelos direitos da mulher. A imprensa não teve acesso à sala, mas O País conseguiu “furar” e acompanhou a audição de um perito e de uma testemunha. Comecemos pelo perito. Chama-se Eugénio Zacarias, médico-legal e actual bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique. Eugénio Zacarias integrou a equipa que fez a perícia e analisou os primeiros exames médicos feitos à Josina Machel, para verificar se havia uma relação de causa e efeito entre a alegada agressão com punho da mão e a lesão criada no olho direito que culminou com a perda de visão.
Durante a audição, o médico-legista repetiu várias vezes que não havia nenhuma relação de causa e efeito, justificando que uma agressão com punho da mão não pode originar uma ferida perfurante. Segundo explicou, uma agressão com punho só pode causar um outro tipo de ferimento, nomeadamente uma contusão e não uma perfuração. No fundo, Zacarias corrobora com os resultados dos primeiros exames físicos feitos à Josina Machel, onde os médicos do Hospital Central de Maputo (HCM) constataram uma ferida perfurante no seu  olho direito. Eugénio Zacarias também acredita que a vítima terá caído de forma brusca sobre um objecto perfurante, que terá atingido a sua vista. O assistente da vítima e a representante do Ministério Público questionaram ao perito como é que ele chegou à essa conclusão e por que é que não admitia a hipótese de Josina Machel ter sofrido ferimento antes da queda. Eugénio Zacarias explicou que durante a perícia perguntou à queixosa se Rofino Licuco tinha um objecto perfurante no momento da alegada agressão, ao que terá respondido que não. Segundo o perito, o estado da vítima (agitação) pode ter sido a causa da queda. Sobre o estado da queixosa na data dos factos, o relatório do HCM, solicitado por Graça Machel, indica que Josina Machel estava agitada e com hálito alcoólico, quando deu entrada no serviço de urgência queixando-se de agressão física. Zacarias clarificou que em medicina, a pessoa é considerada embriagada após ingerir bebidas alcoólicas, independentemente das quantidades.
O País também conseguiu acompanhar a audição de Malenga Machel, irmão da vítima. Malenga foi o primeiro da família Machel a chegar ao HCM, acompanhou a irmã até ao Hospital Privado de Maputo e mais tarde para Barcelona, onde Josina Machel foi submetida à segunda cirurgia.
O julgamento retoma na terça-feira, dia em que as partes vão apresentar as alegações e a juíza da causa poderá marcar a data da leitura da sentença.
Zacarias diz que seria “erro gravíssimo” um médico confundir o tipo de ferida
O assistente da vítima e a representante do Ministério Público procuraram saber se os médicos que fizeram o exame físico não se terão enganado na descrição da ferida ao escrever que Josina tinha uma ferida perfurante. Eugénio Zacarias disse que seria um “erro gravíssimo” um médico confundir uma ferida perfurante com uma contusão. E mais, disse que, durante a sua experiência em medicina legal, nunca se deparou com um único caso em que um médico errou na descrição de um ferimento. As respostas de Zacarias são próximas às alegações da defesa do réu que a juíza do caso acabou comentando que ele tinha uma opinião feita sobre o caso. Mas o médico legal justificou afirmando que as suas respostas tinham uma base científica. 

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