PRESIDENTE TRUMP
Travis Kalanick justifica-se, dizendo que a sua participação no grupo de conselheiros do presidente Donald Trump para as questões económicas nao era uma validação das suas políticas.
O presidente da Uber diz que sentiu forçado a virar as costas ao presidente norte-americano e a abandonar o grupo de conselheiros de Donald Trump para os assuntos económicos. A sua participação no grupo “não significava o apoio ao presidente ou à sua agenda”, mas o afastamento face às últimas medidas era a única saída, justificou Travis Kalanick.
A explicação foi dada depois de já ter tomado a decisão de sair do grupo de conselheiros de Trump. Perante a (nova) onda de críticas de que estava a ser alvo por parte de cidadãos norte-americanos — no dia da tomada de posse do novo presidente dos EUA, manifestantes levantaram cartazes com a frase “A Uber colabora com Trump” — , o líder da Uber lamenta ter sido “mal interpretado” nas suas intenções e anunciou que deixa de fazer parte do grupo de confiança do presidente dos EUA, avançam a BBC e a CNN, que tiveram acesso à carta enviada por Kalanick aos empregados da empresa de transporte.
Na carta, o responsável da Uber explica que falou esta quinta-feira com Donald Trump para dar-lhe conta da sua decisão. Na conversa, relata Kalanick na carta que enviou esta quinta-feira aos trabalhadores da empresa, falou-se da decisão de Trump de fechar a porta de entrada nos EUA a imigrantes e dos impactos que essa decisão terá para a “comunidade” norte-americana Uber — muitos dos motoristas a operar em nome da empresa são imigrantes. “A assunção implícita de que a Uber (ou eu próprio) apoiava de alguma forma a agenda da Administração criou um vazio entre a perceção e a realidade relativamente àquilo que as pessoas pensam que somos e aquilo que de facto somos”, escreveu Kalanick.
Países muçulmanos banidos
A ordem executiva assinada por Donald Trump tem um alvo bastante preciso: os cidadãos de sete países de maioria muçulmana — Iraque, Síria, Sudão, Irão, Somália, Líbia e Iémen — que pretendam entrar nos EUA ficam temporariamente impedidos de fazê-lo.
O documento apanhou de surpresa milhares de pessoas que já tinham recebido autorização das autoridades civis norte-americanas para entrar no território e que, agora, se vêm impedidas de chegar ao destino — muitas já estavam nos aeroportos dos EUA quando foram bloqueadas pelas autoridades fronteiriças.
A Uber já tinha anunciado um pacote de três milhões de dólares em aconselhamento jurídico para apoiar os seus trabalhadores que tivessem sido apanhados pelas condições impostas pela ordem executiva assinada por Trump.
Agora, a decisão de Kalanick de distanciar-se da Administração Trump mereceu o aplauso pela associação independente de condutores do país. “Este é um importante sinal de solidariedade para com os condutores imigrantes que ajudaram a construir a Uber e que são mais de 40 mil só em Nova Iorque”, disse Jim Conigliaro, fundador do grupo, citado pela BBC.
O posicionamento de Kalanick face a Donald Trump tem sido acertado ao longo dos últimos dias.
Na semana passada, também numa comunicação interna da empresa, o presidente da Uber defendeu junto dos mesmos trabalhadores a ideia de que era importante manter a comunicação aberta com a Casa Branca: “Fazemos parceria com toda a gente no mundo, desde que pretendam melhorar os transportes urbanos, criar oportunidades de emprego, facilitar as deslocações, acabar com a poluição e com o trânsito nas ruas”.
Nesse momento, a Uber já lidava com outra frente de ataque, com pedidos de #deleteuber (apagar a Uber, numa referência à aplicação da empresa que permite usufruir dos serviços de transporte). A onda de críticas ganhou rapidamente dimensão depois de os carros da empresa terem sido detetados a deixar passageiros nos aeroportos dos EUA, furando a greve dos taxistas.
Depois disso, um ajuste. Os utilizadores que quisessem apagar a aplicação dos seus telemóveis (eventualmente motivados pela presença de Kalanick na equipa de conselheiros de Trump) passaram a receber uma mensagem personalizada. Nesse pequeno texto, prévio à confirmação de cancelamento, tentava-se reduzir os efeitos negativos. “Queremos que saiba que a Uber partilha a sua visão sobre o decreto para a imigração: é injusta, errada e contrária àquilo que defendemos como empresa”.