domingo, 19 de fevereiro de 2017

Governo de Maputo ignora pedidos repetidos de informações por parte das mais altas autoridades portuguesas

be699336-306d-4054-aa52-9983295431bf O mau comportamento dos adultos é tão grave que já há a Carta dos Deveres dos Pais no Desporto p8/9 Diogo Costa Amarante recebeu prémio com Cidade Pequena, que não teve apoio do ICA p20/21 No desporto jovem, os pais são muitas vezes um problema Curta-metragem portuguesa ganha Urso de Ouro em Berlim MARK MAKELA/GETTY IMAGES Rapto e silêncio: Portugal em choque com Moçambique Empresário foi raptado há sete meses na Beira sem que tenha havido mais contactos • Governo de Maputo ignora pedidos repetidos de informações por parte das mais altas autoridades portuguesas Destaque, 2/3 Arco As novas galerias portuguesas a caminho de Madrid P2 Exportação de animais A incrível história da Monte do Pasto, que foi da pré- -falência ao sucesso Economia, 14/15 Religião Uma Nossa Senhora com sotaque britânico foi coroada em Westminster Sociedade, 10 Edição Porto • Ano XXVII • n.º 9803 • 1,70€ • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • Director: David Dinis Adjuntos: Diogo Queiroz de Andrade, Tiago Luz Pedro, Vítor Costa Directora de Arte: Sónia Matos Trump A América tem uma nova palavra de ordem: resistir Em entrevista, Benoît Hammon assume que Bernie Sanders e António Costa são inspirações para a sua esquerda Mundo, 16/17 “Não podemos combater Le Pen com um projecto morno” ISNN-0872-1556 2 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 DESTAQUE DIPLOMACIA Silêncio de Maputo sobre rapto de português gera mal-estar em Lisboa Marcelo Rebelo de Sousa fez nova diligência sobre o português desaparecido há meses em Moçambique, desta vez por escrito. Mas nem isso fez mudar a atitude das autoridades, que continuam a ignorar Portugal Bárbara Reis H á meses que Portugal se desdobra em pedidos de informação a Maputo sobre o português raptado em Moçambique no Verão passado, mas a única resposta que obteve até agora foi o silêncio. Perante o prolongado e insólito mutismo das autoridades moçambicanas, o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou há duas semanas uma carta ao seu homólogo, Filipe Nyusi, para pressionar Maputo e, mais uma vez, pedir informação sobre o desaparecido, um empresário agrícola que há anos trabalha na Beira, no centro do país. Para espanto de diplomatas e polí- ticos que acompanham o processo, o presidente Nyusi ainda não respondeu à carta do chefe de Estado português — mais de duas semanas depois de esta ter sido enviada. Por desejo da família do empresário desaparecido, o caso tem sido gerido em segredo e com enorme discrição. Mas passados sete meses sem informação, sem respostas, sem sinais de que há uma investigação em curso e sem, sequer, uma réplica de cortesia diplomática às missivas de Lisboa, do lado português houve uma clara evolução: o que come- çou por ser um desconforto e uma desilusão deu lugar à incredulidade e ao mal-estar. As démarches portuguesas têm sido feitas ao mais alto nível: gabinete do primeiro-ministro, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Procuradoria-Geral da República e Palácio de Belém fi zeram contactos formais e informais, diligências por escrito e por telefone, directas e indirectas. O resultado tem sido apenas um, como resume uma fonte que conhece bem o processo: “Nada de nada.” O primeiro-ministro, António Costa, já falou algumas vezes com o seu homólogo, Agostinho do Rosário, sobre o caso e, no fi m do ano passado, ofereceu mesmo a disponibilidade da Polícia Judiciária portuguesa para cooperar com a moçambicana na investigação do misterioso desaparecimento. Mas também essa proposta caiu no vazio. “Não há uma explica- ção. Não há um sinal de vida. Não há um corpo. Não há abertura para investigar...”, lamenta outra fonte que acompanha o caso há meses. “São não-respostas que respondem a muita coisa.” Este silêncio não só é invulgar nas relações entre países amigos, como é visto com particular estranheza por Moçambique ter sido o país onde Marcelo Rebelo de Sousa fez a sua primeira visita de Estado, logo em Maio, dois meses depois de tomar posse. Além disso, Filipe Nyusi foi um dos poucos chefes de Estado que Marcelo quis convidar para as cerimónias da sua investidura. Ainda todos se lembram das fotografi as desse dia na varanda do Palácio de Belém: o rei de Espanha, o antigo Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e ao centro, sorrindo para Marcelo, o presidente Nyusi. A relação de Marcelo com Moçambique é especial mesmo a nível privado. “Foi o melhor lugar da vida polí- tica” do seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, governador de Moçambique durante o Estado Novo, escreveu o Presidente num livro que publicou há uns anos. Contactada na sexta-feira de manhã e, de novo, no sábado, a embaixadora de Moçambique em Portugal não respondeu ao pedido do PÚBLICO para comentar a questão. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, fez uma breve declaração ao PÚBLICO: “Há casos em que as famílias preferem que as diligências ofi ciais sejam feitas de forma discreta e não pública. Este é um desses casos e eu, obviamente, respeitarei essa vontade. Por isso não tenho mais nada a dizer.” Dentro e fora do ministério, no entanto, adensam-se as especulações sobre a razão do silêncio moçambicano. Um dos cenários tidos mais plausíveis é Maputo querer proteger alguém do topo da sua própria hierarquia, na polícia ou no próprio executivo. “Em Moçambique, não há decisões tomadas a nível intermédio”, diz um profundo conhecedor da realidade do país. “É tudo ao nível superior.” O rapto do empresário português, no fi m de Julho de 2016, tem características invulgares e não segue o padrão clássico: houve um primeiro contacto dos raptores mas nunca houve um pedido de resgate (regra geral, isso acontece nas primeiras 48h, no máximo 72h, após o desaparecimento da vítima) e não ocorreu em Maputo, mas na Gorongoza, onde a Renamo tem as suas bases. Há anos que há raptos em Moçambique e há anos que são conhecidas as ligações directas entre as redes de raptores e a Polícia Nacional mo- çambicana. Entre 2001 e 2013, houve mais de 60 raptos no país, mas foi a partir de 2011 que o problema se intensifi cou. Só no fi m de 2013 Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 3 MIGUEL MANSO Apesar da relação privilegiada de Marcelo Rebelo de Sousa com Moçambique, o homólogo Filipe Nyusi não se dignou responder ao Presidente português O proprietário de uma fábrica de farinhas de Maputo foi raptado na quinta-feira de manhã na Matola, nos arredores da capital de Moçambique, à porta do seu escritório. O empresário, um queniano de origem indiana, encaixa no padrão habitual: é um estrangeiro com dinheiro. Os raptos em Moçambique continuam a ser frequentes e têm como alvo dominante empresários de origem asiática e do Médio Oriente. Em Janeiro, um libanês foi raptado e libertado dias depois. Os resgates envolvem valores muito elevados, normalmente entre 500 mil e um milhão de dólares. Na sexta-feira de manhã e na véspera à noite, o Governo moçambicano reuniu-se para analisar a estraté- gia de combate aos raptos. Quatro fontes, incluindo altos quadros da administração pública e do sector privado com fortes laços ao país, disseram ao PÚBLICO que Maputo está a tentar “deslindar o novelo” dos raptos e perceber melhor as ligações à África do Sul, país vizinho, e à banca moçambicana. As vítimas nem sempre são empresários conhecidos, mas têm sempre capacidade para pagar as elevadíssimas quantias exigidas. Em muitos casos, os raptores não são de Maputo, o que facilita os raptos e difi culta as detenções. Há três meses, porém, foi detido um rapMaputo acorda com mais um empresário raptado tor de nacionalidade sul-africana. Há a percepção de que os raptos aumentaram desde o Mundial de Futebol na África do Sul, em 2010, quando o reforço de segurança empurrou para fora das fronteiras algumas redes de criminalidade. A 30 de Janeiro, o Presidente, Nyusi, nomeou um novo director-geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e também um novo director adjunto, afastando a equipa do expresidente Armando Guebuza. O novo homem forte da segurança é Lagos Lidimo, um general reformado da era de Joaquim Chissano e conhecido por ser implacável antes, durante e depois das guerras colonial e civil. Para alguns especialistas, esta mudança é vista como um reforço político e de consolidação de poder do Presidente — são ambos da etnia maconde e em Moçambique o poder ainda é distribuído em função da lealdade étnica. Mas a chegada do general Lidimo também é vista como sinal de que o Governo poderá estar a preparar algumas mudanças: nas negociações com a Renamo (para a paz), com os doadores internacionais (por causa do escândalo da dívida de 2,2 mil milhões envolvendo três empresas controlados pelo próprio SISE) e com o Governo, para apertar o cerco às redes dos raptos. Neste desafi o, acreditam alguns observadores, o general vai querer fazer uma “limpeza” e “mostrar resultados”. B.R. houve 30 raptos em seis semanas. Nessa altura, um tribunal de Maputo condenou três polícias a 16 anos de prisão por envolvimento em raptos e, pouco depois, mais dois polícias foram detidos por suspeita do mesmo crime. “Há polícias em tribunal por envolvimento nos raptos, mas é sempre a arraia-miúda”, nota um empresário português. “Há casos em que as pessoas são raptadas pela polí- cia e libertadas pela polícia e em que se percebe claramente que é tudo a mesma gente.” Dívida tóxica Depois do escândalo da dívida tóxica, Moçambique está a fazer um enorme esforço diplomático para tentar recuperar a confi ança da comunidade internacional e normalizar o relacionamento com os parceiros estrangeiros. Mas até Março nada deverá mudar de forma decisiva. A ocultação de um buraco fi nanceiro de 2,2 mil milhões de dólares deixou os países doadores de boca aberta — mesmo os mais habituados aos padrões de corrupção africanos — e levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender o pagamento de uma tranche de 300 milhões de dólares. Maputo escondeu do FMI um complexo negócio que envolve um banco suíço e outro russo, que terão emprestado 2,2 mil milhões para projectos de pesca de atum que afi nal foram usados na compra de material militar e a troco de garantias consideradas suspeitas. Além disso, grande parte do empréstimo terá simplesmente desaparecido. A Suécia está a fi nanciar uma auditoria internacional ao negócio, entregue à consultora britânica Kroll. Após um pedido de prolongamento do prazo, o relatório fi nal deve ser entregue no fi m de Março. Quem está a pensar investir em Moçambique — como é o caso da Exxon — está à espera desta avaliação. Há anos que que são conhecidas as ligações directas entre as redes de raptores e a Polícia nacional moçambicana breis@publico.pt A capital moçambicana continua a ser palco de crimes MANUEL ROBERTO 4 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 POLÍTICA Novo gabinete de estudos do PSD prepara futuro programa eleitoral NUNO FERREIRA SANTOS O ex-ministro do PSD Costa Neves vai articular-se com outros organismos de estudo e de auscultação do partido O novo gabinete de estudos do PSD está a reorganizar-se para permitir ao partido avançar com propostas em áreas que vão desde a competitividade, passando pela reforma do Estado até à solidariedade. O recém-nomeado director do gabinete de estudos, Carlos Costa Neves, assume que o trabalho servirá para “estruturar” e “actualizar” o programa eleitoral do PSD. Sem eleições legislativas à vista, a comissão política liderada por Pedro Passos Coelho escolheu um político experiente para substituir Pedro Lomba (ex-secretário de Estado) na liderança de uma estrutura partidária que tem como missão estudar matérias para dar ao partido ferramentas que se possam consubstanciar em propostas e em iniciativas legislativas. O trabalho vai estar centrado em cinco grandes áreas (competitividade, crescimento e emprego; conhecimento; desenvolvimento sustentável; solidariedade e reforma do Estado), que terão grupos de trabalho com coordenadores (ver texto nesta pá- gina). Com um programa eleitoral recente e testado nas legislativas de Outubro de 2015, como é que a nova equipa do PSD vai pôr cá fora novas propostas em áreas que já são o alvo do partido? Carlos Costa Neves aponta para o actual contexto político. “Nós precisamos realmente de reformas. As esquerdas anulam essa perspectiva. Os organismos internacionais chamam a atenção de que isto não pode continuar”, afi rmou o deputado ao PÚBLICO. O director do gabinete de estudos assume que os “estrangulamentos” económicos e sociais estão identifi - cados: o baixo investimento público e privado, a descapitalização das empresas, “o problema sério” da dívida pública e privada, a “grande dependência” externa de energia e a demografi a. Com o diagnóstico feito, a questão que se coloca é a de se saber “como é que se pode transformar isto de uma forma reformadora”, afi rmou. O ex-ministro da Agricultura no tempo de Santana Lopes e dos Assuntos Parlamentares no Governo breve de Passos Coelho em 2015, dá o tom ao trabalho que pretende ver feito: “Não gostamos que as respostas do gabinete de estudos fossem tratados ou ensaios.” Certa é também a missão desta estrutura: “Habilitar o partido com propostas concretas que permitam estruturar e actualizar o programa de governo.” Mas não será um trabalho para a refrega política do dia-a-dia: “Vamos estar mais numa vaga de fundo do que na rebentação.” Para já, o novo gabinete de estudos deixou de fora dossiers que estavam a fazer o seu caminho, como a descentralização de competências para as autarquias, mas também a eutaná- sia, em que o partido terá uma posi- ção ofi cial. “O debate interno está a decorrer. Não está nas nossas prioridades imediatas”, justifi cou. Além do Instituto Sá Carneiro, Passos Coelho acrescentou um outro órgão de auscultação — o Conselho Estratégico, que integra 25 personalidades. Há ainda o trabalho do Fórum das Políticas Sociais. Costa Neves assegura que não quer duplicar tarefas e que irá articular-se com outros órgãos internos. Carlos Costa Neves, deputado que lidera um conjunto de grupos de trabalho, assume que os “estrangulamentos” estão identifi cados, mas que são precisas reformas. A reforma do Estado é uma delas Partidos Sofia Rodrigues Equipa terá seis grupos de trabalho N a direcção do gabinete de estudos, Carlos Costa Neves tem como adjuntos Miguel Morgado e Nilza de Sena, ambos deputados. Nas seis áreas identificadas formaram-se seis grupos de trabalho que têm como coordenadores: — Margarida Mano (deputada e docente universitária) — Ricardo Baptista Leite (deputado e médico) — António Leitão Amaro (deputado e ex-secretário de Estado da Administração Local) — Nuno Reis (ex-deputado e dirigente na Santa Casa da Misericódia de Barcelos) — Patrícia Pincarilho (exchefe de gabinete do antigo ministro do Ambiente Jorge Moreira da Silva) — Cláudia Saavedra Pinto (advogada e ex-adjunta no Ministério da Economia) srodrigues@publico.pt Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 5 PUBLICIDADE Em Valença, Marcelo pediu maior crescimento da economia “É mais fácil elaborar leis do que aplicá-las e do que mudar mentalidades”, afi rma Marcelo Rebelo de Sousa. Para o Presidente da República, não basta legislar para uma maior participação das mulheres nas administrações das empresas públicas e das cotadas em bolsa, a questão é mais profunda que isso. Intervindo num ciclo de conferências sobre igualdade de género, na sede regional da Ordem dos Mé- dicos, em Coimbra, o Presidente entende que “há um problema de cultura cívica”. “As leis têm vindo a consagrar ao longo do tempo, na nossa democracia, uma aproximação em termos de igualdade de género do estatuto jurídico, do estatuto laboral, do estatuto laboral e económico da mulher e do homem. Mas depois a prática fi ca aquém disso”, lamenta. Uma das áreas em que a desigualdade de género mais se faz notar, assinala Marcelo, é na política. “Estamos longe do que devia ser o patamar desejado” e “na política isso é evidente”. O Presidente dá como exemplo a diferença entre a composição das listas quando são submetidas a eleições e no fi nal do mandato. “A composição da lista inicial não tem nada que ver com a lista fi nal”, afi rma. A paridade voltou ao Parlamento esta semana, através de uma proposta do Governo para introduzir quotas de género nas administrações das empresas da bolsa e do Estado, tendo o diploma baixada à discussão na especialidade sem votação. Sem nunca se referir directamente aos trabalhos parlamentares, Marcelo reforçou este ponto em vários momentos do discurso: “De pouco serve estar a criar fórmulas, se depois não olharmos atentamente para a sua aplicação.” Para além da política, o Presidente fala no exemplo das cotadas em bolsa e refere que, ao olhar para a sua gestão, verifi ca-se “uma desigualdade manifesta entre homens e mulheres”. O Presidente lembrou a sua “ouMarcelo diz que é mais fácil mudar leis do que mentalidades sobre paridade tra encarnação política”, quando liderava o PSD, e falou nas “guerras” que teve com as mulheres do partido “por causa da questão das quotas”. Há duas décadas iniciou-se a discussão sobre o assunto em relação à política e o PSD foi ofi cialmente contra. “Sendo eu um defensor das quotas, elas diziam: ‘Mas nós não podemos ascender a posições só pelo facto de sermos mulheres, isso não chega a ser humilhante, mas é desprestigiante’”, revelou Marcelo, acrescentando que, como “bom democrata”, foi então vencido na comissão política do próprio “partido, quando queria levar uma iniciativa legislativa à Assembleia instituindo o regime de quotas. Em Outubro, o presidente da Associação Nacional de Bioética, Rui Nunes, também presente em Coimbra, liderou uma equipa que apresentou uma proposta de declaração universal de igualdade de género junto da UNESCO. Marcelo disse que a proposta conta com o seu apoio e falou na ARMÉNIO BELO/LUSA Presidente da República Camilo Soldado Garante que sempre foi a favor das quotas por género, quando o Parlamento discute a sua introdução nas empresas necessidade de levar à UNESCO “uma declaração universal que seja fruto de um consenso nacional alargado”. Caixa é assunto “morto” Para Marcelo, a novela da Caixa Geral de Depósitos terminou. “Esse assunto está morto. Portanto, como está morto, já não ressuscita.” O Presidente da República respondia assim aos jornalistas quando questionado sobre as declarações do líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro. O responsável social-democrata referiu-se a uma eventualidade inconstitucionalidade do Presidente ao ter acesso às mensagens trocadas entre o ministro das Finanças, Má- rio Centeno, e o antigo presidente da CGD. “A questão da Caixa, no que me toca, está resolvida defi nitivamente. Agora temos de pensar é no futuro: na Caixa e na sua capitalização.” Antes de Coimbra, o Presidente esteve, em Valença, onde apontou para a necessidade de a economia portuguesa crescer a um ritmo superior ao actual. “Precisamos de aumentar as taxas de crescimento, claramente, acima dos 2%”, disse, citado pela Agência Lusa. Para Marcelo, o crescimento económico é a chave para o investimento, reconhecendo que, para que tal aconteça, é preciso “um grande esforço”. “É muito difícil haver investimento público ou privado, a nível mais amplo ou mais restrito, se não crescemos mais”, disse. Apontou ainda para o papel central da “formação qualifi cada” no crescimento. Esse assunto [CGD]está morto. Portanto, como está morto, já não ressuscita” Marcelo Rebelo de Sousa Presidente da República José Sócrates respondeu ao livro publicado por Cavaco Silva, no qual o ex-Presidente da República descreve os encontros com o antigo primeiroministro socialista. Sócrates considera-o um “auto-retrato perfeito das consequências que o ressentimento pode ter no carácter de um político”, como refere num artigo publicado no Diário de Notícias (DN) e na TSF. No artigo publicado nesta sextafeira à noite, o antigo primeiro-ministro considera que as afi rmações, revelações e comentários feitos por Cavaco Silva ultrapassam o que tem sido o funcionamento institucional em Portugal. Sócrates começa por dizer que “nunca um presidente ou Sócrates diz sentir “desprezo” por livro que Cavaco escreveu com “ressentimento” primeiro-ministro relatou as conversas tidas entre ambos enquanto exerceram funções”, garantindo que nunca lhe ocorreu “seguir caminho tão indigno”. “Ponho de lado as vulgares opini- ões políticas expressas no livro pelo autor, que, aliás, sempre me enfastiaram. Ponho igualmente de lado outras conversas, na sua maioria distorcidas e falsas, que não passam de vulgar exercício de mesquinhez disfarçado de relato histórico”, acusa ainda Sócrates. Acrescenta, no entanto, que não pode “pôr de lado, pela sua importância e pelo que tem de paradigmático, o inacreditável relato que faz do chamado ‘episódio das escutas’, sem outro propósito que não seja o de distorcer e falsear a verdade histórica”. PÚBLICO POLÍTICA Polémica camilo.soldado@publico.pt programa avançado em administração municipal O programa proporciona uma visão abrangente sobre as diferentes realidades e valências das áreas envolvidas. Permite adquirir conhecimentos e competências fundamentais para uma atuação municipal tão eficiente quanto eficaz em benefício dos territórios e das populações. DESTINATÁRIOS Autarcas, candidatos autárquicos, dirigentes e altos quadros da estrutura das autarquias locais, sector empresarial local e entidades intermunicipais.. COORDENAÇÃO João Salis Gomes (coordenação científica), Manuel Castro Almeida, Pedro Fontes Falcão, Eugénia Santos e Fátima Fonseca (direção). De 10 de março a 3 de junho de 2017 Sextas-feiras das 15h00 às 19h00 e sábados das 09h00 às 17h00 Email geral.ipps@iscte.pt | Telefone 351 210 464 021 Candidaturas até 03 de março de 2017 www.ipps.iscte-iul.pt 6 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 POLÍTICA O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, afi rmou que Marcelo Rebelo de Sousa também viu os SMS trocados entre o ministro das Finanças e o antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) para contestar a recusa dos partidos da esquerda em permitir o acesso às comunicações. “Se assim é, então a esquerda está a sugerir que o Presidente da República, o primeiroministro e um conselheiro de Estado [António Lobo Xavier] cometeram inconstitucionalidades”, disse. O dirigente do PSD fazia uma alusão ao argumento constitucional da privacidade das comunicações entre cidadãos apresentado pelo PS e PCP para rejeitar o acesso dos deputados aos SMS trocados entre os dois responsáveis. As comunicações incidirão sobre um alegado acordo para dispensar a administração do banco de apresentar declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Montenegro sustentou que se trata de “comunicação ofi cial”. Por esse motivo, o PSD entende que os deputados devem ter acesso a essas comunicações no âmbito de uma comissão de inquérito. Como na actual, a maioria de esquerda chumbou os requerimentos nesse sentido, PSD e CDS vão propor outro inquérito. A nova comissão “visa ultrapassar o boicote democrático”, assume Montenegro. E critica a esquerda: “Não sei como é que António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa não têm vergonha na cara de estarem a limitar os princípios básicos da democracia.” Quanto à actual comissão, o social- -democrata assegurou que o PSD não abandonará os trabalhos. Questionado pelos jornalistas sobre se o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, poderá travar a nova comissão, Montenegro mostrou-se surpreendido: “Nem quero acreditar nisso.” srodrigues@publico.pt PSD rejeita que SMS sejam privados CGD Sofia Rodrigues Montenegro diz que Presidente da República já viu as mensagens. E pergunta se isso é constitucional maria.jose.santana@publico.pt António Costa inaugurou uma fábrica da empresa Sakthi Portugal, em Águeda O primeiro-ministro, António Costa, saiu em defesa do ministro das Finanças, acusando o PSD e o CDS de atacarem Mário Centeno porque foi este quem conseguiu atingir o défi ce mais baixo. “Digam o que disserem, o que eles não gostam mesmo no ministro da Finanças é porque é o ministro das Finanças que fez o menor défi ce e está a pagar a dívida que eles aumentaram”, afi rmou. António Costa, que falava enquanto secretário-geral do PS na apresentação da candidatura socialista à Câ- mara de Espinho, disse mesmo que a oposição ao Governo “anda muito irritada”, razão pela qual “todos os dias arranja uma nova birra” e “só quer mesmo falar de tricas”. E prosseguiu, explicando quais pensa serem as razões que levam o PSD e o CDS a tal atitude. “Acho que por duas razões — primeiro, porque nada têm a dizer aos portugueses e a Portugal e, em segundo lugar, porque lhes custa ouvir as verdades sobre como o país e os portugueses hoje estão melhor do que estavam há um ano”, justifi cou. E continuando no ataque à oposi- ção, garantiu: “Eles não gostam de ouvir, mas vão mesmo ter de fi car irritados e ouvir.” Para, de seguida, insistir na ideia: “Aquilo que os irrita mesmo muito é que, apesar de termos reposto vencimentos, pensões, aumentado as prestações sociais, reduzido a carga fi scal, a verdade é que chegámos ao fi m de 2016 com o melhor défi ce orçamental em 42 anos de democracia e que nunca ninguém tinha conseguido alcan- çar.” E confi rmou que Portugal já pagou mais 1700 milhões de euros ao FMI, que permitiram baixar a dívida em mais um ponto percentual do produto interno bruto (PIB). “Hoje posso mesmo anunciar que, se já estavam irritados com a descida do desemprego, com o crescimento da economia, se já estavam irritados com o facto de termos o melhor défi ce de “Oposição não gosta de Centeno, porque conseguiu o défice mais baixo”, garante o primeiro-ministro sempre, pois ainda fi carão mais irritados, porque hoje posso dizer que na semana passada demos um passo muito importante, porque pagámos mais 1700 milhões de euros da nossa dívida ao FMI e a nossa dívida é hoje um ponto percentual do PIB mais baixo do que o que era há uma semana”, afi rmou António Costa. Investimento cresce De redução do défi ce falou também António Costa, mas na qualidade de primeiro-ministro, durante a manhã, na inauguração da nova fábrica da Sakthi Portugal, em Águeda. E, além de destacar o trabalho já feito, deixou perspectivas optimistas para este ano, nomeadamente, a convicção de que o país está, em 2017, “a prosseguir o caminho do investimento”. Um cenário que fi ca a dever-se, “sobretudo, ao reforço da confi ança na economia portuguesa, que atingiu no mês passado níveis recorde que já não eram atingidos desde o ano 2000”, sublinhou. “Este investimento é um excelente exemplo, que sinaliza um momento de viragem na economia do país”, destacou ainda, referindo-se ao investimento de 37 milhões de euros do grupo indiano Sakthi em Águeda, NELSON GARRIDO Governo Maria José Santana António Costa atacou a oposição e surgiu em defesa do ministro das Finanças invocando a redução do défice cujo arranque já havia apadrinhado — em Maio de 2016, procedera ao lançamento da primeira pedra. A nova unidade industrial da Sakthi Portugal — a SP21 — destinase ao fabrico de componentes em ferro para automóveis e veio criar 135 postos de trabalho directos. Há perspectivas de aumentar a capacidade de produção, segundo notou o próprio primeiro-ministro, que fez ainda questão de agradecer a con- fi ança demonstrada pelos investidores indianos Portugal; e, acima de tudo, o testemunho dado por Manickam Mahalingman, chairman do grupo, na recente visita de Estado à Índia do primeiro-ministro. Esta confi ança é “um sinal” de que o Governo tem estado “a fazer um bom caminho”, mas também que o país tem “todas as condições para prosseguir esse caminho de excelência”. E defendeu: “É esse o trabalho que temos de fazer: centrar a nossa atenção naquilo que é essencial para o desenvolvimento do país: investir na requalifi cação dos recursos humanos, investir na inovação das empresas, ter cada vez mais um Estado mais ágil e moderno.” com Lusa Se já estavam irritados com o facto de termos o melhor défi ce de sempre, pois ainda fi carão mais irritados, porque hoje posso dizer que na semana passada demos um passo muito importante, porque pagámos mais 1700 milhões de euros da nossa dívida ao FMI António Costa Primeiro-ministro 8 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 SOCIEDADE No desporto os pais são muitas vezes um problema para os fi lhos Há um problema na relação dos pais com o desporto dos fi lhos que pode tornar esta actividade muito “penalizadora” para as crianças e jovens que a praticam, alerta Carlos Neto, professor da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa. O também investigador em áreas como o jogo e o desenvolvimento da criança fala em quatro perfi s de pais. “Há os desinteressados, transportam os fi lhos, mas não se envolvem. Há os moderados, com comportamentos correctos e visão adequada do que deve ser a prática desportiva. Há os excitados, que insultam os outros e tratam mal os fi lhos, a quem vêem como possível fonte de lucro. E por fi m os fanáticos, que olham para as crianças como campeões de alto ní- vel, que hipotecam a sua própria vida em função da actividade dos fi lhos e que entram frequentemente em confl ito com os clubes.” O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, reconhece que existem, por parte de alguns pais, “comportamentos completamente desadequados e que são um péssimo exemplo”, mas recusa que esta seja uma postura generalizada. “É necessária uma maior formação no sentido de enfatizar que o resultado não é o mais importante, uma coisa que, aliás, não se ensina nas escolas”, defende. “O maior problema são os pais que exercem uma pressão permanente sobre os fi lhos, que não percebem que estes precisam de espa- ço”, corrobora Pedro Mil-Homens, também professor da Faculdade de Motricidade Humana e ex-responsável pela Academia do Sporting, que concentra igualmente as escolas dos mais novos. E estes são numerosos e encontram-se em todos os estratos sociais: “São pais que não tendo tido uma carreira desportiva projectam nos fi lhos o que Gritam, insultam, tentam substituir-se aos treinadores. Há muitos pais que não resistem a ter estes comportamentos quando os fi lhos entram em campo Família Clara Viana SÉRGIO AZENHA “Fazer atletas a todo os custo só dá disparate”, defende Carlos Neto gostavam de ter sido e não foram.” E o que fazem estes pais? “Querem substituir-se aos treinadores, gritam instruções para dentro do campo. ‘Chuta, remata e por aí fora...’ O que só confunde as crianças”, descreve Rafael Martinho, treinador das escolas do Benfi ca. Também insultam treinadores, árbitros, equipas oponentes e no fi m “cobram” aos fi lhos por não terem ganho ou feito o que eles disseram, diz Carlos Neto. Todos coincidem no diagnóstico de que este tipo de conduta se exacerba mais no futebol do que noutras modalidades, não só pelo impacto social deste desporto, mas também porque “muitos pais olham para os seus fi lhos como sendo potenciais jogadores profi ssionais”, descreve Pedro Mil-Homens. Crianças retiradas de campo Querem estar perto do campo, querem poder gritar lá para dentro e, quando não o podem fazer, come- çam por zangar-se. Foi o que sucedeu quando a Academia do Sporting se mudou para Alcochete. “Comecei por dizer que não podiam assistir aos treinos, do mesmo modo que não assistem às aulas de Português ou de Matemática, mas tivemos de chegar a uma solução de compromisso: viam os treinos, mas ao longe.” “Quando se trata de uma atitude persistente, temos de lidar com ela de forma drástica”, diz Rafael Martinho, que já por mais de uma vez retirou crianças do campo porque os pais não paravam de gritar instru- ções. “É uma forma de mostrar que estão a proceder mal”, defende. Já algumas vezes juntou os pais dos seus alunos (actualmente têm 12 anos) para os tentar convencer de que “o mais importante não é ganhar, mas sim como se chega ao resultado fi nal, o que tem que ver com o processo de aprendizagem”. “Nas reuniões com pais, que fazí- amos no Sporting, eles percebiam que havia comportamentos que não deviam adoptar, mas depois quando se passava à acção transformavam- Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 9 Se reside nas regiões de Lisboa ou Setúbal e tem fi lhos com idades até aos 14 que pratiquem futebol, irá provavelmente receber uma carta inabitual nos próximos tempos. Chama-se Carta dos Deveres dos Pais no Desporto, foi apresentada publicamente em Lisboa em Janeiro e elaborada com o objectivo de ajudar os pais a evitar “comportamentos pouco adequados” nos treinos ou jogos em que os seus fi lhos participem, indicou ao PÚBLICO o presidente do Panathlon Club de Lisboa, Manuel Brito, que é o promotor da iniciativa para a qual conta com o apoio das associações de futebol de Lisboa e Setúbal. Esta carta foi apresentada em “colaboração com o Plano Nacional para a Ética no Desporto (PNED), pelo que é integralmente subscrita pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ)”, informou o Ministério do Educação, que também tutela esta pasta por via do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo. O Panathlon é uma organização não-governamental internacional que visa promover a ética no desporto e que conta com clubes em muitos países e regiões. O clube de Lisboa é um deles. Na carta para os pais, que tem dez pontos, afi rma-se que a escolha dos desportos a praticar pelos fi lhos não deve ser imposta pelos pais, que estes têm como dever acompanhar as actividades dos fi lhos “com discrição”, que não perguntarão aos fi lhos, no regresso a casa, se perderam ou ganharam, mas sim se se divertiram ou ainda, entre vários outros princípios, que têm de respeitar as competências próprias dos treinadores. A carta tem vindo a ser divulgada desde o ano passado pelo Panathlon International, que pretende que venha a ser adoptada pelo Comité Olímpico Internacional (COP) ainda este ano, segundo informação publicada no site da organização. Em Lisboa foi apresentada numa conferência organizada em conjunto com o Comité Olímpico, que, apesar de a não ter adoptado, apoia a iniciaHá uma carta a caminho para disciplinar comportamentos tiva, já que “os princípios que estão expressos no documento são os mesmos do olimpismo e do movimento desporto”, esclareceu a assessora de imprensa do COP. Para o presidente da Confedera- ção Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, a carta proposta pelo Panathlon Club é “bemvinda”, mas compete também às entidades responsáveis pela formação desportiva “criarem um ambiente em que seja natural os pais assumirem” os deveres preconizados no documento. Ora, é algo que não sucede, diz, não só pelo espírito competitivo alimentado pelos clubes, como pela secundarização de outras modalidades que não sejam o futebol, o que leva a que se “criem estigmas”, que poderão incentivar os pais a intervirem nas escolhas dos fi lhos. As atitudes dos pais no desporto também são abordadas no Código de Ética Desportiva, aprovado pelo anterior Governo. Neste documento refere-se, entre outros aspectos, que os pais devem respeitar as decisões dos árbitros e treinadores e que “incutir aos fi lhos o espírito de que a essência do desporto não está na atribuição ou ostentação de títulos”. O Ministério da Educação refere que, através do IPDJ e do PNED, têm sido desenvolvidas acções em escolas, clubes, associações, entre outras entidades, no âmbito da campanha Educar para a Ética no Desporto, “que visa sensibilizar os pais para o impacto e importância do seu comportamento junto dos fi lhos, quer na defesa da integridade física e psicológica dos mesmos, quer na dissuasão de condutas eticamente incorrectas junto dos diferentes agentes desportivos”. A Carta dos Deveres dos Pais tem o apoio do secretário de Estado da Juventude e Desporto A Carta dos Deveres dos Pais no Desporto foi apresentada em Lisboa em Janeiro pelo Panatlhon Club, numa iniciativa que contou com o apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude. Contém as seguintes recomendações: • A escolha dos desportos a praticar pelos filhos deverá ser da sua responsabilidade e iniciativa sem qualquer imposição por parte dos pais • É dever dos pais acautelar os excessos de carga no treino em competição durante o período infanto-juvenil, em particular na puberdade, em detrimento do carácter lúdico e recreativo do desporto • É dever dos pais acompanhar as actividades dos filhos com discrição (...) • É dever dos pais respeitar as competências próprias dos treinadores, limitando-se a questioná-los sobre a forma como os seus fihos se integram na vida da equipa e do clube e sobre as perspectivas de evolução académica • É dever dos pais esclarecer os filhos que para serem bons desportistas, para se sentirem felizes e estarem de bem consigo próprios, não é necessário serem campeões • É dever dos pais lembrar-lhes que os insucessos terão de ajudar à sua evolução e torná- los mais sábios • Os pais não perguntarão aos filhos, quando estes regressam a casa, se ganharam ou se perderam, quantos golos marcaram ou sofreram, ou quantos recordes superaram, mas quererão saber se se divertiram Não perguntarás por vitórias... se”, relata Mil-Homens. “É muito importante que nos clubes exista alguém disponível para trabalhar com os pais.” “Quando em casa só se fala de vitórias, quando os pais adoptam um comportamento muito competitivo, o processo de aprendizagem morre”, alerta Rafael Martinho, admitindo que este é também um problema de alguns treinadores. Carlos Neto defende, a propósito, que é preciso “actualizar a formação de treinadores” e mudar o modo como os clubes encaram os seus praticantes mais novos, de forma a “humanizar a prática desportiva” e a não saltar etapas que podem comprometer o desempenho futuro e até a saúde das crianças e jovens. “Fazer atletas a todo os custo só dá disparate”, refere. “Há muitas crianças a sofrer, porque são obrigadas a fazer desporto”, frequentemente em modalidades escolhidas pelos pais. E esta é uma das razões que explicam o “abandono em larga escala da prática desportiva”. Há uma articulação que não existe que, para Carlos Neto, permitiria mudar o cenário: “Fomentar a educação física nas escolas e o desporto escolar; garantir boa formação desportiva nos clubes e boas condições para se ter um desporto de alta competição”, sendo estas as etapas que se têm de percorrer. “Primeiro está a generalização e só depois a especialização”, defende. O papel dos pais para este equilíbrio é fundamental. Pedro Mil-Homens chama a aten- ção para o facto de, no geral, “a competição infanto-juvenil ser uma cópia demasiado decalcada da organização desportiva dos mais velhos”. “Formar campeões começa com a criança a brincar na rua, só que estas deixaram de ter tempo para tal”, diz Carlos Neto. E ambos frisam a necessidade de a prática desportiva não se sobrepor à escola. “Há muitos desportistas de alto nível que não conseguiram sucesso escolar e isso é preocupante.” Também o presidente da Confap lamenta que os jovens tenham de ser prejudicados por praticarem desporto: “Do mesmo modo que há um ensino articulado da música [os alunos são dispensados da frequência de algumas disciplinas para prosseguirem a sua educação musical] também deveria haver um ensino articulado do desporto.” cviana@publico.pt O QUE ELES DIZEM O maior problema são os pais que exercem uma pressão permanente sobre os filhos, que não percebem que estes precisam de espaço Pedro Mil-Homens Professor Querem substituir-se aos treinadores, gritam instruções para dentro do campo. ‘Chuta, remata e por aí fora...’ Quando em casa só se fala de vitórias, quando os pais adoptam um comportamento muito competitivo, o processo de aprendizagem morre Rafael Martinho Treinador Há os pais desinteressados, transportam os filhos, mas não se envolvem. Há os moderados, com comportamentos correctos. Há os excitados, que insultam os outros e tratam mal os filhos. E os fanáticos, que olham para as crianças como campeões de alto nível Carlos Neto Professor 10 É o número de pontos de uma carta dirigida a quem tem filhos a fazer desporto. Foi apresentada numa conferência com o apoio do Comité Olímpico Português e do IPDJ de de um al ci se ta ar cv ampeões nível eto r 10 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 SOCIEDADE Em Londres houve lenços brancos para acenar à imagem de Fátima RICARDO NOBRE Quando Celso Poço chegou ontem à Catedral de Westminster, no centro de Londres, as portas da entrada já estavam fechadas. Não assistiu, por isso, ao momento em que a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada em ombros pelo corredor da igreja até ao altar, onde recebeu uma nova coroa de rainha. Mas o brasileiro, acompanhado dos amigos portugueses, não virou costas. “Acho muito importante a visita da estátua. O católico está aqui neste país meio perdidinho, meio à parte, e é bom sentir a força de Fátima.” A catedral, principal templo da Igreja Católica em Inglaterra e no País de Gales — onde predomina a Igreja Anglicana, da qual a rainha Isabel II é chefe suprema —, foi pequena para as mais de 2500 pessoas, de várias nacionalidades, e de todas as idades, embora na sua maioria mais idosas, que quiseram assistir ao arranque das celebrações do centenário das aparições de Fátima, organizadas pelo Apostolado Mundial de Fátima, nesta região. Na cerimónia, o arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, renovou a consagração de Inglaterra e País de Gales ao Imaculado Coração de Maria e colocou na estátua da santa, oferecida pelo Santuário de Fátima aos britânicos em 1968, a “coroa digna” que lhe faltava. A peça foi transportada para o altar por três crianças fi lhas de fi lipinos, vestidas como se vestiam os pastores Francisco, Jacinta e Lúcia, em 1917 — a organização do evento teve, de resto, um envolvimento muito grande da comunidade fi lipina, cujos membros são os guardiões da imagem peregrina. A coroa foi feita em Lisboa pela joalharia Leitão e Irmão, autora também daquela que foi oferecida em 1942 à imagem presente na “Quisemos manter o gesto de generosidade para com a maior representante de Portugal no mundo, que é a Nossa Senhora de Fatima.” Os fi éis ingleses estão, porém, convidados a doar jóias ou bens em ouro e prata, que serão recolhidos durante a peregrinação da estátua por Inglaterra e Gales, ao longo deste ano. “Se nos oferecerem zero, a coroa está entregue na mesma”, ressalvou. Quem não chegou à Catedral de Westminster até às duas da tarde, hora marcada para a missa e cumprida com a típica pontualidade inglesa, teve de esperar na rua até que fosse saindo gente — para evitar atropelos e confusão, justifi cou a organização às dezenas que aguardavam a porta. As medidas de segurança estenderam-se também à captação de imagens, proibida durante toda a cerimónia. Em vez de smartphones e máquinas fotográfi cas, o Apostolado pediu às pessoas que usassem os guardanapos brancos de papel que tinham sido oferecidos juntamente com os missais para acenar à passagem da estátua, tal como é habitual nas procissões das velas em Fátima. Um ritual fácil mesmo para quem nunca pôs os pés no santuário, como Zbigniew e Ivone Lis, fi lhos de emigrantes polacos. Há quem veja os polacos e os seus descendentes — bem como os emigrantes de outros países onde o catolicismo é muito forte, como as Filipinas — como os novos impulsionadores desta religião em solo britânico. “A mensagem de Nossa Senhora acaba por ser uma fonte de união para estas várias comunidades estrangeiras, importante num país onde a religião católica ainda é uma minoria”, sublinhou Nuno Prazeres, director do secretariado internacional do Apostolado. Os dados mais recentes indicam que 8,3% da população do Reino Unido é católica, enquanto os anglicanos serão 19,8%. “Mas isso está a mudar”, acredita Michael Berry, britânico de 75 anos a residir no Norte de Inglaterra. Deslocou-se a Londres com a mulher, Catheline, para rezar perante Nossa Senhora de Fátima e celebrar a sua “excelente mensagem”, já que não planeiam visitar o santuário em breve. Para Nuno Prazeres, a cerimónia de ontem pode funcionar como “rampa de lançamento” para outras actividades e até para atrair mais ingleses a Fátima. A devoção a Nossa Senhora de Lourdes está mais presente na comunidade católica britânica, até pela proximidade geográfi ca (Sul de Franca), mas pelo menos este ano o cenário será diferente. Todas as agências de viagens inglesas contactadas pelo PÚBLICO referem um aumento exponencial no número de grupos com viagem marcada para Fátima, quase todas já com lotação esgotada. Coroação da imagem oferecida a Inglaterra e a Gales marca o arranque da celebração do centenário das aparições. A comunidade portuguesa não faltou à chamada, mas não esteve sozinha Capelinha das Aparições, em Fátima, e que integra 2650 pedras preciosas e 313 pérolas oferecidas pelas mulheres portuguesas, como forma de agradecimento por o país não ter participado na Segunda Guerra Mundial. Rainha “mais moderna” Para a estátua presente em Inglaterra, a Leitão e Irmão fez uma “reinterpretação da coroa de 1942, desenhada para uma rainha do século XXI, mais moderna”, explicou ao PÚBLICO Jorge van Zeller Leitão, representante da joalharia. O modelo em prata dourada mantém as rosas na base da coroa e introduz quatro pétalas de rosa que representam uma mãe a abraçar o fi lho. A coroa foi encomendada pelo Apostolado Mundial, mas acabou por ser uma oferta da empresa, tal como aconteceu em 1942: Reportagem Marisa Soares, em Londres Em vez de smartphones e máquinas fotográfi cas, o Apostolado pediu às pessoas que usassem os guardanapos brancos de papel que tinham sido oferecidos para acenar à passagem da estátua Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 11 SOCIEDADE Quem chumbar na 1.ª fase paga 3 euros por prova para ir à 2.ª Os alunos internos do ensino secundário que fi zerem exames na 2.ª fase vão ter de pagar três euros por prova, segundo determina o novo regulamento de exames para este ano lectivo, que foi há dias publicado em Diário da República. Os alunos internos são aqueles que frequentam a escola até ao fi nal do ano lectivo. Mais estudantes vão ter de pagar para fazer exames nacionais Até agora, deste grupo, só os estudantes que iam à 2.ª fase para melhoria de nota é que tinham de pagar, no caso dez euros. Os estudantes que repetiam os exames por não terem conseguido aprova- ção na 1.ª fase estavam isentos do pagamento de qualquer propina. As receitas das provas revertem a favor das escolas em que estas são realizadas. A 1.ª fase dos exames é obrigató- ria para todos os alunos, mas várias dezenas de milhares de jovens costumam tentar a sorte na 2.ª fase, nomeadamente em disciplinas como Matemática A, Física e Química A ou Biologia e Geologia. Os alunos do ensino secundário que realizarem exames na 2.ª fase para melhoria de nota continuarão a ter de pagar dez euros. Esta mesma quantia continuará a ser pedida aos alunos do ensino básico que vão como autopropostos aos exames do 9.º ano, seja por terem chumbado por faltas ou, estando fora da escolaridade obrigatória, por terem anulado a matrícula no 3.º período escolar, ou ainda porque se propõem a exame sem terem estado inscritos em qualquer escola. Tanto no básico, como no secundário, a inscrição para os exames dos alunos que vão como autopropostos por já não se encontrarem inscritos em escolas foi antecipada de Março para Fevereiro, neste novo regulamento. Este prazo iniciou-se a 13 de Fevereiro, três dias depois da publica- ção do novo regulamento em DR, Educação Clara Viana Até agora, quem repetia exames por não ter conseguido passar na 1.ª fase estava isento. Receitas revertem para as escolas cviana@publico.pt e terminará no próximo dia 24. Em 2017 realizam-se provas de aferição no 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade, que decorrerão entre Maio e Junho. Neste último mês decorrerão também os exames nacionais do 9.º, 11.º e 12.º anos. As provas de aferição, que serão obrigatórias pela primeira vez no 2.º. 5.º e 8.º, vão incidir nas disciplinas de Português, Matemática, Estudo do Meio e Expressões Artísticas e Motoras no caso do 2.º ano. No 5.º ano estarão em avaliação as disciplinas de Matemática, Ciências Naturais e História e Geografi a de Portugal. E no 8.º ano as provas serão feitas a Português, Ciências Naturais e Físico-Química. 12 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 LOCAL Enquanto o Porto espera pelo Batalha, o cinema vai no Trindade O Cinema Trindade voltou esta semana a exibir cinema diariamente, após um interregno que vinha desde o ano 2000, quando as suas duas salas-estúdio construídas oito anos antes foram encerradas por falta de espectadores. A aposta do programador e distribuidor Américo Santos e da Nitrato Filmes vem assim fazer regressar a programação cinematográfi ca regular à Baixa do Porto, algo que actualmente só acontecia no Estúdio 111, a pequena sala do centenário Teatro de Sá da Bandeira exclusivamente dedicada ao cinema pornográfi co. É caso para dizer: enquanto a cidade espera pelo prometido regresso do Batalha, o cinema vai agora (de novo) no Trindade, uma sala também centenária (abriu em 1913), mas que, com outras congéneres do centro urbano, tinha fi cado pelo caminho com a crise que nas últimas décadas atingiu os cinemas de bairro e de rua, substituídos pelos multiplexes, que, no caso do Porto, cresceram como cogumelos na área metropolitana — onde actualmente há mais de seis dezenas de ecrãs. “Queremos valorizar o Porto e a Baixa como lugar de estreia de fi lmes, sem fi car sempre à sombra de Lisboa”, diz ao PÚBLICO Américo Santos, ressalvando, no entanto, não pretender fazer “nenhum ataque à capital”. E o Trindade reabriu mesmo uma porta na Rua do Almada, onde agora um novo lettering “Cinema Trindade”, inscrito sobre fundo pretovermelho-amarelo, surge ao lado das velhas letras “Salão Jardim da Trindade” do início do século XX. Mantém também a entrada principal pela Rua de Ricardo Jorge, partilhada com o acesso ao bingo que nos últimos anos permitiu manter a casa aberta. Regresso da exibição diária à Baixa é mais um desafi o à recuperação da vida cultural, e não só, numa cidade onde há duas décadas havia mais de uma dezena de cinemas — hoje há apenas quatro ADRIANO MIRANDA Depois de uma pré-abertura simbólica com a estreia portuense de Ornamento & Crime, de Rodrigo Areias, a 5 de Fevereiro, o Trindade inaugurou as sessões diárias nas suas duas salas com outra estreia na cidade, a produção brasileira Mãe Há Só Uma, de Anna Muylaert, ao lado de Toni Erdmann, de Maren Ade, repondo simultaneamente O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues, Silêncio, de Martin Scorsese, e Boi Neon, de Gabriel Mascaro. “Vamos apostar numa programa- ção que fará o cruzamento entre estreias da produção internacional do cinema de autor e o acolhimento de ciclos, festivais e iniciativas de teor mais cineclubista”, anunciou Amé- rico Santos. É assim que, em paralelo com o fl uxo da produção actual, o Trindade irá lançar o ciclo Iné- ditos no Porto, numa selecção que inclui fi lmes de Walter Salles (Jia Zhang-Ke — Um Homem de Fenyang), Anita Rocha da Silva (Mate-me por favor), João Monteiro (Nos Interstícios da Realidade — O Cinema de António de Macedo), Maíra Bühler e Matias Mariani (A Vida Privada dos Hipopótamos), Pablo Giorgelli (As Acácias), ou Últimas Conversas, documentário póstumo do brasileiro Eduardo Coutinho, que será apresentado pelo professor e realizador Jorge Campos. A presença de realizadores e actores a apresentar os fi lmes é, de resto, outra promessa de Américo Santos, que quer também apostar no trabalho com as escolas, para quem serão destinadas as sessões matinais. “Queremos funcionar a tempo inteiro, e para isso envolver as escolas e os professores, mas também as associações da cidade”, diz o programador, que assinou com a Empresa Cinema Trindade um contrato de arrendamento por oito anos. “É um risco calculado; fi zemos as nossas contas, sabemos que vamos ter um período mais complicado quando nos aproximarmos do Verão, mas acreditamos no nosso projecto”, acrescenta. Regresso à Baixa O regresso do Trindade é saudado por Dario Oliveira, fundador da associação Porto/Post/Doc, um festival de cinema documental associado a uma programação regular no Passos Manuel, Há Filmes na Baixa. “Esta aposta demonstra uma grande coragem de investimento pessoal e uma genuína paixão pelo cinema”, diz o programador, realçando a importância do espectáculo cinematográfi co para o reforço da movida no centro urbano. Cinema Sérgio C. Andrade Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 13 PAULO PIMENTA “Já tínhamos os teatros, as salas de espectáculos, os bares e restaurantes a abrir freneticamente; chegou agora a hora de abrir um cinema no coração da Baixa, ideia de negócio com futuro, mas desta vez a pensar nos habitantes da cidade, não nos turistas”, realça Dario Oliveira. Põe a tónica na necessidade de fazer regressar ao centro habitantes locais, “pessoas que trabalham e gostam de viver todo o ano na cidade”, e para as quais é necessária uma nova política de habitação e de alugueres, fazendo com que morar na Baixa “não seja um luxo só para alguns”. O Trindade integra o cartão Trisariado por Regina Guimarães e Saguenail, que, no âmbito do Cultura em Expansão, desde 2014 tem vindo a levar cinema aos bairros e salas de associações de moradores. “Os cinemas desapareceram no Porto, mas nunca desapareceu a cultura da cinefi lia, que se tem vindo a renovar de forma entusiasmante”, diz Guilherme Blanc, lembrando a responsabilidade e a acção da autarquia neste domínio, nomeadamente com a decisão de alugar e recuperar o Batalha para ser a Casa do Cinema. Este edifício, emblemático pela sua história enquanto cinema, mas também enquanto exemplo do modernismo arquitectónico, tem sido de facto um bom retrato do quadro da exibição cinematográfi ca na Baixa. Foi inaugurado na praça com o mesmo nome, primeiro como Salão High-Life — continuador do primeiro cinema de raiz existente na cidade —, depois como Batalha, simultaneamente cinema popular e templo de cinefi lia (ecrã do Cineclube do Porto). Fechou no ano 2000 e foi depois “palco” de uma experiência falhada de programação pela associação de comerciantes do Porto. Em 2010, entrou em ruína. Só uma sala no centro Num levantamento feito pelo PÚBLICO no fi nal da primeira década deste século (2008) sobre o parque de cinemas portuenses, havia só uma sala em actividade regular na Baixa (o já referido Estúdio 111), e, dentro da cidade, apenas três outros cinemas abertos (o multiplex Dolce Vita, actual Nos-Alameda, o Campo Alegre e os Cidade do Porto, entretanto também encerrados), oferecendo um total de 14 ecrãs. Duas décadas antes, aquando do nascimento do PÚBLICO (Março de 1990), a situação era bastante diferente: havia na mesma dezena e meia de ecrãs, mas estavam distribuídos por outros tantos cinemas (só o Lumière e o Batalha é que tinham duas salas, e o Trindade estava em renovação), e cinco deles situavam-se no centro urbano (o Sá da Bandeira, o Passos Manuel e o São João, além dos atrás referidos). Nessa altura, fora do Porto, apenas Matosinhos oferecia cinema (Chaplin e York). Este quadro contrastava já com o que acontecia no início da dé- cada de 1980, quando a cidade tinha 21 cinemas em cartaz. No decurso das últimas três dé- cadas, a situação alterou-se radicalmente. É verdade que actualmente os espectadores têm à disposição seis dezenas de ecrãs nos vários multiplexes que rodeiam o Porto. Mas a cidade, e especialmente a Baixa, fi caram desertos neste domínio, refl exo do próprio êxodo dos habitantes para os concelhos limítrofes. Pelo caminho desapareceram de vez salas como o Lumière (transformado em garagem), os Central Shopping (escritórios), o Terço (demolido), o Águia d’Ouro (hotel), o Olímpio (bingo), o Raione (discoteca), o Júlio Dinis (salão de baile), o Vale Formoso (durante anos templo da Igreja Universal do Reino de Deus). Outros permanecem fechados e aproximam-se da ruína, como o Estúdio Foco, os Stop e o Pedro Cem, os dois últimos agora propriedade da Nos, e que fonte da empresa assegura não haver intenção de retomar a actividade de cinema. É verdade que alguns sofreram intervenções de restauro e actualiza- ção recomendáveis para outros fi ns culturais — o Coliseu, o São João, o Rivoli, o Carlos Alberto —, mas outros permanecem fechados, e alguns parecem esperar ainda que algum empresário volte a apostar no seu regresso ao cartaz. O exemplo mais notório é o Nun’Álvares, na Boavista, que depois de uma experiência falhada de reactivação entre 2009-11, continua a manter a face de um cinema à espera de melhores dias — ainda aí se podem ver cartazes dos últimos fi lmes exibidos, como José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, ou Shirin, de Abbas Kiarostami. António Oliveira, o proprietário, confi rma que o Nun’Álvares mantém a plateia e o ecrã, e que gostava de o voltar a ver abrir como cinema. “Não sei é se a altura é a melhor, e se voltará a haver condições para isso”, confessa, mas não parecendo desistir. A forma como os espectadores responderem ao desafi o da reabertura do Trindade pode determinar o destino de outras salas. “Acredito que os cinemas de bairro, ou cinemas de rua, são a melhor forma de ver cinema, mas para isso ser uma realidade com futuro e plenamente integrada na vida cultural duma cidade, a Baixa terá de voltar a ser habitada pelas pessoas”, diz Dario Oliveira. 4 cinemas (12 ecrãs) estão hoje em actividade diária dentro da cidade, mas oito dos ecrãs são no shopping Alameda Shop e Spot; os outros sendo no Trindade (2), no Estúdio 111 e no Estúdio Campo Alegre 21 no início da década de 1980, havia 21 cinemas em funcionamento no Porto: eram todos salas individuais, à excepção dos dois ecrãs dos Lumière e do Batalha e Sala Bebé 15 em 1990, havia 15 ecrãs. Nessa altura, no Grande Porto só funcionavam dois cinemas, em Matosinhos: Chaplin e York 2 em 2008, havia apenas duas salas em actividade dentro do perímetro da cidade: o Estúdio Campo Alegre e o Estúdio 111 (este exclusivamente com cinema pornográfico) 63 ecrãs estão hoje instalados nos seis centros comerciais do Grande Porto: ArrábidaShopping (20), GaiaShopping (9), NorteShopping (9), MarShopping (8), MaiaShopping (5) e Parque Nascente (12) pass, iniciativa da câmara que dá 25% de descontos a frequentadores desta casa e do Passos Manuel, mas também dos estúdios do Rivoli e do Campo Alegre. A autarquia “acredita que é possí- vel restaurar a dinâmica de públicos no Porto”, diz Guilherme Blanc, adjunto de Rui Moreira para a Cultura. Daí a associação daquelas salas na iniciativa Tripass, a que se acrescenta a programação de fi lmes noutros espaços da cidade, como o auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett acolhendo cinema aquando da Feira do Livro, ou o projecto Nove e Meia — Cineclube Nómada, comis- sca@publico.pt Os filmes regressaram aos ecrãs do Trindade e o Batalha vai ser recuperado para se tornar na Casa do Cinema Guilherme Blanc, adjunto de Rui Moreira para a Cultura 14 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 ECONOMIA Exportação de gado salva Novo Banco de buraco de 53 milhões Na planície ligeiramente ondulada da Herdade do Trolho, na margem da estrada que liga Cuba ao Alvito, milhares de bovinos concentram-se em dezenas de parques de engorda espalhados pela paisagem. No Alentejo, é normal ver-se gado a pastar, mas o que se descobre nesta herdade da empresa Monte do Pasto nada tem que ver com a tradição — o que aí existe é uma poderosa máquina de engordar animais. A empresa, que passou dez anos no limiar da falência e que, em 2014, vendeu apenas 2000 bovinos, deu a volta à crise e no ano passado comercializou 30 mil; depois de sucessivos falhanços que geraram dívidas de 53 milhões de euros ao antigo BES, conseguiu no ano passado facturar 25 milhões e começou a amortizar dívidas. Num caso raro de recuperação, a Monte do Pasto transformou-se, em apenas dois anos, na maior fábrica de engorda de animais vivos do país (representa 10% do sector nacional e 1% da produção europeia). Num sector no qual Portugal é defi citário e que ao logo dos anos se mantém num persistente estado de sobrevivência, a Monte do Pasto é um caso raro que técnicos da pecuária, especialistas no comércio externo ou responsáveis políticos pela Agricultura seguem com particular atenção. O que aconteceu? Clara Moura Guedes, a administradora da empresa, encolhe os ombros e larga: “Tivemos sorte.” Ao seu lado, um dos principais assessores da administração, Gonçalo Macedo, completa: “E soubemos agarrá- la.” A “sorte” de que Clara Moura Guedes fala aconteceu com a abertura do mercado de Israel à importação de animais vivos, em Maio de 2015. Mas a transformação Exportação de animais vivos para Israel salva Novo Banco de buraco de 53 milhões de euros. Em 2016, a Monte do Pasto facturou 25 milhões e começou a amortizar o seu passivo fi nanceiro com exportação de 30 mil bovinos de uma empresa moribunda numa organização capaz de explorar essa oportunidade reclama outras explicações. Como muitas empresas do sector primário, a Monte do Pasto nasceu sob o signo da grandeza. Em 1981, um agricultor infl uente da zona de Beja, João Urbano, fundou a SAPJU (Sociedade AgroPecuária João Urbano) com o objectivo de criar uma unidade de produção com escala para resistir à invasão de carne estrangeira. Nada haveria de faltar para essa ambição: os fundos europeus abundavam; nove herdades com uma área de 3680 hectares propiciariam espaço para o pasto ou para parques de engorda; uma fábrica de rações haveria de verticalizar a produção; e o aluguer e posterior compra do matadouro de Beja garantiria à SAPJU o controlo do circuito da carne desde o prado até à saída para os talhos. O projecto acabaria por se defrontar com obstáculos por volta de 2005, quando às difi culdades do mercado se juntaram problemas com a sucessão do fundador. Seria comprada por dois investidores, que fi zeram investimentos vultuosos e acumularam dívidas galopantes no BES. Quando a empresa entrou em incumprimento e se mostrou incapaz de remunerar as suas dívidas, o banco tomou conta da sua gestão. Um problema de foco O problema principal da empresa era o seu foco. Ao tentar produzir para o mercado interno, entrou em competição com a carne importada de países como a Polónia ou a Roménia cujo preço era imbatível. “Nós não somos um país com muita sensibilidade para a qualidade: o que conta no mercado interno é fundamentalmente o preço”, nota Clara Moura Guedes. Quando a gestora é convidada pelo ainda BES a tomar conta dos destroços da SAPJU, havia já razões para acreditar que a dependência do mercado interno não tinha saída. Um estudo encomendado à AgroGés insistia ainda nesse caminho. “Ainda bem que não o seguimos”, diz com um sorriso a administradora. No início do mandato de Clara Moura Guedes, o que era fundamental era tornar a empresa capaz de produzir e de competir. O momento para se discutir e aprovar o que se fazer, porém, não podia ser pior. No fi nal de Julho de 2014, quando Clara Moura Guedes se preparava para assumir a gestão, o BES explode. “Num dia, conseguimos aprovar com o banco um fi nanciamento de 14 milhões para reestruturar a empresa; na segunda-feira seguinte já não havia banco”, recorda a gestora. Só em Setembro, já com o Novo Banco, a equipa de Stock da Cunha aprovaria o plano e apenas em Novembro o processo fi caria pronto para arrancar. a extinta SAPJU) não fosse capaz de aproveitar uma oportunidade aberta pela diplomacia económica. Depois de quase dez anos de negociações, Portugal e Israel celebram um acordo comercial que abre as portas à exportação de animais vivos. Três meses depois do acordo, em Agosto de 2015, a Monte do Pasto junta-se à Raporal, uma empresa com base no Montijo, para a primeira exportação. Mas, de imediato, Clara Moura Guedes e Gonçalo Macedo fi zeram as malas e voaram para Telavive. E autonomizaram-se da Raporal. Para sua sorte, dispunham de um trunfo inesperado: a qualidade dos animais que produziam permitia que até 95% da sua carne pudesse ser classifi cada como kosher (estado sanitário conforme à lei hebraica). Reportagem Manuel Carvalho Clara Moura Guedes defrontase com muitos problemas e mais um: “Não percebia nada de vacas nem de pecuária.” Vinda da indústria dos lacticínios (fora administradora e accionista da Queijo Saloio), os bovinos eram para ela “como outra coisa qualquer”. A contratação de Gonçalo Macedo, um agrónomo com experiência na gestão pecuária, supriria essa necessidade. O resto, acreditava, seria conseguido com uma gestão efi ciente e focada. É neste âmbito que se reconstroem cercas, se adquirem máquinas e animais, se aproveitam os fundos agrícolas da Europa e se fazem contratos de fornecimento com outros produtores pecuários da região. Talvez nenhum destes esforços resultasse se a Monte do Pasto (como então se passou a chamar Problema da empresa era o foco: ao produzir para o mercado interno, entrou em competição com a carne importada cujo preço era imbatível Com os pés em Israel está agora em vias de alargar os negócios à Jordânia, ao Egipto e à Argélia Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 15 ENRIC VIVES-RUBIO PUBLICIDADE manuel.carvalho@publico.pt Com os pés em Israel, a Monte Pesto está agora em vias de alargar os negócios à Jordânia, Egipto e Argélia Firmados os primeiros contratos, era fundamental garantir volume de produção. Um barco para Israel transporta de cada vez cerca de 2400 animais, uma quantidade impossível de satisfazer pela maioria esmagadora das empresas nacionais. O espaço disponível, os investimentos em parques de engorda ou os contratos de fornecimento com 20 produtores da região foram as respostas encontradas para o desafi o. A capacidade de engorda da Monte do Pasto ronda hoje os 12 mil animais em simultâneo. Para lá deste efectivo, a empresa dispõe ainda de 1400 vacas reprodutoras. Com este potencial, foi possível exportar no ano passado cerca de 30 mil animais para o Médio Oriente. Expansão continua Com os pés em Israel, a Monte do Pasto está agora em vias de alargar os negócios à Jordânia, ao Egipto e à Argélia. “São países onde há um grande conhecimento sobre a qualidade da carne e onde o consumo está a aumentar”, diz Clara Moura Guedes. Os contactos exploratórios estão feitos e para breve está prevista a assinatura de “um grande contrato” com a Argélia. Para o garantir, a empresa terá de reforçar a sua capacidade de produção. E de aumentar a efi ciência num negócio que, em Portugal, “está muito pouco profi ssionalizado”. Consolidada a estratégia, a Monte do Pasto conseguiu no ano passado apresentar um resultado operacional positivo e começou a amortizar dívidas. Em breve o Novo Banco lançará uma operação para a sua venda. A empresa deixou de ser um problema de crédito para se tornar um activo. E para o futuro há já novos projectos: entrar no negócio de carne maturada, avançar para a carne processada, produzir e exportar borregos e investir no alargamento das pastagens regadas dos actuais 40 para os 1100 hectares, o que ocorrerá quando a nova fase do Alqueva for construída. Muitos desafi os para uma empresa que há alguns meses tinha como objectivo a sobrevivência. Um negócio de peso N a Monte do Pasto criam-se bovinos, mas a maior parte dos animais são comprados fora de portas quando acaba o aleitamento — embora haja por lá 1400 vacas aleitantes. O negócio da empresa é engordá-los e vendê-los. Regra geral, a Monte do Pasto compra bovinos com cerca de 220 quilos e vende-os quatro meses mais tarde com 350 a 450 quilos. Se forem exportados, os animais passam ainda cerca de dois meses em “acabamento” nos países de destino antes do abate. Num estado sanitário normal, um bovino macho pode engordar até 1,4 quilos por dia. Uma fêmea 1,1 quilos por dia. Mas a diferença entre raças é enorme. As autóctones, como a mirandesa ou a mertolenga, são apreciadas pela qualidade da carne; as raças Angus, cruzada de Limousine ou charolesa (as que existem no Monte do Pasto) valem pela produtividade. O segredo do negócio está também na eficiência da alimentação — e na qualidade do seu estado sanitário. Para o efeito, a Monte do Pasto dispõe de uma fábrica de rações, na Herdade do Trolho, que produz 34 mil toneladas/ano a partir de milho, cevada, derivados de soja e palha — fundamental para a digestão dos animais. “A nossa receita é muito boa e perante a procura esta pode ser uma área de negócio para crescer”, diz a gestora Clara Moura Guedes. O volume de produção da empresa começa a ter impacto nas estatísticas e a influenciar as cotações no mercado interno. Entre 2014 e 2016, a exportação de animais vivos quase duplicou, passando para 104 mil, o que valeu 86,1 milhões de euros. “O aumento das exportações de animais vivos, caso particular dos bovinos, tem tido um efeito positivo particularmente ao nível dos preços”, ao incentivar a produção e ao criar a “possibilidade de canais alternativos de escoamento”, explica Eduardo Diniz, director- -geral do GPP, o gabinete de planeamento e políticas do Ministério da Agricultura. “As iniciativas de explorações de engorda e acabamento, de que Monte do Pasto é um exemplo, permitiram que a produção da bovinicultura extensiva não ficasse tão dependente dos circuitos de comercialização do mercado nacional, que se caracterizavam por uma pressão de preços em baixa elevada”, explica. Portugal importa cerca de metade das suas necessidades de carne bovina, cerca de 100 mil toneladas por ano. Em 2015, o sector da carne representou 8,6% do valor da produção agrícola. Dois anos antes, existiam em Portugal 1,4 milhões de bovinos (nem todos para produção de carne). O Alentejo, com 607 mil animais, era a região com mais peso. 30 Em 2014 a empresa vendeu apenas 2000 bovinos, mas deu a volta à crise e no ano passado comercializou 30 mil bovinos 16 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 MUNDO “O que Le Pen quer dar aos franceses é sinistro” Benoît Hammon O candidato socialista às presidenciais francesas veio a Lisboa estudar a esquerda portuguesa, que o tem intrigado. António Costa e Bernie Sanders são alguns dos seus modelos Entrevista Clara Barata Benoît Hammon veio a Lisboa numa viagem de estudo. Quis perceber como conseguiram as esquerdas desavindas unir-se para governar. “O que se passa em Portugal inspira-me tanto”, diz. A braços com a difícil tarefa de convencer o ex-socialista Jean-Luc Mélenchon a unir-se a dele, para tentar formar uma maioria de esquerda — que em teoria poderia ter mais votos do que a líder da extrema-direita Marine Le Pen — Hamon reuniu-se com o primeiroministro, o socialista António Costa, com o Bloco de Esquerda, e com as centrais sindicais. As presidenciais francesas realizamse em duas voltas, a 23 de Abril e a 7 de Maio. Vem estudar a chamada “geringonça”, para tentar reproduzir uma aliança das esquerdas em França para as presidenciais? Queria que a minha primeira deslocação ao estrangeiro fosse a Portugal. É uma escolha política. É um país dirigido por um governo de esquerda, apoiado por uma coligação de esquerda, num país que virou as costas à austeridade. Observo o que se faz em Portugal há anos, por exemplo, no que toca à despenalização do consumo das drogas, que faz parte do meu programa. Com o primeiroministro, António Costa, vou discutir [a reunião foi ontem] um projecto de tratado orçamental para os países da zona euro e outro sobre a energia, para relançar o projecto europeu, no qual está a trabalhar o economista Thomas Piketty. A Europa é como uma bicicleta, que cai quando deixamos de pedalar, e há muito tempo que os dirigentes europeus deixaram de pedalar. Ganhou novas perspectivas para negociar uma aliança com Jean-Luc Mélenchon (o segundo candidato mais bem qualifi cado da esquerda, com cerca de 11% de intenções de voto)? Ah! Em Portugal a esquerda decidiu que queria ganhar, por isso uniu-se e governa. Eu quero ganhar e reunir a esquerda para governar, mas não posso decidir por Jean-Luc Mélenchon. Mas em Portugal a esquerda juntou-se depois das eleições, em França terá de juntarse antes de ir votos para ter alguma hipótese. Sim, é diferente. Mas as sondagens dizem que para os eleitores de esquerda, eu sou o candidato mais bem colocado [tem cerca de 17% das intenções de voto], para poder falar à esquerda moderada e à radical. Se adicionarmos os votos todos da esquerda, meus, de Mélenchon e dos ecologistas, fi camos à frente de Marine Le Pen. Só devemos olhar em frente, porque o risco da extrema-direita é demasiado grave. Poderia abandonar a corrida eleitoral para Mélenchon, se ele persistir em não retirar a sua candidatura, para conseguir a unidade da esquerda? Isso quereria dizer que o mais bem colocado para ganhar abandonaria a corrida. Estou muito aberto, não me imponho a ninguém, mas há um princípio de realidade — é preciso ver quem teria mais hipóteses de bater Marine Le Pen na segunda volta. Qual é a sua estratégia para recuperar os eleitores de esquerda que fugiram para Marine Le Pen ao longo dos anos? Foram as nossas renúncias que tornaram Marine Le Pen tão forte como é hoje: nos serviços públicos, nos salários, nas condições de trabalho. Sempre que a República Francesa falha em garantir a igualdade de direitos — no acesso à educação, no acesso à saúde, à habitação —, a extrema-direita propõe um discurso violento e brutal, mas que responde às angústias e cólera dos franceses. Não podemos combater Le Pen com um projecto morno, que continue a oferecer soluções de ontem. É preciso “propulsionar”, como ela diz, um projecto político forte, a que chamo “a esquerda total”, contra a “direita total” com um imaginário poderoso, a longo prazo. Incluo aí as taxas sobre os robôs, o rendimento de existência, a reconversão ecológica do nosso modelo económico, a VI República, como um projecto político coerente que dê prioridade aos cidadãos, que corresponda às mutações do trabalho. Pensar numa nova Segurança Social e mudar a forma como produzimos e consumimos, porque estamos a destruir a saúde do planeta. A extrema-direita propõe um discurso violento, mas que responde às angústias e à cólera dos franceses. Não podemos combater Le Pen com soluções de ontem Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 17 MIGUEL MANSO São propostas polémicas. Tem a certeza de que conseguirá unir o seu próprio partido? Quando François Hollande se candidatou às primárias, eu não votei nele. Mas defendi-o, porque essa é a regra do jogo das primárias. Não posso obrigar ninguém a apoiar-me. Mas acho perigoso fi car em casa, escondermo-nos no momento em que Marine Le Pen se torna um perigo real para o país. Os meus amigos políticos que decidirem não fazer campanha por mim são livres de o fazer. Se tiver de ser sem eles, será sem eles. Fala-se do norte-americano Bernie Sanders e do britânico Jeremy Corbyn como inspirações do seu programa. Sanders mais do que Corbyn. Mas António Costa também. O que se passa em Portugal inspira-me tanto. Analiso todos os países onde a esquerda está com a cabeça à tona de água porque se assume de esquerda. Todas as esquerdas que conheceram a experiência do poder na Europa, mas que decidiram converterse ao liberalismo no plano “Não se pode confundir o terrorismo com a prática da religião muçulmana” O terrorismo é um problema grave em França. O Presidente, François Hollande, escolheu um caminho muito duro para o combater. Faria o mesmo? O maior problema foi a ideia de retirar a nacionalidade aos franceses julgados por actos de terrorismo, porque inscreveria na Constituição uma desigualdade perante a lei entre os cidadãos. Mas houve um recuo, e o reconhecimento do erro. É preciso ser implacável com o terrorismo, porque os fanáticos religiosos matam sem distinguir origem nem religião. Apoio as escolhas que foram feitas, mas digo que não se pode confundir o terrorismo com a prática da religião muçulmana em França. É por isso que sou um grande defensor dos princípios da lei da laicidade de 1905, que protege de igual forma uma rapariga que anda de calções em qualquer lugar em França, como outra que decide, em toda a liberdade, usar um lenço islâmico, porque isso corresponde à sua convicção religiosa. É esse princípio da laicidade que quero proteger. Mas há quem o questione. Há radicais islâmicos, religiosos, que querem pôr em causa o princípio da liberdade de consciência em França, e a extrema-direita quer fazer da laicidade um instrumento de ataque. A laicidade não é a religião dos que não têm religião. Não é mais um dogma. É um princípio que permite aos que acreditam e aos que não acreditam viverem juntos. E pretendo ser o seu garante intransigente, se for Presidente. Uma visão que não é unânime no seu Partido Socialista. Eu sei. Mas acho que é errado. O presidente Hollande disse uma bela frase: “A laicidade não é apenas mais um dogma, é a arte de vivermos juntos.” Está de acordo com a manutenção do estado de emergência? O Conselho de Estado disse que não pode ser um estado permanente. Fizemos leis de direito comum que dão novos poderes de luta contra o terrorismo à polícia, aos serviços de informação, que esvaziam o estado de emergência da sua pertinência e que justifi cariam que fosse levantado. A violência e os confrontos com a polícia voltaram mais uma vez aos subúrbios de Paris, por causa do jovem Théo, ferido pela polícia ao ser detido — foi visitado no hospital pelo presidente Hollande, dando uma dimensão política ao caso. Tem propostas para resolver este problema cíclico? É preciso acabar com os controlos de identidade feitos repetidamente. Um pai, ou uma mãe, não pode ter receio pelos seus fi lhos quando acontecem estes controlos da polícia. A população deve sentir-se protegida pela polícia, em vez de se gerar inquietude quando surge a polícia. É preciso restabelecer a relação de confi ança. Esta é uma questão muito importante para os próximos anos e na qual também me quero envolver enquanto Presidente. C.B. Em Portugal a esquerda decidiu que queria ganhar, por isso uniu-se e governa cbarata@publico.pt económico — à redução dos custos do trabalho e da despesa pública, à política de austeridade — foram castigadas nas urnas: o Pasok (Grécia), Matteo Renzi (Itália), Hollande, que termina o seu mandato em condições difíceis, os trabalhistas britânicos que não apoiaram Ed Miliband. Mas isso não quer dizer que tenha chegado o tempo de uma esquerda radical, é antes momento de uma esquerda que deve olhar para o mundo tal como é, e não como era. O que me interessa é o horizonte, e não fazer ajustes de contas. Interessa-me prestar atenção às mutações do trabalho — Bill Gates diz que os governos devem taxar os robôs que roubam trabalho às pessoas, Barack Obama alerta que a digitalização da economia vai traduzir-se na supressão de milhares de empregos. Quero concentrar-me no que será um futuro desejável e espero captar o interesse de uma maioria dos franceses, porque o futuro de Marine Le Pen é um futuro sinistro. O que tem a dizer aos investidores que estão com medo de pôr dinheiro em França por causa de Marine Le Pen e agora também estão com medo de si, na eventualidade de conseguir fazer uma aliança de esquerda? Foram os mercados fi nanceiros que criaram Marine Le Pen, à força de fazerem os Estados pagar as consequências de um sistema que enlouqueceu em 2008. (Bate a mão na mesa para dar ênfase.) Criaram Le Pen, criaram Viktor Orbán, criaram essa gente toda. Hoje precisamos de regulação, para evitar a pior das desordens, que seria a chegada da extremadireita ao poder. É preciso mudar de prioridades e tomar decisões correctas — a principal dívida é a dívida ecológica, estamos a tornar o nosso planeta inabitável. E não podemos negociar com o planeta. É preciso tomar as decisões correctas, ainda que sejam contra os mercados. Eu defenderei a reestruturação e a anulação de parte das dívidas. Não se pode confundir o terrorismo com a prática da religião muçulmana em França. Por isso sou um grande defensor da lei da laicidade de 1905 18 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 MUNDO Equador decide se continua “revolução” de Correa GUILLERMO GRANJA/REUTERS Apoiantes do principal candidato da direita, Guillermo Lasso, num comício em Quito Cheira a fi m de era no Equador. Nos últimos dez anos, o Presidente, Rafael Correa, pôs em prática aquilo que defi niu como “revolução cidadã”. Os equatorianos escolhem hoje um novo chefe de Estado e, inevitavelmente, vão fazer um balanço da governação da década que transformou o país. Longe vão os tempos em que o Presidente equatoriano era o líder com a mais elevada taxa de aprovação na América Latina. Correa sai de cena com a sua popularidade em queda, fruto de uma combinação que junta o arrefecimento económico do último ano, os confrontos com a comunidade indígena e o desgaste provocado por uma presidência que os críticos dizem ter sido pouco dialogante. De acordo com uma sondagem das empresas Cedatos e Gallup publicada em Dezembro, apenas 35% dos eleitores apoiavam Correa. A recessão do ano passado, recuo de 2,3% do PIB, pôs um travão à polí- tica expansionista que Correa privilegiou desde que chegou ao poder em 2007, responsável por tirar milhões de pessoas da pobreza e ter reduzido a taxa de desemprego para valores mínimos — está hoje nos 5%. Porém, os rendimentos continuam a ser muito baixos. Quase 20% dos trabalhadores ganham menos de 350 euros por mês, escreve o El País, algo que põe em causa a fi losofi a do “bem viver” defendida por Correa e transformada em política de Estado. O “bem viver” é alicerçado num conjunto de políticas públicas que colocam o bem-estar individual à frente de outros objectivos como a “opulência” ou “o crescimento económico infi nito”, de acordo com o Governo. Foram anos de grandes investimentos públicos e de reforço das prestações sociais, mas a queda do preço do petróleo dos últimos dois anos — que representa metade das exportações — colidiu com os projectos do Governo. Neste contexto, parece certo que o próximo governante terá uma conjuntura consideravelmente diferente da que Correa encontrou. “O dos Panama Papers atingiu vários responsáveis políticos, incluindo um ex-governador do banco central e o procurador-geral. Mas o grande impacto tem vindo do caso que envolve a Petroecuador, a petrolífera estatal. Mais de 20 pessoas são acusadas de vários crimes, incluindo o antigo presidente da empresa e um ex-ministro, que fugiu do país. Mais recentemente, também a investiga- ção que envolve a construtora brasileira Odebrecht trouxe a público ligações ao Governo de Correa. Os candidatos A personalidade carismática de Correa pairou sobre a campanha eleitoral. E, ironicamente, isso pode ter prejudicado o candidato que lhe é mais próximo. Lenin Moreno é um ex-vice-presidente que tem procurado um difícil equilíbrio: apresentarse como um candidato com um peso próprio e diferente do actual Presidente, ao mesmo tempo que reclama a sua herança de justiça social. “A sua mensagem não foi clara”, diz à AFP o analista Franklin Ramí- rez. “De início apresentou-se como ‘descorreizador’, mas nas últimas semanas foi-se reaproximando do relato ‘correísta’”, explica. Ainda assim, Moreno aparece como o mais bem colocado para suceder a Correa, com as sondagens a darem-lhe cerca de 30% dos votos. Mas, a confi rmar-se este número, a decisão terá de ser sujeita a uma segunda volta, uma vez que é necessá- rio que o candidato mais votado tenha no mínimo 40% e uma diferença de dez pontos em relação ao segundo para ser eleito já hoje. A direita não conseguiu aproveitar a janela de oportunidade que a mudança de ciclo proporcionou ao não ter apresentado uma lista conjunta de alternativa ao ofi cialismo. São três as candidaturas que surgem à direita, com destaque para o antigo banqueiro e ex-candidato presidencial Guillermo Lasso, que promete expulsar o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, da embaixada equatoriana em Londres, onde reside desde 2012. Há ainda Cynthia Viteri, do Partido Social Cristão, e o ex-futebolista e fi - lho de um antigo presidente, Dalo Bucaram, que com Lasso disputam uma primeira volta que também serve como “uma espécie de primárias da direita”, observa Ramírez. Parece ser certo que o Equador vai entrar numa nova etapa política, diferente do “hiperpresidencialismo” atribuído a Correa. “Qualquer governo que venha, incluindo de Lenin Moreno, será muito frágil, porque a composição da Assembleia vai ser mais fragmentada, com maior representação de outras forças políticas, mais difícil de manejar e de fazer alianças”, declara à AFP o professor da Faculdade Americana de Ciências Sociais Simón Pachano. Mais do que uma nova forma de fazer política, os equatorianos decidem se a “revolução cidadã” de Correa vai passar para uma nova fase ou vai ser travada, à semelhança do que tem acontecido noutros países da região, onde líderes socialistas têm sido substituídos por presidentes à direita, como no Brasil e na Argentina. Pela primeira vez numa década, o nome do carismático Presidente não vai estar no boletim de votos. Eleições decorrem num momento de quebra de popularidade do actual líder Eleições João Ruela Ribeiro Governo não vai poder continuar a aplicar a mesma estratégia. A realidade económica mudou e a resposta política é anacrónica”, diz ao El País o economista Acosta Burneo. Outro dos focos de fragilidade do actual Governo vem de um dos sectores que mais força eleitoral lhe dava — a comunidade indígena. As relações entre Correa e os índios da província de Morona Santiago atingiram um ponto de não retorno depois de, em Novembro, ter sido enviado o Exército para a região para expulsar um grupo de nativos da etnia shuar que tinha ocupado instalações mineiras. Os indígenas opõem-se à concessão dos direitos de exploração de uma mina a uma empresa chinesa e prometem agora estender o seu protesto à mesa de voto. Há ainda o fantasma da corrupção, o tema que dominou a campanha eleitoral. A divulgação A personalidade carismática de Correa pairou sobre a campanha eleitoral. E isso pode ter prejudicado o candidato que lhe é mais próximo joao.ruela@publico.pt Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 19 MUNDO KOEN VAN WEEL/EPA Apoiantes de Wilders em Roterdão, um deles com um boné de Donald Trump Geert Wilders lançou ontem a sua campanha eleitoral prometendo acabar com a “escumalha marroquina” que, disse, torna perigosas as ruas da Holanda. Incitou os eleitores a “recuperarem” o controlo do país — e para que isso aconteça, disse, têm que votar no seu Partido da Liberdade (extrema-direita, anti-União Europeia e antimuçulmano). Wilders abriu a campanha para as eleições legislativas de 15 de Março em Spijkenisse, uma zona que é etnicamente muito diversa na cintura industrial que rodeia o porto de Roterdão e onde o Partido da Liberdade tem forte implantação. “Há muita escumalha marroquina na Holanda e isso faz com que as ruas não sejam seguras”, disse aos apoiantes e aos jornalistas que o seguiram num passeio em que se fez rodear de fortes medidas de segurança. “Se quiserem recuperar o Wilders promete acabar com a “escumalha muçulmana” ao abrir a campanha eleitoral controlo do país, devolver a Holanda aos holandeses, então têm de votar num partido.” O líder da extrema-direita vive em local não revelado desde 2004, quando um holandês de ascendência marroquina assassinou Theo van Gogh, que realizou um polémico fi lme sobre o islão (Submissão) e defendeu a sua guionista (e activista holandesa de ascendência somali) Ayann Hirsi que, num artigo de jornal, ligava o profeta Maomé à pedofi lia por ter tido uma mulher de nove anos. Wilders diz que também é um dos alvos dos radicais islâmicos (em 2002, tinha sido assassinado o então líder da extrema-direita holandesa, Pim Fortuyn; o assassino, um holandês, disse pretender acabar com o discurso de diabolização dos muçulmanos). Dos cerca de 16 milhões de habitantes da Holanda, 900 mil são muçulmanos e um terço destes são originários de Marrocos (muitos de terceira geração). Um estudo publicado pelo Ministério dos Assuntos Sociais na terça-feira revela que mais de 40% dos turcos e marroquinos na Holanda não sentem que pertencem ao país ou que são bem aceites. Wilders espera que um surto de populismo e de sentimento antimu- çulmano o catapulte para o poder. Uma das suas promessas de campanha é a proibição da imigração mu- çulmana, o encerramento de todas as mesquitas que existem na Holanda e a saída da União Europeia. Wilders — que foi recebido também por uma pequena manifestação contra as suas políticas — disse que os eleitores iriam desafi ar a “elite” e pô-lo no poder, o que, por sua vez, iria impulsionar a líder da extremadireita francesa, Marine Le Pen, e o partido Alternativa para a Alemanha — nestes países realizam-se eleições este ano, presidenciais em França, legislativas na Alemanha. O Partido da Liberdade está na frente das sondagens com 17% das intenções de voto. Mas logo a seguir surgem os liberais do actual primeiroministro, Mark Rutte, que tem vindo a adensar a retórica anti-imigração na tentativa de chegar a Wilders ou de conseguir ultrapassá-lo. Mesmo que vença, Wilders terá difi culdade em chegar ao governo — os maiores partidos já delinearam uma coligação por considerarem as políticas de Wilders ofensivas e inconstitucionais. Mas a paisagem política holandesa é muito fragmentada e será preciso uma coligação de quatro ou mais partidos para formar governo. O candidato da extremadireita diz que uma vitória sua impulsionará Le Pen em França e a Alternativa para a Alemanha A Rússia quer uma relação “pragmá- tica” com os EUA e propõe uma “nova ordem mundial pós-ocidental”, declarou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros russos, Serguei Lavrov. O chefe da diplomacia russa referiu-se ainda à NATO como a causa para o aumento da tensão na Europa, enquanto o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, garantiu apoio “inabalável” à Aliança Atlântica. É uma pergunta cada vez mais recorrente nos corredores das chancelarias de toda a Europa e também nos corredores de Washington — o que quer a Rússia? Analistas dividem-se e tentam ler os sinais de fumo que saem regularmente do Kremlin. Há quem veja na recente assertividade russa a nível externo apenas uma forma para os seus governantes conseguirem manter a popularidade interna do Presidente, Vladimir Putin, em alta. Outros vêem a Rússia a querer minar a ordem liberal ocidental, fazendoo através de interferência em elei- ções e apoio a partidos anti-sistema. Há ainda os que receiam que Putin queira reconstruir o império sovié- tico, sob o manto de uma ideologia obscura com raízes no fi nal do sé- culo XIX conhecida como o “euro- -asianismo”. Nos seus discursos, Putin e os dirigentes russos vão dando algumas pistas que apontam para algo mais concreto — a Rússia quer um lugar à mesa das grandes potências, de preferência em pé de igualdade com os EUA. Foi isso que Lavrov foi dizer à Conferência de Segurança de Munique, a primeira congregação de decisores políticos mundiais após a tomada de posse de Donald Trump. “Que tipo de relação queremos com os EUA? Uma [baseada no] pragmatismo, respeito mútuo e no entendimento da especial responsabilidade pela estabilidade global”, afi rmou Lavrov, perante uma assistência que incluía Mike Pence. Rússia propõe aos EUA “uma nova ordem mundial pós-ocidental” Um dos pontos mais contenciosos da perspectiva de Moscovo é a expansão da NATO a leste, que Lavrov responsabiliza pelo “nível de tensão sem precedentes na Europa nos últimos 30 anos”. No painel anterior, Pence tinha garantido o apoio “inabalável” de Washington à Aliança Atlântica, mas manteve o aviso de que os Estados-membro terão de aumentar os gastos com a defesa para os 2% do PIB previstos pelo tratado fundador. O vice-presidente norte-americano disse ainda que quer “responsabilizar a Rússia” pelo seu papel nas guerras na Síria e na Ucrânia. Os EUA e a União Europeia insistem na manutenção das sanções económicas até que os Acordos de Minsk sejam cumpridos. E esta semana a Casa Branca exigiu a devolução da península da Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia, à Ucrânia — palavras que mereceram uma resposta negativa de Moscovo. Enquanto Lavrov e Pence discursavam em Munique, Putin assinava uma ordem presidencial que reconhece como legais na Rússia documentos de identifi cação emitidos pelas autoridades separatistas do Leste da Ucrânia. O Kremlin argumenta que a decisão é destinada a “proteger os direitos humanos e as liberdades” dos cidadãos dos territórios ocupados pelos separatistas pró-Rússia. Em Kiev, o decreto é encarado como o reconhecimento de uma ocupação de território considerada ilegal e que pode difi - cultar ainda mais o entendimento diplomático e o cumprimento dos Acordos de Minsk. Lavrov anunciou ter chegado a acordo para um cessar-fogo no leste da Ucrânia e para o início do recuo do armamento pesado a partir de amanhã, após conversações com os seus homólogos ucraniano, alemão e francês. Várias tréguas têm sido marcadas, mas ambos os lados do confl ito acabaram por violá-las. Europa João Ruela Ribeiro Serguei Lavrov criticou a NATO no mesmo dia que Mike Pence garantiu o apoio “inabalável” de Washington à aliança joao.ruela@publico.pt Holanda Lavrov anunciou um cessar- - fogo, com recuo de armas pesadas, no leste separatista da Ucrânia 20 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 CULTURA O Urso de Ouro para a Hungria, melhor curta é portuguesa Embora Colo de Teresa Villaverde não tenha levado nenhum prémio — e a própria realizadora confessara ao PÚBLICO não o esperar —, Portugal não saiu de mãos a abanar do certame. Pelo contrário: pelo segundo ano consecutivo, o Urso de Ouro das Curtas é um fi lme português — depois de Balada de Um Batráquio de Leonor Teles em 2016, é a vez de Diogo Costa Amarante com Cidade Pequena, naquela que é a segunda passagem do realizador português em Berlim após As Rosas Brancas em 2014. Uma vitória tanto mais surpreendente quanto esta modesta produção sobre os ecos da infância era uma das poucas curtas do programa que já tinha circulado por outros festivais. Costa Amarante é o terceiro cineasta português a receber o prémio máximo das curtas de Berlim na última década, depois de Leonor Teles e João Salaviza (por Rafa em 2012). Outra das quatro curtas portuguesas a concurso, Os Humores Artifi ciais de Gabriel Abrantes, recebeu a nomeação do júri berlinense para os Prémios Europeus de Cinema. A 67.ª edição da Berlinale entregou o Urso de Ouro ao fi lme húngaro de Ildiko Enyedi On Body and Soul. O jú- ri presidido pelo realizador holandês Paul Verhoeven atribuiu o Grande Prémio do Júri a Félicité, do francosenegalês Alain Gomis; Aki Kaurismäki foi o melhor realizador por The Other Side of Hope, e os prémios de representação foram para a coreana Kim Min-hee e para o austríaco Georg Friedrich. Portugal, que estava a concurso com Colo de Teresa Villaverde, traz para casa o Urso de Ouro das curtas-metragens, pelo segundo ano consecutivo, com Cidade Pequena de Diogo Costa Amarante. O júri de Verhoeven, completado pelas actrizes Julia Jentsch e Maggie Gyllenhaal, pela produtora DoOn Body and Soul de Ildiko Enyedi é o vencedor da 67.ª edição do festival alemão. Diogo Costa Amarante é o terceiro realizador português a trazer para casa o Urso de Ouro das curtas. Berlinale Jorge Mourinha ra Bouchoucha Fourati, pelo actor Diego Luna, pelo artista Olafur Eliasson e pelo cineasta Wang Quan’an, não hesitou em esquivar-se às previsões dos observadores. On Body and Soul, romance surreal entre dois funcionários de um matadouro de Budapeste que dão por si partilhando sonhos, foi o primeiro dos 18 fi lmes a concurso a ser exibido e um dos que mais dividiram a crítica e os observadores; é o primeiro fi lme em 15 anos da húngara Ildiko Enyedi, vencedora da Câmara de Ouro em Cannes em 1999 por O Meu Século XX, e recebeu igualmente os pré- mios do Júri Ecuménico e do Júri Fipresci da Associação Internacional de Críticos de Cinema. O favorito da crítica, The Other Side of Hope do fi nlandês Aki Kaurismäki, que vive parte do ano em Portugal, recebeu o Urso de Prata para melhor realização. Fiel à sua reputação de excentricidade, o realizador não subiu a palco e fi cou no seu lugar na plateia do Berlinale Palast, fazendo vénias aos seus actores e ao público. Foram Dora Fourati e Dieter Kosslick que tiveram de lhe vir entregar o galardão ao lugar. Palmarés pouco político Os prémios de interpretação foram para a sul-coreana Kim Min-hee, actriz em recuperação de um aff aire romântico na mais recente miniatura de Hong Sang-soo, On the Beach at Night Alone, e para o austríaco Georg Friedrich, engenheiro que reaprende a lidar com o fi lho durante uma viagem à Noruega para enterrar o pai em Bright Nights do alemão Thomas Arslan. As escolhas fi zeram notar a ausência do palmarés da transexual Daniela Vega, cuja interpretação “faz” Una Mujer Fantástica. O Grande Prémio do Júri coube a Félicité, onde Alain Gomis acompanha as tribulações de uma cantora de Kinshasa e da sua família; o prémio para melhor contribuição artística foi entregue à montadora do fi lme romeN a conferência de imprensa dos vencedores — onde, tradicionalmente, o espaço dedicado às curtas é bastante escasso, Diogo Costa Amarante praticamente só respondeu a jornalistas portugueses. Como sucessor de Leonor Teles e João Salaviza no prémio berlinense, esquivou-se a responder ao que torna o cinema português tão forte no formato curto, preferindo dizer: “São só boas notícias!” Mostrouse também pouco disposto a assumir o cliché do cineasta português. “Sou um cineasta. Acontece que sou português, mas já vivi nos EUA, em Espanha, em Berlim...” Inevitavelmente, a pergunta da polémica dos júris colocouse. Cidade Pequena candidatarase ao apoio do ICA, que acabou por não ter, e é uma produção inteiramente de autor. Mas Diogo Costa Amarante recusou confundir as coisas. “Não ter conseguido o apoio do ICA [para o meu filme] não exclui a minha vontade de me associar ao grupo de pessoas ligado à Associação Portuguesa de Realizadores, com cujos valores me identifico.” Costa Amarante assume-se apenas como cineasta Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 21 STEFANIE LOOS/REUTERS Os premiados na 67ª edição do Festival de Berlim da exclusão.” A polaca Agnieszka Holland, ao receber o Prémio Alfred H. Bauer para “um fi lme que abre novas perspectivas ao cinema” pelo seu bizarro (e muito mal recebido) thriller ecológico Spoor, disse: “Vivemos em tempos difíceis e precisamos de fi lmes corajosos.” Sebastián Lelio e Gonzalo Maza, vencedores do Urso de Prata de melhor argumento por Una Mujer Fantastica, falaram da necessidade do amor para lutar contra o medo e contra a escuridão. E o director do festival, Dieter Kosslick, evocou o jornalista alemão Deniz Yucel, que foi ontem preso na Turquia. Competição Urso de Ouro: On Body and Soul de Ildiko Enyedi Grande Prémio do Júri: Felicité de Alain Gomis Prémio Alfred H. Brauer para um filme que abre novas perspectivas: Agnieszka Holland por Pokot Urso de Prata para Melhor Realização: Aki Kaurismäki por The Other Side of Hope Urso de Prata para Melhor Actriz: Kim Min-hee por On the Beach at Night Alone de Hong Sang-soo Urso de Prata para Melhor Actor: Georg Friedrich por Helle Nächte de Thomas Arslan Urso de Prata para Melhor Argumento: Sebastián Lelio e Gonzalo Maza por Una Mujer Fantastica de Sebastián Lelio Prémio Melhor Contribuição Artística: Dana Bunescu pela montagem de Ana, mon Amour de Calin Peter Netzer Prémio do Júri Ecuménico: On Body and Soul de Ildikó Enyedi Prémio Fipresci: On Body and Soul de Ildikó Enyedi Curtas-metragens Urso de Ouro: Cidade Pequena de Diogo Costa Amarante (Portugal) Urso de Prata: Ensueño en la Pradera de Esteban Arrangoiz Julien (México) Prémio Audi: Street of Death de Karam Ghossein (Líbano-Alemanha) Menção honrosa: Centauro de Nicolás Suárez (Argentina) Prémio Glashütte Original para documentário: Ghost Hunting de Raed Andoni Prémio GWFF para longametragem de estreia: Estiu 1993 de Carla Simón (Espanha) Palmarés no Ana, mon Amour, Dana Bunescu. Por uma vez, este foi um palmarés que não carregou excessivamente na política — falou-se mais dela durante a cerimónia do que nos fi lmes premiados. Ao entregar o pré- mio para melhor documentário ao fi lme do palestiniano Raed Andoni Ghost Hunting, uma reconstrução dos interrogatórios israelitas a prisioneiros palestinianos na prisão de Moskobiya, Laura Poitras, realizadora de Citizenfour e membro do júri de documentário, citou a acusação de Donald Trump de a “imprensa ser inimiga do público”: “Nós somos inimigos do nacionalismo e 22 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 CULTURA FOTOS: DR Big Little Lies: um elenco de luxo para falar do mundo feminino Nova série estreia-se de domingo para segunda, às 2h Na soalheira Monterey, Califórnia, nada é tão perfeito como parece. Madeline (Reese Witherspoon) é uma dona de casa que se dedica à educa- ção das duas fi lhas a tempo inteiro e que vive obcecada com o casamento do ex-marido. A ex-advogada Celeste (Nicole Kidman) é mãe de gémeos e tem um casamento aparentemente invejável com um homem mais novo. Jane (Shailene Woodley) é uma jovem mãe solteira recém-chegada à cidade que é integrada no grupo quando o fi lho de cinco anos é acusado de estrangular a fi lha de Renata (Laura Dern), a arqui-inimiga de Madeline, no recreio da escola. A bolha superfi cial em que estas mulheres vivem rebenta quando uma morte misteriosa levanta suspeitas entre todos os pais. Big Little Lies tem por base o livro do mesmo nome de Liane Moriarty (Pequenas Grandes Mentiras, em Portugal editado pela Asa) e estreia-se de domingo para segunda, às 2h, no TVSéries. “Na verdade, [o crime] é um trampolim para explorar as personalidades destas mulheres e as relações que têm umas com as outras e com a comunidade”, diz o criador David E. Kelley (Ally McBeal, Boston Legal), ao telefone com o PÚBLICO a partir de Nova Iorque. Realizada por Jean-Marc Vallée (O Clube de Dallas), Big Little Lies é um series event de sete episódios de uma hora cada que se inicia com um crime sem ser, na sua essência, uma história policial. Ao contrário do que é habitual no género, não sabemos exactamente qual o crime que foi cometido, quem o cometeu e quem foi a vítima. “A questão fundamental é que aconteceu um assassinato e isso é usado para convidar os espectadores a entrar neste mundo”, esclarece David E. Kelley, reiterando que “à medida que se procura resolver o mistério, a verdadeira jornada trata de perceber quem são estas personagens”. A série parte do microssistema onde se deu a briga entre as crianças — que ninguém viu e que nunca é mostrada ao espectador, fi cando a dúvida a pairar no ar diversos problemas nos quais os espectadores se poderão rever. “Não é que [o público] vá comparar as suas vidas às das protagonistas, mas deverão relacionar-se em alguma medida com os problemas delas”, afi rma David E. Kelley. O criador refere que as “personagens bem construídas do livro” e o trabalho de actores que “estão no topo da sua profi ssão e do seu ofício” possibilitaram a criação de uma trama que, “inicialmente, parece superfi cial e tonta, mas que se torna mais relevante e séria à medida que se desenvolve”. A todos os que leram o livro David E. Kelley assegura que “a série se mantém bastante fi el ao original”, mas promete que as reviravoltas e as surpresas serão abundantes, mesmo para quem está familiarizado com a comunidade de Monterey. Tida como uma combinação de Donas de Casa Desesperadas e Pequenas Mentirosas, Big Little Lies vai alternando entre o presente e o passado sem nunca adiantar muito sobre o crime anunciado no primeiro episódio. De acordo com a Variety, são dadas “pistas que são às vezes fl ashbacks, outras vezes são fl ashforwards, e noutras são delírios”, dependendo do contexto. Além disso, a narrativa recorre aos testemunhos dos outros pais e funcionários da escola de Monterey, uma comunidade particularmente adepta de intrigas — sobretudo as que dizem respeito às infl uentes protagonistas do escândalo. Segundo a Vulture, “[os depoimentos] assemelham-se à discussão da fi nal de um reality show no Twitter”. Big Little Lies é uma série limitada na narrativa e, por isso, não deverá estender-se para lá da primeira temporada, mas o elenco de luxo e o grande orçamento que, segundo o The Hollywood Reporter, provocou uma disputa entre os vários canais tornam-na uma das maiores apostas televisivas da HBO para este ano. A série será transmitida no TVSéries às segundas-feiras, às 22h45 e chega ao espectador com uma única certeza — em Monterey, todos podem ser culpados. Protagonizada por Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley, a nova série da HBO conta com sete episódios e tem estreia mundial marcada para este domingo, às 2h, no TVSéries Televisão Maria João Monteiro O crime é um trampolim para explorar as personalidades destas mulheres e as relações que têm David E. Kelley Criador da série porque tínhamos os atletas para o conseguir cumprir”, explica David E. Kelley, que entrou no projecto depois de Reese Witherspoon e Nicole Kidman e realça o “privilégio de poder imaginá-las nestes papéis e adaptar [a história] ao seu ritmo”. Apesar da imagem de aparente perfeição, o grupo de mulheres retratado em Big Little Lies enfrenta — para se alargar a temáticas como o bullying, a violência doméstica, a competitividade feminina e o estatuto social, tratadas com “um toque de sátira social”. A série tem dado que falar pelo elenco de luxo que reúne reconhecidos nomes do cinema. Reese Witherspoon e Nicole Kidman são também produtoras executivas e trabalharam na adaptação do livro de Liane Moriarty ao pequeno ecrã. Além de Shailene Woodley e Laura Dern, Alexander Skarsgård veste a pele de Perry, o jovem marido de Celeste, Zoë Kravitz é Bonnie, a instrutora de ioga casada com o primeiro marido de Madeline e Adam Scott é o segundo marido de Madeline, Ed. “Podíamos escrever qualquer coisa, mjmonteiro@publico.pt Público Classifi cados • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 23 CÂMARA MUNICIPAL DA MAlA 4470-202 MAlA AVISO O Presidente da Câmara Municipal da Maia, António Gon- çalves Bragança Fernandes, informa que a Rua 5 de Outubro, da Freguesia da Cidade da Maia, núcleo de Gueifães, irá sofrer condicionamento e desvio de trânsito, entre os dias 20 de Fevereiro e 20 de Junho, concretamente entre a Rotunda do Lavrador e a Av.ª Dr. Germano Vieira. Esta situação tem a ver com a necessidade de os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento da Maia procederem à substituição da rede de distribuição de água naquela via, atualmente em fi m de vida. Quer os condicionamentos quer os desvios de trânsito a que antes fi z referência, estarão perfeitamente identifi cados e sinalizados, por forma a causar o menor transtorno possível. Pelo facto, peço e agradeço aos moradores e utentes daquela via a maior compreensão, aproveitando para, desde já, a todos apresentar as mais sinceras desculpas pelas eventuais arrelias que a situação possa causar. MAlA, FEVEREIRO DE 2017 O Presidente da Câmara Municipal da Maia António Gonçalves Bragança Fernandes Mensagens 1ª VEZ, MULHER SEDUTORA atende em gabinete de 2ª a Domingo até às 22h00. Telm: 966 451 183 COMARCA DO PORTO ESTE Amarante - Instância Central - Secção Comércio - J3 Insolvência de “ELNOR - Equipamentos Técnicos e de Laboratório, SA” Anúncio de Venda FAZ-SE SABER, que pelo Administrador da Insolvência, nos autos de Liquidação do Ativo, ao Processo de Insolvência n.º 519/15.9T8AMT, da empresa “ELNOR - Equipamentos Técnicos e de Laboratório, SA”, a correr termos pela Comarca do Porto Este - Amarante - Instância Central - Secção do Comércio - J3, foi ordenada a VENDA JUDICIAL POR NEGOCIAÇÃO PARTICULAR dos bens arrolados a favor da massa insolvente. Ficam por este meio convidados todos os interessados a entregarem as suas propostas, por correio, POR CARTA FECHADA, o envelope deverá mencionar “Proposta de Compra para o processo n.º 519/15.9T8AMT” e para a morada do Administrador da Insolvência na Rua Capitão Alfredo Guimarães n.º 456, 4800-026 Guimarães, mais informa só serão aceites propostas emitidas até ao dia 1 de março de 2017. Estas propostas serão abertas no dia 8 de março de 2017 pelas 10.30 horas no escritório do Administrador podendo estar presente qualquer interessado. O Administrador da Insolvência reserva-se a faculdade de não aceitar, ou rejeitar, qualquer proposta que considere não se adequar aos interesses da massa insolvente. Os bens imóveis e móveis no estado físico em que se encontram. Os proponentes têm preferência em juntar à sua proposta, como caução, um cheque, à ordem da Massa insolvente, no montante correspondente a 20% do valor-base dos bens ou garantia bancária no mesmo valor (n.º 1 do art.º 824.º do CPC). No ato de abertura das propostas, uma vez aceite, o seu proponente, num prazo de 15 dias, deverá depositar na conta da massa insolvente a parte restante do preço. Mostrando-se integralmente pago o preço e satisfeitas as obrigações fi scais inerentes à transmissão, os bens serão adjudicados e entregues ao proponente. Qualquer esclarecimento deve ser solicitado ao Administrador da Insolvência, via telefone 253 536 200, via email fmurta@ sapo.pt, ou consultar o processo de Insolvência. Público, 19/02/2017 - 2.ª Pub. Lote 1 - Constituído pelas verbas n.º 1 a 11, 17) Verba n.º 1 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AB”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AB, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AB. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 2 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AC”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AC, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AC. Valor de avaliação 3.336,00 € Verba n.º 3 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AD”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AD, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AD. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 4 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AE”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AE, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AE. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 5 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AF”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AF, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AF. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 6 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AG”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AG, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AG. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 7 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AH”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AH, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AH. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 8 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AI”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AI, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AI. Valor patrimonial 4.738,24 € Verba n.º 9 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AJ”, corresponde a um lugar de aparcamento no logradouro exterior, ao nível da cave, com entrada pelo n.º 963 - M da Rua de Santana, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AJ, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AJ. Valor de avaliação 10.564,00 € Verba n.º 10 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AS”, corresponde a um estabelecimento no rés do chão, destinado ao ramo hoteleiro ou similar, ramo alimentar, prestação de serviços e outras atividades que não exijam alvará sanitário ou de indústria, com garagem, na cave, com entrada pela Rua D. Frei Jerónimo de Brito e Melo, n.º 835, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AS, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AS. Valor de avaliação 168.290,00 € Verba n.º 11 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AT”, corresponde a um estabelecimento no primeiro andar esquerdo, destinado ao ramo de diversão, industria não poluente, ramo alimentar, prestação de serviços e outras atividades que não exijam alvará sanitário ou de indústria, com entrada pela Rua D. Frei Jerónimo de Brito e Melo, n.º 843, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AT, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AT. Valor de avaliação 121.000,00 € Verba n.º 17 - (material de escritório) - 20 Secretárias em “L” com módulo de gavetas; 9 Armários de fi cheiros de arquivo metálico; 1 Secretária em “S”; 1 Sofá de 2 lugares; 1 Mesa redonda de reuniões; 1 Mesa de reunião de cor azul dano tampo; 4 Mesas de reunião; 17 Cadeiras de administração; 10 Secretárias de tampo 1,20m; 1 Mesa de apoio para a má- quina de escrever; 7 Armários em metal de portas de correr 1m; 19 Armários de 3 gavetas para apoio das secretárias; 27 Cadeiras de secretária cor preta com braço; 5 mesas e 12 cadeiras para apoio de formação e uma marquesa de apoio médico; 55 cadeiras; 7 secretárias com módulo de gavetas; 6 armários de duas gavetas; 2 máquinas de escrever marca Olympia; 1 retroprojector de marca TECNO 200; 2 mesas de apoio; 1 conjunto de ferramentas de amostra; 7 armários de arquivos metálicos; 1 aparelho de encadernar; 1 móvel de inox e madeira de 6 gavetas e 3 portas; 1 Sofá de dois lugares; 2 mesas de tampo de vidro; 1 biombo em vidro; 1 máquina de destruir papel de marca GEHA CROCODILE II; Conjunto de secretárias; 5 mesas pequenas; 1 marquesa; 1 carrinho de transporte; 1 aparelho de som da marca MEI com 2 colunas; 3 móveis de 2 gavetas; 1 biombo de vidro; 3 armários baixos metálicos; 1 ventilador de marca SABIANA; 1 bastidor com 2 servidores; 1 bastidor e 1 central telefónica da marca SIEMENS; 1 modulo de gavetas e 1 carrinho de 4 prateleiras. Valor avaliado em 10.975,00 € Valor Total da avaliação: 347.332,68 € Valor de mínimo de proposta de venda 295.232,77 € (85% valor-base) Lote 2 - Constituído pela verba n.º 19 Verba n.º 19 - (material de laboratório) - 1 balança digital marca SCALTEC SSH81 de 150 KG; 1 multímetro de marca PROTEK D-910F; 1 balança digital de marca Scaltec; 1 bancada de trabalho em inox com 3 portas; 1 bancada de trabalho da marca TRESTON; 1 bancada de trabalho com rodas; 5 bancadas de trabalho; 6 cadeiras; 17 malas de ferramentas; 1 mediador de marca TESTO; 1 kit de ferramentas; 1 estação de soldadura da marca MBT; 1 ultracongelador da marca FORMA-86C avariado; 2 mesas de apoio com rodas; 2 colunas de som; 1 estação de soldadura da marca SENSATEMP; 1 estante DEXION; 1 módulo de gavetas e diverso material eléctrico em mau estado; 1 mesa de apoio com rodas; 1 carrinho com 3 prateleiras; 1 monitor de testes; diversas ferramentas de trabalho; 1 mesa de apoio com rodas; 1 carrinho com 2 prateleiras; 1 carrinho com quatro prateleiras; 1 armário com diversos acessórios; 1 carrinho de ferramentas; 1 cadeira; Estante em madeira contendo 3 geradores de funções; 1 osciloscópio; 1 frequencímetro; 1 fonte de alimentação; 1 apagador de EPROMS; 1 programador universal, 1 carrinho com 3 prateleiras, 1 mediador de CO2, 1 mediador de rotações, 1 detetor de fugas, 1 medidor de caudais mí- nimos e 1 manómetro de garrafas; 1 mesa de apoio com 3 prateleiras, 1 estante DEXION; 1 mesa de trabalho em inox com lavatório, 1 termoacumulador da marca TERMOLAR, 1 arca,1 aparelho de medida de corrente eléctrica, 1 mesa de trabalho com prateleira, 1 prateleira, 2 mesas de trabalho, 1 painel de ferramentas, 1 mesa de trabalho com iluminação e 2 estantes com acessórios de ofi cina, 1 mesa com rodas e 1 secretária com duas cadeiras; 1 carrinho com elevador manual; 1 porta-paletes; 1 estante de cinco módulos, 3 estantes de três módulos e 1 estante de dois módulos; 1 porta-paletes com elevador manual e 1 porta-paletes; 1 carrinho; 1 carrinho com três prateleiras, 1 carrinho com 5 prateleiras; 1 mesa de trabalho e 1 aparelho de cintar com respetivo bobinador; 3 carrinhos de transporte; Estante com diversos acessórios de marca PACE; 3 prateleiras; 1 ventilador da marca SABIANA; Lote de diverso equipamento de existências para laboratório em estado avariado e obsoleto; lote de diverso equipamento de existências para laboratório em estado usado para demonstração; lote de diverso equipamento de existências para laboratório em estado novo; lote de diversas baterias avariadas; lote de diversas ferramentas obsoletas; lote de diversas placas electrónicas obsoletas; lote de diversos armários expositores. Valor mínimo de venda: 7.500,00 € Lote 3 - Constituído pela verba n.º 12 Verba n.º 12 - Fração autónoma identifi cada pelas letras “AU”, correspondente a um estabelecimento no primeiro andar direito, destinado ao ramo alimentar, prestação de serviços, ramo de diversão, indústria não poluente, ramo alimentar e outras atividades que não exijam alvará sanitário ou de indústria, com entrada pela Rua D. Frei Jerónimo de Brito e Melo, n.º 843, descrito na Conservatória do Registo Predial de Matosinhos sob o n.º 1737/19970620 - AU, e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4199/AU. Valor de avaliação 90.000,00 € Valor de mínimo de proposta de venda 76.500,00 € (85% valor-base) Lote 4 - Constituído pela verba n.º 13 Verba n.º 13 - Fração autónoma designada pela letra “A” correspondente a uma loja ou estabelecimento no piso entre o rés do chão e a cave um, com entrada junto ao cunhal esquerdo da fachada a nascente o cota 70, 10, sita no Praça Bernardo Santareno, n.º 2 e 2-A da freguesia do Penha de Franca, concelho de Lisboa, descrito na Conservatória do Registo Predial de Lisboa sob o n.º 1395/19801126 - A da freguesia Penha de França e inscrito na matriz sob o artigo 503. Valor patrimonial 225.770,00 € Valor de mínimo de proposta de venda 191.904,50 € (85% valor-base) Lote 5 - Constituído pelas verbas n.º 14 e 15 Verba n.º 14 - Veículo automóvel de marca Peugeot, modelo Partner (5BWJZE), n.º de quadro VF35BWJZE60203887, com matrícula 51-10-OA. Verba n.º 15 - Veículo automóvel de marca Citroën, modelo YBBMFB/AX, n.º de quadro VF7YABMFB11199370, com matrícula 92-DV-57. Valor mínimo de venda: 3.000,00 € FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO Dá-se conhecimento público que se encontra aberto processo de recrutamento e seleção de dois Assistentes Técnicos, em regime de contrato de trabalho privado a termo resolutivo certo, para a Divisão de Infraestruturas e Manutenção da Faculdade de Ciências desta Universidade (área de eletromecânica) ao qual podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as condições fi xadas no aviso disponível nas Notícias do SIGARRA FCUP/ Recrutamento, no seguinte endereço: https://sigarra.up.pt/fcup/pt/NOTICIAS_GERAL.LISTA_NOTICIAS A remuneração-base mínima será de 780,72€, podendo ser ajustada de acordo com a tabela remuneratória da U. Porto para Assistentes Técnicos. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 19 de fevereiro de 2017 EMPREGO INSCREVA-SE EM EMPREGO.PUBLICO.PT EM PARCERIA COM Participação de falecimento e Agradecimento De MARGARIDA MARIA CORREIA CANECA REIS VILARINHO FALECEU Seu marido e fi lhos, genro e neto e demais Família, participam o falecimento de seu ente querido, MARGARIDA VILARINHO, natural de Melres, Gondomar, residente em Braga. A vigília decorre na Igreja Paroquial de S. Lázaro, donde sairá às 12 horas de hoje, domingo, para o centro funerário da Lapa, no Porto, onde será cremada. Antecipadamente gratos a todos quantos se nos juntarem nesta despedida. Braga, 19 de Fevereiro de 2017. A família A FUNERÁRIA DE S. VICENTE Telf. 253 26 23 02 – E-mail: afuneraria.braga@sapo.pt MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 CENTRO COMERCIAL COLOMBO AVENIDA DAS ÍNDIAS (PISO 0, JUNTO À PRAÇA CENTRAL) HORÁRIO: 2.ª FEIRA – DOMINGO: 10H – 24H EDIFÍCIO DIOGO CÃO DOCA DE ALCÂNTARA NORTE, LISBOA (JUNTO AO MUSEU DO ORIENTE) HORÁRIO: 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H SÁBADO: 11H – 17H CONHEÇA A NOSSA SELECÇÃO DE PRODUTOS LIFE&STYLE VAGA ASSESSOR/A PARA PELOURO DA FORMAÇÃO O Conselho Directivo Regional Norte da Ordem dos Arquitectos, anuncia candidatura para a vaga de assessor/a, Pelouro da Formação 28 de Fevereiro de 2017, data-limite de entrega de candidaturas O Conselho Directivo Regional Norte da Ordem dos Arquitectos, pretende contratar Assessor/a para o Pelouro da Formação da OASRN em regime de contrato de trabalho a termo incerto - substituição de trabalhadora ausente nos termos do n.º 3 e alínea c) do n.º 2 do art.º 140.º do Código de Trabalho. Missão: - Gestão da Formação e Coordenação Pedagógica; - Acompanhamento do Sistema de Gestão de Qualidade da OA, como entidade formadora certifi cada pela DGERT. Requisitos Obrigatórios: - Formação em arquitectura (preferencial); - Mínimo de 3 anos de experiência em funções técnicas de gestão e organização de formação, ou - Formação que no total complete no mínimo de 150 horas em gestão e organização de formação na área pedagógica; - Formação complementar na área - CCP (ex-CAP) / Gestão de Formação / entre outros; - Conhecimentos de informática, na óptica do utilizador, designadamente, profundos conhecimentos de Word e Excel; - Facilidade de relacionamento interpessoal e comunicação; - Assertividade e fl exibilidade. Modalidade de Trabalho: - Contrato a Termo incerto, cujo prazo mínimo previsto é de 6 meses. Horário de Trabalho: - O tempo de trabalho consistirá em 35 horas semanais, de acordo com o Horário a estabelecer pela entidade contratante. Local de trabalho: - Sede da Ordem dos Arquitectos Secção Regional Norte Rua Álvares Cabral n.º 144, 4050-040 Porto Critério de escolha: - Avaliação do curriculum, Requisitos necessários e entrevista com os candidatos seleccionados. Os interessados deverão enviar CV detalhado ao cuidado de Arq.ª Cláudia Costa Santos para o e-mail recursos.humanos@oasrn.org até ao dia 28 de Fevereiro de 2017. Os candidatos seleccionados serão convocados para entrevista 7 dias úteis após a data-limite de envio de candidatura. 24 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 DESPORTO A festa do Sporting após o golo de Alan Ruiz, no único lance de verdadeiro perigo criado pelos “leões” MIGUEL A. LOPES/LUSA O jogo 400 de Rui Patrício foi bem mais que uma homenagem Passaram-se 11 anos desde um certo jogo na Madeira em que um rapaz de 18 anos se estreou num lugar que já foi de gente tão ilustre como Azevedo, Vítor Damas ou Peter Schmeichel. Foi uma estreia de sonho para esse rapaz de Marrazes, que defendeu um penálti e garantiu uma vitória. Ontem, Rui Patrício fez o jogo 400 na baliza do Sporting e foi tão decisivo frente ao Rio Ave, em Alvalade, como tinha sido em 2006 frente ao Marítimo. Defendeu tudo e fez com que o golo de Alan Ruiz valesse três pontos aos “leões” neste jogo da 22.ª jornada, garantindo que, pelo menos, não irão fi car mais longe dos rivais que estão à sua frente. Mesmo tendo apenas um jogo por semana, Jesus vai mexendo bastante nas opções e ontem não foi excep- ção. Ficaram de fora, em relação a Moreira de Cónegos, Ruben Semedo e Bryan Ruiz, entraram Paulo Oliveira e Jeff erson, adiantando-se Bruno César para o lado esquerdo do ataque. No Rio Ave, que tinha sido o responsável pela primeira derrota do Sporting no campeonato (ainda com Capucho no banco), a estratégia de Luís Castro passava por entregar as despesas do ataque aos rapidíssimos Gil Dias e Ruben Ribeiro nas alas e ao mais posicional Gonçalo Paciência. Jesus tinham razão quando dizia na antecipação do jogo que o Sporting precisava de ser uma equipa de jogo inteiro e não apenas de segundas partes. Como acontecera no Dragão e em Moreira de Cónegos, os “leões” entraram mal no jogo e não é favor nenhum dizer que o Rio Ave podia ter marcado dois ou três golos na primeira parte. Não o fez graças a um homem que ocupa a baliza do Sporting há dez anos. Rui Patrício foi o herói antes e depois do golo, ele que se tinha mostrado falível nos jogos anteriores, mas que foi absolutamente decisivo. Depois de um livre de algum perigo de Adrien Silva logo aos 4’, o Rio Ave carregou nos pontos fracos do Sporting e quase foi feliz. Dias e Ribeiro iam, à vez, infernizando a vida a Jeff erson e Schelotto e criavam pâ- nico total na defensiva “leonina”. Entre os 11’ e os 16’, foram três as vezes em que o Rio Ave esteve muito perto do golo. Aos 11’, foi Gil Dias, aos 13’ Krovinovic e, aos 16’, Gonçalo Paci- ência. Em todas as vezes, foi o senhor 400 a evitar que o Sporting tivesse de correr atrás do prejuízo. Sem grande estabilidade defensiva, um pecado que o Sporting não cometeu desta vez foi a fi nalização. Teve uma oportunidade e marcou um golo. Tudo começa numa insistência de William, que ganha uma bola a Gil Dias e cavalga em direc- ção à grande área. A bola vai parar a Gelson Martins, que faz um primeiro remate defendido por Cássio e, na recarga, Alan Ruiz faz o 1-0. Foi o terceiro jogo consecutivo a marcar para o argentino, que se assume como o parceiro ideal para Bas Dost. Ainda lhe falta velocidade e pulmão, mas está a fazer por merecer o lugar. Depois de Ruiz, o jogo voltou a ser de Patrício. Aos 21’, na sequência de um canto, a bola chega a Ruben Ribeiro, que remata com perigo e, aos 25’, é o extremo vila-condense a tentar concretizar um contra-ataque perigosíssimo. Rui Patrício, mais duas vezes, estava no caminho da bola. O jogo ainda teve mais 65 minutos, mas a sua história conta-se nos primeiros 25. Na compensação, o Rio Ave ainda meteu a bola na baliza, mas Roderick estava fora-de-jogo. O Sporting respirou de alívio e celebrou justamente o herói da sua baliza. Crónica de jogo Marco Vaza Foi graças a uma grande exibição do seu guarda-redes e ao golo apontado por Alan Ruiz que o Sporting conseguiu bater um Rio Ave que mostrou grande personalidade e ambição no Estádio de Alvalade mvaza@publico.pt Sporting 1 Alan Ruiz 20’ Rio Ave 0 Estádio de Alvalade, em Lisboa Espectadores 40.053 Sporting Rui Patrício, Schelotto, Paulo Oliveira, Coates, Jeff erson, William a45’, Adrien Silva a56’ (Palhinha, 81’), Gelson a90+2’, Bruno César (Bryan Ruiz, 58’), Alan Ruiz a57’ (Podence, 66’), Bas Dost. Treinador Jorge Jesus Rio Ave Cássio, Lionn (Nélson Monte, 19’ a73’), Marcelo, Roderick, Rafa Soares a27’, Tarantini a60’, Pedro Moreira (Jaime Graça, 68’), Gil Dias, Krovinovic, Rúben Ribeiro, Gonçalo Paciência (Guedes, 77’). Treinador Luís Castro Árbitro Bruno Esteves (AF Setúbal) Positivo/Negativo Rui Patrício Depois de alguns jogos menos conseguidos, Rui Patrício voltou às grandes exibições, com, pelo menos, quatro enormes defesas que mantiveram o Sporting sem sofrer golos pela primeira vez em 2017. O guarda-redes da selecção nacional foi enorme na noite dos 400 jogos pelos “leões”. Ruben Ribeiro Enquanto teve pernas, foi o jogador mais perigoso do Rio Ave e só não marcou porque Patrício não deixou. Laterais do Sporting Jefferson e Schelotto tiveram pela frente os jogadores mais perigosos do Rio Ave e não os conseguiram parar na melhor fase do rival. O Sporting precisa de renovar o seu naipe de laterais. Jesus bem roda, mas o resultado é o mesmo. REACÇÕES “Tivemos dificuldade em parar as saídas do Rio Ave, mas na segunda parte mudámos e controlámos” “Não conseguimos chegar ao golo por causa de uma grande exibição do Patrício, que esteve muito inspirado“ Jorge Jesus Sporting Luís Castro Rio Ave Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 25 DESPORTO Depois da Supertaça e da Liga, as duas equipas voltam a encontrar-se Desde a jornada 19, em que o Ben- fi ca perdeu em Setúbal e a diferen- ça para o FC Porto se reduziu a um ponto, que a liderança vai mudando temporariamente de mãos sempre que os “dragões” jogam primeiro (e ganham). Aconteceu nesta 22.ª ronda e, por isso, a missão do Benfi ca, no Minho, frente ao Sp. Braga, é resgatar o primeiro lugar. E só o conseguirá com um triunfo, numa missão que não será nada fácil. O Benfi ca não terá Jonas nem Ederson, e terá pela frente um rival que precisa de vitórias para continuar a pensar no pódio. Depois do desaire nas meias-fi nais da Taça da Liga frente ao Moreirense e da derrota em Setúbal, os “encarnados” reentraram no bom caminho, mas têm um adversário de elevado grau de difi culdade esta noite. E Rui Vitória está bem consciente das di- fi culdades que a equipa de Jorge Simão pode colocar. “Não olho para os resultados, olho para o que as equipas valem, olho para o todo e esta é uma equipa de qualidade que está a ir à procura das ideias do treinador”, refere o técnico “encarnado”. O Sp. Braga, pelo contrário, está em perda, não ganhando há quatro jornadas (dois empates e duas derroBenfica em Braga para voltar a estar na frente tas), e não está a conseguir reaproximar-se do terceiro lugar. Desde que chegou a Braga como substituto de José Peseiro, Jorge Simão apenas conseguiu duas vitórias, três empates e duas derrotas no campeonato. Apesar dos maus resultados, Simão mantém a ambição: “Neste momento, o fundamental é reforçar o que temos vindo a fazer. Fui contratado para o fazer e tenho tentado criar, construir, solidifi car uma equipa que, de acordo com a ambição do presidente, consiga chegar ao ponto de ser campeã nacional até 2020.” SERGIO AZENHA Futebol Marco Vaza “Encarnados” precisam de vencer para recuperar o comando da Liga. Pela frente terão um rival que não ganha há quatro jogos mvaza@publico.pt Outros jogos Bulos, avançado do Boavista, estreou-se a titular com o golo que coloca os “axadrezados” perto da permanência. O Feirense perdeu em casa pela primeira vez com Nuno Manta. No Minho, um autogolo de Rebocho (85’) impediu que o Moreirense superasse o Estoril. Sougou marcou (53’) para os cónegos, vantagem anulada pela equipa de Pedro Carmona, a pontuar após um empate em Braga e um triunfo sobre o Paços de Ferreira. Feirense 0 Boavista 1 Bulos 63’ Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira Feirense Vaná, Barge (Babanco, 87’), Ícaro, Rocha, Vítor Bruno a77’, Dias, Cris (Etebo, 70’), Luís Aurélio, Fabinho (Hugo Seco, 80’), Karamanos, Luís Machado. Treinador Nuno Manta Boavista Vagner a89’, Edu Machado, Lucas, Carlos Santos a77’, Talocha, Idris a34’aa90+1’, Anderson Carvalho, Iuri Medeiros (Henrique, 90+3’), Fábio Espinho (Carraça, 90+5’), Renato Santos a83’ (Rochinha, 87’), Bulos. Treinador Miguel Leal Árbitro Hélder Malheiro (AF Lisboa) Moreirense 1 Sougou 53’ Estoril 1 Rebocho 85’ (p.b.) Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, Moreira de Cónegos Moreirense Makaridze, Tiago Almeida a27’, Diego Ivo, Diego Galo, Rebocho a66’, Cauê a57’, Fernando Alexandre, Sougou (Frederic, 78’), Alex a63’ (Nildo, 69’), Boateng, Roberto (Bouba Saré, 71’). Treinador Augusto Inácio Estoril Luís Ribeiro, Dankler, Gonçalo Brandão, João Afonso, Joel, Afonso Taira a59’, Diogo Amado (Bazelyuk, 79’), Eduardo, Licá, Kléber (Diakhité, 89’), Matheus Índio (Tocantins, 67’). Treinador Pedro Gómez Carmona Árbitro Rui Oliveira (AF Porto) O Desp. Chaves venceu o Arouca, por 2-0, ascendendo provisoriamente à sexta posição da tabela classifi - cativa, com 32 pontos (a três da zona “europeia”) e reforçando ainda a condição de invencível em Trásos-Montes, onde não perde desde a sexta jornada, com o Benfi ca. Renan Bressan (8’) e Fábio Martins (80’) foram os autores dos golos frente à formação arouquense, que estreou Manuel Machado no comando técnico. Apesar da derrota, o Arouca manteve o resultado aberto praticamente até ao fi m, acabando por ser penalizado pela inefi cácia dos avançados, que encontraram no guarda-redes António Filipe uma verdadeira barreira às ambições e ao futebol que tentaram impor perante uma formação que aproveitou o facto de ter chegado cedo ao golo da vantagem para explorar a maior vocação para um jogo de transições ofensivas. Os transmontanos foram gerindo a vantagem com “pinças”, benefi - ciando do menor acerto da linha atacante do adversário e acabando por sentenciar a partida com mais um soberbo golo de Fábio Martins, num gesto semelhante ao que valeu o empate frente ao Sporting. Desp. Chaves soma e segue imparável em casa Futebol Desp. Chaves 2 Bressan 8’, Fábio Martins 80’ Arouca 0 Estádio Municipal Eng.º Manuel Branco Teixeira, em Chaves Desp. Chaves António Filipe, Pedro Queirós a66’, Massaia, Carlos Ponck, Nélson Lenho, Renan Bressan, Tiba, Perdigão (Davidson, 60’), Braga, Fábio Martins a69’ (Batatinha, 85’), Rafael Lopes (William, 75’). Treinador Ricardo Soares Arouca Bolat, Anderson Luís, Jubal, Velázquez a90+2’, Nelsinho a7’, Nuno Valente a88’, Nuno Coelho, Adilson (Walter González, 46’), Mateus (Sami, 76’), Tomané, Kuca. Treinador Manuel Machado Árbitro Luís Godinho (AF Évora) CLASSIFICAÇÃO I LIGA Jornada 22 FC Porto-Tondela 4-0 Desp. Chaves-Arouca 2-0 Moreirense-Estoril 1-1 Feirense-Boavista 0-1 Sporting-Rio Ave 1-0 P. Ferreira-V. Setúbal 16h, SP-TV1 Belenenses-V. Guimarães 18h, SP-TV1 Sp. Braga-Benfica 20h15, SP-TV1 Marítimo-Nacional amanhã, 20h, SP-TV1 J V E D M-S P 1. FC Porto 22 16 5 1 45-11 53 2. Benfica 21 16 3 2 47-12 51 3. Sporting 22 13 5 4 40-24 44 4. Sp. Braga 21 11 5 5 32-18 38 5. V. Guimarães 21 10 5 6 29-24 35 6. Desp. Chaves 22 7 11 4 23-19 32 7. Marítimo 21 9 5 7 18-16 32 8. V. Setúbal 21 8 5 8 21-20 29 9. Boavista 22 7 8 7 24-24 29 10. Rio Ave 22 8 4 10 25-29 28 11. Arouca 22 8 3 11 21-30 27 12. Belenenses 21 6 7 8 14-19 25 13. Feirense 22 7 4 11 18-35 25 14. Estoril 22 5 5 12 17-27 20 15. Paços de Ferreira 21 5 5 11 22-34 20 16. Moreirense 22 5 4 13 21-35 19 17. Nacional 21 3 5 12 16-30 14 18. Tondela 22 3 5 14 15-38 14 Próxima jornada V. Guimarães-Moreirense, Benfica-Desp. Chaves, Tondela-Marítimo, Estoril-Sporting, Rio Ave-Paços Ferreira, Nacional-Feirense, V. Setúbal-Sp. Braga, Boavista-FC Porto, Arouca-Belenenses. II LIGA Jornada 28 C. Piedade-Portimonense 11h15, SPTV1 Famalicão-Académica 15h Ac. Viseu-Desp. Aves 15h Varzim-Sp. Braga B 15h U. Madeira-Sp. Covilhã 15h Vizela-Leixões 15h Fafe-Penafiel 15h Gil Vicente-Sporting B 15h FC Porto B-Santa Clara 15h, PortoC. Benfica B-Freamunde 16h, BTV V. Guimarães B-Olhanense amanhã, 15h J V E D M-S P 1. Portimonense 26 18 6 2 48-17 60 2. Desp. Aves 27 15 8 4 42-26 52 3. Académica 27 12 8 7 28-20 44 4. Varzim 27 12 8 7 36-31 44 5. Santa Clara 27 12 6 9 30-32 42 6. Benfica B 27 11 8 8 35-32 41 7. Penafiel 27 11 6 10 36-35 39 8. Sp. Braga B 27 9 10 8 39-31 37 9. Gil Vicente 27 8 12 7 22-22 36 10. União Madeira 27 9 8 10 28-31 35 11. V. Guimarães B 27 10 4 13 34-34 34 12. Sp. Covilhã 26 8 10 8 26-26 34 13. Cova da Piedade 27 9 7 11 27-35 34 14. Vizela 27 7 12 8 27-31 33 15. Fafe 27 8 8 11 35-39 32 16. Famalicão 27 8 8 11 28-33 32 17. FC Porto B 27 8 8 11 29-35 32 18. Freamunde 27 7 10 10 24-26 31 19. Ac. Viseu 27 7 10 10 26-31 31 20. Leixões 27 7 9 11 25-25 30 21. Sporting B 27 7 6 14 33-45 27 22. Olhanense 27 4 6 17 29-50 18 Próxima jornada Académica-Cova da Piedade, Sp. Braga B-Ac. Viseu, Leixões-Benfica B, Santa Clara-Vizela, U. Madeira-V. Guimarães B, Penafiel-Famalicão, Freamunde-Gil Vicente, Olhanense-Varzim, Sporting B-Desp. Aves, Portimonense-Fafe, Sp. Covilhã-FC Porto B. MELHORES MARCADORES I Liga 17 golos Bas Dost (Sporting) 13 golos André Silva (FC Porto) 10 golos Marega (V. Guimarães) e Mitroglou (Benfica) II Liga 16 golos Pires (Portimonense) 11 golos Rui Costa (Varzim) Sp. Braga 4-4-2 Benfica 4-4-2 Goiano R. Ferreira Rosic Paulinho Marafona Júlio César Rafa Pizzi N. Semedo Lindelof Luisão Eliseu Salvio Fejsa R. Assis Rui FonteStojiljkovic Estádio Axa, Braga Árbitro: Tiago Martins Lisboa 20h15 SP-TV1 Battaglia P. Santos R. Horta Zivkovic Mitroglou 26 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 DESPORTO AXEL SCHMIDT/REUTERS Lewandowski apontou o 16.º golo da temporada na Bundesliga Esteve à vista a segunda derrota do Bayern Munique na Bundesliga, mas um golo de Robert Lewandowski, já depois da hora, evitou esse cenário para os bávaros na visita ao Hertha Berlim (1-1). Vindo de uma goleada por 5-1 ao Arsenal, na primeira mão dos oitavos-de-fi nal da Liga dos Campeões, o Bayern mostrou uma face diferente na capital alemã e sentiu difi culdades — o RB Leipzig, mais directo perseguidor na classi- fi cação, pode fi car a cinco pontos se esta tarde vencer no terreno do Borussia Mönchengladbach. Sem Renato Sanches, que não saiu do banco de suplentes, a equipa de Carlo Ancelotti fi cou em desvantagem no marcador aos 21’, quando Vedad Ibisevic adiantou o Hertha. Os bávaros insistiram mas o tempo passava sem que conseguissem inverter o resultado negativo. Foi já aos 90+6’ que o Bayern chegou ao empate: num livre na esquerda, a bola foi colocada na área, onde Lewandowski fez o 1-1. Seguiu-se confusão entre os jogadores das duas equipas, e queixas do Hertha porque o árbitro só dera cinco minutos de compensação. O terceiro lugar na classifi cação é agora ocupado pelo Borussia Dortmund. Os adversários do Benfi ca nos oitavos-de-fi nal da Liga dos Campe- ões (perderam a primeira mão, na Luz, graças a um golo de Mitroglou) bateram o Wolfsburgo por 3-0. O Real Madrid continua imperturbável na liderança da Liga espanhola, tendo somado mais um triunfo, por 2-0, sobre o Espanyol. A equipa de Zinédine Zidane adiantou-se no marcador aos 33’, com um golo de Morata — que correspondeu de cabe- ça ao cruzamento de Isco na direita. Os “merengues” geriram a vantagem sem que fossem incomodados pela formação orientada por Quique Flores. Na segunda parte Zidane promoveu o regresso de Gareth Bale à equipa, três meses depois, e o galês estabeleceu o resultado fi nal aos 84’, Lewandowski evitou derrota do Bayern no último segundo Futebol internacional Tiago Pimentel Equipa de Carlo Ancelotti arrancou empate na visita ao Hertha Berlim. Leicester caiu na Taça de Inglaterra, Chelsea segue em frente tpimentel@publico.pt ao fi nalizar de pé esquerdo uma jogada rápida do Real Madrid. Golos de Sarabia e Vitolo deram o triunfo ao Sevilha sobre o Eibar e deixaram o emblema andaluz a três pontos do Real Madrid, mas com mais dois jogos disputados. Já o Atlético de Madrid goleou na visita ao Sporting Gijón (1-4), com Kevin Gameiro em destaque. Ferreira Carrasco adiantou os “colchoneros”, mas Sergio Álvarez restabeleceu a igualdade que durou até aos 80’. Nessa altura, Gameiro entrou em acção: marcou três golos em cinco minutos para garantir o triunfo. Na Taça de Inglaterra houve de tudo: o Lincoln fez história ao tornar-se na primeira equipa amadora a qualifi car-se para os quartos-de- fi nal em 103 anos, graças à vitória por 1-0 no terreno do Burnley. O emblema do quinto escalão derrubou a equipa da Premier League graças a um golo de Sean Raggett aos 89 minutos. A última equipa amadora a chegar a uma fase tão avançada da competição tinha sido o Queens Park Rangers, em 1914. Apesar de algumas difi culdades, o Chelsea cumpriu e afastou o Wolverhampton com golos de Pedro Rodríguez e Diego Costa. O Leicester City, pelo contrário, continua a afundar-se numa espiral negativa sem fi m: Claudio Ranieri fez muitas alterações na equipa (a meio da semana joga em Sevilha a primeira mão dos oitavos-de-fi nal da Champions) e perdeu na visita ao Millwall, do terceiro escalão, apesar de ter jogado quase toda a segunda parte em superioridade numérica. O Manchester City de Pep Guardiola não foi além do 0-0 na visita ao Huddersfi eld, do segundo escalão, e vai ter de jogar uma partida de desempate para decidir a eliminatória. O Atromitos de Sá Pinto conseguiu a segunda vitória consecutiva no campeonato grego, após receber e vencer (2-1) o Xanthi. Em Israel, o ex-treinador do Arouca Lito Vidigal estreou-se pelo Maccabi Telavive com um triunfo por 3-0 na recepção ao Kiryat Shmona. Sérgio Conceição viu o Nantes deixar fugir a vitória no terreno do Metz, ao sofrer o 1-1 de penálti, no período de compensa- ção. No topo da Liga francesa, o Nice venceu em Lorient e aproximou-se do líder Mónaco. CLASSIFICAÇÕES ALEMANHA ESPANHA Jornada 21 Augsburgo-Bayer Leverkusen 1-3 Hoffenheim-Darmstadt 2-0 Eintracht Frankfurt-Ingolstadt 0-2 Borussia Dortmund-Wolfsburgo 3-0 Hertha Berlim-Bayern Munique 1-1 Mainz-Werder Bremen 0-2 Hamburgo-Friburgo 2-2 B. Mönchengladbach-RB Leipzig 14h30 Colónia-Schalke 04 16h30, SP-TV4 Jornada 23 Granada-Betis 4-1 Sporting Gijón-Atlético de Madrid 1-4 Real Madrid-Espanyol 2-0 Deportivo da Corunha-Alavés 0-1 Sevilha-Eibar 2-0 Real Sociedad-Villarreal 11h, SP-TV2 Valência-Athletic Bilbau 15h15,SP-TV2 Celta de Vigo-Osasuna 17h30, SP-TV2 Barcelona-Leganés 19h45, SP-TV2 Málaga-Las Palmas amanhã, 19h45, SP-TV2 1. Bayern Munique 21 15 5 1 46-13 50 2. RB Leipzig 20 13 3 4 36-20 42 3. Borussia Dortmund 21 10 7 4 43-23 37 4. Hoffenheim 21 9 10 2 38-21 37 5. Eintracht Frankfurt 21 10 5 6 25-20 35 6. Hertha Berlim 21 10 4 7 28-24 34 7. Colónia 20 8 8 4 29-18 32 8. Bayer Leverkusen 21 9 3 9 34-30 30 9. Friburgo 21 9 3 9 28-36 30 10. B. Mönchengladbach 20 7 5 8 22-27 26 11. Schalke 04 20 7 4 9 24-21 25 12. Mainz 21 7 4 10 29-37 25 13. Augsburgo 21 6 6 9 19-27 24 14. Wolfsburgo 21 6 4 11 19-31 22 15. Hamburgo 21 5 5 11 21-37 20 16. Werder Bremen 21 5 4 12 26-42 19 17. Ingolstadt 21 5 3 13 19-32 18 18. Darmstadt 21 3 3 15 14-41 12 1. Real Madrid 21 16 4 1 56-18 52 2. Sevilha 23 15 4 4 46-28 49 3. Barcelona 22 14 6 2 61-18 48 4. Atlético de Madrid 23 13 6 4 43-19 45 5. Real Sociedad 22 13 2 7 36-31 41 6. Villarreal 22 9 9 4 29-15 36 7. Eibar 23 10 5 8 36-31 35 8. Athletic Bilbau 22 10 5 7 28-26 35 9. Espanyol 23 8 8 7 30-31 32 10. Celta de Vigo 21 9 3 9 33-36 30 11. Alavés 23 7 9 7 22-28 30 12. Las Palmas 22 7 7 8 31-33 28 13. Betis 22 6 6 10 22-35 24 14. Málaga 22 5 8 9 29-36 23 15. Valência 21 5 5 11 29-40 20 16. Deportivo 22 4 7 11 26-35 19 17. Leganés 22 4 6 12 15-37 18 18. Sporting Gijón 23 4 4 15 25-47 16 19. Granada 23 3 7 13 21-49 16 20. Osasuna 22 1 7 14 24-49 10 J V E D M-S P J V E D M-S P Breves Andebol Basquetebol Hóquei em patins Benfica e Sporting somam triunfos na Europa FC Porto confirma liderança em casa da Oliveirense Fase de grupos da Liga Europeia fecha com pleno de vitórias O Benfica alcançou ontem, na 2.ª jornada, a primeira vitória no Grupo D da Taça EHF, batendo, em Lisboa, os espanhóis do Anaitasuna (33-28). Na próxima ronda, no dia 4, as “águias” jogam na Finlândia, frente ao Cocks. Na Taça Challenge, o Sporting adiantou-se nos oitavos-definal, batendo os macedónios do Pelister Bitola por 32-18, na primeira mão. Hoje, disputa-se a segunda mão, em Almada. Num jogo que opôs os dois primeiros da classificação, o FC Porto derrotou ontem a Oliveirense, em Oliveira de Azeméis, por 60-69, e reforçou a liderança da Liga de basquetebol, agora com 37 pontos. O Benfica aproveitou o desaire dos oliveirenses, na 20.ª jornada, para os igualar na tabela, com 35 pontos, graças a um triunfo robusto sobre o Lusitânia (100-65), obtido no pavilhão da Luz. Benfica, FC Porto e Oliveirense já se tinham apurado para os quartos-de-final da Liga Europeia e confirmaram ontem essa qualificação com vitórias na 6.ª jornada da fase de grupos: Benfica-Diessbach (12-2), FC Porto-Bassano (13-3) e Oliveirense-Breganze (5-4). O Sporting despediu-se da prova também com um triunfo, sobre o Reus, por 6-3. Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 27 DESPORTO Desde que perdeu o primeiro set que disputou esta semana em Buenos Aires, Kei Nishikori só cedeu nove jogos nas quatro partidas seguintes. Cinco foram ganhos por João Sousa no encontro dos quartos-de-fi nal do Argentina Open dominado pelo nú- mero cinco do ranking. Apesar da derrota, Sousa tem garantida a reentrada no top 40 da tabela ATP. “O encontro não correu da melhor maneira, mas penso que foi mais mé- rito do meu adversário, que fez um bom encontro. Infelizmente, não consegui jogar tão agressivo como gostaria e foi ele a jogar de forma mais agressiva e a mandar no jogo”, admitiu Sousa (41.º), depois de deixar o Court Guillermo Vilas, derrotado pelos parciais de 6-1, 6-4. Após um primeiro set desnivelado, no qual o número um português não aproveitou nenhum dos três breakpoints de que dispôs em todo o encontro, a segunda partida foi mais equilibrada, até ao 5-4, altura em que Nishikori obteve o break decisivo. “Foi um grande começo. O segundo set foi mais duro, mas estou contente com o meu nível, estou a jogar bastante bem”, reconheceu Nishikori, após o duelo de 1h12m. No caminho do japonês para a fi - nal do Argentina Open estava o argentino Carlos Berlocq (77.º), o campeão do Portugal Open de 2014. Já Sousa irá viajar para o Rio de Janeiro, onde poderá reencontrar Nishikori. No Rio Open, torneio ATP 500, vão estar igualmente Dominic Thiem (8.º), o campeão de 2016, Pablo Cuevas (22.º), Pablo Carreño Busta (25.º), David Ferrer (27.º) e Gastão Elias (79.º). Em Roterdão, onde decorre também um torneio ATP 250, Jo-Wilfred Tsonga (10.º) passou à fi nal, ao vencer Tomas Berdych (8.º), por 6-3, 6-4. O outro lugar de fi nalista era decidido entre David Goffi n (11.º) e o surpreendente francês PierreHugues Herbert (109.º). Sousa com reentrada garantida no top 40 Ténis Pedro Keul Número um português foi eliminado por Kei Nishikori nos quartos-de-final do Argentina Open Portugal conseguiu contornar o poderio físico dos polacos A selecção nacional de râguebi somou a segunda vitória no Rugby Europe Trophy, competição que permitirá ao vencedor disputar um play-off de acesso ao Mundial 2019. Apesar de se ter apresentado desfalcado e de ter cometido muitos erros no jogo à mão, Portugal mostrou ser claramente superior à Polónia, alcançando um triunfo claro, por 35-10, numa partida disputada no Estádio Nacional. Após o triunfo no jogo de estreia na Suíça (28-10), Martim Aguiar manteve o registo vitorioso desde que assumiu o comando da selec- ção nacional, somando a quarta vitória consecutiva, uma sequência de triunfos que Portugal não alcan- çava desde 2004. Privado de cerca de uma dezena de jogadores que alinham nas competições profi ssionais em França, a selecção nacional voltou a sentir difi culdades na luta entre avançados, apesar de ter estado bem nos alinhamentos, e cometeu mais erros do que o habitual no jogo à mão, um dos trunfos dos “Lobos”. No entanto, apesar do domínio territorial conseguido pela Polónia, a qualidade dos jogadores portugueses acabou por fazer a diferença. Depois de uma fase inicial de esPortugal vence a Polónia e joga “final” na Holanda tudo mútuo, Portugal marcou três ensaios no período de dez minutos, por Nuno Sousa Guedes, Manuel Picão e Tomás Appleton, conseguindo uma vantagem de 18 pontos: 21-3. Porém, em cima do intervalo, os polacos reduziram, após uma iniciativa dos seus avançados. Na segunda parte, a equipa portuguesa acabou por estar bem defensivamente e, aos 64 minutos, chegou ao desejado quarto ensaio (Francisco Domingues), que garantia o ponto de bónus. Na “bola de jogo”, Vasco Fragoso Mendes fez o quinto toque de meta de Portugal, fi xando a diferença fi nal em 25 pontos: 35-10. Portugal volta a jogar no Rugby Europe Trophy a 4 de Março, defrontando a Holanda, um encontro que deverá ser decisivo para defi nir o vencedor da competição. MIGUEL MANSO Râguebi David Andrade Com um triunfo frente aos polacos, a selecção portuguesa manteve o registo 100% vitorioso no Rugby Europe Trophy pkeul@publico.pt dandrade@publico.pt Foi um fi nal decidido em alemão aquele que fi cou reservado para a 4.ª etapa da Volta ao Algarve. André Greipel (Lotto-Soudal) e John Degenkolb (Trek-Segafredo) discutiram palmo a palmo os últimos metros da chegada a Tavira e foi necessário recorrer ao photo-fi nish para se concluir que o actual detentor do título germânico de estrada saiu por cima por um pneu de diferença. Só a cerca de 2km da meta se percebeu que seria um pelotão compacto a surgir na chegada, depois de anulada uma fuga que começara aos 6km e que tivera em Ryan Mullen (Cannondale Drapac), Dion Smith (Wanty-Groupe Gobert), Taco van der Hoorn (Roompot-Nederlanse Loterij) e João Matias (LA Alumí- nios-Metalusa BlackJack) os protagonistas. O português ainda tentou descolar em defi nitivo, obrigando o pelotão a um esforço suplementar para colocar os sprinters em posição de discutirem a etapa. “A fuga difi cultou-nos bastante a preparação da chegada, pois gastámos quase metade da equipa a perseguir. No fi nal encontrei-me numa boa posição e arranquei no momento certo. Já aqui ganhei em Tavira, mas no ano passado não puSeis anos depois, Tavira voltou a ser um porto seguro para André Greipel de disputar o sprint. Desta vez tive a sorte comigo”, reconheceu André Greipel, citado pelo site ofi cial da competição. O alemão quase foi surpreendido pela inclinação dos últimos 50 metros, terminando o dia a resistir por todos os meios à aproximação de John Degenkolb. O esforço compensou e Greipel repetiu o triunfo de 2011, na mesma cidade algarvia e na mesma tirada, depois de 203,4km de percurso com saída de Almodôvar. Na classifi cação geral, o esloveno Primoz Roglic (Team Lotto NLJumbo) continua na liderança, com 22s de vantagem sobre Michal Kwiatkowski (Team Sky) e apenas uma etapa por disputar. Hoje, a Volta ao Algarve termina no Alto do Malhão, a 518m de altitude, depois de concluídos os 179,2km previstos com partida de Loulé. Ciclismo Na penúltima tirada da Volta ao Algarve, a vitória foi para o alemão da LottoSoudal. Primoz Roglic continua a liderar a prova NUNO VEIGA/LUSA “Desta vez, tive a sorte comigo”, reconheceu André Greipel CLASSIFICAÇÃO 4.ª Etapa Almodôvar-Tavira (203,4 km) 1.º André Greipel (Lotto Soudal) 4h57m51s 2.º John Degenkolb (Trek-Segafredo) m.t. 3.º Dylan Groenewegen (Team Lotto NL) m.t. 4.º Arnaud Démare (FDJ) m.t. 5.º Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) m.t. Geral 1.º Primoz Roglic (Team Lotto NL) 14h34m20s 2.º Michal Kwiatkowski (Team Sky) a 22s 3.º Jonathan Castroviejo (Movistar Team) a 36s 4.º Tony Gallopin (Lotto Soudal) a 55s 5.º Luis León Sánchez (Astana) a 59s Etapa de hoje Loulé/Alto do Malhão 179,2km CLASSIFICAÇÃO CALENDÁRIO 1.º Holanda 10 pontos (2 jogos) 2.º Portugal 9 pontos (2 jogos) 3.º Moldávia 6 pontos (3 jogos) 4.º Polónia 4 pontos (2 jogos) 5.º Suíça 4 pontos (2 jogos) 6.º Ucrânia 0 pontos (3 jogos) Suíça-Ucrânia (11 de Março) Portugal-Moldávia (11 de Março) Moldávia-Polónia (18 de Março) Holanda-Suíça (18 de Março) Ucrânia-Portugal (1 de Abril) Polónia-Holanda (8 de Abril) Polónia-Suíça (22 de Abril) 28 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 ESPAÇO PÚBLICO Diogo Costa Amarante recebeu ontem o Urso de Ouro para a melhor curtametragem no Festival de Berlim e ajudou o cinema português a brilhar alto. É a terceira vez que uma obra portuguesa recebe esta distinção e é a segunda vez que o cineasta apresenta um trabalho em Berlim. Desta vez, Cidade Pequena acertou em cheio e levou o prémio mais alto – mesmo sem ter tido direito a um apoio do ICA, apesar de o ter pedido. D.Q.A. Apesar das dificuldades crónicas em juntar um XV que faça jus à dimensão do râguebi nacional, Portugal continua a deixar indicadores positivos. Frente à Roménia, a selecção deu o melhor seguimento ao triunfo sobre a Suíça obtido no encontro inaugural do Rugby Europe Trophy e continua a acalentar esperanças de atingir o play-off de acesso ao Mundial de 2019. O seleccionador, Martim Aguiar, alarga, desta forma, Diogo Costa Amarante Martin Aguiar para quatro o número de triunfos consecutivos. N.S. CARTAS AO DIRECTOR Obviamente demita-se... A dignidade e o carácter são valores que defi nem qualquer ser humano, como também a seriedade. Não sei, nem me interessa, a idade do senhor ministro das Finanças, mas seja qual for acho que como “actor” desta telenovela Caixa Geral de Depósitos deveria sair de cena, pois já ninguém acredita no seu trabalho. Mas o que também é altamente grave, senão inadmissível, são os senhores Presidente da República e primeiro-ministro tentarem esvaziar esta polémica. O primeiro afi rmava: “Ponto fi nal, parágrafo.” O que Marcelo tinha a dizer “está dito”. Por respeito pelo Presidente da República do meu país, só por isso abstenho-me de fazer comentários. Tomaz Cardoso Albuquerque Lisboa As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor, bem como um número telefónico de contacto. O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos não solicitados e não prestará informação postal sobre eles. Email: cartasdirector@publico.pt Telefone: 210 111 000 Atendimento prioritário Num país civilizado, o Decretolei n.º 58/2016 não teria razão de existir. É lamentável que haja indivíduos que só sendo obrigados cedam o seu lugar a quem precise. Claro está que nesse mesmo país não será estranho que apareçam os chicos-espertos que se valem precisamente dessa lei para passarem à frente de todos os outros. Já tinha ouvido falar de quem vai para a Loja do Cidadão com crianças de colo alugadas, outros que arranjam umas canadianas para se fazerem de defi cientes, etc. Mas o caso que vou relatar, dois em um para ser mais preciso, tive a oportunidade de presenciar neste fi m-de-semana, quando me encontrava na fi la única com mais de 20 clientes num hipermercado. De repente, um casal com o seu rebento todo traquina aproximou-se. O indivíduo, que presumo ser o progenitor, pega na criança ao colo e avança para a primeira caixa. Já com as compras pagas, e para espanto de todos, coloca o pimpolho no compartimento apropriado do carro, lançando-nos um sorriso de gozo. Um idoso, por sinal defi ciente que se encontrava na fi la, protestou, chamandolhe a atenção que, se tivesse transportado a criança no carro, não teria tido o direito de ir à frente de todos, esclarecendo-o que ele próprio, como defi ciente, estava na fi la a aguardar a sua vez, pois entendia não se valer de tal circunstância. Claro está que o indivíduo respondeu com palavras obscenas. Jorge Morais Porto E a lancha poveira? O Correntes d’Escritas comemora a maioridade de 21 a 25. Ancoram na Póvoa de Varzim mais de 80 escritores de 13 nacionalidades de línguas hispânicas e portuguesa para o 18.º Encontro Literário multiplicador de saudade, alegria e alguma loucura. Não há vento e maré que esclareça a ausência de uma iniciativa paralela/mesa rememorativa da icónica lancha poveira do Alto Fé em Deus. O livro Os Braços da Lancha, da autoria de José Peixoto, editado pela câmara municipal, foi lançado em Novembro, ao invés de ser apresentado no Correntes deste ano. Tenhamos fé para o 19.º Encontro… Ademar Costa Póvoa de Varzim A identidade socialista Diogo Queiroz de Andrade Editorial O candidato socialista às presidenciais francesas veio a Portugal em busca de uma referência. Benoît Hammon assume, em entrevista ao PÚBLICO, querer inspirar-se nas esquerdas que não se converteram ao liberalismo e nas soluções de poder que agregam diferentes forças políticas do mesmo lado da barricada. Mas a política não é uma ratatouille para onde se atirem toda a espécie de vegetais — ou ideais. Ao assumir querer renegociar dívida e a reestruturação fi nanceira, está a prometer o que António Costa não fez e a alinhar com as forças de extremaesquerda que, em Portugal como em Espanha e na Grécia, desafi am as regras europeias e os mercados. Não foram essas que ganharam as eleições. Tal como não foram frases idealistas sobre a prioridade absoluta da questão ecológica, que rendeu a Bernie Sanders o rótulo de elitista e a derrota nas primárias do Partido Democrata. Hammon é mais um exemplo das difi culdades da esquerda europeia tradicional em cumprir o processo de reinvenção para o tempo que se vive hoje. Procura soluções poéticas que parecem desvalorizar a vida dos cidadãos e não é capaz de sair da bolha de superioridade que todos os dias é rebentada pelos populistas da Frente Nacional. França está em estado de emergência por causa dos atentados, tem um problema gravíssimo de integração e assimilação cultural dos imigrantes e continua a hesitar sobre os passos a dar numa Europa que precisa de clareza para não se desintegrar. É este cenário que os socialistas franceses têm de enfrentar para responder às aspirações dos franceses, não um qualquer modelo pan-europeu que pouco diz aos seus eleitores. Se quer aprender algo com António Costa, o socialista francês pode começar pelo pragmatismo — a verdadeira receita que tem permitido governar por entre as exigências europeias e os desvarios dos seus parceiros de poder. Até porque, se por acaso Hammon olhou com atenção para a relação das esquerdas portuguesas, terá visto sinais sufi cientes de que não partilham uma mundividência e que pouco as une para lá da circunstância aritmética do poder. E bem pode olhar para o resto da Europa, que não vai encontrar uma solução que salve os socialistas franceses — essa tinha de ter sido encontrada por François Hollande, que vai sair de cena sem sequer ser candidato, tão mau foi o seu trabalho. Pouco resta aos socialistas a não ser esperar que não seja Marine Le Pen a suceder-lhes na presidência. dqandrade@publico.pt Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 29 ESCRITO NA PEDRA A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros Anais Nin, 1903/1977, autora No dia em que completou 70 anos o campeão olímpico viu o pavilhão lisboeta com o seu nome reabrir com brilho depois de 14 anos encerrado e quase ao abandono. A Carlos Lopes foram mais uma vez reconhecidos os seus feitos enquanto atleta, pelo Governo e Câmara de Lisboa, agora com uma exposição dedicada à sua vida desportiva, no pavilhão, com 300 peças por si cedidas. E lá estão as medalhas olímpicas e muitos outros prémios. L.A. Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (extrema-direita, anti-União Europeia e antimuçulmano) lançou ontem a sua campanha eleitoral para as legislativas holandesas de 15 e Março com um apelo racista. Prometeu acabar com a “escumalha marroquina”, que, disse, torna perigosas as ruas. Incitou os holandeses a “recuperarem” o controlo do país. O líder da extrema-direita vive em local não revelado. Com Carlos Lopes Geert Wilders apelos destes mais valia não sair de casa. L.A. O conselho de Theron J enny Beavan estava a vestir Charlize Theron para uma cena de Mad Max: Fury Road e a actriz deu-lhe os parabéns pela roupa que tinha feito. Beavan, que é inglesa, fi cou embaraçada e começou a desconversar que aquilo não era bem o que ela queria e que era um trabalho de equipa e não sei que mais. Theron, que é sul-africana, teve pena dela e interrompeu-a: “Just take the compliment, bitch!” Como quem diz: “Aceita o elogio e cala-te!” Beavan contou a história quando ganhou o Óscar para o melhor guarda-roupa. Mas a lição de Charlize Theron precisa de ser ensinada e aprendida todos os dias. Existe no nosso tempo um problema de aceitação. Não é só um elogio que não somos capazes de aceitar. Também não aceitamos um favor. Fazer um favor é exercer a nossa humanidade. Mas também é preciso saber aceitar um favor que nos façam. A mentalidade actual é contra os favores, como se um favor fosse uma dívida que pairasse sobre os nossos destinos para todo o sempre. Ou, na mais terrível das hipóteses, até retribuirmos esse favor. Vivemos como se aceitar e retribuir um favor fi zesse de nós membros da Cosa Nostra. Na verdade, é apenas uma troca fácil, conveniente e agradável. Não é uma dívida. As pessoas hoje se endividam por dá-cá-aquela-palha, aceitando juros horrendos, mas recusam-se a aceitar um simples favor de outra pessoa. Até as ofertas são cada vez mais difíceis de fazer. As pessoas desconfi am delas. Pensarão que são favores disfarçados? Charlize Theron cada vez tem mais razão. Miguel Esteves Cardoso Ainda ontem EM PUBLICO.PT Os artigos publicados nesta secção respeitam a norma ortográfica escolhida pelos autores Estes cinco grandes joalheiros também têm malas São conhecidos pelas peças de joalharia deslumbrantes, mas também se dedicam a criar outros luxos. Bulgari, Cartier, Chopard, Tiffany & Co. e Swarovski – aquilo que estas cinco marcas têm em comum não é certamente a nacionalidade. É, sim, o facto de que produzem colecções de malas. lifestyle.publico.pt/ Telefone de Adolf Hitler vai ser leiloado hoje O telefone do ditador alemão Adolf Hitler, que este usou para dar as suas ordens nos dois últimos anos da Segunda Guerra Mundial, vai ser vendido em leilão neste domingo. A casa Alexander Historical Auctions espera conseguir entre 200 mil e 300 mil dólares (de 187 mil a 280 mil euros). publico.pt/mundo Quando os EUA tinham campos de concentração O campo de concentração de Manzanar, no poeirento deserto californiano — foi aqui que milhares estiveram contra sua vontade durante a Segunda Guerra Mundial. Vêem-se os bens amontoados das famílias nipo-americanas retiradas das suas casas. As crianças de ascendência nipónica foram reunidas em centros de acolhimento. publico.pt/multimedia SEM COMENTÁRIOS REFUGIADOS AFEGÃOS EM ATENAS, GRÉCIA YANNIS KOLESIDIS/EPA 30 • Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 o Governo puseram às novas exigências da oposição na comissão parlamentar de inquérito. 2. Não me interpretem mal. Em democracia há princípios formais que devem ser preservados e um deles é precisamente a fi scalização do comportamento dos governos no Parlamento. Em teoria, as comissões parlamentares de inquérito servem para isso mesmo. Formalmente, a exigência de acesso à totalidade da troca de mensagens entre Centeno e Domingues pode ser legítima. Mas isso não impede que se faça a sua leitura política. Montenegro e Magalhães não mentiram, porque expressaram uma opinião e as opiniões são livres de ser mentirosas ou verdadeiras. Mas o que disseram é muito mais grave do que a forma como Mário Centeno geriu as negociações com a primeira equipa de gestores da Caixa. É uma gigantesca mentira, ou, se se quiser, um derradeiro recurso de quem não tem mais nada para dizer e que viu nesta “deixa” que o Governo lhes ofereceu de mão beijada um osso que não deixarão de roer ESPAÇO PÚBLICO Jornalista. Escreve ao domingo teresa.de.sousa@publico.pt Teresa de Sousa Sem Fronteiras Mentiras e... mentiras 1.Na semana passada veio-me à memória uma história, já antiga, que sempre me deixou perplexa. Muita gente de direita (incluindo alguns amigos meus) exibia sem complexos a sua admiração por Álvaro Cunhal, com um argumento que era quase sempre o mesmo: a sua enorme coerência. E eu perguntava a mim própria se as pessoas em causa tinham ideia do que lhes aconteceria se o Partido Comunista tivesse conquistado o poder em Portugal. Estávamos em plena Guerra Fria. O destino da burguesia e dos “inimigos do povo” nos regimes comunistas era o que todos sabíamos. Na quarta-feira passada, pensei que tinha fi nalmente encontrado a explicação. Na televisão, em directo do Parlamento, Luís Montenegro e Nuno Magalhães, com um ar compungido, diziam que a sonegação de informação aos deputados signifi cava o caminho para o totalitarismo. Leram bem: totalitarismo. Podiam ter falado em autoritarismo, ditadura, fascismo, mas não, foram imediatamente para o mais intolerável de todos os regimes antidemocráticos. Afi nal a admiração pela coerência de Álvaro Cunhal estava justifi cada: provavelmente não tinham a menor ideia do que seria um regime totalitário. A ilusão durou segundos. Nada disto tem que ver com o actual Partido Comunista. O comunismo como ideologia foi praticamente varrido da face da terra. As sociedades onde dominou durante décadas ainda hoje sofrem as consequências da incalculável destruição humana que provocou. O PCP mantem no programa a sua fi delidade ao marxismo-leninismo, porventura porque não tem nada à mão para substituir a sua ideologia fundadora. Mudou de natureza. É um partido de protesto que vive da sua implantação sindical, sobretudo na defesa dos que já estão bastante bem (empresas públicas e funcionários públicos). Já perdeu boa parte da sua capacidade mobilizadora. Está isolado internacionalmente. Levou tempo, mas percebeu que se tinha esgotado há muito a estratégia de fazer do PS o “inimigo principal” e que era preciso provar aos simpatizantes que podia ter alguma infl uência na governação. Sobre o totalitarismo estamos conversados. O que me causou maior impressão foi ninguém reagir (que eu visse) a esta declaração verdadeiramente extraordinária, de tal modo estamos todos obcecados com as “mentiras” de Mário Centeno ou, no caso, a barreira que os partidos que apoiam enquanto puderem. Seguiu-se a demissão, muito pensada segundo o próprio, de Matos Correia. Amanhã surgirá outra coisa qualquer. Passos Coelho preferiu recorrer a uma meia-verdade desde o início do processo, para deitar abaixo a solução do Governo. Disse ele que os gestores da Caixa, que é uma empresa pública, não podem ganhar acima do primeiro-ministro. É o que a lei manda e daí a necessidade de alterar a lei para permitir uma excepção. Passos sabe que uma gestão profi ssional da Caixa tem de ser paga de acordo com aquilo que é comum entre os pares. O que ele está a dizer, sem dizer, é que tinha razão quando quis privatizar a Caixa, coisa que não fez graças à oposição de Paulo Portas. Não é mentira. É apenas meia-verdade. Centeno deu o fl anco, porque não deve ter muito jeito para mentir. Costa devia ter atalhado o assunto mais cedo. 3. O segundo episódio desta história é que ela serve também para desviar a atenção da onda de boas notícias que chegaram na semana passada e que colocam o PSD numa posição bastante difícil. Não porque não haja múltiplos reparos a fazer sobre elas, mas porque elas deitam por terra a única “estratégia” que tinha: apostar no quanto pior melhor, provavelmente convictos de que os compromissos com Bruxelas nunca poderiam ser cumpridos pelo actual Governo. Nos dias em que toda a gente se indignou contra a mentira, fi cou a saber-se que o défi ce do Orçamento fi cará abaixo de 2,1%, o crescimento da economia acelerou-se no último trimestre do ano passado (1,9%), graças ao aumento do consumo interno, mas também ao bom comportamento das exportações. O Centeno deu o flanco porque não deve ter muito jeito para mentir. Costa devia ter atalhado o assunto mais cedo desemprego desceu com a criação líquida de empregos. A Comissão prevê para este ano e para o próximo uma descida contínua do défi ce e um crescimento moderado da economia, ao nível da zona euro ou ligeiramente superior. O superavit primário registado em 2016 foi o maior da zona euro. A crise do sistema fi nanceiro vai sendo progressivamente resolvida, incluindo a CGD. Bruxelas vai levantar em Maio o procedimento por défi ce excessivo, aumentando a margem de manobra do Governo e, sobretudo, a sua credibilidade externa perante os parceiros e perante os mercados. No Eurogrupo, onde tudo isto se discute, este ganho de credibilidade tem a cara de Mário Centeno. O PSD nunca acreditou que fosse possível e defi niu a sua estratégia em função disso. E agora não sabe como reagir. 4. O Diabo não chegou em Setembro, é verdade, mas estamos ainda muito longe do paraíso, e isso não deixaria obrigatoriamente o PSD sem discurso, se conseguisse sair do seu estado de “negação”. O Diabo pode voltar. Não amanhã ou depois de amanhã, mas no médio/longo prazo, o que não é conveniente esquecer. Se a zona euro não criar os mecanismos que garantam que é vista pelos mercados como um todo (como aconteceu até à crise), com um orçamento próprio e a partilha de alguns riscos, qualquer choque assimétrico pode abrir uma nova crise com a dimensão daquela que ainda não resolvemos totalmente. E sobre isso apenas temos uma certeza: em idênticas condições não haverá resgates, nem apoios, nem o que quer que seja. O euro, na sua forma actual, difi cilmente resistirá. A manutenção de uma zona euro de ganhadores e perdedores tem os dias contados porque os (eternos) perdedores terão de dar explicações aos seus eleitores, que estes provavelmente não aceitarão. Se acrescentarmos o progresso quase imparável dos movimentos antieuropeus, populistas e xenófobos na generalidade dos países europeus (Portugal não está imune) e a total imprevisibilidade internacional, económica e política, criada pela eleição de Trump, o desafi o que a Europa tem pela frente para preservar a sua unidade e a sua democracia é muito, mas muito, exigente. Há imenso para discutir para lá do Diabo e da mentira: da questão do crescimento da economia, a nossa e a dos nossos parceiros da zona euro, aquilo que a Europa quer ser no futuro, que a eleição de Trump tornou muito mais urgente. Mas isso dá muito trabalho e pode não render tantas manchetes. DANIEL ROCHA Público • Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 • 31 vinho, mas a de Maria, que de mãe de Jesus passou a ser sua discípula. Assumiu e interiorizou de tal modo o projecto do seu fi lho que, junto da cruz, Ele a encarregou de cuidar dos discípulos. Para sempre. Não seria de estranhar que o Papa lembrasse àquela imensa multidão: aprendam, com Maria, a ser discípulos de Jesus e da sua missão, membros de uma Igreja de saída. Esta seria a grande conversão mariana de Fátima. 2. Desejos são desejos. Fátima é futuro, mas também 100 anos de história e sobre ela já existem muitos pontos de vista, muitas interpretações. No PÚBLICO (P2) do domingo passado, António Araújo, elaborou um dossier — “Fátima, 100 anos” — no qual não faz, apenas, o registo e o balanço das obras recentemente editadas sobre um fenómeno que continua a ser intrigante. No seu estudo, põe de lado as obras ESPAÇO PÚBLICO Escreve ao domingo Frei Bento Domingues O.P. Fátima dá para tudo (1) 1. Estou sempre a ser interrogado sobre as razões da vinda do Papa Francisco a Fátima. A resposta também é sempre a mesma: não sei. A adivinhação nunca me fez companhia. De qualquer modo, dentro de poucos meses, já estaremos a interpretar as declarações do peregrino Bergoglio. Toda a gente tem, no entanto, direito a conjecturas, fi lhas de desejos e receios. Há quem diga que, em Portugal, os bispos e os padres não são conhecidos pelo seu entusiasmo com a linha reformista do Papa Francisco e que as dioceses e paróquias se ressentem muito desse minguado interesse. Além disso, consta que existem grupos organizados para resistir às novidades deste argentino. Se assim for, não estaremos a ser muito originais. Ana Fonseca Pereira, no PÚBLICO da passada segunda-feira, deu uma boa amostra das manobras da oposição organizada ao Papa Francisco, ao mais alto nível, e robustecidas pela eleição de D. Trump. Nesse sentido, a peregrinação a Fátima — seguindo uma tradição que já vem de Paulo VI — teria uma signifi cação de grande alcance. Fátima não é o melhor símbolo do esquerdismo católico, mas a multidão que se vai concentrar a 12 e 13 de Maio, em Fátima, apoiada pelos grandes meios de comunicação social, não vai mostrar apenas que Fátima continua a ser a maior peregrinação do Ocidente, com ecos em todos os continentes. Não poderá esse fenómeno religioso converter-se num dos grandes focos da nova evangelização e de uma Igreja de saída para todas as periferias existenciais? Fátima cheira a povo. As denunciadas manobras clericais já apanharam o fenómeno da Cova da Iria em movimento. Conseguiram enquadrá- lo, moldá-lo, limpá-lo das suas expressões mais rudes e supersticiosas, mas cada peregrino é que sabe o sofrimento e a desolação, a esperança e a graça que motivaram as promessas mais insólitas e o seu cumprimento doloroso. Obedece a razões que excedem o registo da razão. Cada peregrino vive Fátima à sua maneira, sem pedir licença a ninguém. É legítimo perguntar: não poderá a ancestral cultura do sofrimento ser iluminada pela alegria do Evangelho? O Papa talvez não se vá contentar apenas em fazer coro com o comovente e nostálgico cântico do adeus ou com a inesquecível procissão das velas. Segundo o Evangelho de S. João, o Novo Testamento (NT) começou com uma festa atribulada. A grande conversão não foi a da água em de simplismo laudatório e condenatório e manifesta, na sua análise, que já existem condições para o exercício de um olhar ponderado, crítico, que exerce com grande mestria. Eu não posso ser um bom estudioso de Fátima, porque acompanhei, muito de perto, o modo como as chamadas “aparições” criaram uma cidade e um apreciável volume de negócios, mas também a forma como se tornou o centro religioso do país e não só, a ponto de, por vezes, não se saber se o Vaticano se transferiu para Fátima ou Fátima para o Vaticano. É um corredor que já tem história. Poder-se-á dizer: e que mal tem isso e como poderia ser de outra forma? O Anjo apareceu em Fátima, mas os peregrinos não são anjos. 3. Às vezes aborrece-me, outras dá-me para rir quando se pergunta se Fátima é milagre ou construção, embora tenha de louvar a seriedade do trabalho de Patrícia Carvalho acerca dessa mesma questão. Porquê? O cardeal Ratzinger repetiu, em Fátima, a conhecida distinção entre revelação pública e privada, para não colocar ao mesmo nível o que se passou na Cova da Iria com os acontecimentos narrados e interpretados no NT. Fátima não pertence ao Credo Católico. Mas nunca me esqueço da observação que o fi lósofo Gabriel Marcel fez, em Fátima, aos estudantes Desejos são desejos. Fátima é futuro, mas também 100 anos de história dominicanos, muito críticos das fantasiosas narrativas das aparições feitas pelos pastorinhos: se foi Nossa Senhora que apareceu, deve ter liberdade para se manifestar como quiser; não tem que vos pedir conselhos. O cristianismo é incompreensível sem a fé na Ressurreição, isto é, que a morte não é a última palavra sobre o destino humano. Mas nunca me pareceu que, com a morte, Jesus Cristo, a sua mãe e os discípulos de todas as épocas tenham ido para férias eternas. Acredito que os que morrem são acolhidos, já neste mundo, no Deus do puro amor. S. Paulo lembrou, em Atenas, que foi um gentio a escrever que é na divindade que vivemos, nos movemos e existimos. Muitos místicos confessaram as revelações divinas que viveram. Creio que, se estivéssemos atentos ao que se passa no interior de cada um de nós, poderíamos saber ler os sinais que Deus nos faz e os que lhe procuramos dar ou recusar, pelas nossas obras de misericórdia e oração. É por esquecermos que o Reino de Deus está dentro de nós, acolhido ou recusado, que mandamos os nossos mortos para o mundo do esquecimento. Ainda que nos esqueçamos deles, eles nunca se esquecerão de nós. São eternos colaboradores da sua paixão. A continuar. Fátima dá para muito mais. ENRIC VIVES-RUBIO be699336-306d-4054-aa52-9983295431bf Jornalista A ESQUINA DO MUNDO Dos factos alternativos aos erros de percepção E nquanto Trump se afunda, todos os dias, nos “factos alternativos” da sua Administração, criando um caos sem precedentes na Casa Branca, ou François Fillon vê a sua candidatura à presidência francesa cada vez mais comprometida pela novela dos empregos fi ctícios atribuídos a familiares e pagos pelo erário público (ele que se apresentava como um homem austero, íntegro, católico, pronto para sanear os desmandos nacionais), a vida política portuguesa parece suspensa do “eventual erro de percepção mútuo” entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) António Domingues. Se cada caso é um caso, à escala de cada país, pode dizerse que estes três exemplos refl ectem um preocupante traço comum da crise de credibilidade das democracias. Os confl itos de interesses, a dissimulação, a duplicidade dos comportamentos e o abuso da credulidade pública, a falta de clareza e rigor ético formam uma massa tóxica que corrói a confi ança entre políticos e cidadãos. Não se trata, longe disso, de uma novidade e deve mesmo dizer-se que só nas democracias é possível questionar abertamente esses desvios e desvarios. Mas nunca como agora a exigência de escrutínio e transparência da vida pública se fez tanto sentir — uma exigência que se tornou ainda mais premente depois da eleição de Trump e dos seus ataques boçais às instituições e valores democráticos. Não por acaso também nunca como agora o papel de uma imprensa livre se terá mostrado tão pertinente (veja-se a doentia obsessão que ela constitui para Trump, Putin e outros ditadores vocacionados para a intoxicação mediática). Evidentemente, o caso Mário Centeno/António Domingues é de natureza mais pacífi ca, mas o seu signifi cado nem por isso deixa de ser relevante à escala portuguesa, até pela dimensão invulgar que adquiriu e pelas reacções que vem suscitando. Além disso, um dos seus pontos mais estranhos é o facto de se ter prolongado durante tanto tempo, com uma acumulação incompreensível de trapalhadas sem fi m. Há já longas semanas manifestei aqui a minha perplexidade não apenas com o comportamento de Centeno e Domingues, mas também do primeiro-ministro (o título da crónica era, aliás, “A insustentável leveza de António Costa”). Poderia escrever praticamente o mesmo, com algumas actualizações pontuais. Mas o que entretanto se foi sabendo só agravou a situação para Centeno, para o Governo e até para o Presidente da República, refém dos seus impulsos intervencionistas para além de qualquer normalidade institucional. E que um gabinete de advogados tenha redigido um decreto-lei para isentar a então administração da CGD de entregar a declaração de património e rendimentos ao Tribunal Constitucional constitui uma enormidade típica de uma república das bananas ou uma Administração trumpista. Evidentemente que a oposição de direita, sem ideias e sem programa, se tem aproveitado do caso com crispado oportunismo, levando os partidos da maioria e alguns comentadores a manifestarse contra a divulgação das mensagens trocadas entre Domingues e Centeno (porque poderia prejudicar a imagem externa do país e a recapitalização da CGD). Mesmo assim, não é tolerável que as regras do serviço público possam ser subvertidas para benefício de alguém que não quer submeter-se a elas. E não é admissível que um ministro das Finanças conceda um estatuto régio a um banqueiro, por muito competente que seja, para administrar um banco público, como se o Estado não tivesse alternativa de escolha (a não ser, porventura, como desejaria o anterior Governo, a de transformar esse banco público num banco privado). Não, simplesmente não pode ser. Um ministro das Finanças não pode fi car refém de suspeitas de favorecimento ou erros de percepção mútuos com um interlocutor que lhe impõe condições inaceitáveis à luz dos princípios legais e éticos vigentes. Não há factos alternativos, apenas factos. Um ministro das Finanças não pode ficar refém de suspeitas de favorecimento Vicente Jorge Silva Domingo, 19 de Fevereiro de 2017 BARTOON LUÍS AFONSO PUBLICIDADE Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: António Lobo Xavier, Cláudia Azevedo, Cristina Soares E-mail publico@publico.pt Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Praça do Coronel Pacheco, nº 2, 4050-453 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade, Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 934250100; Fax: 707100049 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €50.000,00. 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