domingo, 12 de fevereiro de 2017

A utopia da “Europa”

Diário de 
Vasco Pulido Valente
UNIÃO EUROPEIA


35
… hopes expire of a low dishonest decade… W. H. Auden
No fim de Janeiro, Portugal, na pessoa do primeiro-ministro, teve a honra de receber seis países do sul da Europa: a Itália, a Espanha, a França, a Grécia, Malta e metade da ilha de Chipre. Apesar do atraso este encontro merece alguns comentários. Primeiro, é duvidoso que Chipre e Malta se possam apresentar ao mundo como “países”. Segundo, o que distingue os membros deste subconjunto da União é precisamente não fazerem parte da Europa. A Espanha não tem um papel no continente desde o século XVII, a França desde o princípio do século XIX e o resto do grupo não existia até há muito pouco tempo e nunca contou para nada. Todos vieram agora aqui dizer meia dúzia de piedades, que o mundo inteiro conhece e, no fundo, como disse o inefável Tsipras, reforçar a “solidariedade”, ou seja, convencer a Alemanha a abrir um bocadinho mais a bolsa.
Desde o princípio que os críticos da “Europa” mostraram a dificuldade de integrar económica, política e culturalmente num organismo único o que se chama, por abuso vocabular, a “Europa” do sul e a “Europa” do leste. A verdadeira Europa sempre começou na Suécia e acabou no norte de Itália e no centro de França. Para Metternich, o Oriente começava às portas de Viena e basta assistir ao que se passa hoje na Roménia, na Hungria e na Polónia para lhe dar razão. Quanto ao sul, embora desejasse melancolicamente ser Europa, não conseguiu ao fim de centenas de anos ser mais do que uma cópia primitiva e deformada de um modelo para ela incompreensível. Basta ler Eça e, por exemplo, Elena Ferrante. O último capítulo de Os Maias, a passagem mais trágica da literatura portuguesa moderna (fim do século XIX) ou o Quarteto de Nápoles (princípio do século XXI), para medir a distância que separa o norte da nossa mediterrânica tristeza.
A “Europa” foi uma utopia que, como o nome indica, não tinha lugar no mundo real. Neste momento, em que ela não passa de uma ruína, ou do anúncio de uma ruína, e em que a fragilidade dos seus fundamentos é pública e notória, convinha perceber o que sucedeu e não perder tempo com gestos vazios para prolongar uma vida condenada, a benefício dos pobrezinhos que se tomam pelo que não são.


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maria perry
33 m
"é que Portugal nunca teve um pendor europeísta mas sim ultramarino e oceânico"

Muito bem visto, Dr Feelgood. E quando nos voltamos para a Europa, é como olhar trás, andamos de cavalo para burro, de uma nação poderosa para uns pedintes.  
Doctor Feelgood
1 h
O finado Soares adoraria ler estas comiserações dum seu aficcionado, dava-lhe não 1 mas 3 badagaios de rajada.

Mas o escriba tem razão no que diz respeito a Portugal ( os outros não interessam...), é que Portugal nunca teve um pendor europeísta mas sim ultramarino e oceânico e não é preciso ler qualquer trantantan para entender isso, basta saber um mínimo de História de Porrtugal.

História essa que não deixará escapar a responsabilidade de Marocas e essencialmente dos mancebos do " movimento dos capitães " no volte face que nos foi imposto contranatura na busca dos nossos avós suevos, celtas, alanos ou visigodos que como se vê e como se viu é e será sempre uma alternativa utópica, para ser suave e não extravasar o vocabulário.

O nosso pendor sempre foi para Sul e nunca para Norte desde 1415.

Querer virar o bico ao prego de séculos de História só podia era dar mau resultado

Essa esquerdalha pedinte e estuporada mais a velhada do reumático da associação 25 d'Abril deviam estar todos presentes em Haia por genocídio encapotado de todo um povo de aquém e além-mar.

Tenho dito e não quero aplausos.
victor guerraDoctor Feelgood
1 h
Como diria o Almada,eu antes queria ser espanhol...Teria sido e seria,ainda, uma grande nação.Madrid com vista para o mar...
Doctor Feelgoodvictor guerra
1 h
Desculpa mas não subscrevo, ó Vítor......Se há coisa que me abespinha é o larvar impante do anti-Portucalismo independentemente da pujança de " nuestros vecinos " que não são flor que se cheire.

Mal por mal prefiro o nosso rosmaninho aos calamares in su jugo lá da pañolada, mesmo após ter ouvido dizer que andavam a construir casas ao longo da fronteira para quando Portugal for ao fundo ficarem com casas à beira-mar.

JAMÉÉÉÉ !!....
victor guerraDoctor Feelgood
20 m
Os tugas são "concierge.maçon,ou jogadores do Real" ,mas da outra banda,só refugiados "ich bin Europaer",com Castela pelo meio,arrendando a varanda galaico-portuguesa aos da Meseta
victor guerra
1 h
Quem tem um umbigo tão grande ,já não mete travões nas baboseiras que ,às vezes, lhe saíem.Espanha e França não são Europa.?Habsburgos e Bourbons são chineses?Europa condenada  a quê?Só se for a entender-se
João Lopes
1 h
Artigo interessante!
Luís Casanova
2 h
Relembrando os Maias

A ironia da coisa é por demais evidente e ilustra bem o ponto de VPV. O Português pode correr mundo, mas o que ele anseia é mesmo poder voltar a Santa Eulália (ou ir à terra). Nós são somos cosmopolitas.

"Planeamos ir a Pekin, passar a Grande Muralha, atravessar a Ásia Central, o oásis de Merv, Khiva, e penetrar na Rússia; daí, pela Arménia e pela Síria, descer ao Egipto a retemperar-nos no sagrado Nilo; subir depois a Atenas, lançar sobre a Acrópole uma saudação a Minerva; passar a Nápoles; dar um olhar a Argélia e a Marrocos; e cair enfim ao comprido em Santa Olavia lá para os meados de 79 a descansar os membros fatigados. Não escrevinho mais porque é tarde, e vamos à Ópera ver a Pati no Barbeiro. Larga distribuição de abraços a todos os amigos queridos.» Vilaça copiou este parágrafo, e trazia-o na carteira para mostrar aos fiéis amigos do Ramalhete. Todos aprovaram, com admiração, tão belas, aventurosas jornadas. Só Cruges, aterrado com aquela vastidão do Universo, murmurou tristemente: «Não voltam cá!» Mas, passado ano e meio, num lindo dia de março, Ega reapareceu no Chiado
Vasco Abreu
2 h
Lendo os comentários por aqui escritos, acho que esta crónica não está a ser bem lida . Escrevi um comentário abaixo que resumo aqui:  "Se bem entendo "Os Maias" e esse magnífico capítulo final, não há aí qualquer tragédia, há simplesmente a assunção dos destinos desses dois irmãos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda, separados como teve e deve ser. Portugal e a Europa são esses dois irmãos, cuja união não foi uma utopia, foi uma partida do destino, uma fatalidade... Sem dramatismos, um "puro engano"!

Enfim, como VPV, sempre considerei que a Europa era uma utopia, não por razões económicas, mas, sobretudo, por razões culturais e históricas... Sempre considerei a Europa uma união contranaura, como a de Carlos e Maria Eduarda... Aliás, outra coisa não nos diz Eça em "Os  Maias", ou José Saramago, na "Jangada de Pedra", ou Natália Correia em toda a sua obra!
Hans Dieter Feindt
2 h
Para um doutorado em História, considerar a europa mediterrânica como "não-europa" é lapidar. Não preciso de evocar a Grécia nem o Império Romano. Basta escrever EUROPA. Ora diga lá a origem da palavra e nomeie as nações (países, Estados, povos) mais antigas da Europa. Se calhar nenhuma delas se situa nessas fronteiras que acabou de inventar apoiado em livros que só contam na sua cabeça.
Luís CasanovaHans Dieter Feindt
2 h
A Grécia nunca foi um 'país' ou estado ou 'povo'. Essa Europa de q fala é uma 'herança cultural'.
Antonio Dâmaso
3 h
Gosto do conteúdo, não gosto titulo. Deveria chamar-se "AS CIGARRAS e AS FORMIGAS". As formigas são os povos do norte, trabalhadores e que poupam. As cigarras são do sul, cantam e não trabalham, são feios, porcos, maus e malandros.
Oque Escrevemos
6 h
Achar que os livros de Elena Ferrante descrevem, evocam, contam toda a Itália é não conhecer o país. Não se é a 7  potência mundial por acaso. VPV se sai da realidade portuguesa escreve uns enormes disparates. 
Victor BatistaOque Escrevemos
4 h
Tanto azedume que por ai vai! 
Agora esta "naquela "de arrear em todos e em tudo.
Nada do que diz, foi posto em causa por VPV.

A Itália será o 27º em riqueza por habitante e o país já deve estar mais próximo do 10º na riqueza total . A riqueza da Itália é a 90% feita a norte de Roma, o resto não é Europa e norte de África '
"A verdadeira Europa sempre começou na Suécia e acabou no norte de Itália e no centro de França"

As palavras são de VPV o sublinhado é meu!

Se calhar uma leitura um pouco mais atenta e menos prejudicada por prévios juízos de valor iria permitir evitar comentários no mínimo desnecessários ...
Manuel Lisboa XII
8 h
De facto há dias que é melhor estar-se calado...neste caso nada escrever. Esta crónica, exceptuando, o primeiro parágrafo constitui um rol de disparates sobre a Europa, do passado e presente. Trata-se de uma obsessão... afinal a Europa do autor, nunca existiu, nem existe. Apresenta um continente ridículo, tontamente utópico, assente em preconceitos ridículos...seria útil que não insistisse no assunto... 
Luís CasanovaManuel Lisboa XII
3 h
Caríssimo, está a esquecer as duas últimas guerras e de quem é q salvou o 'continente'.
José Paulo C Castro
10 h
A pobreza do "sul" por comparação com a riqueza do "norte" tem a ver com algo muito antigo: a formação de capital.
No frio do norte formaram-se povos que sabiam que tinham de acumular e poupar para sobreviver ao longo inverno. Depois, fizeram o mesmo com o dinheiro.
No sul, com invernos suaves, a percepção era a de que não havia necessidade de acumular. Bastava procurar onde houvesse. Depois, fizeram o mesmo com o dinheiro. 
Depois pediram emprestado aos do norte...
E revoltam-se quando não lhes emprestam.

Fernando FernandesJosé Paulo C Castro
5 h
Se esquecer a pobreza que esses povos enfrentaram no século passado e a migração em massa para os EUA, estamos de acordo.
Se esquecer a usurpação de bens das colónias, idem.
Se esquecer os benefícios obtidos com a últimas guerras, concordo.
Se esquecer o isolacionismo em relação à Europa, concordo.
Victor BatistaJosé Paulo C Castro
4 h
Excelente comentario.
A cronica de VPV è curta precisa e concisa. 
Luís CasanovaJosé Paulo C Castro
3 h
O argumento não é muito original. É a fábula da formiga e da cigarra. Os Venezianos tb sabiam da formação de capital e ainda hoje os nossos olhos benificiam de tal conhecimento e prática.
De qualquer forma, hoje existe essa divisão de riqueza e só quem a tem pode emprestar.
Alain DemoustierJosé Paulo C Castro
59 m
muito certo !
Alexandre BurmesterJosé Paulo C Castro
7 m
A Florida está à mesma latitude que a Guiné.
Miguel Martel
11 h
Tem análises com valor, mas que no geral, pecam pela crueza, fundamentalismo com que extrema situações. A Suécia pode ter aspecto superiores a nós...,mas tem outros que são o contrário, caso do belíssimo sol e luz, do calor afectuoso dos portugueses e capacidade de conviver com outros povos..., seja amarelos, pretos azuis ou vermelhos!
A Europa transformou-se numa utopia quando os mafiosos pulhíticos de Bruxelas e Berlim pretenderam uniformizar todos os povos,  sabendo-se quão diferentes são uns dos outros. Estamos a caminho de sermos uma nova URSS..., e obviamente que as gentes de bom senso, não o querem nem admitem a continuada invasão muçulmana com o objectivo de descaracterizar os povos europeus..., à força!
Luís CasanovaMiguel Martel
10 h
Como eu disse um amigo meu q vive em Bruxelas, q até tem mais sol q a Suécia : 'Tu ganhas o suficiente para veres o sol português quando queres'.

A divisão entre Sul e Norte vem desde o Império Romano e depois foi 'oficializada' pela Reforma. Só para simplificar.

Mosava IckxMiguel Martel
1 h
Nova URSS já somos: a comissão, nunca eleita por ninguém, decide de tudo para todos, até das medidas "certas" para as tampas de sanita (3 anos de estudo e um relatório de 220 páginas, juro!). 
A UE morreu de burocracia e mediocracia dos pulhiticos vendidos (porquê as milagrosas lâmpadas exclusivas da Phillips?, quem teve ricas regalias e férias de sonho em troco?). Porquê a destruição sistemática dos valores europeus em favor de "globalização"?
Nojo dos dirigentes, conluio das esquerdas com enorme capital e a nȧo-religião que é o projecto político de submissão ao pensamento único, seja o não-pensamento? Submissão a um interesse global, nem que esteja mais ou menos escondido atrás da mais retrograda e barbaresca "filosofia" de negação do individuo.
Nojo! Nojo total, a todos os níveis de decisão!
Já estou perto do fim, mas tremo para os meus filhos e netos!


Vasco Abreu
11 h
E se bem entendo "Os Maias" e esse magnífico capítulo final, não há aí qualquer tragédia, há simplesmente a assunção dos destinos desses dois irmãos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda, separados como teve e deve ser, porque de outro modo estaríamos no domínio do contranatural, dos irmãos que incestuosamente se amam, sem possibilidade de futuro, sem possibilidade de ser senão o reflexo ou a imitação do outro que afinal ainda sou eu! Portugal e a Europa, são esses dois irmãos, cuja união não foi uma utopia, foi uma partida do destino, uma fatalidade... Sem dramatismos, um "puro engano"! 


Luís Casanova
12 h
A pobreza, sempre a atávica pobreza do Sul ...
Fernando FernandesLuís Casanova
4 h
Monarquia;
Igreja católica;
Analfabetismo;
Anti-semitismo;
Inquisição;
Mesquinhez;
Corrupção;
República;
Ditaduras;
Comunismo;
Traição;
Descolonização;
Socialismo;
Governos de secretaria;
Mentira;
Mais corrupção.
... Ler mais
Victor BatistaFernando Fernandes
4 h
A lista ja vai longa mas ainda nao chegou ao Fim. ..
Luís CasanovaVictor Batista
3 h
Vai longa, o q não quer dizer q esteja toda correta. Por ex. os republicanos tb achavam q era a monarquia. De qualquer forma o meu comentário era um corolário em forma de desabafo
Deixo-lho um interrogação : porque é q pouco ou nada sabemos de Gama e Cabral antes das suas viagens?

Victor BatistaLuís Casanova
2 h
Talvez porque eram cidadaos "normais "antes de partirem nessas grandes viagens dos descobrimentos. 
Nao sei se estara de acordo comigo, mas ha outros grandes vultos da Historia, que tambem nada se sabe antes de se  tornarem famosos. 
A epopeia dos descobrimentos, foi um feito colossal à epoca, que talvez os cronistas de entao, pensaram que nao era necessario dar a conhecer a tese do "antes "desses personagens, mas Eu tenho outra teoria,
Nao seriam eles de alguma forma, seres "convertidos"?nao me alongo mais porque de certeza que entende o que quero dizer, e nao quero de forma  nenhuma, lancar a discussao. 

Luís CasanovaVictor Batista
41 m
A resposta será mais prosaica, mas apontou na direcção certa. Eram pessoas 'normais'. Ou seja, ninguém sabia quem eram.
Gostamos de exaltar a nossa 'epopeia' e muita da 'culpa' é do Camões. Não existe obra e biografia mais esquizofrénica que a do Camões. Na realidade a miséria mais abjecta, na ficção a glória esplendorosa..
Esquecemos sempre a miséria, que é outro nome para coragem, em que os 'navegadores' viviam e que os compeliu a essas aventuras.
Entretanto, na outra 'Europa', viva-se tranquilamente.
Victor BatistaLuís Casanova
15 m
Tem razao ,mas na falta de melhor temos de nos "exaltar "com aquilo que temos, somos quem somos e nada nem ninguem podera alterar esse facto, tristes ou alegres nas nossas miserias quatidianas, cometemos sempre o pecado de pensar, que os "outros "sao melhores que nos!

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