Na linha de Sintra foi detectado apoio logístico aos denominados “combatentes estrangeiros” que rumam para a Turquia. Há dois nacionais no topo da hierarquia do auto-denominado Estado Islâmico
Sandro “Funa”, de 36 anos, é a primeira baixa entre os jihadistas portugueses que integram as fileiras do auto-proclamado Estado Islâmico (EI) e combatem na Síria.
A sua morte, na sequência de ferimentos graves devido a um bombardeamento aéreo, ocorreu, segundo os serviços de segurança, no final de Outubro, e é já do conhecimento da família. Morreu pouco mais de nove meses depois de ter entrado em território sírio via Turquia.
Foi em 2007 que Sandro, nascido em Portugal e de origem cabo-verdiana, rumou dos arredores de Lisboa, da linha de Sintra, para Londres. Na capital britânica converteu-se ao Islão e foi numa das mesquitas daquela cidade que teve um processo de radicalização que o levou ao EI. No início deste ano entrou na Síria para combater.
Em território sírio foi, apenas, mais um português. Com ele, estavam também e, entre outros, Fábio, Celso, Edgar e Patrício. Um grupo heterogéneo apenas unido pela língua materna — o português —, a estadia em Londres, a conversão ao islamismo e a radicalização.
Entre eles, o contraste é gritante. Nas fotos de Facebook, Fábio alardeia da condição de combatente, de operacional. Com intuito de propaganda e evidente propósito narcisista exibe um colete à prova de bala e uma potente metralhadora. Já Patrício, 28 anos, de família natural de Angola, é hoje apontado pela intelligenzia ocidental como ideólogo da organização terrorista. Embora discreto, as suas acções de proselitismo não escaparam às autoridades britânicas. É um elemento importante no organigrama do EI, que os serviços de informação agora esboçam para fixar uma organização cuja construção se lhes escapou.
Patrício Saraiva não é o único português que é referenciado com responsabilidades do EI. Com o nome de Steve é conhecido um luso-luxemburguês de 27 anos, cuja família emigrou de Trás-os-Montes para o Grão-Ducado. Os seus conhecimentos informáticos e recursos na utilização das redes sociais indicam um papel importante no sector da propaganda. Uma vertente fundamental para uma organização que combina a modernidade comunicacional, os vídeos, com o mais antigo preceito da barbárie, a decapitação.
O facto destes portugueses chegados a Londres serem oriundos da zona de Sintra deixou rasto. Alguns dos seus contactos familiares e de amizade já foram utilizados por, pelo menos, três jovens europeus que se dirigiam à Síria. As forças de segurança detectaram apoio logístico, uma espécie de “recuo”, nas localidades de Mira Sintra, Mem Martins e Algueirão. O recurso a Lisboa tem uma fácil explicação. Do aeroporto da Portela, as linhas aéreas turcas têm voos directos para Istambul, uma vez por dia, de manhã, entre terça e sexta-feira. Aos sábados, domingos e segunda-feira, há duas ligações: uma de manhã, outra à tarde. Recorda-se que a Turquia tem sido uma das vias penetração de jihadistas europeus na Síria. O “acompanhamento” da rota portuguesa, já levou os turcos a impedirem a entrada de europeus oriundos de Lisboa no seu território, alegando irregularidades nos vistos ou nos procedimentos administrativos.
Nas fileiras do autoproclamado Estado Islâmico, as autoridades admitem a presença de menos de duas dezenas de portugueses. Um número obtido pela colaboração dos serviços de informação da União Europeia e dos Estados Unidos. Mas há situações difusas, sobretudo em mulheres. Estão neste caso duas cidadãs de origem portuguesa. Uma jovem de 20 anos, cuja família é do Ribatejo, que é viúva de um luxemburguês morto em combate, e que já regressou ao Luxemburgo. E de uma mulher de 40 anos, de pais naturais da Guarda, que casou com um turco em França, e que permanece junto à fronteira entre a Turquia e a Síria por o seu filho combater na Síria.
Apesar da delicadeza da situação, as famílias dos jihadistas têm colaborado com as autoridades. Para muitas, os filhos estarem a combater pelo EI é uma surpresa, porque quando partiram para a Turquia alegaram que iam em missões humanitárias ou que tinham encontrado trabalho. Também desconhecem que alguns dos filhos têm antecedentes criminais nos países de acolhimento, onde residem após emigrarem. Na Grã-Bretanha, são comuns casos de falsificação de documentos e fraude à Segurança Social.
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