FINALMENTE: O Lounge 1908 encerrou
14
Set
Depois do ciclo vicioso que se traduzia numa espécie de “perseguição” e avisos sucessivos de encerramentos, o Lounge 1908, o lado supremo da imoralidade moçambicana, decidiu finalmente encerrar as portas.
Por: Pentchiço Dambuza Capetine
A decisão corajosa embora involuntária,
por incrível que pareça, marca o fim da insânia de um povo (entenda-se
de todos nós desde os proprietários até ao simples peão que achava
aquilo normal) mostrando que, afinal, o bom senso neste país existe
embora por baixo da almofada de alguns.
Para quem não está situado, o Lounge 1908 é uma discoteca que surgiu em recomposição ao Restaurante 1908
ao lado da maior unidade sanitária do país, o Hospital Central de
Maputo (HCM). Essa discoteca, está(va) situada bem entre a Faculdade de
Medicina, a morgue e a enfermaria do próprio hospital, este último local
onde são internadas as pessoas com as doenças mais graves, tecnicamente
chamada por Medicina (1, 2 e 3).
Não só a localização da discoteca estava
em causa como também o seu próprio funcionamento. É que para além do
ligeiro barulho da música e dos gritos que causava, incomodando
(obviamente) os que carecem de sossego, sendo por norma uma zona de
silêncio absoluto, gerava congestionamento nos acessos do hospital
ensombrando as “urgências”. Os frequentadores da discoteca ocupavam,
outrossim e por vezes, os locais de estacionamento do próprio hospital.
No entanto, o encerramento do Lounge
não obedeceu a nenhum desses factores e nem ao bom senso, até porque
nem se tratou de uma ordem legal. Pelo contrário e como anunciei acima,
foi uma decisão voluntária do proprietário pelas circunstâncias que
abaixo enumero.
Ao que se escreve no comunicado sobre o encerramento e pelo desenrolar dos acontecimentos que venho registando, o Lounge 1908
era obrigado a encerrar as portas sempre às 21h contrariando a ideia de
torná-lo em discoteca com portas abertas 24 horas por dia.
Por diversas vezes, agentes da polícia de
Moçambique armados até aos dentes intervieram no local para fazer
cumprir os horários (encerrar às 21h) escorraçando de maneira bruta os
clientes. Mas atenção: Nem sempre isto acontecia sobretudo nos dias em
que os deputados, os empresários afamados, os políticos e os
funcionários seniores do governo central, lá se faziam.
Ora, tudo isto deixa clara a ideia da
existência de facto, de uma perseguição e alguma cobardia por parte de
quem legitimou a existência daquela discoteca naquele ponto. Pouco
importa agora saber se foi ou, o Conselho Municipal ou o Ministério da
Indústria e Comércio quem licenciou aquela insensatez de alto nível.
Mas também não estaria errado se
afirmasse que tudo isto sucedeu com aval dos médicos e, por tabela, do
Ministério da Saúde pelo facto do edifício ser propriedade da Associação
dos Médicos.
Porém, independentemente das razões, o certo é que o Lounge 1908
pelo assalto àquele local, não devia mais continuar a operar. Aliás,
foi isto que faltou aos nossos órgãos de decisão no caso vertente o
Conselho Municipal e o Ministério da Saúde (este último que podia muito
bem exarar um despacho de encerramento alegando incómodo, pura e
simplesmente).
Difícil entender os “prós”
Como cidadão, uma das coisas que entristecia-me no Lounge 1908
não era exactamente a sua existência como tal e ao lado de um hospital
(morgue, medicina e faculdade), era, sim, o facto de existirem pessoas –
algumas próximas a mim – a frequentar o local como que se outorgassem a
imoralidade e aceitassem que somos de facto um povo imbecil.
O Lounge 1908 era, para qualquer
cidadão ponderado, um autêntico insulto aos pacientes do hospital. Era
uma dura afronta da ambição económica (entenda-se do estômago) ao nosso
ainda pobre sistema de saúde.
Como é possível, um indivíduo que se
preze, se exalte de felicidade uma noite inteira, bem ao lado de um
outro que grita por ver a morte por perto? Como é possível?
Haja tamanha vergonha meus caros. Mas agora me digam: Qual será a próxima esquina para o txiling, o tal happy hour? Lounge 1908, definitivamente, não sera’, para nunca mais!
A luta continua!