quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Poderá Tahir Qadri vir a ser líder da Revolução Paquistanesa?: Voz da Rússia

17.01.2013, 15:51, hora de Moscou
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Paquistão, Revolução, política
EPA

O Paquistão está vivendo uma das mais agudas crises na sua história. Dezenas de participantes da Marcha de Milhões, encabeçada pelo teólogo islâmico Tahir Qadri, apresentaram aos poderes um ultimato: demitir a direção do país, dissolver o Parlamento e realizar uma reforma política radical.

Sob o pano de fundo de protestos sem precedentes em Islamabad, o Tribunal Supremo deliberou prender o primeiro-ministro Raja Pervez Ashraf, acusado de corrupção.
Um apelo lançado na semana passada por Tahir Qadri no sentido de iniciar uma larga campanha de protesto contra Islamabad teve uma viva repercussão em corações de milhares de pessoas como se fosse um fósforo aceso arremetido à erva seca. O teólogo Tahir Qadri, após a ausência de 8 anos, regressou há pouco do Canadá e, na terça-feira, as colunas de manifestantes com o seu novo líder à frente, entraram na capital paquistanesa.
"A nossa marcha longa está concluída. Marca o início da revolução. Amanhã, ao despertar para fazer a oração matinal, vão ver um país diferente", disse à multidão Tahir Qadri.
A Declaração de Islamabad divulgada pelo líder da Marcha de Milhões num comício da oposição passou a ser um manifesto da Revolução Paquistanesa. A sua idéia básica consiste na necessidade de realizar no país a reforma política radical. O seu principal objetivo é erradicar a corrupção em altos escalões do poder e "devolver os frutos da democracia aos 99% dos cidadãos". Importa notar que, atribuindo a responsabilidade pela situação no país às autoridades civis, o líder de manifestantes enalteceu o papel do exército que defende as "fronteiras físicas e ideológicas do país".
Já no primeiro dia da confrontação em Islamabad, os participantes da Marcha de Milhões alcançaram a primeira vitória ideológica. O Tribunal Supremo acabou por solidarizar-se com a oposição, tendo decidido deter o chefe do Gabinete, Raja Pervez Ashraf, suspeito da prática de concussões e realização de esquemas corrupcionistas enquanto ocupava o cargo de ministro da Energia e Recursos Hídricos em 2010. Como era de se esperar, a notícia sobre o veredito do Tribunal foi recebida com grande entusiasmo e euforia.
Enquanto isso, o líder da Marcha de Milhões equipara as ações de protesto aos acontecimentos na Praça Tahrir no Cairo. Mas a postura do teólogo faz-nos lembrar os eventos da Revolução Islâmica de 1979 no Irã dirigida pelo aiatolá Khomeini que também tinha regressado do exílio com este propósito.
Recorde-se que no Irã shiita, como no Paquistão sunita, as multidões tomaram as ruas, entoando slogans de combate à corrupção em altos escalões do poder e se pronunciando pelo restabelecimento de normas democráticas e princípios fundamentais da ética e moral.
A própria tecnologia da Marcha de Milhões, utilizada nesses dias no Paquistão, foi testada pela primeira vez no decorrer da Marcha do Sal inspirada por Mahatma Gandhi no período colonial ainda antes da divisão da Índia Britânica. Em 1930 que assinalou a reviravolta no movimento indiano pela independência, Gandhi passou a liderar a marcha pacífica de protesto que se tornou um dos eventos cívicos marcantes do século XX.
Todavia, regressemos aos objetivos verdadeiros da ação atual. Peritos opinam que por trás do líder da Marcha de Milhões pode encontrar-se uma parte da direção militar descontente com a política levada a cabo pelos poderes civis. Em sua opinião, sem a tutela de militares, Tahir Qadri, após a ausência de tantos anos, não teria podido mobilizar tantas pessoas. Perante a impopularidade crescente dos poderes paquistaneses e sem a possibilidade de suspender a vaga de protestos, os militares podiam ter assumido a liderança latente nesse processo, apostando no prestígio de Tahir Qadri.
Na história do Paquistão, o Exército mais de uma vez saía da sombra e atuava como uma força capaz de "estabelecer a ordem". Entretanto, Tahir Qadri desmentiu as acusações de agir como um "fantoche dos generais", asseverando que a sua única missão passa pela "expulsão de ladrões e elementos corruptos".
Por isso, continua sem resposta a questão de quem seria ele - um autêntico líder do movimento popular ou uma figura política fantoche, dependente de seus verdadeiros donos.

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