domingo, 13 de janeiro de 2013

França terá longa e dura campanha no Mali, dizem especialistas

 
13 de Janeiro de 2013 14h31 atualizado às 15h05
Soldados malineses dirigem nas ruas da capital Bamaco, depois que caças franceses bombardearam rebeldes islamistas no país pelo terceiro dia neste domingo Foto: Reuters Soldados malineses dirigem nas ruas da capital Bamaco, depois que caças franceses bombardearam rebeldes islamistas no país pelo terceiro dia neste domingo
Foto: Reuters
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A vontade da França de combater os militantes islamitas no Mali "pelo tempo que for necessário" expõe a antiga potência colonial a uma longa campanha, consideram diplomatas e especialistas. "Está ficando feio e estamos diante de algumas semanas caóticas", disse um diplomata do Conselho de Segurança da ONU sob a condição de anonimato depois de Paris ter informado oficialmente aos quinze países da instância sobre sua decisão de intervir no país africano.
A campanha francesa entrou em seu terceiro dia neste domingo. Os grupos islamitas ligados à Al-Qaeda levaram a França a entrar no conflito ao avançar de seu reduto, no norte do Mali, para regiões controladas pelo governo. Os militantes tomaram, em março do ano passado, o norte do Mali e, desde então, impuseram uma dura lei islâmica, o que faz com que os países ocidentais temam que a área se torne um santuário para extremistas.
A França apoiou firmemente a proposta de organizar uma força de intervenção africana de 3,3 mil soldados que teria a autorização do Conselho de Segurança para ajudar o exército do Mali a reconquistar seu território. Contudo, os problemas políticos nas regiões controladas pelo governo e as dúvidas sobre o exército do Mali e as forças africanas, assim como as divergências sobre o financiamento internacional da operação, frustraram os esforços.
O presidente francês, François Hollande, disse que seu país enfrentará os islamitas "pelo tempo que for necessário" e descreveu o conflito como um combate ao terrorismo. "A França terá agora que intensificar seus esforços contra os islamitas e pressionar o restante da Europa e os Estados Unidos a se envolverem mais", afirmou o diplomata ocidental.
A Grã-Bretanha já anunciou que ajudará no transporte de tropas estrangeiras ao Mali, enquanto os Estados Unidos podem fornecer treinamento militar ao país. "Pode ser que agora se trate de uma intervenção limitada, mas existe uma grande possibilidade de que a França tenha que aumentar mais sua presença, principalmente para obter uma importante estabilidade regional mais rápido do que planejava", disse Richard Gowan, do Centro de cooperação internacional da Universidade de Nova York.
"É provável que a França e, possivelmente, os Estados Unidos aumentem os ataques das forças especiais e de drones no norte para enfraquecer os islamitas enquanto se monta algum tipo de força de intervenção de longo prazo", acrescentou Gowan. Os islamitas e os rebeldes separatistas tuaregues se aproveitaram de um golpe de Estado no Mali, em março de 2012, para tomar o controle dessa parte do território no norte, quase do tamanho da França.
A França e seus aliados planejavam dedicar os primeiros meses de 2013 à reconstrução do exército do país, decomposto pelo golpe, pois acreditava-se que não haveria nenhuma ofensiva islamita antes de setembro. O exército do Mali não impôs muita resistência ao avanço dos islamitas que começou esta semana e isso preocupa muitos países.
A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, expressou sua preocupação na reunião de urgência do Conselho de Segurança na quinta-feira. "Uma das coisas que discutimos foi até que ponto os malinenses desejam e estão preparados para defender seu país", explicou.
A França pede um envolvimento mais rápido das forças da Comunidade Econômica dos Países do Oeste da África (Cedeao, siglas em francês). Por ora, alguns países como Burkina Faso, Nigéria e Senegal se comprometeram a contribuir com 500 soldados cada um.
"Se a Cedeao não puder enviar tropas rápido o suficiente, há grandes possibilidades de que a França se volte para o Conselho de Segurança e peça uma missão da ONU no sul do Mali, ainda que a ONU também tenha problemas para se mobilizar rapidamente", disse Gowan, da Universidade de Nova York.
O ex-primeiro-ministro conservador francês Dominique de Villepin acredita que haverá problemas. "Vamos lutar sozinhos, porque não temos um aliado malinense sólido", escreveu em um artículo publicado neste domingo no Le Journal du Dimanche. "O colapso de um exército malinense dividido, a queda geral do estado: em quem nos apoiaremos?", questionou.

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