sábado, 13 de abril de 2019

"Ultrapassa todos os limites do absurdo estender um tapete vermelho ao senhor Manuel Chang. Um crápula. E o mesmo aplica-se ao senhor Renato Matusse"


Cartas ao Presidente da República (145)
Eureka por Laurindos Macuácua
Presidente, bom dia. Parece que continua o pacto oligárquico, celebrado por parte da classe política, classe empresarial e a burocracia estatal. Em suma: um pacto de saque ao Estado moçambicano. Temos indivíduos neste País que se consideram sócios de Moçambique. Cobram uma participação em todos os contratos públicos relevantes. É um modo de fazer negócio e de fazer política. A naturalização das coisas erradas chegou a tal nível de profundidade que é o salve-se quem puder!
Insisto, Presidente: precisamos desmistificar esta ideia de que o corrupto não é uma pessoa perigosa. Eu não quero ser o vingador mascarado, mas desonra-nos, como País, sabermos que o Governo está a usar os aveludados corredores da diplomacia só para trazer Manuel Chang a Moçambique.
Este senhor, de forma líquida, roubou ao povo moçambicano. Ele e a sua quadrilha. O que eles fizeram ultrapassa a indecência. Espanta-me, Presidente, essa aparente parceria que tem com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco. Como é que se pode envolver o Estado e o Governo para livrar um bandido da cadeia? As pessoas devem ser tratadas pelo que elas fazem. Manuel Chang não foi correcto com o povo moçambicano. Locupletou-se do dinheiro ilícito adquirido através do endividamento do Estado.
Portanto, qualquer tentativa sua Presidente, qualquer telefonema que o senhor faz ao Presidente Cyril Ramaphosa, na tentativa de livrar o Chang da extradição, saiba que não está a agir para o bem deste povo que diz ser seu patrão. Estará ao serviço da máfia, da mesma quadrilha que desgraçou este País.
Ao povo pouco interessa para onde é que o dinheiro que os corruptos roubam vai. É comum todos eles usarem a desculpa de que financiaram a campanha do partido Frelimo ou qualquer outra infra-estrutura deste partido. O importante, para nós, é de onde é que esse dinheiro vem. Esse dinheiro vem de uma cultura de desonestidade que contamina todo o corpo social moçambicano pelo mau exemplo.

Abaixo a apropriação privada do Estado por elites corruptas que canalizam para si e para os seus interesses a renda que deveria ser distribuída por todos nós. Elites extractivistas impedem a construção de instituições políticas e económicas verdadeiramente inclusivas que façam com que o País seja para toda gente e estimule a livre iniciativa da sociedade civil, à inovação, criatividade.
Na eventualidade de não acontecer nada à quadrilha que desgraçou Moçambique, saiba Presidente que o senhor será indicado como um dos que estimulou a delinquência; sobretudo a delinquência dos mais ricos porque terá esvaziado qualquer risco real de punição ou de uma consequência negativa.
Ultrapassa todos os limites do absurdo estender um tapete vermelho ao senhor Manuel Chang. Um crápula. E o mesmo aplica-se ao senhor Renato Matusse. Não se sabe até hoje porquê ele não está preso. E é pertinente indagar: quem é o cabecilha da quadrilha destes senhores? É porque só pode ser alguém graúdo, capaz de subverter o funcionamento estatal a seu bel-prazer. Quem é o capo, Presidente?
DN – 12.04.2019

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