POLÍTICA
27 de Julho de 2018
Competente e profusamente anunciada, a entrevista da empresária Isabel dos Santos à rádio MFM acabou por ser transmitida. Aconteceu esta manhã no programa “João 2 Pontos”, conduzida por João de Almeida, jornalista responsável pelo conteúdo informativo dessa estação emissora.
Há que destacar que, mesmo não tendo suscitado grandes declarações, a entrevista teve o mérito de mostrar a filha do antigo presidente angolano, José Eduardo dos Santos, numa faceta absolutamente mais humilde, num tom bem mais conciliador e longe das ameaças veladas ao Estado angolano, implícitas nos comunicados veiculados pela Atlantic Ventures.
Sem a pose, arrogância e o tom tonitruante, a primogénita de José Eduardo dos Santos passou ao público uma mensagem apaziguadora – no que se pode considerar que foi feliz e prudente. E algo desde logo se pode destacar: pelo menos, estará fora de questão a ideia que Isabel dos Santos e pares vinham ventilando de recorrer ao tribunal para reivindicar o ressarcimento de supostos direitos lesados pelo Estado angolano – aqui fundamentalmente em relação aos dossiers do Porto da Barra do Dande e da Barragem de Caculo Cabaça.
Aliás, Isabel dos Santos deixou explícito que, em contraposição à barra do tribunal, pugnará pelo caminho da negociação, sendo na verdade essa a mais-valia de toda a entrevista. Em linguagem popular dir-se-ia que a ex-Princesa “baixou a bolinha”.
E agiu acertadamente. O contrário se conformaria num acto de lançar mais achas à fogueira, onde a própria Isabel dos Santos se autoimolaria total e irremediavelmente.
Mais do que isso as labaredas acabariam por chamuscar o próprio progenitor, o Presidente que a municiou. E com isso Isabel daria exactamente a justificação de que muitos andam à espera para arrearem, pesadamente, o pau da justiça sobre ela e os demais integrantes do antigo clã presidencial.
Afinal, se há alguém que se pode queixar de ter sido vítima de injustiça, este está longe de ser Isabel dos Santos, que beneficiou, fartamente, de favorecimentos ilegítimos pelo regime instalado pelo pai em Angola. Favorecimentos que determinaram, de resto, que ela se pudesse refastelar num sofá, diante de uma qualquer lareira, dos países europeu em que geralmente se acoita – Portugal ou Inglaterra – permitindo-se contar tranquilamente os cifrões que a tornaram na mulher mais rica de África.
Quem teria – e por certo ainda tem – toda a legitimidade para reclamar e cobrar o que quer que seja é o povo angolano. O povo, este sim, poderia efectuar cobranças, de forma alargada e irrestrita, por anos a fio de agravos, ilegalidades e favorecimentos de que Isabel e pares se foram beneficiando durante a governação eduardista, enquanto os angolanos, de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste, estiolavam e empobreciam, apesar de terem um país de riquezas incomensuráveis.
Mas, enfim, tenha a entrevista de Isabel dos Santos à radio MFM se constituído, na verdade, num golpe de teatro ou num exercício de marketing, não deixa de ser um ganho para todos observar a possibilidade de a sensatez e humildade estarem a fazer caminho na cabecinha da ex-Princesa.
Com as devidas vénias à rádio MFM, o Correio Angolense faz questão de disponibilizar o áudio da entrevista de Isabel dos Santos para que os leitores tirem, por si mesmos, as conclusões.
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