ESPANHA
O corpo da jovem espanhola pode já ter sido descoberto, mas ainda há muito por definir. Antropólogos e técnicos forenses estão empenhados em perceber o que realmente aconteceu.
O caso Diana Quer parecia não ter fim à vista até às revelações do passado domingo, quando José Enrique Abuín Gey, galego mais conhecido como “El Chicle”, confessou às autoridades que a tinha morto e revelou o sítio onde tinha escondido o cadáver. Contudo, apesar do volte face, há muito ainda por definir.
Depois de ter passado cerca de 16 meses num depósito de água, o corpo encontrado numa zona industrial em Rianxo, na Corunha, está demasiado degradado para que os técnicos do Instituto de Medicina Legal (Imelga) de Santiago consigam perceber ao certo o que é que se passou.
A culpa, explica o El País, é do efeito de saponificação, reação química natural semelhante ao processo de fazer sabão — os tecidos adiposos dissolvem-se, tornando o corpo quase irreconhecível, um problema grave quando se procuram quaisquer indícios de lesões, feridas, contusões, impactos de balas ou sinais de violação.
Após ser descoberto, o corpo da jovem madrilena foi imediatamente entregue a três técnicos do Imelga, que o analisaram durante cinco horas. Durante esse período, diz o jornal espanhol, terão sido recolhidas diversas amostras de tecido humano que em pouco tempo foram enviadas para vários laboratórios, tanto em Madrid como na Galiza. Espera-se que estas provas, depois de analisadas, permitam não só confirmar a identidade de Diana Quer mas também clarificar algumas suspeitas relacionadas com as causas da morte e os últimos instantes de vida da jovem.
Depois desta primeira fase de recolha de provas, as ossadas foram transladadas para a Unidade de Antropologia Forense do Imelga. Segundo fontes citadas pelo El País, o responsável desta unidade forense (que fica na localidade de Verín, na província de Ourense), Fernando Serrulla, não tardou a dar início ao processo de limpeza dos ossos. Este estudo, explicam, demorará três ou quatro dias a ficar concluído.
Ao pormenor, este tipo de análise — que os antropólogos descrevem como “o cozer dos ossos” — permite remover todo e qualquer resto de tecidos humanos, deixando o esqueleto completamente descoberto. É nesta fase que, normalmente, mais certezas se recolhem, já que ficam à vista eventuais marcas de balas, facas e outras lesões que possam ter causado a morte. Contudo, lesões de contornos sexuais são quase impossíveis de detetar (aliás, qualquer resto de sémen, por esta altura, já terá desaparecido, por exemplo).
O estudo do esqueleto pode ainda revelar, em determinados casos, se a vítima terá sido estrangulada, já que se torna bastante fácil de perceber se as vértebras cervicais foram danificadas, o que acontece sempre que é exercida uma forte pressão na zona do pescoço. Os primeiros técnicos forenses a analisar o corpo — os que só lidaram com os tecidos moles — não conseguiram detetar com certeza qualquer tipo de sinais de violência, apenas registaram “indícios” que, até agora, ainda não foram divulgados pelo Tribunal Superior de Xustiza de Galicia (o TSXG).
Entretanto, José Enrique Abuín foi transferido para a prisão de Teixeiro esta segunda-feira e aí ficará em prisão preventiva, isolado e sem possibilidade de sair mediante o pagamento de fiança. Enquanto as investigações decorrerem, este cenário permanecerá inalterado.
“El Chicle” está a ser investigado pelo homicídio de Diana Quer mas também é associado a uma tentativa de rapto que aconteceu há uma semana (segunda-feira, 25 de dezembro de 2017), na localidade vizinha de Boiro. O delito acabou por não se concretizar e foi a própria jovem “raptada” a denunciar José Abuín — foi assim que se desencadearam os acontecimentos que, todos esperam, colocarão um ponto final no caso Quer.