Luanda
- A morte em combate de Jonas Savimbi é recordada esta quarta-feira em
Angola, 15 anos depois, nomeadamente por quem lidou diretamente com o
histórico fundador da UNITA nos meses em que viveu em Luanda, numa casa
alegadamente sob escuta.
Fonte: Lusa
"O hóspede é uma nuvem, passa, mas eu não sou uma nuvem, fico"
A casa de Savimbi na zona nobre do Miramar em Luanda estava armadilhada, foram israelitas e marroquinos, que tiveram que desmontar aquilo. Tinha micros em todo o sítio.
Depois de 16 anos de guerra civil em Angola, Jonas Savimbi regressou pela primeira vez a Luanda a 29 de setembro de 1991, na sequência dos acordos de paz assinados em Bicesse, para preparar as eleições do ano seguinte.
Sobre esta presença, Félix Miranda,
responsável pelas comunicações do partido do "galo negro" na altura,
contou à Lusa que Savimbi permaneceu na capital angolana cerca de um
ano, ficando a morar na zona nobre do Miramar, numa das áreas
disponibilizadas à União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA) pelo Governo.
"É preciso sublinhar que aquela casa
estava armadilhada, foram israelitas e marroquinos também, se não me
engano, que tiveram que desmontar aquilo. Tinha micros em todo o sítio. O
MPLA [partido no Governo desde 1975] foi astuto, ofereceu casas que já
tinha armadilhado e sabiam que o Savimbi iria aceitar aquela casa, então
foi ali onde eles mais investiram", apontou.
Com a intervenção de uma equipa
especial, que fez a peritagem no local, "conseguiram detetar e
desmantelar" as escutas, recordou Félix Miranda, sobre as casas que hoje
constituem o conhecido Complexo Hoteleiro da Endiama (CHE), que se
transformou na única memória da passagem do líder histórico da UNITA por
Luanda.
O trabalho feito, de acordo com Félix
Miranda, que hoje é responsável também pela comunicação mas na
Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral
(CASA-CE), liderada por Abel Chivukuvuku, transmitiu confiança e
segurança a Jonas Savimbi.
"Eram duas casas gémeas, havia mais uma
atrás onde ficaram o resto dos dirigentes da UNITA, Jeremias Chitunda,
Abel Chivukuvuku, etc. Era ali onde fazíamos às vezes algumas
conferências de imprensa e onde saíamos para algumas reuniões com
Eduardo dos Santos [Presidente da República]", recordou.
Foi numa reunião, em Lisboa, de cerca de
uma hora, com o seu opositor, o Presidente angolano, José Eduardo dos
Santos, que Savimbi disse ter acertado a instalação da sede do seu,
ainda na altura, movimento, na capital angolana.
"Eu até pedi ao Presidente de Angola
para nos arranjar casas", gracejou Savimbi, numa entrevista que concedeu
em Lisboa, em junho de 1991, ao programa Já Agora, uma coprodução da
agência Lusa e da Rádio Renascença.
"Sentia-se
seguro, tínhamos aqui uns 'super comandos', ele confiava na sua tropa
e, não só, havia advertência da própria comunidade estrangeira, para que
não se fizesse mal a Savimbi, isso também contou muito", acrescentou,
por sua vez, Félix Miranda.
Segurança que, afirma, "perdeu" após a
leitura dos resultados das eleições gerais de 29 e 30 de setembro de
1992, quando "começaram a soprar ventos" sobre a preparação de um
atentado contra Savimbi.
Antes da sua retirada de Luanda para o
Huambo, que antecedeu o recrudescer da guerra civil, após as eleições,
Félix Miranda registou uma mensagem que foi divulgada dias depois,
deixando dúvidas sobre a sua presença ainda na capital.
"Antes de sair ainda chamou-me fui para o
Miramar de madrugada, às 02:00, com o meu aparelho para registar a
mensagem que ele deixou, depois pus a circular a mensagem e as pessoas
pensavam que ele ainda estava cá, já tinha saído e foi se colocar no
Huambo", assinalou.
Um ano antes, quando ocupou as casas do
CHE, em Luanda, Savimbi agradeceu a receção e a forma como foi tratado
pelo Governo, de que era "hospede, mesmo sendo angolano", em "casa
provisória".
"Há um provérbio na minha terra que diz:
o hóspede é uma nuvem, passa, mas eu não sou uma nuvem, fico. Logo, é
preciso que os membros do Governo se habituem que eu vou ficar. A
amabilidade (com) que me receberam devia continuar para podermos
trabalhar juntos", disse na altura.
Jonas Malheiro Savimbi morreu a 22 de
fevereiro de 2002, aos 67 anos, na província do Moxico, acossado por uma
ofensiva das tropas governamentais, depois de atingido com 15 tiros.
Governo promete devolver restos mortais de Savimbi
Lisboa
- As autoridades angolanas e uma equipa de negociadores da UNITA
estarão prestes de alcançar entendimento quanto ao final a dar aos
restos mortais do líder fundador do maior partido da oposição morto
pelas forcas governamentais a 22 de Fevereiro de 2002, algures na
província do Moxico.
Fonte: Club-k.net
De
acordo com os últimos desenvolvimentos, dos contactos, as autoridades
angolanas comprometeram-se em entregar, no ano de 2016, os restos
mortais de Jonas Savimbi, do seu sobrinho Ílias Salupeto Pena, e do
antigo Vice-Presidente da UNITA, Geremias Chitunda, assassinado nos
confrontos pos-eleitoral, em 1992.
A UNITA, encara com reticencias a
proposta governamental de entregar os corpos apenas em 2016,
suspeitando que os seus adversários políticos queiram entregar um ano
antes das próximas eleições no país, no sentido de haver aproveitamento
eleitoral com vista ao regime propagar o seu gesto de “boa vontade” e
colaboração no encerramento deste dossier.
As autoridades comprometeram-se também
em cobrir com 50% das despesas do funeral enquanto que a UNITA cobre o
restante. O funeral “condigno” de Jonas Savimbi está destinado a ser um
evento tradicional de dimensão inédita (ou comparada ao de Agostinho
Neto) que suscitara curiosidades ou de outras atenções especiais que
poderão se deslocar na comuna de Lopitanga, no município do Andulo, que
é a localidade que em vida, Jonas Savimbi sempre desejou, que fosse
ai sepultado junto ao túmulo dos seus pais.
Jonas Savimbi, foi inicialmente
enterrado no cemitério municipal do Luena, a 24 de Fevereiro, numa
cerimonia distanciada dos procedimentos tradicionais pretendido pela
família. Face a carga de chuva que teve lugar no dia depois ao seu
enterro, na capital do Moxico, os seus restos mortais foram secretamente
desenterrados e transportados para Luanda.
Tendo em conta ao estado de putrefação
do cadáver resultado das balas incendiadas a que foi alvejado, os
restos mortais de Savimbi foram submetido a tratamento especial de
conservação encontrando-se, agora, numa área de acesso restrito, no
mausoléu Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, ao lado do cadáver de
Salupeto Pena e de Geremias Chitunda.
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