Num programa de leitura de cartas de Tarot, Maria Helena Martins aconselhou uma mulher a manter o casamento com o seu marido adúltero. A associação UMAR considera a situação inadmissível.
“Arranje-se toda, seja muito bonita que se ele fizer muita ginástica em casa depois para a rua já sobra pouco” – foi este o conselho dado pela taróloga Maria Helena a uma mulher que ligou para o programa por estar a ser traída pelo marido. No programa Ponto de Equilíbrio, transmitido pela SIC Internacional, a cartomante sugeriu que a mulher “cansasse” o seu marido: “É assim que se faz para a gente salvar os nossos casamentos, temos de ser mais espertas que as galdérias”, concluiu.
“É inconcebível que na sociedade actual ainda aconteçam situações deste género”, afirma Elisabete Brasil, activista na União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), admitindo que se trata de um discurso penalizador para as mulheres que evidencia o sexismo que ainda está interiorizado na sociedade portuguesa. “A responsável pelo casamento não funcionar é sempre da mulher porque não corresponde ao papel tradicional, enquanto o homem pode tudo – não interessa o que o homem faz, interessa o que a mulher não fez”, explica a activista.
Também a socióloga Elisabete Rodrigues considera estar perante um discurso “hiper machista” que “vem desculpar a infidelidade do homem e culpa a mulher, não sendo feito nenhum julgamento ao marido para além de colocar o ónus de resolver a situação na mulher”. A socióloga diz que o episódio é “lamentável”, considerando “triste” que se assista a este “machismo entre as próprias mulheres”.
Os conselhos foram dados no programa que Maria Helena Martins apresenta na SIC Internacional, chamado Ponto de Equilíbrio. De acordo com a sinopse do programa, trata-se de um talk-show que pretende promover o bem-estar físico e emocional”, abordando temas de “medicinas naturais, astrologia e interpretação das cartas”.
O segmento de vídeo foi partilhado esta quinta-feira na página do Facebook intitulada Lena das Cartas com a descrição “Meu anjo, hoje mostro-lhe um tutorial: como combater as galdérias”. Alguns utilizadores do Facebook mostraram o seu desagrado através de comentários, tendo recebido respostas da cartomante. “Eu sou a melhor coisa de sempre” ou “tanta revolta, meu anjo… ligue para o 760 que recebe um brinde” foram algumas das respostas dadas por Maria Helena Martins. Vários comentários têm surgido mostrando-se contra os conselhos da apresentadora do programa, ainda que também haja quem defenda as afirmações.
O facto de a apresentadora apelidar as outras mulheres de “galdérias” sem que haja qualquer repreensão da conduta do marido é, para Elisabete Brasil, um indício de que ainda é considerado “errado” que as mulheres decidam o que fazer com o seu corpo e a sua sexualidade. A opinião da socióloga Elisabete Rodrigues é coincidente, pois considera que a sexualidade das mulheres tende a ser moralmente condenada e, “apesar de ter mudado muito, ainda é mais penalizada do que a dos homens”.
Perante as declarações feitas por Maria Helena Martins, Elisabete Brasil considera ser peremptório que haja um maior escrutínio de quem pode transmitir mensagens para grandes audiências, uma vez que “estes programas funcionam como um espaço de apoio e são ouvidos por milhares de pessoas que, por vezes, se encontram em momentos de grande vulnerabilidade”.
A activista da UMAR diz ainda que a veiculação deste tipo de mensagens machistas perpetua a ideia ultrapassada do papel de dependência das mulheres no casamento, em que o seu corpo é visto como propriedade dos homens, estando ao seu dispor para os satisfazer sem que o contrário aconteça. “É uma ideia de que o casamento é sinónimo de felicidade e tem de ser mantido, mesmo que a mulher se tenha de submeter e subjugar sem vontade”, remata.
Não é a primeira vez que uma situação deste género acontece. Já em Junho do ano passado, a taróloga Carla Duarte aconselhava uma mulher vítima de violência doméstica a ter paciência com o seu marido, procurando não discutir e gerar conflito. “Se você recebe violência, corte este ciclo e não dê violência, nem que seja por palavras ou… mime-o”, aconselhava Carla Duarte.
Após uma onda de indignação que se propagou pelas redes sociais, a SIC emitiu um comunicado afirmando “não se rever” no comentário feito pela colaboradora do programa A Vida nas Cartas. A apresentadora do programa, Carla Duarte, acabou por pedir desculpa em directo.
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Também a socióloga Elisabete Rodrigues considera estar perante um discurso “hiper machista” que “vem desculpar a infidelidade do homem e culpa a mulher, não sendo feito nenhum julgamento ao marido para além de colocar o ónus de resolver a situação na mulher”. A socióloga diz que o episódio é “lamentável”, considerando “triste” que se assista a este “machismo entre as próprias mulheres”.
Os conselhos foram dados no programa que Maria Helena Martins apresenta na SIC Internacional, chamado Ponto de Equilíbrio. De acordo com a sinopse do programa, trata-se de um talk-show que pretende promover o bem-estar físico e emocional”, abordando temas de “medicinas naturais, astrologia e interpretação das cartas”.
O segmento de vídeo foi partilhado esta quinta-feira na página do Facebook intitulada Lena das Cartas com a descrição “Meu anjo, hoje mostro-lhe um tutorial: como combater as galdérias”. Alguns utilizadores do Facebook mostraram o seu desagrado através de comentários, tendo recebido respostas da cartomante. “Eu sou a melhor coisa de sempre” ou “tanta revolta, meu anjo… ligue para o 760 que recebe um brinde” foram algumas das respostas dadas por Maria Helena Martins. Vários comentários têm surgido mostrando-se contra os conselhos da apresentadora do programa, ainda que também haja quem defenda as afirmações.
O facto de a apresentadora apelidar as outras mulheres de “galdérias” sem que haja qualquer repreensão da conduta do marido é, para Elisabete Brasil, um indício de que ainda é considerado “errado” que as mulheres decidam o que fazer com o seu corpo e a sua sexualidade. A opinião da socióloga Elisabete Rodrigues é coincidente, pois considera que a sexualidade das mulheres tende a ser moralmente condenada e, “apesar de ter mudado muito, ainda é mais penalizada do que a dos homens”.
Perante as declarações feitas por Maria Helena Martins, Elisabete Brasil considera ser peremptório que haja um maior escrutínio de quem pode transmitir mensagens para grandes audiências, uma vez que “estes programas funcionam como um espaço de apoio e são ouvidos por milhares de pessoas que, por vezes, se encontram em momentos de grande vulnerabilidade”.
A activista da UMAR diz ainda que a veiculação deste tipo de mensagens machistas perpetua a ideia ultrapassada do papel de dependência das mulheres no casamento, em que o seu corpo é visto como propriedade dos homens, estando ao seu dispor para os satisfazer sem que o contrário aconteça. “É uma ideia de que o casamento é sinónimo de felicidade e tem de ser mantido, mesmo que a mulher se tenha de submeter e subjugar sem vontade”, remata.
Não é a primeira vez que uma situação deste género acontece. Já em Junho do ano passado, a taróloga Carla Duarte aconselhava uma mulher vítima de violência doméstica a ter paciência com o seu marido, procurando não discutir e gerar conflito. “Se você recebe violência, corte este ciclo e não dê violência, nem que seja por palavras ou… mime-o”, aconselhava Carla Duarte.
Após uma onda de indignação que se propagou pelas redes sociais, a SIC emitiu um comunicado afirmando “não se rever” no comentário feito pela colaboradora do programa A Vida nas Cartas. A apresentadora do programa, Carla Duarte, acabou por pedir desculpa em directo.
“Se quer salvar o seu casamento (...) arranja-se toda, empinoca-se toda, quando o homem chega a casa você diz-lhe ‘vamos fazer ginástica, anda cá’ e não fala na outra”.
Num programa de leitura de cartas de Tarot, Maria Helena Martins aconselhou uma mulher a manter o casamento com o seu marido adúltero.
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