Carta aberta ao Presidente Filipe Jacinto Nyusi (11)
Senhor Presidente, venho mais uma vez lhe dirigir uma carta aberta. Sou moçambicano de gema, portanto não posso ficar alheio à situação política e económica do país.
Existem alguns moçambicanos que julgam que sou da Renamo, talvez por causa da minha frontalidade quando falo da governação da Frelimo, aproveito o ensejo para dizer que sou coerente comigo mesmo. Sou da Frelimo. As minhas críticas não são para desestabilizar o Governo da Frelimo, mas há que apontar o dedo à ferida, ou seja, temos que dizer quando algo anda mal.
Congratulo o Presidente Filipe Jacinto Nyusi por se ter entendido com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e dar aos moçambicanos mais sessenta dias de trégua. Portanto, a terceira trégua. Porém, isto pode alegrar a muitos moçambicanos incautos, mas não a mim. Eu sou atento por natureza e sei que trégua não é sinónimo de paz.
Por exemplo, o Presidente já pensou em qualquer investidor estrangeiro que queira investir em Moçambique? Como é que ele vai investir o seu dinheiro num país inseguro? Como convencer aos refugiados para regressarem ao país numa situação de instabilidade? Repito: trégua não é sinónimo de paz. Será que vamos continuar reféns dessas tréguas de sessenta dias para sempre?
Eu esperava que com a segunda trégua muita coisa tivesse sido avançada nas negociações. Mesmo o tal grupo de contacto (formado por embaixadores residentes em Moçambique), foi criado quando faltavam poucos dias para terminar o prazo da referida trégua. Os moçambicanos, os investidores e tantos outros interessados, estavam com o coração nas mãos porque não sabiam o que iria acontecer. Muitos, provavelmente, pensavam que a guerra iria reiniciar. Ninguém merece viver assim, Presidente!
Disse-lhe outra vez que se o senhor Presidente está mesmo preocupado com a paz efectiva em Moçambique, tem de resolver o problema como deve ser. Até aqui, os moçambicanos não sabem o que falhou para que os mediadores internacionais fossem embora do país.
Até aqui, os moçambicanos não sabem o que o senhor Presidente tem falado ao telefone com o líder da Renamo. Essa trégua, Presidente, tem muitos elementos imprevisíveis, porque qualquer contrariedade a guerra pode reacender.
Se o Presidente quer mesmo a paz, por que não vai a Gorongosa ter com Dhlakama? Por que as conversas telefónicas entre o senhor e o líder da Renamo não são tornadas públicas? Será que esses telefonemas vão derrubar todas as barreiras? Falo da exclusão, do não reconhecimento do outro como irmão, da mesquinhez na divisão da riqueza…?
Por quê o Presidente não cria condições para que Dhlakama venha a Maputo? Não é aqui onde deviam discutir a descentralização, a despartidarização das instituições do Estado?
Por quê não se cria uma Comissão Nacional de Eleições (CNE) mais eficaz, transparente, que possa dar garantia a todos os partidos políticos de que concorrem em igualdade? Todos os que dirigem a CNE são escolhidos através da sua lealdade política, não querem o bem-estar do país. Por isso que a cada eleição, temos, a seguir, um conflito. E o absurdo é que não aprendemos com os nossos próprios erros! Afinal, a quem interessa que este país não avance?
Moçambique é um país abençoado em recursos naturais, mas o seu povo não se beneficia em nada. Que fiscal estará no mato, com a guerra, para controlar quem rouba a nossa madeira? Com o país em guerra, quem controla o garimpo, a pesca e tantas outras actividades ilegais?
Volto a dizer, Presidente: com o país em guerra, quem investe o seu dinheiro sem garantias de retorno? Trégua não é paz. Moçambique precisa de uma paz efectiva. A família moçambicana precisa se reconciliar e eu não acredito que um telefonema seja capaz de tanto.
No dia que o Presidente der passos para uma paz efectiva, todos os moçambicanos irão perceber. Verão um abraço efusivo entre si e o líder da Renamo, um abraço de irmãos, de moçambicanos, que a única coisa que lhes opõe é pensar diferente.
O Presidente pode, querendo, fazer de Moçambique grande. Este país não é só da Frelimo ou da Renamo. É de moçambicanos. São eles que sofrem para reergue-lo depois que as partes desavindas se entendem para uma paz débil, podre.
Presidente: precisamos de paz efectiva. Por causa duma guerra não declarada, não sei quanto ananás apodreceu em Muxúngue, quanta tangerina foi desperdiçada em Inhambane e, sobretudo, quantos moçambicanos abandonaram as suas zonas de origem e quantos deles morreram.
Queremos paz efectiva, Presidente!
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