quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Acusação quer saber quem autorizou Zófimo -

 A SPY MASTER MOÇAMBIQUE estava sedeada exactamente na residência do acusado, no PH5

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Criação da empresa de serviços de espionagem na qual o arguido é sócio
A acusação particular no caso do assassinato, a tiro, da empresária Valentina da Luz Guebuza, já remeteu, às instituições de direito, pedidos de informações detalhadas que possam esclarecer os contornos em que o acusado, Zófimo Armando Muiuane, criou uma empresa de serviços de espionagem e segurança em Moçambique. O pedido da acusação particular entende que é importante que se busquem e se explicitem todos os contornos que envolvem a criação de serviços de espionagem por entender que, directa ou indirectamente, o assassinato de Valentina Guebuza foi premeditado e por muito tempo preparado pelo acusado. Trata-se da empresa registada com o nome SPY MASTER MOÇAMBIQUE, SA, vocacionada, segundo a acusação, à prestação de serviços de espionagem e venda de todo o tipo de equipamentos de segurança e espionagem.
Na criação da empresa, Zófimo contou com a colaboração de dois cidadãos de nacionalidade coreana, cujos nomes o mediaFAX não conseguiu apurar. O ofício pedindo detalhes da criação da empresa foi enviado pela 10ª secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos “para que se diga quem autorizou a constituição da empresa SPY MASTER MOÇAMBIQUE, SA”.
A empresa, segundo apurou o mediaFAX, foi matriculada no dia 14 de Novembro de 2016, por três pessoas, nomeadamente Zófimo Armando Muiuane e os seus dois sócios de nacionalidade coreana. Portanto, a empresa de espionagem foi criada a exactos 30 dias antes de Zófimo ter tirado a vida da esposa com quem vivia duravam pouco mais de dois anos. Zófimo e Valentina se tinham casado, em cerimónia pomposa e de muito glamour em Julho de 2014.O mediaFAX soube ainda que afinal a residência onde Zófimo residia (sozinho) antes do casamento com Valentina Guebuza, no bairro da Coop, é exactamente a mesma que serviu para acolher os escritórios e actividades da empresa de venda de material de espionagem. Ou seja, a SPY MASTER estava sedeada no edifício PH5, bairro da Coop, 9º andar, flat 2404.
É aliás, nesta residência que as autoridades policiais encontraram uma das quatro armas, cuja posse ilegal é atribuída a Zófimo Muiuane.
Oficialmente, Zófimo deu a infor­mação de que a sua casa, no bairro da Coop, tinha sido alugada por terceiros, mas não fez qualquer menção de que afinal estava a ser alugada a uma empresa na qual ele próprio é um dos donos. É para esta casa que tinha sido aconselhado a regressar quando a relação conjugal com Valentina Guebuza entrou em ebulição de desentendimentos, com o casal a não encontrar qualquer forma de convivência. A sugestão, entretanto, não foi acatada exactamente sob alegação de que a casa estava sendo alugada.
“Ao desferir vários tiros, dos quais dois atingiram zonas vitais da vítima, ao forjar as características do ID do senhor Washington Dube (documento achado na casa do casal) e ao criar e operar uma empresa do ramo de espionagem, o arguido cometeu, em concurso real de infracções, os crimes de homicídio  qualificado, falsificação e uso de documento falso e espionagem, nos termos dos artigos 157, 366, 535, nr 1, alínea d) e 542, todos do Código Penal” – refere a acusação particular, devidamente reproduzida pelo tribunal, para quem Zófimo agiu em plena consciência de que as suas acções eram proibidas, pelo que deve ser integral e exemplarmente responsabilizado.
A SPY MASTER, segundo consta no registo, tem por objecto social a consultoria na área de segurança, técnica operativa, intrusão, venda de todo tipo de equipamentos e acessórios para segurança e vigilância pessoal e institucional, equipamentos e acessórios para espionagem e contra-espionagem doméstica e industrial. O tribunal enviou, igualmente, além de outras diligências, pedidos de esclarecimento, junto da embaixada sul-africana em Maputo, em relação ao documento em nome de Washington Dube, encontrado na residência do casal e com a foto de Zófimo Muiuane estampada.
MEDIAFAX – 09.02.2017

O Emílio Zapata moçambicano

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Andre_mtsangaissa2Antes de o jornal "Canal de Moçambique'' veicular a informação até aqui mais esclare­cedora sobre a identidade, digamos verdadeira, porque não existe outra, de André Matsangaisse, mantinha-se o silêncio de um segmento de historiadores alinhados com o sis­tema. Porque convinha ao sistema que a memória colectiva continuasse adormecida da conveniência da informação oficial que trata o Matsangaisse como "bandido armado".
Manter esse sono interessa ao re­gime, por razões que a seguir enu­meramos.
O pensamento totalitário continua a dominar o meio social, académico e intelectual, infelizmente ancora do na ortodoxia marxista leninista. Algumas mentes entorpecidas não conseguem pensar fora do âmbi­to da antiga Rua Pereira do Lago, por uma razão de efeito e causa: têm de sobreviver. Pensam com e para o estômago. Pois bem, dentro do academismo historiógrafo criaram-se, no passado, duas cor­rentes para identificar as origens do grupo rebelde que lutava contra o totalitarismo: a interna e a externa.
A interna defendia que a referida guerrilha era instrumento de agres­são do "apartheid", através dos seus "sequazes" da MNR, hoje Renamo.
A externa atribuía o factor à con­sequência da ditadura machelista. Só chegados aqui podemos compreender porque alguns historiado­res oficiais se puseram em pulgas, depois da difusão, pelo nosso jor­nal, da entrevista escondida de Matsangaisse. E o busílis da questão é que, pela primeira vez, em quarenta anos, ficamos a saber das motiva­ções, nem que sejam aparentes, mas pela boca do próprio Matsangaisse, dos propósitos que o levaram a jun­tar os seus homens e a combater o regime.
Como ele se explicou, para derrubar a tirania machelista. Este pedaço de cera deita abaixo a teoria advogada com unhas e dentes, até hoje, pelo regime, de que a Renamo é uma criação externa Por outras palavras, a entrevista de Matsangaisse abala totalmente com as invoca­ções dos seus detractores, que du­rante quarenta anos o "ninguneam", apregoaram a mentira, o difamaram como homem despenteado, sujo, sanguinário e porco, porque interes­sados que se mantenha a perfídia.
E o que deixa de queixo caído os defensores da tese de que Matsangaisse era um instrumento do "apartheid” é que, na entrevista, ele revela o seu lado pessoal e auto-transcendental: o pensamento, a concepção filosófica do ser individual e social, o que ele idealizava para o país in­dependente e para o seu povo. A sua visão política e de economia. O seu carro Mercedes-Benz. Até aqui desconhecidos de todos nós. Matsangaisse afinal, e até prova em con­trário, porque não as temos, não era aquele pilantra como nos pintaram e reincidem que lhe tomemos. Ti­nha certa personalidade. Parece ter sido o Emílio Zapata moçambicano.
Conforme se depreende, deu o ros­to de ter sido um homem capaz de liderar e mobilizar milhares de cidadãos para a sua causa. Acreditava nas suas próprias ideias. Era um ho­mem de convicções. Alguns clones do regime tentam desconstruir esse mito. Concordemos ou não com as suas ideias, qualquer trabalho biscateiro, por cima de joelho, na rede social dominante, resulta frouxo e anedótico. Tentativa impossível e desmentir o que o jornal revelou. A idoneidade do jornal e da fonte de maneira nenhuma ficam abaladas, porque e esse tipo de trabalho que se deve prestar aos moçambicanos. Temos estado a ver que alguns historiadores não dormem, não apanham sono, e se mostram mui­to nervosos, estão a espernear-se e a coçar-se, por Matsangaisse nos ter vindo dizer que recebia quatrocen­tos rands na HCB, onde trabalhou como operador de máquina.
E des­de quando a declaração/afirmação da fonte pode retirar a idoneidade das suas declarações? Quem fora de Matsangaisse para dizer da sua pró­pria justiça? Acaso terão uma bola de cristal para dizer que com aquele ordenado nunca se podia comprar um Mercedes-Benz? Esquecemos que Mercedes-Benz era uma das marcas mais comercializadas no período colonial? Onde estavam os laboriosos historiadores(melhor diríamos rapazes contratados para trabalho sujo) durante esses anos to­dos em que não foram capazes de nos fornecer esses elementos escon­didos de percurso de Matsangaisse, em se tratando de que a reinante desorganização da Renamo nun­ca colaborou no fornecimento de relevantes elementos do seu perfil? Em Fevereiro de 2008, entrevis­tamos, com o propósito de colher­mos subsídios historiográficos, o Luís Garife Matsangaisse, irmão de Matsangafsse, que afirmou que Matsangaisse estava obcecado com Machel e prometia vingar-se caso alguém o combatesse. André era major, era comandante do paiol do Dondo, tendo então dito ao ir­mão o seguinte: "a pessoa que vai lutar com o Samora, eu vou ma­tar. Tirou um revólver que tinha na cintura e lançou-o no ar e voltou a segura-lo. Luís Matsangaisse previu, naquela entrevista de 2008, que alguém iria fazer nova guerra. Ninguém o tomou a sério.
E hoje voltamos a fazer tábua rasa aos Matsangaisses. Em países sérios, seriam um caso de estudo e não de desqua­lificação, muito menos de trapezismo apressado com que alguns di­rectamente interessados na mentira sobre a identidade de Matsangaisse se esforçam, desafortunadamen­te para tapar o Sol com a paneira.
Há anos atrás, Lina Magaia so­freu alguma ignomínia por depois de ter dito em público que Matsangaisse estava entre os elemen­tos que hastearam a bandeira no dia da independência nacional na Machava. Para os seus calunia­dores puritanistas, não podia ter sido porque estes o vêem como quem guarda naquela cabeleira monstruosos piolhos que os perse­guem até aos bornais de escroto.
A história de Moçambique está por ser escrita. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 09.02.2017

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