sábado, 14 de dezembro de 2019

A carta de um Militar em Cabo Delgado II


Ontem acabei conseguindo os megas, fiz txuna de 100 mt, para pagar será difícil, assim tenho que esperar o meu miserável salário, que com ele nem consigo comprar um Top Score para a minha mãe, ela gosta de xima e "xipezwa"...o meu pai desde que fugiu da guerra dos 16 anos até hoje nem sequer mandou uma carta, ouço vizinhos que com ele partiram numa aventura forçada a dizerem que já conheceu uma outra esposa, tem filhos e adquiriu a nacionalidade zulu.
O meu pai me deixou ainda no ventre da minha mãe, só o conheço graças à fotos guardadas na sua mala de ganga, era um homem esbelto, de braços montanhosos, olhar sedutor....mas não o culpo, pois, após saber que a minha mãe tinha sido raptada para uma das bases da Renamo em Moamba, ele preferiu partir para resguardar a sua vida.
Mas a guerra cessou, a paz foi alcançada, ele nada, não sei se já é vergonha que ele sente de eu ter vinte cinco anos sem lhe ver.
Meu brada Guilherme, a situação em Cabo Delgado está mal, ontem estes assassinos atacaram em Nangade e queimaram casas, mesmo que elas sejam de estacas e barro, pelo menos aqueles coitados homens macondes conseguiam se esconder.
Conseguimos abater três, e nós perdemos mais uma vez 21 homens, dois são daí de Boane, o Rogério filho do mecânico Ismael e Latifo o sobrinho do secretário do bairro 2.
Hiiiii jho!...kkk, estou muito triste, raptaram também uma pitinha que eu tanto queria, já éramos grandes amigos, embora ela seja uma máquina de trucidar a língua lusa.
Volto amanhã "bay" hoje é sábado, a bebida me espera nas barracas...quem disse que soldado não merece "algumas"?

1 comentário:

Anónimo disse...

Militar também é ser Humano..... Coragem um dia isso vai ter fim e os que patrocinam iram pagar pelos crimes que eles estao a cometer nesta pérola do indico.