quarta-feira, 10 de abril de 2019

Esta é a primeira fotografia de sempre de um buraco negro. Einstein estava correto, outra vez


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A primeira fotografia da História de um buraco negro já foi revelada. A imagem é tal como Albert Einstein tinha imaginado. A Relatividade Geral foi confirmada mais uma vez. Siga o anúncio em direto.
Já foi revelada a primeira fotografia de um buraco negro alguma vez captada por uma máquina construída pelo Homem. A imagem é igual à que tinha sido teorizada com a Relatividade Geral. Está confirmado: as teorias de Albert Einstein confirmam-se uma vez mais, até nos lugares mais exóticos do universo. A fotografia mostra o buraco negro no centro da galáxia Messier 87, a 55 milhões de anos-luz da Terra, visível na constelação de Virgem. Este buraco negro tem a massa de seis mil milhões de sóis e é muito maior do que aquele que habita o centro da nossa Via Láctea.
O anúncio aconteceu assim que o relógio marcou as 14h07 em Portugal Continental e em simultâneo a partir de seis cidades: Bruxelas (Bélgica), Washington (Estados Unidos), Santiago (Chile), Xangai (China), Taipé (Taiwan) e Tóquio (Japão).  Este é “um resultado revolucionário”: nunca se tinha tido uma observação tão direta de um fenómeno como este no passado. A fotografia mostra um anel de gás a altíssimas temperaturas a ultrapassar a “fronteira” do buraco negro e a ser engolido por ele.

O que se esperava ver é uma silhueta escura circundada por um disco luminoso a ser engolido pelo buraco negro. Essa foi a previsão que Albert Einstein fez quando postulou a Teoria da Relatividade Geral, afirmando que há regiões no universo que distorcem o tempo e o espaço porque são de tal maneira densos que nada, nem mesmo a luz, lhes consegue escapar. Até agora, estas afirmações têm servido de inspiração às pinturas e ilustrações de buracos negros. Mas esta fotografia volta a tirar as teimas em redor da Teoria da Relatividade Geral. Ela está correta, uma vez mais.
Há treze anos que os cientistas envolvidos neste projeto, que foi financiado pela União Europeia, olham para dois buracos negros em busca de os fotografar. Um deles é o Saggitarius A* e fica no centro da Via Láctea; e o outro fica no meio da galáxia M87. O primeiro fica a 25 mil anos-luz da Terra (demoraríamos 25 mil anos a lá chegar se viajássemos à velocidade da luz) e tem a massa de quatro milhões de sóis. Mas o que surge na fotografia é o segundo.
Ao longo de todo este tempo, oito telescópios espalhados pelo mundo ficaram de olhos postos nessas duas regiões do espaço na tentativa de captar a radiação eletromagnética emitida pelos gases em fricção que são engolidos pelos buracos negros. Juntos, esses observatórios formavam o Event Horizon Telescope e por estarem espalhados pela Terra funcionam como um gigantesco telescópio com o tamanho do nosso planeta.
A obtenção desta fotografia não é apenas importante por causa da inovação que ela representa. Nem sequer apenas porque coloca a Teoria da Relatividade Geral novamente em teste. Mas é também especial porque é o olhar mais direto que teremos de um fenómeno que permanece um verdadeiro mistério na física. Os buracos negros são, por definição, uma região extremamente densa onde não temos certeza se as leis da natureza tal como as conhecemos funcionam.
Tudo porque, quando nascem após a explosão de uma estrela muito maior que o Sol, surgem com uma espécie de fronteira chamada horizonte dos acontecimentos. É como se o buraco negro fosse uma pérola e esse horizonte fosse a concha da ostra que lhe protege. Nenhum objeto que atravesse essa fronteira consegue escapar à extrema força de um buraco negro. Mais: alguém que esteja longe dessa fronteira deixa de ver os objetos que a ultrapassem, numa espécie de censura cósmica. Até ao horizonte dos acontecimentos, a Teoria da Relatividade Geral é uma lanterna que permite entender tudo. Dali para a frente, a “censura cósmica” não nos permite ver — nem saber — nada. Estamos na completa ignorância. A lanterna apaga-se.
Como a luz não escapa aos buracos negros, eles são impossíveis de ver diretamente. São invisíveis. O mais perto que podemos estar de olhar para eles é fotografando os efeitos que eles provocam nos corpos celestes em seu redor. O disco luminoso que vemos em redor do buraco negro é gás a temperaturas altíssimas a ser sugado para dentro do buraco negro.
Tal como Einstein tinha previsto, e como foi confirmado durante um eclipse solar em 1919, quando o espaço e o tempo são deformados — curvados — por um obsto altamente denso como um buraco negro, a luz também se “dobra”. Já tínhamos testado isso em deformações mais singelas, como a provocada pelo Sol ou pelo planeta Terra. Mas nunca em situações tão exóticas como as provocados pelos buracos negros. Agora temos a certeza: a Teoria da Relatividade Geral também se confirma em ambientes extremos como esses.
É uma ignorância com que nem todos os cientistas se conformam. Stephen Hawking era um desses inconformados. Segundo ele, só não conseguimos compreender os buracos negros porque não podemos olhar para eles apenas à luz da física clássica de Albert Einstein. Há que mergulhar aos níveis mais elementares e entrar numa área mais minimalista da física chamada mecânica quântica. Segundo ele, é possível que o buraco negro não se limite a engolir coisas, mas também a cuspir algumas — ou então a energia do universo não se conservava, como sempre foi previsto num sistema fechado.
Mas nada disso foi alguma vez provado ou sequer testado. Se fosse, já teríamos casado a física clássica com a mecânica quântica, espreitado para dentro de um buraco negro e descoberto a tão apetecível Teoria de Tudo, uma equação elegante que explicaria tudo, mesmo tudo, o que existe no universo — até as coisas mais exóticas como um buraco negro ou o Big Bang. Isso nunca foi possível e há quem julgue que nunca será. Mas também é por isto que a fotografia esperada esta quarta-feira é tão especial: é o mais perto que poderemos estar de olhar para um mistério inquebrável. Pelo menos por enquanto.

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