quarta-feira, 3 de abril de 2019

Doze marcos da vida de Bouteflika, o último dirigente árabe do século XX

O Presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, demitiu-se esta terça-feira do cargo, último ato da carreira política daquele que foi último líder árabe da velha guarda ainda no poder.

Eis os 12 marcos da vida de um homem inteiramente dedicada à política na Argélia e que foi fundamental para que o Exército tomasse o poder em 1962, após a sangrenta guerra da independência de França.
Nascido em 1937 na cidade marroquina de Oudja, Bouteflika foi o Presidente que mais tempo esteve no poder na Argélia, com 20 anos de mandato e quatro eleições ganhas.
- Conhecido pela sua habilidade como influenciador político, juntou-se no início da guerra da independência de França ao "Exército das Fronteiras", dirigido por Houari Boumediene, que depois se tornaria Presidente.
Em 1962, opôs-se aos acordos de Evian, entre os representantes de França e o Governo provisório argelino, que levaram ao cessar-fogo final, e fez lóbi em nome de Boumediene e do Presidente Ahmed Ben Bella para conseguir que o Exército assumisse o poder.
Em 1963, com apenas 26 anos, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que exerceria até 1979, tornando-se o rosto da Argélia e um dos principais defensores da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e do Movimento dos Não-Alinhados.
Em 1976, foi fundamental na decisão do Presidente Boumediene de reconhecer a República Árabe Democrática Sarauí (RASD), o que significou a rutura de relações com Marrocos e um conflito bilateral que ainda se mantém.
Em 1983, foi acusado de corrupção e considerado culpado de ter desviado mais de 70 milhões de francos das embaixadas. Dois anos antes, tinha decidido fugir do país. Regressou à Argélia em 1987 sem devolver o dinheiro, que disse destinar-se a um novo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Em 1989, foi eleito membro do comité central da Frente de Libertação Nacional (FLN), partido que governou a Argélia desde a independência, e, depois de rejeitar vários ministérios em plena guerra civil, regressou à Suíça.
Em 1999, venceu as eleições presidenciais com 75% dos votos e iniciou um período de transição que terminou com uma trégua com os islamitas que pôs fim à chamada "década negra", uma época de terror que fez mais de 300.000 mortos.
Em 2005, sofreu o primeiro problema de saúde grave: foi-lhe diagnosticada uma úlcera gástrica hemorrágica, e começaram as viagens constantes à Suíça e os rumores sobre o seu verdadeiro estado.
Em 2013, as dúvidas agudizaram-se, depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou numa cadeira de rodas e lhe causou a perda da fala. Ainda assim, venceu as presidenciais de 2014 com 81% dos votos, apesar de a doença o ter impedido de fazer campanha.
Em 2017, e no contexto de uma galopante crise económica e social, ordenou uma revisão da Constituição para poder candidatar-se a um quinto mandato. A sua candidatura, dois anos depois, desencadeou as maiores manifestações no país desde o início da guerra civil.
Em março de 2019, após três semanas de gigantescos protestos nas ruas e duas semanas internado num hospital na Suíça, desistiu da reeleição para um quinto mandato, sem que se saiba quem lhe sucederá e qual é o seu verdadeiro estado de saúde.

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