Luanda - Ainda trajada de preto, como na véspera, quando interrompeu a conferência de imprensa, Ulika Gisela da Paixão Franco dos Santos conta como chegou à sala, mesmo não sendo jornalista e, por isso, não estar autorizada a participar do evento, muito menos intervir.
*Cândido Bessa
Fonte: JA
Fonte: JA
A jovem, magra e com aspecto frágil, fruto talvez da anemia falciforme (doença que lhe foi diagnosticada aos 14 meses), chegou perto das 9h00 ao hotel, onde estava hospedado o Presidente da República, João Lourenço, e a Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço. Tomou o pequeno almoço e aguardou pelo melhor momento para abordar o Presidente. Conta que, ao tomar conhecimento que o Chefe de Estado estaria em Lisboa, escreveu para a Presidência da República Portuguesa, para os ministros da Justiça de Angola e Portugal, Assembleia da República, Gabinete do Primeiro-Ministro e para os ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores.
Na carta, enviada uma semana antes da chegada do Presidente angolano a Lisboa, Ulika pedia a todos ajuda para intervirem junto do Chefe de Estado para a receber. Apenas do Gabinete do Primeiro-Ministro português recebeu resposta, mas sem garantias de satisfazer a solicitação.
A oportunidade
Ulika estava avisada da conferência de imprensa desde a véspera, aproveitando-se dos contactos que mantém com a imprensa, fruto do seu trabalho de assistente de comunicação.
“Mandei mensagens a alguns editores e directores dos órgãos, que estariam na conferência de imprensa, a perguntar-lhes se alguém faria a pergunta sobre o 27 de Maio”, conta, para depois explicar que não teve resposta na altura. Só no dia seguinte viria a saber que ou a Lusa ou a TSF colocaria a questão ao Presidente. “Só foi esperar”, acrescenta, sublinhando que não foi difícil entrar na sala, já que os jornalistas não foram identificados e, também, alguns estavam mesmo à procura do local exacto. “Entrei e sentei-me na segunda fila”, afirma.
Entretanto, a oportunidade chegou quando a jornalista da TSF colocou a questão sobre o 27 de Maio. “Não queria ser mal educada e peço desculpas ao senhor Comandante”, afirma, com certa emoção na fala, sublinhando que tem consciência dos embaraços causados ao Presidente da República e demais autoridades.
“Apenas queria aproveitar a oportunidade para perguntar ao nosso Presidente, se seria capaz de pedir desculpas aos familiares do 27 de Maio e, também, para lhe pedir que, em vez de desenterrar as ossadas, identificá-las por DNA, como muitos defendem, que seria muito caro e Angola tem outras necessidades, que se construísse um memorial, um jardim com os nomes dos mortos nas árvores, para que as crianças conhecessem a história”, afirma.
Mudanças em Angola
Ao contrário do que disse no momento da conferência de imprensa, Ulika afirma que vai constantemente a Luanda e que vê com muita esperança a mudança operada. “Por isso é que tive a coragem de falar com o Comandante”, afirma e explica o porquê é que prefere chamar Comandante ao Chefe de Estado: “Ele é mais do que um Presidente, é um homem corajoso, que fez a sua travessia no deserto e se manteve firme. É de facto um Comandante, um militar capaz de operar mudanças em Angola”. Ulika, que esteve em Luanda em Setembro último, afirma que nunca antes tentou abordar as autoridades, porque não se sentia confortável. “O nosso antigo Presidente era alguém que falava pouco e, pelo que sei, pessoas assim também ouvem pouco e que, certamente, nunca me ouviria nem chegaria até ele”, afirma, ao mesmo tempo que resume o perfil de João Lourenço: “não é um peão”.
Mestre em Comunicação e Cultura pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e em Filosofia pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, Ulika é neta de Gentil Viana, que diz ter pago as propinas e ajudado durante a sua estadia em Portugal.
Ulika liderou projectos de consultoria em comunicação e relações públicas para organismos como o Ministério da Cultura de Angola, entre 2013 e 2014 (um dos quais durante o Fenacult, no mandato da ministra Rosa Cruz e Silva), Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e a União dos Escritores Angolanos (UEA), além de vários projectos em Portugal.
Consultora de Comunicação e Relações Públicas, é sócia gerente da Agência Unipessoal por si fundada em Junho de 2013, a UPF – Comunicação e Relações Lda.
Aos 42 anos, a mulher, que é familiar directa de Paixão Franco, antigo PCA do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), de quem diz ter um amor incondicional, mostra o multicaixa de um dos bancos angolanos e afirma que guarda sempre as suas poupanças para passar o resto dos seus dias em Angola. “A minha mãe já está cansada, penso que já não sai daqui. Mas eu vou à minha terra”, afirma, esperançada na mudança.
O incidente
A conferência de imprensa ia a meio quando a jornalista da TSF perguntou ao Presidente João Lourenço se o Governo angolano pensa reparar as famílias afectadas pelo “27 de Maio”. Antes mesmo de o Presidente responder, a jovem, que se identificou como órfã do trágico acontecimento, interrompeu a jornalista para ler um poema do pai, Adelino António Ribeiro dos Santos (Betinho), alegadamente assassinado na ocasião.
Apesar da inoportuna interrupção, o Presidente João Lourenço ouviu a cidadã angolana enquanto falava sobre o pai, pediu mesmo a assessores que a deixassem falar, mas não a deixou ler o poema por respeito aos jornalistas presentes.
Ainda assim, o Presidente João Lourenço respondeu à questão e disse que “o 27 de Maio é um dossier delicado, porque naquela ocasião Angola perdeu alguns dos seus melhores filhos” e que o “Estado angolano já reconheceu em diversas ocasiões, a última das quais muito recentemente”. O Presidente referia-se ao pronunciamento recentemente feito pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, na Assembleia Nacional, onde reconheceu ter havido “excessos por parte do Governo, naquela altura”. “Estamos abertos ao diálogo, para ver como se pode reparar as feridas profundas que ficaram nos corações de muitas famílias, por causa destes tristes acontecimentos”, concluiu o Presidente.
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Uige No Coração
Não acho que merece muita atenção e ademais está la em Lisboa e em vez de defender os seus direitos lá em Angola.
Há muitas coisas importantes e sinceramente acho ridículo continuar com no tema ate natal ou 2019.
Já imaginaram os bakongos pedir explicação no JLO sobre a matança dos irmãos bakongos em 1992?
É triste, é duro de engolir, doi e mágoa, mas é hora de perdoar.
JLO é o chefe do estado, mas não era ninguém na altura, e sou da opinião enquanto o JES está em vida, deveria responder perguntas incômodas e não JLO apesar de que representa o executivo hoje.
Vamos resgatar as boas maneiras que nos identificam como Angolanos de Cabinda ao Cunene.
Que a semana seja leve pra todos.
Há muitas coisas importantes e sinceramente acho ridículo continuar com no tema ate natal ou 2019.
Já imaginaram os bakongos pedir explicação no JLO sobre a matança dos irmãos bakongos em 1992?
É triste, é duro de engolir, doi e mágoa, mas é hora de perdoar.
JLO é o chefe do estado, mas não era ninguém na altura, e sou da opinião enquanto o JES está em vida, deveria responder perguntas incômodas e não JLO apesar de que representa o executivo hoje.
Vamos resgatar as boas maneiras que nos identificam como Angolanos de Cabinda ao Cunene.
Que a semana seja leve pra todos.
João Nambua Tutaleny
Sem desprimor à sua dor, mas a senhora foi indelicada e oportunista (passe a redundância) e, concordo quando dizes que enquanto o JES está em vida, deveria responder perguntas incômodas, se bem que o presidente na altura era Agostinho Neto. Mas enfim, JLo herdou um fardo pesado e terá de suportar estes momentos "infelizes e embaraçosos".
Segundo Tenete Picro Farad Mustafa
chara tiveste uma grande sorte no tempo do chefe maribomdo nunca deveria pinsar em angola .ia resolver o teu problema mesmo la tuga ou a tiro ou veneno
Carla Silva
Foi bem visível aos olhos e ouvidos de todos que estás a fazer da perda do teu pai um drama político, só gostaria de saber o que ganhaste como essa atitude após teres interrompido uma conferência do interesse dos angolanos.
Claudino Hengwa
Kundi Paihama! ( não sabes onde está a dor poque não está em ti). Ela é livre de expor a dor que sente pelo assassinato do pai, que foi polìticamente motivado durante o fraccionismo. Agradecia que a órfã publicasse nas redes sociais alguns extratos dos poemas do pai.
Rui Armando
Claudino Hengwa. Olha o espaço e o momento, para apresentar a sua indignação.
Sansao Celestino
A morte de um angolano que é o pai da Ulika tambem é do interesse dos angolanos, a tua reação é tão inoportuna porque não aconteceu consigo, ser orfão durante 42 anos não é coisa facil a morte do pai da Ulika tambem é do interesse dos angolanos não se esqueça é combantendo os erros que se evita outros erros.
obrigado
obrigado
Ana Maria Sebastião
O 27 de Maio bem como outros acontecimentos no país, deixaram sequelas profundas na sociedade, mas a vida continua e para frente é o caminho, os que foram já não mais voltam portanto, há perguntas sem respostas e o país precisa de pessoas comprometidas com o espírito de unidade, com a paz e a estabilidade social.
Lukeya Lukeya
A ULIKA deve saber tambem que o Pai dela "Betinho" como Dirigente da mesma revolta de 27 de maio, tambem matou pessoas, como o Saidi Mingas, Dangereux, Comandante Gika e muitos outros, então o que os familiares deste que foram mortos pelos fraccionistas ou melhor pelo "Pai dela Betinho" vao dizer? assim não vamos a lado nenhum, porque tanto num lado como no outro mataram. Portanto minha Senhora, pára com isso
Claudino Hengwa
A Ulika não condenou ninguém. Apenas lamentou o assassinato do pai. De notar que a onda de assassinatos continuou até 1979 quando Neto dissolveu a Disa. A maioria dos que foram mortos eram inocentes. O Lukeya pode ser que fez parte dos algozes da Disa.
Rui Armando
Claudino Hengwa . Você estava lá para dizer que eram inocentes?. Não fala o que não viveu.
Sansao Celestino
Rui Armando para ja es um grande idiota,quem não sabe que no 27 de Maio de 77 morreram pessoas inocentes?
O meu pai só não morreu porque conseguiu fugir para o Lubango,deixando-nos orfão de pai vivo sabes porque?Pela simples razão de ser dono do hotel Ganda e o Hotel turismo,tudo por causa de inveja.
O meu pai só não morreu porque conseguiu fugir para o Lubango,deixando-nos orfão de pai vivo sabes porque?Pela simples razão de ser dono do hotel Ganda e o Hotel turismo,tudo por causa de inveja.
Albertinatina Tina
Luyeka kaka, mbata Ka bala na Ka landa mo Kaká. Na keza ku Ngola yibosi Ka Mona. Mbua nguani.
António Paiva Onetox
isto foi massacre enorme só Deus que da forças aos parentes desses que perdaeram os seus entequeridos.
Altino Júnior
João Lourenço esteve bem em abordar a situação, soube gerir a emoção (e quiçá algum descontrolo) que quase tomou conta da sala.
Sansao Celestino
Rui Armando deviam é tambem te levarem naquela cadeia do Namibe ai irias perceber bem o 27 de Maio de 77
Bernardo Nhanga
Com fé no comamndante tudo vai mudar, é um homem de coragem, e de uma angolanidade profunda....
Lumbongo Samanyonga Vasco
Ulika é livre para agir como agiu. se pensam que ela foi unpolite,sois voces que não perderam ninguém nas mesmas circunstancias. deixem-na em paz,cuidem da vossa ignorancia...
Valente Ferraz IKuma Joaquim
JLO não condenes a Jovem que o interpelou, tu ês boa pessoa, estais de parabens JLO.
Francisco Quifanda
Luis Fernando e a seguranca andam distraido, como deixou todos joernalistas entrar na sala sem identificacao, senao a tal Ulika nem ia entrar.
João Baptista Domingos Domingos
Isso a oposição deve se preparar um dia que anscenderem o poder teram as mesmas perguntas sobre os assassinatos em Angola. Vamos ao que interessa, coisa do gênero não pode acontecer e nunca se pode repetir a segurança portuguesa falhou e é de dar palmatórias, a segurança presidencial deve pedir satisfações a DGS portuguesa, colocaram em risco o presidente JLO. Felizmente a senhora não teve nenhuma maldade para com o presidente.
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