Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2017 PMR Africa
Banco Mundial aponta fragilidades nas EP’s e folha salarial do sector público
Dívidas ocultas
Pág. 4
Kroll rectifica
relatório Morreu PCA
da LAM Última
Pág. 2 e 3
TEMA DA SEMANA 2 Savana 04-08-2017
Compra-se
Um (espaço) terreno, vivenda ou
geminada nas zonas da coop, central,
Polana, Museu, Malhangalene AltoMae
e sommerschield. Pagamento
imediato. Contacto 847256171.
Aeconomia moçambicana
tem potencial para reentrar
na trajectória do crescimento,
mas, para isso,
precisa de reformas, considera, em
entrevista ao SAVANA, a economista-chefe
do Banco Mundial em
Moçambique, Shireen Mahdi.
Shireen Mahdi diz que as autoridades
moçambicanas devem apostar
em medidas fiscais, que ataquem,
nomeadamente, a problemática
situação nas Empresas Públicas
(EP,s), elevada folha salarial no sector
público e as fragilidades do sector
privado nacional.
Quanto ao relatório que o Banco
Mundial lançou recentemente sobre
a actual situação económica do
país, a economista-chefe daquela
instituição em Maputo assinala que
o documento aponta para a emergência
de sinais positivos, apesar do
longo caminho que ainda terá de ser
percorrido.
Quais são as principais notas do relatório
sobre a actualidade económica
de Moçambique, que pontos se podem
ressaltar?
O relatório é uma análise económica,
cobre a situação macro-económica de
Moçambique. É publicado duas vezes
por ano, é uma oportunidade para o
Banco Mundial partilhar a sua visão
sobre acontecimentos actuais na economia.
A principal mensagem deste relatório
é, realmente, dizer que Moçambique
pode recuperar, se empreender reformas.
Temos visto muitos desenvolvimentos
positivos, logo desde o início
de 2017, que mostram que o país está
a revelar sinais positivos em termos de
crescimento económico, estabilização
da moeda, a inflação ainda continua
alta, mas começa a baixar e esperamos
mais redução à medida que caminharmos
para o final do ano; os preços das
matérias-primas estão a recuperar.
O governo iniciou a sua agenda de reforma
e temos visto muitos progressos
na política monetária e alguns progressos
na política fiscal.
Mas o apelo que o relatório faz é no
sentido de mais acção do lado da política
fiscal e pede uma atenção cautelosa
para o sector privado, que foi
profundamente afectado pela queda
da economia que assistimos no ano
passado. A concepção do programa
de reforma da economia tem de estar
consciente da necessidade do desenvolvimento
do sector privado, esta é a
mensagem geral da edição deste ano
dos dados da actualização da economia,
que estão no relatório.
Questão das EP,s é urgente
Em relação às medidas fiscais, o que é
que o Banco Mundial gostava de ver a
acontecer. Pode elaborar mais?
Como sabe, no ano passado assistimos
a um grande choque da posição fiscal,
porque quando as dívidas escondidas
foram reveladas, isto gerou um grande
choque na economia, no crescimento,
nos fundos dos doadores e em muitos
outros e diferentes factores que afectaram
o Orçamento do Estado. Isto
colocou Moçambique numa situação
em que teve de encontrar poupanças,
para consolidar o Orçamento. É o termo
que usamos, mas, essencialmente,
é encontrar poupanças e reorientar o
programa de despesas, para ser mais
eficiente, enquanto se protegem áreas
de despesas-chave, que são importantes
para o crescimento e bem-estar dos
moçambicanos.
Vimos alguns progressos na agenda
de reformas em relação à política fiscal
e o governo fez algumas das mais
difíceis reformas; a reforma no subsí-
dio dos combustíveis é uma reforma
muito difícil de fazer em qualquer
país, mas o governo tem atacado esta
questão nos últimos meses.
Temos visto bons progressos, mas há
muito mais por fazer. A folha de salários
no sector público cresceu muito
quando a economia era forte, num
momento em que todo o Orçamento
do Estado estava a crescer, mas a folha
salarial estava a crescer mais fortemente
e a dificuldade é que quando
tem de poupar no orçamento, é muito
difícil controlar o crescimento na folha
de salário.
Recomendamos que o Governo encontre
formas de gerir o aumento da
folha salarial, reconhecemos que o
incremento aconteceu em áreas essenciais,
como professores e enfermeiros,
e gostaríamos de ver isso protegido,
não estamos a recomendar que se retire
pessoal-chave necessário no terreno,
mas há outras reformas estruturais
na folha de salário que podem ajudar
a gerir o ritmo do crescimento e vai
criar muito espaço fiscal.
A outra reforma estrutural que gostaríamos
de ver a acontecer é uma maior
eficiência noutras categorias de despesas.
Como em qualquer agregado
familiar, em qualquer família, há que
assegurar que todas as despesas valem
o dinheiro que se gasta por elas.
A outra área de reforma fiscal a que
gostaríamos que o governo prestasse
mais atenção é a gestão do risco fiscal
representado pelas empresas públicas.
Esta é uma área que é importante
para o país, estamos a trabalhar com
o Governo no sentido de ajudar as
empresas públicas a terem um melhor
mecanismo de supervisão, para assegurar
que sejam empresas saudáveis, e
empresas saudáveis não são as que vão
à falência e criam custos à economia.
Em relação à questão da carteira de
participações do Estado no sector
empresarial, qual é a abordagem que
o Banco Mundial defende?
Primeiro, é uma agenda mais geral,
a primeira área que penso que é a
mais urgente é gerir as empresas que
estão numa situação financeira difí-
cil, não estamos nos anos 80 em que
falávamos de privatizações no seu
todo. Cada empresa exige uma solu-
ção específica, por exemplo, a EDM
não pode ser privatizada, mas pode se
trabalhar com a empresa para ter uma
posição financeira mais forte, a longo
prazo.
Recomendados e trabalhamos com
o Governo para ter uma abordagem
caso a caso, começando com as empresas
que estão numa situação mais
difícil, isto em termos de gestão de
curto prazo; no longo prazo, recomendados
que o Governo considere
toda a sua carteira de participações e,
realmente, reoriente a sua participação
nas áreas que são críticas, importantes
para a economia, para a prestação de
serviços; que olhe para as empresas
que não são estratégicas e não estão
a ter um bom desempenho para permitir
que, a longo prazo, tenha participações
em empresas públicas em
situação saudável.
Referiu-se ao nível de inflação, que no
ano passado foi extremamente alto, e
que há expectativas de voltar para ní-
veis mais baixos. Há fundamentos que
possam sustentar o optimismo em relação
a uma inflação mais baixa?
O pico da inflação no ano passado foi
principalmente causado pelos preços
dos produtos alimentares. Quando
tivemos uma inflação de 25% ou acima,
o preço dos produtos alimentares
era de 40% ou acima, em termos de
inflação.
Este ano esperamos ver uma queda
nessa tendência, primeiro, porque
no ano passado tivemos o “El nino”,
a moeda estava numa posição muito
mais fraca e a maioria dos produtos
alimentares é importada, esperamos
uma queda nos preços da alimentação,
a segunda razão pela qual pensamos
que a inflação vai baixar é que temos
visto muitas reformas no subsídios a
acontecerem nos últimos meses, à medida
que estabilizarem, vão ajudar a
estabilizar o aumento nos preços.
O relatório salienta a existência de
fragilidades no sector privado, sobretudo,
nas pequenas e médias empresas.
O que é que o Banco Mundial
acha que tem de ser feito para
que as pequenas e médias empresas
desenvolvam o seu papel de motor
de crescimento da economia e essa
função não esteja ancorada apenas
nas grandes empresas e na indústria
extractiva?
A primeira coisa, e mais importante,
para a qual chamamos a atenção, e é
muito importante mesmo para as pequenas
empresas, não apenas para os
grandes investidores, é um contexto
macro-económico estável, as empresas
não podem investir, as empresas não
podem crescer, quando a situação macro-económica
é flutuante ou instável,
por isso, esta é a reforma mais urgente
no curto prazo.
Há muitos outros problemas estruturais
que têm sido discutidos há muitos
anos, para os quais é preciso reorientar
o foco e o relatório se refere a eles. Por
exemplo, há que garantir que o custo
de fazer negócios seja razoável e baixo,
tão baixo quanto possível, o acesso ao
crédito, a capacidade de as empresas se
licenciarem e transitarem da situação
informal para formal, tornar essa transição
tão simples quanto possível.
É também muito importante para
Moçambique investir num sector privado
que opera numa economia não
dependente de recursos naturais que
possa exportar, temos um forte sector
exportador nos recursos minerais, mas
precisamos que as exportações sejam
fortes em áreas que não estejam directamente
relacionadas com os recursos
naturais, isto vai ajudar Moçambique
a deixar de ser uma economia a
duas velocidades, vai ajudar o país a
ter sectores dinâmicos impulsionados
por recursos, o que é muito bom, mas
também irá permitir que o resto da
economia seja competitiva e forte.
Referiu-se à necessidade de acesso a
um crédito em condições razoáveis.
Que impacto vê na introdução de
um indexante único para as taxas de
câmbio?
Esta é uma grande reforma e muitas
das reformas introduzidas pelo Banco
de Moçambique foram desenhadas
para fortalecer a política monetária
e a transmissão do que foi definido
na política monetária para os bancos
comerciais, que se relacionam com as
empresas.
Esta é uma reforma que vai ajudar,
esperamos que até ao final deste, do
próximo ou dos próximos dois anos, as
taxas de juro comecem a baixar, este
é um dos ajustamentos-chave que vão
ajudar no acesso ao crédito para o sector
privado.
Mas não é o único ajustamento, porque
mesmo quando as taxas de juro
eram baixas, muitos segmentos do
sector privado não tinham acesso ao
crédito, porque a maioria é informal, a
sua estrutura de colaterais não é forte
para lhes permitir o acesso ao crédito,
o sector bancário não tem todos
os produtos de gestão de risco para
alcançar pequenas empresas em sectores
como agricultura; ajudar as taxas
de juro a baixar é importante, mas há
constrangimentos estruturais com que
se têm de lidar.
O metical está com um comportamento
errático, voltou a perder para
o euro e voltou a perder para o dólar.
Qual é a expectativa do BM em rela-
ção a este indicador?
É uma questão difícil de responder,
no sentido em que não previmos a
trajectória do metical no relatório, o
que temos visto é que o metical
estabilizou em 2017. O que é muiMoçambique
precisa de reformas
para recuperar
– Shireen Mahdi, economista-chefe do Banco Mundial
Por Ricardo Mudaukane
“Temos visto muitos desenvolvimentos positivos, logo desde o início de 2017, que
mostram que o país está a revelar sinais positivos em termos de crescimento
económico”
TEMA DA SEMANA Savana 04-08-2017 3
TEMA DA SEMANA
to importante, na minha visão, não é o
nível do metical, mas que seja estável,
é muito difícil para o sector privado
operar, quando tem o metical a flutuar,
é mais fácil trabalhar com uma moeda
estável, mesmo quando está em 60 ou
61 [o dólar], o que temos visto é que o
metical estabilizou.
Pensamos que a tendência nos próximos
anos é a continuação da estabilidade
do metical, especialmente, o que
vai ajudar a moeda é a tendência nas
exportações no sector dos recursos, o
aumento das exportações no carvão, o
incremento de preços no alumínio e
noutras matérias-primas, significa que
haverá um fluxo de moeda para ajudar
o metical a ficar mais estável.
O que é que tem de ser feito para que
a indústria extractiva esteja ao serviço
da diversificação da economia de Mo-
çambique?
O relatório tem uma secção muito
interessante que fala do impacto da
indústria extractiva na economia, especialmente
o Investimento Directo
Estrangeiro (IDE). O relatório destaca
o impacto do sector dos recursos
na diversificação de postos de trabalho
em Moçambique e cita um estudo que
refere que cada novo IDE cria 434
empregos no sector não extractivo, a
mensagem é que o sector é muito importante
para a economia, é o motor
da economia, cria oportunidades para
ligações com outras partes da economia
e recursos para o Orçamento do
Estado. Temos de assegurar que haja
bons progressos com as grandes decisões
de investimento para o sector do
gás, porque é uma área crítica. Ontem
[segunda-feira] houve um anúncio da
Anadarko de que deram um grande
passo, há alguns meses, vimos a ENI
a anunciar a Decisão Final de Investimento,
por isso, são partes-chave
da economia, gostaríamos de vê-las a
amadurecer e tornar-se produtivas.
Como é que olha para o actual nível
das Reservas Internacionais Líquidas
de Moçambique?
É um indicador que seguimos muito
de perto. Houve uma melhoria assinável
no nível das reservas, recomendamos
o Banco Central a continuar a
consolidar as reservas, é uma economia
que está muito exposta a choques,
e quando se está exposto a choques externos,
é necessário ter um nível muito
saudável de reservas. Há mais trabalho
para acumular as reservas, penso que a
perspectiva é para que isso continue ao
longo do ano.
É preciso expandir a
protecção social
Qual é o equilíbrio que tem de ser encontrado
para que a retirada dos subsídios
não penalize os pobres.
Uma das áreas fiscais-chave que temos
no diálogo com o Governo é a rede de
protecção social, estamos a trabalhar
com o governo para o estabelecimento
do sistema de uma rede de protecção
social nacional, uma rede que alcance
as pessoas pobres, nas áreas rurais e
urbanas e as ajude a resistir aos choques
económicos.
Esse trabalho precisa de prosseguir e
ser acelerado, especialmente no actual
contexto, expandir o sistema da rede
de protecção social, registar mais pessoas
no sistema, melhorar o mecanismo
de identificação de beneficiários e
desembolsos para as famílias que precisam
desse apoio.
Como se consegue melhorar a protecção
social dos mais pobres num
contexto em que o país enfrenta dificuldades
financeiras?
Isso remete à discussão que tivemos
antes em relação à poupança nas despesas
correntes, na folha salarial, a
nossa mensagem essencial não é cortar
tudo, é reequilibrar o programa de
despesas, reduzir o aumento da folha
salarial, procurar mais eficiência nas
despesas correntes; é onde se cria poupanças
que, gradualmente, vão financiar
o programa da rede de protecção
social, mas também é necessário sustentar
o programa de investimentos
públicos.
O que vimos no ano passado foi um
corte no investimento público e o
relatório destaca isso, diz que o ajustamento
no ano passado cortou o investimento
e foi ainda mais longe na
despesa corrente, isto não é bom para
o crescimento, a longo prazo, nem
para o sector privado, quando se tem
estradas que não são objecto de manutenção,
por exemplo.
A mensagem é reequilibrar o programa
da despesa, poupar onde se pode
poupar e colocar mais recursos nas
partes da economia que mais precisam
de ajuda, na rede de segurança social e
no investimento público.
O Banco Mundial está optimista em
relação aos projectos no gás, numa
altura em que há notícias que apontam
para a possibilidade de o mercado
mundial ficar inundando de gás
natural?
Na minha opinião, em qualquer mercado
de matérias-primas teremos altos
e baixos, haverá um país a produzir
mais ou o preço a cair, isto é normal
no mercado. O mercado de gás, a longo
prazo, tem uma forte previsão em
termos de procura e de transição para
outro tipo de recursos e o uso crescente
de gás no mercado asiático será
também uma oportunidade, este é um
mercado a que Moçambique se pode
ligar.
Em relação aos projectos da Bacia
do Rovuma, estes projectos são estruturados
em função de contratos
de venda de longo prazo. Quando a
ENI anunciou a sua decisão final de
investimento já tinha compradores, de
longo prazo, para o seu gás, é por isso
que estamos optimistas que quando
estes projectos começarem a produzir
gás vão sustentar o crescimento económico
de Moçambique. Haverá altos
e baixos, essa é a natureza do jogo, mas
serão um forte pilar da economia do
país.
Prestações em atraso agravam dívida
A sustentabilidade da dívida pública
de Moçambique está inevitavelmente
dependente de uma restruturação?
Nós, como Banco Mundial, o nosso
conselho é que o governo trabalhe
no sentido de levar a dívida para uma
posição sustentável, para chegar a isso,
como se chega lá, é uma prerrogativa
do governo. O governo já iniciou
a restruturação da dívida, está a falar
com os credores, o sucesso na restruturação,
especialmente a redução dos
pagamentos anuais, vai trazer grande
alívio à posição fiscal.
De momento, o governo não está a
pagar e as prestações em atraso acumulam-se,
são parte da razão de a dí-
vida ser insustentável, a restruturação
da dívida vai libertar a pressão sobre o
orçamento, será uma parte importante
do programa de recuperação fiscal.
A modernização da agricultura é
uma narrativa já antiga e parece um
salto adiado. O que é que tem de ser
feito para que o sector tenha o impulso
necessário?
No geral, penso que algumas das mensagens
importantes do Banco Mundial
para a agricultura são no sentido
de que temos de ser capazes de apoiar
o sector privado que opera nesta área,
ajudar os pequenos agricultores a trabalharem
juntos, ligá-los ao mercado,
ligar os pequenos agricultores às empresas
produtivas e dinâmicas; ter estas
duas componentes do sector a trabalharem
juntas, a crescerem juntas. É
por isso que aos agricultores têm sido
dados incentivos para produzirem
mais, serem mais produtivos.
Também pensamos que há investimentos
importantes que devem ser
feitos em infra-estruturas de irriga-
ção, estradas rurais, é um país muito
grande e um ambiente com custos
elevados para os agricultores. Temos
de investir nas capacidades e habilidades
dos agricultores, para serem maios
produtivos, é o tipo de actividade que
estamos a fazer, temos programas de
irrigação e acesso ao mercado.
O que é que encoraja o Banco Mundial
a canalizar ajuda financeira num
contexto em que outros parceiros internacionais
congelaram a sua ajuda
na sequência das dívidas ocultas?
De momento, o Banco Mundial não
está a dar apoio directo ao Orçamento
do Estado, mas temos o resto do nosso
portfólio, que não é apoio directo
ao Orçamento do Estado. Muito do
nosso programa actual são projectos
iniciados no passado, mas também há
novos projectos em carteira, sentimos
que o Banco Mundial é um parceiro
de longo prazo de Moçambique, muito
do nosso programa visa promover
investimento para crescimento de
longo prazo, investimento na protec-
ção social, investimento que beneficia
pobres em todo o país, é por isso que
sentimos que é importante manter
grande parcela do nosso programa.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 04-08-2017
AKroll corrigiu aspectos
do relatório da auditoria
às chamadas dívidas
ocultas de Moçambique,
em resposta a reclamações da Privinvest
do libanês Iskandar Safa,
fornecedora das empresas envolvidas
na contracção dos encargos,
e a Palomar, uma subsidiária da
primeira e responsável pela consultoria
financeira dos negócios. O
documento corrigido foi tornado
público nesta segunda-feira pela
Procuradoria Geral da República
(PGR), uma acção que está a ser
aplaudida em alguns sectores do
partido governamental que acusam
a Kroll de incompetente, por
ter produzido um relatório com
lacunas e de não ter feito o contraditório.
Entre as alterações introduzidas,
está uma menção ao facto de ter
sido a Palomar e o banco russo
VTB a ajudar a angariar 535 milhões
de dólares de dívida contra-
ída pela MAM e não a Privinvest,
sedeada em Abu Dhabi e pertencente
ao franco-libanês Iskandar
Safa, um empresário na esfera das
relações da família Guebuza.
A Privinvest é a empresa-mãe da
família Safa, que opera nas áreas
da construção naval, transportes
marítimos, imobiliária e exploração
de petróleo e gás e a Palomar uma
empresa afiliada ao grupo.
É importante lembrar que a Palomar
Capital Advisors foi criada por
Andrew Pearse, um antigo executivo
do Credit Suisse, que interveio
em algumas das operações com
Moçambique a favor das empresas
montadas pelos serviços de segurança.
Pearse geriu a unidade do Credit
Suisse responsável por empréstimos
na Europa, Médio Oriente e
África até Junho de 2013, quando
deixou essa função para criar a nova
firma a Palomar, que contou com
um capital inicial da Privinvest.
“A Palomar desempenhou o seu
papel; na intermediação do contrato
de empréstimo da MAM em
conjunto com ao VTB; na contratação
com as Empresas de Moçambique
e o Ministério das Finanças
da reestruturação dos contratos
de empréstimo da ProIndicus e
da EMATUM (e recebendo taxas
para o fazer); e, (no caso da ProIndicus),
assumindo a responsabilidade
pela geração de receitas e pela
contratação para receber uma parte
de quaisquer receitas futuras”, sublinha
o documento revisto.
Acomodação das críticas
da Privinvest e Palomar
No documento revisto é também
indicado que a Palomar recebeu dinheiro
por ter ajudado a Ematum
e a ProIndicus a restruturarem as
suas dívidas.
Tem sido habitual, desde que rebentou
o escândalo das dívidas
ocultas, advogados e empresas de
relações públicas contratados pela
Privinvest ameaçarem jornalistas e
publicações com acções judiciais,
por aquilo que consideram “imprecisões”
nas matérias noticiosas. Em
Moçambique os visados têm sido
articulistas escrevendo habitualmente
em inglês e susceptíveis de
influenciar a opinião pública internacional.
Segundo o relatório executivo da
Kroll, em Dezembro de 2014, o
contrato de empréstimo da ProIndicus
foi reestruturado para aumentar
o valor autorizado do empréstimo
de 622 milhões USD para
900 milhões USD (um aumento de
278 milhões USD).
A reestruturação do empréstimo
introduziu um novo plano de
amortização, mas a lógica para o
aumento do valor do empréstimo
não está confirmada (num pedido
de garantia do Governo para o aumento
era referido que os fundos
adicionais permitiriam a amortiza-
ção da dívida do contrato original
de empréstimo).
O montante do empréstimo adicional,
de 278 milhões USD, não
foi levantado e o Credit Suisse confirmou
à Kroll que o empréstimo já
expirou. A reestruturação envolveu
um acordo para o pagamento à Palomar
de “taxas correntes” num total
mínimo de 30,6 milhões USD,
ao longo do prazo do empréstimo.
Recorde-se, que horas após a publicação
da primeira versão do sumário
executivo do relatório Kroll,
a Palomar reagiu, afirmando que o
relatório estava incompleto e continha
uma série de afirmações enganadoras
e erros materiais.
“Apesar da oferta da Palomar para
reunir com a Kroll, em nenhuma
altura até à divulgação do relatório
a Kroll pediu qualquer informação
ou procurou colaboração da Paloacções
de formação, aparentemente,
são feitas na baía de Pemba e no
lago Niassa.
Para além de Moçambique, a Spectre
diz ter outras duas bases, na ilha
de Tjorn, na costa oeste da Suécia e
em Java, na Indonésia.
Kroll pediu informação via
ProIndicus
A terceira modificação no relató-
rio de auditoria retira uma frase
inicialmente posta de que a Privinvest
terá ficado em silêncio quando
questionada pela Kroll sobre uma
alegada transferência dos direitos
da Palomar para as receitas da
ProIndicus, quando a Palomar foi
dissolvida.
A Palomar, que se queixou de nunca
ter sido contactada pela Kroll na
preparação do relatório, a auditoria
explicita agora que “a Kroll também
pediu que a ProIndicus solicitasse
documentação relevante da Palomar,
com base na relação contratual
entre as partes”. Depreende-se assim
que a ProIndicus não contactou
a consultora, como foi pedido
pela Kroll, e por isso a Palomar não
forneceu informações adicionais.
No novo documento, a Kroll justifica
que “enviou insistentes pedidos
para a obtenção de documenta-
ção sobre o papel da Palomar nos
projectos da ProIndicus, MAM
e EMATUM e no Ministério da
Economia e Finanças”.
Quando entregou o relatório, em
Junho, a consultora Kroll queixou-
-se de falta de informação para
averiguar o destino de dois mil milhões
de dólares em dívidas ocultas
contraídas por três empresas públicas
de Moçambique, havendo discrepâncias
de centenas de milhões
de dólares em aberto.
“O principal desafio que teve de
ser enfrentado no que se refere à
conclusão da auditoria independente
foi a falta de documentação
disponibilizada pelas empresas de
Moçambique”, queixou-se então a
consultora internacional.
A PGR citou o sumário da Kroll
para anunciar que, mesmo após o
trabalho de auditoria, “lacunas permanecem
no entendimento sobre
como exactamente os USD2.000
milhões foram gastos” depois de
emprestados pelo Credit Suisse
à Ematum (USD850 milhões) e
ProIndicus (USD622 milhões) e
pelo banco VTB à MAM (USD535
milhões), de 2013 a 2014.
Por outro lado, “a auditoria constatou
que o processo para a emissão
de garantias pelo Estado parece ser
inadequado, sobretudo no que respeita
aos estudos de avaliação que
devem ser conduzidos, antes da sua
emissão”, acrescenta-se.
Após reclamações das empresas
.UROOUHFWLÀFDUHODWyULRGDDXGLWRULD
às dívidas ocultas
mar para receber as transacções em
causa”, sublinharam.
Empresa sueca no barulho
Na correcção, é igualmente retirada
a referência a uma empresa sub-
-contratada pela Privinvest, a Spectre
Marine, da Suécia que teria sido
directamente paga pela ProIndicus.
Um porta-voz da Spectre Marine
declarou à agência Zitamar, a 3 de
Julho, que a companhia nunca recebeu
nenhuma verba da ProIndicus,
tendo apenas feito negócio com a
Privinvest, a quem era enviada a
facturação.
A Spectre Marine tem no seu website
uma secção dedicada a Mo-
çambique, com uma foto da ponte
de cais de Pemba e as lanchas rá-
pidas fornecidas pela Privinvest. Na
sua apresentação, a Spectre diz que
providencia treino e manutenção
de equipamentos marítimos. As
Ponte-cais de Pemba da Spectre Marine. No seu website tem uma secção dedicada a Moçambique, com fotos de lanchas
rápidas fornecidas pela Privinvest.
Não obstante ser explícito quem foram as
instituições responsáveis pelas “lacunas
do relatório”, constatação que é corroborada
pela própria PGR, depois da reunião
do Comité Central (CC) da Frelimo, na última
semana, há militantes influentes deste partido que
têm vindo a público sugerir que a responsabilidade
das lacunas é da Kroll. A questão das “lacunas”
é importante pois, nos seus mais recentes pronunciamentos,
FMI, Banco Mundial e por via de um
rascunho (draft) de um documento de concertação
dos doadores divulgado pelo SAVANA, é afirmado
que é ao Governo a quem compete esclarecer as
áreas nebulosas do relatório, nomeadamente a sobrefacturação
de equipamentos e serviços avaliada
em USD1.200 milhões e a alegada utilização de
USD500 milhões para fins militares.
Lembre-se que a operação da EMATUM, MAM e
ProIndicus começa a desintegrar-se em 2016, para
Moçambique e para os investidores. As três empresas
participadas planeavam pagar as dívidas através
de contratos de serviços de segurança para as multinacionais
envolvidas nas operações do gás natural e
através da actividade da pesca de atum.
As multinacionais petrolíferas congelaram a maioria
das suas operações, devido ao baixo preço de gás e
a frota de navios de atum continua a ser um fiasco
e os barcos da Ematum continuam atracados no
Porto de Maputo. Segundo o sumário executivo do
relatório Kroll, as embarcações de pescas não podem
operar porque não foram renovadas as licenças e o
pacote de satélites contratado para os primeiros três
anos do projecto expirou.
“Não existe qualquer comprovativo de que tenham
sido iniciadas negociações para a contratação de um
novo pacote. Como resultado, os sistemas de radares
incorporados em cada unidade não podem comunicar
com os centros de comando centrais e, assim, os
bens não podem ser operacionalizados”, sublinha o
documento. Ao que o SAVANA apurou, há iniciativas
em curso para que os barcos da Ematum sejam
vendidos a privados.
Aproveitamentos políticos
TEMA DA SEMANA Savana 04-08-2017 5
PUBLICIDADE
6 Savana 04-08-2017 SOCIEDADE
AAnadarko anunciou esta
semana que vai intensificar
a criação de condições
para a tomada da Decisão
Final de Investimento (DFI)
numa aparente resposta à impaci-
ência do Presidente moçambicano,
Filipe Nyusi, em relação aos trabalhos
na bacia do Rovuma liderados
pela firma norte-americana.
Em notícia claramente “reaquecida”,
o responsável pela Área do
Gás Natural Liquefeito (GNL) da
Anadarko, Mitch Ingram, considerou
como um marco histórico no
rumo para a DFI o acordo de concessão
marítima que a companhia
assinou com o Governo moçambicano.
As duas concessões para a
bacia do Rovuma foram aprovadas
em Conselho de Ministros a 20 de
Junho deste ano.
Nesse sentido, prosseguiu Mitch
Ingram, a Anadarko vai agora
empenhar-se no plano de reassentamento
das famílias que serão
atingidas pelo desenvolvimento do
projecto de gás da empresa na província
de Cabo Delgado, norte de
Moçambique.
Na carta enviada a 26 de Julho ao
secretário do Comércio dos EUA,
Wilburg Ross, em que revela impaciência
com o arrastamento do
projecto da Anadarko, o Presidente
moçambicano refere que a assinatura
dos acordos de concessão marítima
é prova de que o Governo já
fez tudo o que estava ao seu alcance
em relação ao projecto.
Para Filipe Nyusi, seria desejável
que a Anadarko fosse mais dinâ-
mica na assumpção das suas responsabilidades.
“Relativamente à Anadarko, efectivamente,
o Governo de Moçambique
aprovou o Decreto sobre os
Termos e Condições do contrato
de Concessão do Terminal Marí-
timo de Gás Natural Liquefeito.
Neste contexto, e como afirmamos
na nossa reunião em Washington,
da nossa parte, todos os compromissos
assumidos foram cumpridos,
sendo desejável que a Anadarko
imprima maior dinâmica no
cumprimento das suas responsabilidades”,
sublinha Nyusi na carta
– resposta enviada ao secretário do
comércio dos Estados Unidos da
América.
Mitch Ingram disse que a Anadarko
ainda aguarda que o Governo
moçambicano assine contratos relacionados
com as concessões marítimas
e conceda todas as licenças
necessárias para o processo de reassentamento.
“Esperámos que logo que o quadro
legal e contratual seja acordado e o
reassentamento inicie formalmente,
estaremos em boa posição para
avançar com acordos de compra e
venda, que são uma componente
essencial para a nossa Decisão Final
de Investimento”, afirmou Mitch
Ingram.
Num comunicado que emitiu esta
semana, Mitch Ingram afirmou
que a Anadarko está a registar progressos
em relação aos acordos de
compra e venda de gás e vai intensificar
o trabalho necessário para a
criação de condições de financiamento
do projecto.
“Esperamos tomar a DFI logo que
os contratos de compra e venda e
o financiamento estejam assegurados”,
prosseguiu Mitch Ingram.
Porém, o SAVANA sabe que este
processo avança lentamente e tal
como referido anteriormente, a
DFI é esperada para os próximos
12 meses, ou seja, no segundo semestre
de 2018.
A Anadarko, com 26,5%, lidera o
consórcio que vai explorar a concessão
da Área 1. O consórcio integra
ainda a Mitsui, com 20% e a
ONGC Videsh, da Índia, detém
16%. O Estado moçambicano controla
15%, através da ENH, a Bharat
PetroResources, detém 10%, a
PTT, 8,5% e a Oil India, 4%.
Na Área 4, a companhia italiana
ENI anunciou a 01 de Junho do
ano em curso a sua DFI no valor
de oito mil milhões de dólares para
a produção de 3,4 milhões de toneladas
de gás natural por ano no
seu projecto de GNL de Coral Sul
em plataforma flutuante. A ENI
prevê iniciar a produção de LNG
em 2022.
Numa aparente resposta à impaciência de Nyusi
Anadarko promete pisar no acelerador
nhã da passada sexta-feira.
Em conexão com este caso, sete
agentes da PRM a nível do distrito
de Manjacaze, incluindo a comandante
distrital, Isaura Munguambe,
estão detidos nas celas desde a passada
sexta-feira.
Macuácua disse que o comprador já
foi identificado, contudo se recusou a
revelar o nome, a nacionalidade e os
valores envolvidos na venda das duas
pontas, alegando que as investigações
continuam em curso para a neutralizar
outros envolvidos.
Questionado sobre o papel de cada
agente no furto das pontas, Macuá-
cua referiu que foram detidos aqueles
que tinham a missão de proteger as
pontas e negligenciaram. Porém, uma
fonte próxima da operação afiançou
ao jornal que as pontas foram retiradas
do comando distrital e transportadas
numa viatura pertencente ao
Presidente da Assembleia Provincial
de Gaza, João Matusse. Fracassaram
esforços para ouvir Matusse. Ao que
apurámos, Matusse está na África do
Sul.
Esta não é a primeira vez em que
agentes da PRM são acusados de
envolvimento em esquemas de roubo
de pontas de marfim ou de cornos de
rinocerontes naquela província. Um
dos casos mais reportados data de
2015, quando dois agentes depois de
surpreenderem um furtivo na posse
de cornos de rinoceronte aliaram-se a
ele, venderam o produto e depois repartiram
o dinheiro. Mas insatisfeito
com a quantia recebida um dos agentes
denunciou o caso.
pontas de marfim e por motivos de
segurança, optou por armazenar os
troféus no comando distrital da PRM
em Manjacaze.
Segundo o chefe do departamento
das Relações Públicas da PRM em
Gaza, Carlos Macuácua, num primeiro
momento os polícias a nível
do comando distrital da PRM recusaram
receber as pontas, mas depois
mudaram do plano e receberam a encomenda.
Sucede, acrescentou Macuácua,
que durante a noite um dos
agentes da PRM em parceira com um
amigo, trataram de retirar as pontas
que foram entregues a um comprador.
Explica Macuácua que foi neste contexto
que foi feita a denúncia e, imediatamente,
seguiram as diligências
com vista à neutralização do grupo,
facto que se veio a consumar na maAcomandante
distrital da
Polícia da República de
Moçambique (PRM) em
Manjacaze, província de
Gaza, Isaura Munguambe, e mais
seis agentes, estão detidos desde
a passada sexta-feira, acusados de
tráfico de duas pontas de marfim.
O caso, que culminou com a deten-
ção dos agentes policiais, deu-se no
passado dia 27 de Julho, do corrente
ano, quando uma brigada da força
conjunta composta por uma equipa
dos Serviços Provinciais da Agricultura
e da PRM escalou o Posto
Administrativo de Macuácua para
registar a ocorrência do abate de um
elefante por caçadores furtivos.
No terreno, a equipa retirou as duas
Comandante distrital da PRM em Manjacaze detida
7UiÀFRGHPDUÀP
Presidente da República, Filipe Nyusi e Wilbur Ross, secretário do Comércio dos
Estados Unidos da América, aquando da 11ª Cimeira Bienal de Negócios EUA-
África, em Washington, organizada pelo Conselho Corporativo para África-CCA.
SOCIEDADE Savana 04-08-2017 7
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8 Savana 04-08-2017 SOCIEDADE SOCIEDADE
Émais um braço de ferro entre
nativos e uma multinacional a
operar em Moçambique. No
caso é a sul-africana Tongaat
Hulett, ou simplesmente, Açucareira
de Xinavane, acusada pelas comunidades
de Chichachanduco [localidade
de Chicuco], 17 km a sul da vila sede
do distrito de Magude, de ter usurpado
terras para o fomento da cana-
-de-açúcar, atirando à miséria aqueles
que tinham na agricultura a sua base
de sobrevivência.
O diferendo arrasta-se desde 2008
quando a Tongaat Hulett anexou cerca
de 950 hectares de terra que era
explorada pelas comunidades locais,
no quadro do plano da empresa para
o aumento da sua capacidade de produção
de açúcar para mais de 208 mil
toneladas em uma estação de esmagamento
de 32 semanas.
A Tongaat Hulett é uma empresa sul-
-africana que, para além dos 88% que
detém na Açucareira de Xinavane, é
também o accionista maioritário da
Açucareira de Mafambisse, em Dondo,
Sofala, com uma participação de
85%. As restantes participações em
ambas empresas são detidas pelo Governo
de Moçambique.
Em 2002, a Tongaat Hulett Açúcar, a
subsidiária moçambicana da sul-africana
Tongaat Hulett, adquiriu o canavial
de Xinavane, situado nas margens
do rio Incomati, 152 km a noroeste de
Maputo.
E é, justamente, nessas terras férteis do
Incomati que, no âmbito do aumento
da sua capacidade de produção, a empresa
tomou áreas onde as comunidades
produziam diversas culturas, desde
milho, batata até feijões.
São cerca de 400 pessoas que, sem
mais acesso às terras férteis ao largo do
Incomati, hoje desenrascam na zona
alta, de terra pantanosa e inadequada
para a agricultura.
O que antes era zona de pasto, num
distrito onde há mais bois, cerca de 80
mil cabeças, que pessoas, cerca de 65
mil habitantes, é hoje a única alternativa
onde as comunidades devem garantir
a vida.
Mas nem as cabeças escapam à “maldi-
ção” do açúcar. Os criadores queixam-
-se de muitas perdas de bovinos, sempre
que despistam e consomem o verde
pulverizado com produtos químicos
bem como águas envenenadas.
Como consequência do que chamam
de usurpação de suas machambas, as
comunidades relatam bolsas de fome
que os obrigam a consumir produtos
silvestres como forma de enganar o
estômago.
São depoimentos feitos, esta semana,
ao SAVANA, que esteve em Chichachanduco,
mais precisamente em
Maholela, como é chamada a pacata
povoação, tradicionalmente, habitada
pelos “Moholelas”, nas proximidades
de uma antiga estacão ferroviária da
era colonial, hoje aos escombros.
Revoltadas, as comunidades dizem-se
vítimas de aldrabice por parte da Açucareira
de Xinavane.
Em primeira mão, contam que tudo
começa em 2008, quando o então
administrador de Magude, Zeferino
Cavele, que dirigiu os destinos do distrito
entre 2005 e 2010, acompanhado
por representantes da Tongaat Hulett,
convocou as comunidades para anunciar
o plano de expansão da área de
cultivo da cana-de-açúcar por parte da
firma sul-africana.
Na altura, foram apresentadas diversas
promessas para a melhoria das suas
condições de vida, desde emprego,
educação, saúde, água, entre outros
benefícios.
Mas nove anos depois, esse “futuro
risonho” não chegou em Chichachanduco
e as comunidades vêem-se enganadas
não só pela multinacional sul-
-africana, mas também pelo próprio
Governo distrital, acusado de proteccionismo
a favor da empresa, tal como
o partido Frelimo ao nível do distrito.
Ao que os entrevistados disseram à
nossa reportagem, perante o diferendo,
a Açucareira de Xinavane cooptou um
grupo minoritário, cerca de 63 pessoas
que, em nome de toda a comunidade,
cerca de 400, terá recebido 10 milhões
de Meticais em compensações.
Conhecido como o “grupo dos espertos”,
a Associação dos “cooptados” integra
Jossefa João Timba, o secretário
do círculo, como são designados os
representantes da Frelimo ao nível da
base.
Trata-se de um grupo que se constituiu
numa Associação que serve de interlocutor
válido da empresa e lhe foi
indicada ainda uma área de 57 hectares
onde desenvolvem suas actividades
agrícolas.
O acordo, que os queixosos consideram
de “fictício”, data de 10 de Julho
de 2012 e tem visto da então administradora
de Magude, Cristina de Jesus,
que dirigiu o distrito mais a norte da
província de Maputo, de 2010 a 2015.
Documentos a que o SAVANA teve
acesso comprovam que o caso é do
conhecimento de vários órgãos do
Estado, desde o Governo distrital de
Magude, o Governo provincial de Maputo
e, particularmente, na pessoa do
próprio Governador, o Ministério da
Terra, Ambiente e Desenvolvimento
Rural e, particularmente, na pessoa
do ministro e da Inspecção Geral, até
à Procuradora-chefe de Maputo e a
Procuradora-geral da República, mas
as comunidades continuam sem resposta.
Nem o Comité Central da Frelimo,
muito menos o secretário-geral
do partido, satisfizeram a queixa das
comunidades que agora estão de costas
voltadas contra tudo e todos. As comunidades
falam de ordens superiores
e suspeitam o envolvimento de altos
interesses como um dos bloqueios às
suas reivindicações.
E agora equaciona-se o bloqueio das
vias de acesso usadas pela Açucareira,
numa reivindicação pacífica, embora
a experiência passada seja amarga. Foi
em 2010 que as comunidades tentaram
paralisar a área em contenda no
canavial, mas a resposta foi um contingente
de forças de armas, incluindo a
unidade anti-motin (Unidade de Intervenção
Rápida), despachados para
dispersar os manifestantes.
Revoltados
Laurinda Maholela não conhece a sua
idade, mas um velho cartão de eleitor
diz que ela nasceu em 1950. Guarda
frustrações de promessas não cumpridas.
“Chamaram-nos em 2008 e o
administrador Zeferino Cavele disse
que as nossas machambas eram para
serem usadas para o plantio de cana.
Às nossas reclamações, Cavele disse
que nada podia fazer porque também
estava a cumprir ordens de Maputo”,
lembra Laurinda Maholela.
Segundo ela, na ocasião, a empresa
prometeu compensar as comunidades,
ao mesmo tempo que garantia que
os jovens de Chichachanduco jamais
iriam à África do Sul, enfrentado cães
e homens armados e todos os riscos
à busca de emprego no país vizinho
porque seriam empregados pela Açucareira.
Mas diz que todos ficaram surpreendidos
quando, no dia seguinte, viram
máquinas pesadas a destruírem suas
machambas com culturas diversas.
Nove anos depois, diz que nada disso
aconteceu. Refere que só quem teve
sorte é que recebeu 200 Meticais a 5
mil como compensação. “Eu só trabalhei
na empresa durante três meses e
depois disseram que não querem velhos”,
conta, acrescentando que, mesmo
os jovens foram mais tarde afastados
da empresa e só são contratados
sazonalmente.
“Já não produzimos nada. É só sofrimento
aqui. Quem está a viver bem
são os espertos que foram a Magude
e tiveram benefícios em nosso
Comunidades aborrecidas com Açucareira de Xinavane
Barulho no canavial
Por Armando Nhantumbo (texto) e Júlia Manhiça (fotos)
Laurinda Maholela
SOCIEDADE Savana 04-08-2017
9
nome”, depõe Laurinda Maholela.
Ferreira Salvador, 67 anos, também
nativo de Maholela, é um outro repositório
de angústias. “A nossa reclamação
aqui é em relação a Tongaat.
Quando chegaram nos aldrabaram, dizendo
que íamos viver bem, mas nunca
vimos essa vida melhor. Levaram-nos
machambas e plantaram cana e nós
não temos fonte de sobrevivência. Estamos
a sofrer”, testemunha Salvador,
que exige inclusão na cadeia de produ-
ção da Açucareira de Xinavane.
Júlio João também não conhece a sua
idade, mas seu documento de identi-
ficação esclarece: nasceu em 1940. Se
a memória não gravou o ano do seu
nascimento, não pôde tampouco se
esquecer do ano de 2008, que mudou
a sua vida.
“Chegaram com o administrador e
disseram que querem acabar com a
nossa pobreza, mas o que nos espantou
é que no dia seguinte estavam a
destruir as nossas machambas, com
presença policial para proibir qualquer
reacção popular. Prometeram a criação
de uma associação comunitária, mas a
associação que há é só essa fictícia de
63 membros. Só ouvimos que há papéis
que assinaram e estamos a receber,
mas na verdade não estamos receber a
nada. A população está a sofrer”, narrou
João.
Por sua vez, António Chirindza, 52
1940 que nasceu. “Quando a empresa
chegou prometeu trabalho, mas depois
varreram nossas machambas, através
de máquinas. Não vimos nenhum benefício,
mas sim sofrimento. Não temos
nada e estamos a morrer a fome”,
diz, lembrando que nessa operação
perdeu batata-doce, papaieiras, entre
outras culturas.
“Não conheço minha idade, só sei
viver” diz Catarina Cossa que, logo a
seguir, acrescenta: “estamos a morrer a
fome. A terra fértil levaram e relegaram-nos
para esta zona improdutiva”.
Para Francisco Munhlovo, “se há pessoas
que falsificaram documentos e
estão aqui, então porquê o Governo
não nos reúne para se encontrar uma
solução definitiva?” Ironicamente, diz
que muitas pessoas que saíram da comunidade
para ir reivindicar junto da
empresa “voltaram coxeando por causa
de corrupção”, em referência ao aliciamento
feito pela Açucareira.
Um outro nativo vai ironizar: “nem
açúcar temos”, na terra onde se produz
aquele derivado de cana.
“Bem ou mal, mas foram
indemnizados”
O SAVANA foi até à sede da Tongaat
Hulett, em Xinavane, mas a direcção
da empresa recusou-se a receber o nosso
Jornal. Depois de cerca de 10 minutos
de concertação interna, a direcção
recomendou-nos a contactarmos as
autoridades locais, na pessoa da chefe
do Posto Administrativo de Magude-
-sede.
Respondemos à empresa que acabávamos
de entrevistar a chefe do Posto e,
sem nenhuma outra manobra sofisticada,
lá veio o pretexto mais barato: que
a empresa não pode falar à imprensa
porque está à espera da comunicação
oficial das reclamações das comunidades,
por parte da chefe do Posto Administrativo
de Magude-sede.
Mas, curiosamente, a chefe do Posto
tinha reconhecido o caso a este semanário.
Luísa Maria Carlos informou que,
logo quando chegou ao cargo, em
2011, encontrou uma população revoltada
contra a empresa.
Luísa Maria Carlos reconhece que não
houve consultas comunitárias, muito
menos algum documento formalizando
o entendimento da empresa e
as comunidades, mas diz que houve
compensações.
“Bem ou mal, mas a empresa fez a indemnização”,
disse. Referiu ainda que
a Tongaat Hulett satisfez o pedido da
população para a criação de uma Associação,
mas só conseguiu associar parte
da população, por falta de espaço para
abranger a todos.
Afirma que os outros que não foram
abrangidos terão de aguardar porque a
multinacional sul-africana ainda está à
procura de novos espaços para atribuí-
-los.
Mas a chefe do Posto Administrativo
de Magude-sede tem um porém. Diz
que há um grupo que se está a aproveitar
do desespero das comunidades,
protagonizando extorsões, alegadamente,
para custear o processo de busca
de solução.
“Quando entendem, eles fecham estradas
e queimam machambas”, contra-atacou
Luísa Carlos, acusando o
que chamou de “grupo de senhor Gulamo”
de instrumentalizar a população
e instigar a violência.
O administrador de Magude, Lázaro
Mbambamba, disse desconhecer o
assunto. Aliás, foi Lázaro Mbambamba
que nos remeteu à chefe do Posto
Administrativo de Magude-sede. Mas
Mbambamba anotou que é estranho
que as comunidades tenham recorrido
à imprensa e não ao Governo distrital.
Mas documentos em nosso poder indicam
que o caso foi remetido ao Governo
distrital de Magude, muito antes
da chegada de Mbambamba, em 2016.
anos, acusa o Governo distrital e a
Frelimo ao nível de Magude de serem
coniventes com a Açucareira.
“Há muitos desmandos aqui. Estamos
a votar na Frelimo, mas não somos ouvidos.
As pessoas que nos traem vivem
connosco. Aqui quem está a reinar é o
secretário do círculo. Ele é que está a
gerir tudo sem mesmo a presença de
régulo. O primeiro secretário distrital
[da Frelimo] é o chefe dos usurpadores
das nossas terras. Há muita impunidade
e a empresa até diz que nada vai
acontecer”, atesta Chirindza.
“Prometeram um desenvolvimento
fora de sério, aqui, porque não era bom
que nossos filhos violassem a fronteira
para África do Sul à procura de emprego.
Mas não há desenvolvimento
nenhum, pelo contrário, trouxeram
desgraça. Nos seus relatórios dizem
que construíram fonte de água, mas é
um poço com água salubre, portanto,
estamos a beber água imprópria para
o consumo humano. Dizem que construíram
escola, mas só foi conclusão de
salas de professores numa escola que
já existia” desabafa, lembrando que,
quem conclui a 7ª classe, deve percorrer
17 km para a vila de Magude para
prosseguir com os estudos no ensino
secundário.
Por sua vez, Carlos André, 57 anos,
afirma que não há ganhos e lembra a
reivindicação de 2010 que foi reprimida
por força policial e militar.
“Trouxeram armas e tivemos de fugir e
entrar no rio. Muitos foram chamboqueados
e outros levados à cadeia”, diz.
“Não ganhamos nada com a chegada
desta empresa. Só nos veio castigar”,
alinha Sebastião Chemo, 63 anos.
Carolina Maholela também não sabe
dizer quantos anos tem, mas o seu
Bilhete de Identidade diz que foi em
Luísa Maria Carlos
10 Savana 04-08-2017 SOCIEDADE
Àsemelhança de todos os
encontros da cúpula da
Frelimo, dirigidos por Filipe
Nyusi, a VI Sessão
Ordinária do Comité Central (CC)
do partido no poder não atacou de
frente os pontos mais fracturantes da
organização. Filipe Nyusi saiu bem,
mas sem futuro claramente definido,
nomeadamente, se será ou não candidato
natural da Frelimo para as presidenciais
de 2019.
Moções de saudação e cânticos enfadonhos
voltaram a estar na ordem do
dia durante a sessão que, desta vez, teve
lugar no Centro de Conferências Filipe
Jacinto Nyusi, na Avenida Lurdes
Mutola, no bairro do Zimpeto, nos arredores
da capital moçambicana.
Com as confrontações decisivas, outra
vez adiadas para o conclave da Matola,
a ter lugar de 26 de Setembro a 1 de
Outubro próximos, a VI Sessão Ordinária
do CC, inicialmente, agendada
para três dias, de 5ª feira até sábado,
foi reduzida a dois dias e, às 17:30h
de sexta-feira, o presidente do partido,
Filipe Nyusi, tomava a palavra para
o discurso de encerramento. Se nas
sessões mais polémicas os camaradas
batem-se até altas horas da noite, desta
vez tiveram tempo de sobra.
Esta reunião preparatória do conclave
foi pacífica para Filipe Nyusi, mas
segundo membros do órgão ouvidos
pelo jornal, não está completamente
garantido o seu futuro para 2019 (ano
eleitoral). Resta-lhe o Congresso para
se impor como candidato natural da
Frelimo às eleições presidenciais. Eis o
ponto mais fracturante do Congresso
do próximo mês, numa altura de con-
flitos latentes entre a ala do actual presidente
e do seu antecessor, Armando
Guebuza.
Para além da sucessão de Filipe Nyusi,
assunto sensível é também a reestruturação
dos órgãos mais importantes do
partido, nomeadamente, a Comissão
Política (CP) e o Comité Central. Na
Escola Central do partido, na Matola,
Nyusi quererá montar uma Frelimo ao
seu gosto, colocando os seus fiéis em
posições estratégicas, o que pode ser o
fim da linha para os seguidores de Armando
Guebuza, que continuam a ter
espaço no partido e no Estado.
É também líquido que os dossiers da
paz e o relacionamento com a comunidade
internacional doadora só conhecerão
maior vigor depois do Congresso,
se Nyusi sair de “mãos mais livres”
para impor o seu próprio ritmo nestes
dois assuntos fulcrais para o país.
Foi assim a antecâmara do Congresso
que serviu, fundamentalmente, para a
aprovação dos documentos orientadores
para a mega reunião de daqui a
cerca de mês e meio.
“O Comité Central está pronto a reportar
ao Congresso”, precisou Filipe
Nyusi, na hora de encerramento da
reunião.
No ponto sobre os estatutos, os camaradas
discutiram, no Zimpeto, a
proposta para a atribuição de estatuto
especial aos fundadores da Frelimo,
bem como o ajustamento das estatísticas
sobre os membros do partido, que
falam de mais de 4 milhões, o que não
se reflecte nas eleições, o que sugere a
existência de membros fantasmas.
Enquanto isso, na 5ª feira, dia de abertura,
antes do discurso do presidente
da Frelimo, as organizações sociais do
partido desfilaram pelo pódio apresentando
mensagens de exaltação da figura
de Filipe Nyusi.
A Associação dos Antigos Combatentes
da Luta de Libertação Nacional
(ACLLN), liderada pelo espalhafatoso
Faustino Francisco, desta feita, pautou
por um discurso mais reconciliatório
em relação à questão da paz e apelou
ao diálogo para a resolução do diferendo
entre o governo e a Renamo.
Faustino concentrou o seu discurso
dentro da própria Frelimo, enaltecendo
a necessidade do partido no poder
desde a independência nacional, resgatar
os princípios que nortearam a sua
criação e definir-se como uma organização
puritana.
Para o secretário-geral da ACLLN, o
partido deve se concentrar no fortalecimento
da coesão interna, preservando
valores éticos e os princípios que
marcaram a Frelimo desde o início.
A OMM concentrou a sua mensagem
no apelo ao diálogo para a busca de
uma paz definitiva. No seu discurso,
a secretária-geral daquela organização
feminina da Frelimo, Teresinha Niquice,
contornou o ex-presidente da
República, Armando Guebuza, e destacou
o papel de Joaquim Chissano e
Filipe Nyusi na busca da paz.
“Encorajamos o presidente Nyusi a
manter o espírito de diálogo para a
busca de uma paz definitiva para o
país. Por causa do seu engajamento na
busca da paz, as mulheres da Frelimo
vão oferecer dois quadros, um para o
presidente Chissano e o outro para o
presidente Nyusi. É a forma que encontrámos
para manifestar a nossa
satisfação pelo esforço que fizeram e
fazem para a paz. Ao presidente Guebuza,
também vai um quadro em agradecimento
ao seu espírito construtor”,
frisou Niquice.
Como é característico, a organização
mais seguidista da Frelimo, a OJM,
destacou-se pela elevação de elogios
ao presídio da reunião. Sob liderança
de Mety Gondola, a OJM entoou cânticos
como: “Nyusi é quem comanda…
Nyusi é o líder”.
Sem mencionar o nome de Armando
Guebuza, que estava mesmo ao lado
do pódio onde discursava, Gondola
saudou Filipe Nyusi e disse que em
nome dos jovens da Frelimo manifestava
o orgulho da juventude pela
governação sábia e brilhante do presidente
Nyusi.
Sem indicar os problemas que a juventude
está a passar no país, mormente, o
desemprego, a falta de habitação, fraca
qualidade de educação e dos efeitos
colaterais das dívidas ocultas, o “cinzento”
Gondola destacou as realiza-
ções do Governo e referiu que o actual
estadista tem conseguido contornar as
adversidades que o país atravessa.
“A liderança clarividente de Nyusi está
a melhorar a vida dos moçambicanos.
Hoje é notável a baixa de produtos bá-
sicos no mercado, o metical está a estabilizar-se.
Isso é prova duma direcção
sábia do presidente Nyusi”, elogiou.
Na abertura, Filipe Nyusi apelou aos
colegas para não arrastar o encontro
para questões fora de agenda e mandou
recados aos críticos da sua governação.
“Temos consciência de que o país está
a enfrentar problemas de vária ordem.
O nosso povo debate-se com problemas
de custo de vida, falta de investimentos,
alta de preços de produtos bá-
sicos, transporte público inadequado,
mas pedimos aos camaradas para não
nos desviar da agenda do programa da
reunião, devemos concentrar nossas
atenções na agenda do nosso encontro”,
disse.
Aos críticos da sua governação, Nyusi
atirou: “quem entra numa coutada para
caçar legalmente, apenas se preocupa
com o animal que está autorizado a
abater, não atira pedras aos pássaros.
Por isso nós estamos concentrados no
nosso rumo”.
Dívidas ocultas
Num tom que surpreendeu muitos
participantes na reunião, na hora de
encerramento, o timoneiro do partido
no poder falou das “dívidas ocultas” e
do dossier Kroll. Disse que o relatório
divulgado pela Procuradoria-geral da
República (PGR) aponta haver irregularidades
capazes de indiciar crime,
pelo que é tempo de se deixar a justiça
trabalhar no espírito de separação de
poderes.
Numa altura em que o país vive a
maior crise financeira de sempre, muito
por conta das chamadas “dívidas
ocultas”, Filipe Nyusi disse que a agenda
do país não se resume ao assunto da
dívida externa.
A crítica às instituições externas foi
feita por Tomaz Salomão, o elemento
do Comité Central que em público esteve
em mais evidência que o próprio
porta-voz da reunião. Tomaz Salomão,
que é PCA local em duas multinacionais
de raiz sul-africana, lançou
recados à comunidade internacional,
sobretudo, ao Fundo Monetário Internacional
(FMI).
Sem esconder a sua frustração com a
punição dos parceiros de cooperação,
que em 2016 suspenderam em bloco
seus apoios financeiros ao Orçamento
do Estado moçambicano, Tomaz Salomão
precisou que o país não pode
ficar preso aos apetites dos parceiros
de cooperação. Disse que o país está
nas mãos dos moçambicanos, que tudo
devem fazer para que o país não pare,
engajando-se, sobretudo, no aumento
da produção e da produtividade. Bombástico,
Salomão disse que se os doadores
quiseram continuar com o país,
que continuem, mas caso não queiram,
Moçambique não pode parar. Chegou
mesmo a dizer que “já vimos até onde
vai o FMI”, pelo que, Moçambique vai
ter de encontrar formas de caminhar
com seus próprios pés, incluindo o incremento
da cobrança de receitas. “Vai
doer, vai custar, mas este é o caminho.
Devemos usar a crise para fazer coisas
correctas. O país está aqui há 50 anos
e tem de estar nos próximos 50 anos.
Um país não é uma coisa que desaparece
de um dia para o outro”, desabafou
o economista. Na linha que parece
ter emergido depois desta reunião do
CC, a Kroll, e não as instituições mo-
çambicanas é responsabilizada pelas
lacunas patentes no relatório de auditoria
às empresas Ematum ProIndicus
e MAM.
T
al como já é hábito, a reunião
do CC da Frelimo
que decorreu na cidade
de Maputo, mais uma vez
mexeu com o funcionamento de
Estado moçambicano.
Foram centenas de meios públicos
mobilizados dentre autocarros das
empresas municipais de transporte
públicos, ambulâncias, viaturas de
polícia e agentes de todas especialidades,
serviços nacionais de
bombeiros, para além de serviços
especiais da empresa Eletricidade
de Moçambique.
Os recursos humanos também foram
movimentados em massa.
Por exemplo, para as moções de
saudações aos membros do CC
foram mobilizadas, em diferentes
bairros da periferia de Maputo,
crianças, em nome da Organização
dos Continuadores Moçambicanos
(OCM) e milhares de jovens
em representação a Organiza-
ção da Juventude Moçambicana
(OJM).
Pelos bairros foram também mobilizadas
senhoras da Organização
da Mulher Moçambicana (OMM)
e transportados em autocarros das
empresas municipais dos transportes
públicos.
Depois de terminarem a maratona
das saudações, na sessão de abertura,
na 5ª feira, foram distribuído
a cada um dos integrantes desses
grupos, refrescos e sandes.
Os membros do Governo, ao ní-
vel central, os governadores provinciais,
reitores das universidades
públicas, executivos das empresas,
institutos e fundos públicos entre
outras figuras ligadas à administração
pública, marcaram presença
em peso na reunião.
Cada uma destas figuras levava
consigo viatura institucional, motoristas
e ajudantes de campo.
Também foi notável a presença de
alguns analistas pró-governamentais,
entre novos recrutas e a velha
guarda vinda do agora moribundo
G40.
O Estado vermelho
Ecos da reunião preparatória do Congresso da Frelimo
Por Armando Nhantumbo e Raul Senda
Fuzis reservados para Setembro
Dos três programados, os camaradas só precisaram de dois dias para fechar a agenda da VI Sessão Ordinária do CC
Filipe Nyusi ainda não é candidato natural da Frelimo às presidências de 2019
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12 Savana 04-08-2017 INTERNACIONAL
Uma prova de como o Congresso
do Brasil vive numa
realidade alternativa à do
comum dos brasileiros:
segundo as sondagens, 81% da população
concorda que o processo
aberto contra o Presidente da Repú-
blica, Michel Temer, indiciado pela
Procuradoria-geral por suspeitas de
corrupção, deve seguir o seu rumo na
Justiça até às últimas consequências.
No entanto, mais de metade da Câ-
mara dos Deputados entende que o
chefe de Estado deve ser preservado
de uma investigação que, a chegar ao
fim, obrigaria o país a empossar um
terceiro Presidente em menos de dois
anos.
Acusado de corrupção passiva depois
de ter sido gravado pelo empresário
Joesley Batista – dono de um dos
maiores conglomerados do Brasil e
um dos delatores da Operação Lava
Jato – a negociar favorecimentos e o
pagamento de subornos através de
intermediários, Michel Temer seria
afastado do cargo se a denúncia do
Ministério Público contra si recebesse
luz verde do Supremo Tribunal
Federal, a instância que sanciona todos
os processos contra eleitos. Se o
Presidente for chamado a responder
estimava a bancada do Partido dos
Trabalhadores (PT), ou nas palavras
do deputado José Guimarães, “esperamos
um Inverno longo e tenebroso”.
“Ainda não temos os 342 votos, mas
cada vez mais deputados dizem que
vão votar contra a corrupção”, completava
Alexandre Molon, eleito pela
Rede Sustentabilidade, o movimento
criado pela ecologista Marina Silva.
Esse era o número do dia: só com a
presença de 342 dos 513 parlamentares
é que a votação do relatório podia
ser iniciada; só 342 votos contra (o
arquivamento da denúncia) levariam à
abertura de uma acção penal contra o
Presidente. Para “salvar” Temer, a base
aliada do Governo precisava de garantir
que pelo menos 172 deputados
endossassem o relatório saído da Comissão
de Constituição e Justiça, contrário
à admissibilidade da denúncia
e prosseguimento das investigações.
“Vamos conseguir mais de 257 votos.
Temos um número bastante consolidado”,
antecipava o deputado do PP
Júlio Lopes, vice-líder do Governo, no
arranque da sessão.
A probabilidade de um golpe de teatro
ou uma revolta de última hora era
baixa, mas ainda assim houve algumas
surpresas. Da liderança do PSDB,
partido que integra o Governo TeCongresso
protege Michel Temer
delidade (e da maioria dos parlamentares)
ao actual Governo. Os jornais
brasileiros têm dado conta do avolumar
da tensão entre os dois líderes,
provocando algum nervosismo. Maia
pôs fim aos cochichos com uma entrevista
em que reproduziu um ralhete da
sua mãe, que lhe lembrou o valor da
lealdade. “Não haverá da minha parte
nenhum movimento para prejudicar o
Presidente”, prometeu à GloboNews.
Além de mudanças súbitas na táctica
e no humor dos aliados, a presidência
de Michel Temer continua “refém” do
avanço da Lava Jato e das decisões
do Ministério Público em função das
“bombas” das delações. Segundo a imprensa
brasileira, são esperadas duas
novas denúncias contra o Presidente,
por organização criminosa e obstru-
ção da justiça. O Procurador-geral,
Rodrigo Janot, que Temer considera
um inimigo, termina o mandato em
meados de Setembro e já avisou: “Enquanto
houver bambu, vai ter flecha.
(Publico.pt)
na Justiça por um crime comum, não
escapará de um processo de impeachment,
como o que enfrentou a sua antecessora
Dilma Rousseff – julgada e
destituída pelo Congresso sem nunca
ter sido arguida numa acção penal.
Tal como há 14 meses, 60% dos deputados
que se vão pronunciar sobre
a idoneidade do Presidente já foram
condenados ou são igualmente arguidos
ou suspeitos de crimes e ilícitos.
Também hoje, como nessa altura, o
ocupante do palácio do Planalto é o
político mais impopular do Brasil (ali-
ás, nesse quesito Michel Temer, com
apenas 5% de aprovação, bate Dilma
Rousseff aos pontos). No entanto,
o contexto social e as circunstâncias
económicas e políticas, ao contrário
de 2016, não favorecem uma mudan-
ça drástica no Governo: nenhum deputado
teve de lidar com piquetes de
manifestantes à entrada do hemiciclo.
Apesar da rejeição ao Presidente, não
há, nem para a oposição, nem para a
base aliada do Governo no Congresso,
um incentivo óbvio para derrubá-lo.
Austeridade fica para depois
Experiente e astuto, Michel Temer esqueceu
a ordem de austeridade do seu
Governo e abriu a torneira do Orçamento
para financiar projectos e distribuir
cargos pelas bancadas mais influentes
do Congresso, os ruralistas e o
centrão. Para garantir a sobrevivência,
o Presidente exonerou 11 dos 12 ministros
que foram eleitos deputados,
e que regressarão ao Governo depois
da votação. “O dia vai ser comprido”,
mer com quatro ministérios, saiu uma
orientação de voto a favor da denúncia
contra o Presidente, acompanhada da
garantia de tolerância para os deputados
que desrespeitarem a disciplina
de voto. A posição ambígua reflecte
a divisão no interior do partido sobre
a permanência ou o desembarque do
Governo – de tal maneira, que a decisão
sobre a presidência da sigla, disputada
pelos senadores Tasso Jereissati e
Aécio Neves foi adiada para depois da
votação. Tasso é apologista da saída do
Governo; Aécio aliou-se a Temer.
Refém da Lava-Jato
O número final de votos era importante
para aferir o “tamanho” da crise
política e perceber até que ponto o
apoio parlamentar do Presidente se
desgastou com o escândalo: isto é, se
terá condições de recuperar a iniciativa
e garantir a aprovação das reformas
– fiscal, da segurança social ou
do sistema político – prometidas aos
brasileiros. Geraldo Alckmin, o governador
do estado de São Paulo que
nunca escondeu as suas ambições presidenciais,
defende que o seu PSDB
deixe cair o Governo se Temer não for
capaz de aprovar o chamado pacote da
Previdência nos próximos dias e a reforma
política não avançar dentro de
um mês.
A agenda reformista também é o argumento
invocado pelo presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo
Maia, o primeiro na linha de sucessão
da Presidência, para manter a sua fi-
Savana 04-08-2017 13 PUBLICIDADE SOCIEDADE
São convocados os Membros
do Observatório do Meio Rural
(OMR) para Assembleia
Geral a realizar-se no dia 05
de Setembro de 2017, às 16:30
horas, na Universidade Politécnica,
edifício da ESAEN
Nr879, na cidade de Maputo.
A ordem de trabalhos será a
seguinte:
1. Análise e Aprovação do Relatório
anual de 2016.
2. Apresentação e Aprovação
do Relatório de 2017 e balanço
do primeiro semestre.
3. Diversos.
OBSERVATÓRIO DO
MEIO RURAL
ASSEMBLEIA GERAL
Maputo, 01 de Agosto de 2017
14 Savana 04-08-2017 Savana 04 -08-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Renamo. Tudo isto em pleno dia. Também
foram achados muitos corpos sem
vida, vítimas de conflito armado mas
ninguém divulgou.”
Esta posição também foi defendida
pelos partidos da oposição. Por exemplo,
o delegado político da Renamo
disse:
“A rádio comunitária local serviu apenas
como um instrumento de propaganda do
governo do dia; não foi por medo mas sim
por vontade como sabe que esta rádio é
do governo do dia e pertence ao ICS; às
vezes, a rádio anunciava apenas os ataques
iniciados pela Renamo; aqui houve
roubo de mais de 1600 cabeças de gado da
população suposta membros da Renamo
pelas forças governamentais; mais de 774
casas da população foram destruídas; 17
carros queimados e foram achados cerca
de 86 corpos humanos neste distrito vitimas
deste conflito armado e a rádio nunca
reportou, só tocava música.”
Contrariamente, o governo local e
o partido Frelimo consideram que a
rádio teve um desempenho “positivo
porque promoveu a cidadania e estava
sempre a apelar às pessoas para não
fazerem guerra.”
À semelhança da Espungabeira, a
Rádio Comunitária de Sussundenga
também se absteve de reportar eventos
do conflito armado e raptos que
ocorriam localmente. Os jornalistas
referiram que não o faziam por vontade
própria mas por ordens da direcção
da rádio, o que configura censura.
Ordem para divulgar realizações
do Governo e banir a
oposição
Um dos jornalistas da Rádio Comunitária
de Sussundenga traçou o seguinte
cenário vivido na rádio durante o
conflito armado:
“A Rádio Comunitária de Sussundenga
estava apenas a reportar as sessões do
partido Frelimo e os seus apelos, como
‘não queremos divisão de Moçambique.
Moçambique é indivisível’. Também a
Ordem para o silêncio*
de 2016, quando a casa do jornalista e
então coordenador da Rádio Catandica,
John Chekwa, foi atacado por oito
homens armados que se supõe serem
elementos das Forças Armadas de
Moçambique. Os homens agrediram
e ameaçaram de morte o filho do jornalista
e o seu amigo, que se encontravam
no interior da residência, exigindo
que lhes indicassem o paradeiro do
pai. Esta situação assustou os jornalistas
da rádio:
“Esta acção ameaçou a nossa liberdade
de imprensa, todos os jornalistas ficaram
com medo de publicar qualquer
notícias sobre guerra. Ameaçavam-nos
nas ruas dizendo que se a rádio continua
publicar estas notícias de guerra,
os jornalistas vão sofrer. Durante este
período, cada um já tinha medo de
qualquer pessoa. E nós todos tínhamos
medo das forças governamentais e dos
militantes do partido no poder. Não
estávamos livres. As pessoas morriam
de qualquer maneira. Havia raptos,
destruição dos bens de todos aqueles
que eram considerados membros dos
partidos da oposição e não havia livre
circulação das pessoas nem liberdade
da parte dos jornalistas e da população.
Passámos a evitar fazer programas de
governação e notícias sobre o conflito.
Apenas fazíamos programas sobre
a malária e musicais. Tínhamos medo
de sermos raptados e mortos.”
O que metia medo nos jornalistas era
o facto de, nos seus bairros, receberem
frequentemente informações de que
os seus vizinhos foram raptados e encontrados
mortos, sem que essa informação
fosse publicada pelas próprias
rádios.
Um outro incidente deu-se em Fevereiro
de 2016, quando dois homens
desconhecidos chegaram às instala-
ções da rádio e obrigaram os repórteres
a fechar as emissões mais cedo, às
20 horas, menos três horas do habitual.
Noutro incidente, no início de 2016,
a Direcção Provincial da Ciência e Tecnologia,
Ensino Superior e Técnico
Profissional de Manica, através do seu
respectivo director, ameaçou enviar
uma brigada para a Rádio Comunitá-
ria de Catandica para perceber porquê
abstivessem de passar informação
sobre o conflito armado, mesmo havendo,
diariamente, nos seus distritos,
postos administrativos e localidades,
onde eles operam e residem, matéria
sobre o conflito.
Por uma questão de segurança, seja
física assim como laboral, omitimos,
nesta investigação, os nomes das nossas
fontes.
Contexto favorável
As crises político-militar, caracterizado
pelos confrontos armados; económicas
que resultam de descobertas
de dívidas ocultas e a consequente retiradas
dos doadores; e as sociais que
assolaram o país em 2016, o que resultou
em secas e fome, das piores dos
últimos 30 anos; foram factores quer
propiciaram um ambiente favorável
para que os actores políticos amorda-
çassem a imprensa.
Ver e não reportar
O cenário descrito em Manica é de
medo vivido pelos voluntários das rá-
dios comunitárias. Um dos repórteres
da Rádio Comunitária de Catandica
descreveu o ambiente nos seguintes
termos:
“Foi muito turbulento, o momento de
crime, muito agitado sem segurança por
parte da população e de nós próprios profissionais
da rádio local. Porque vivíamos
na incerteza se poderíamos conseguir
amanhecer para o novo dia ou se poderíamos
chegar à noite. Já não sabíamos o que
seria de nós durante este percurso”.
O repórter refere que eles foram, por
diversas vezes, ameaçados pelo “governo
do dia através das forças governamentais.
Os políticos do partido no
poder não queriam ouvir a verdade ou
as notícias sobre conflitos nem de violação
dos direitos humanos pelas forças governamentais.
Eles comentavam na rua que
a rádio não devia, em nenhum momento,
publicar informações sobre a guerra.”
Jornalista “visitado” por oito
homens armados e outros
ameaçados
O caso mais sonante deste período
de conflito registou-se em Dezembro
Oambiente vivido pelos jornalistas
das rádios comunitárias
localizadas nas
regiões de conflito armado,
particularmente no centro do país,
é descrito como de terror. Uma investigação
do MISA Moçambique,
realizada em 10 rádios comunitá-
rias das províncias de Manica, Tete
e Zambézia, abrangendo o período
entre 2014 e 2016, revela que diversos
jornalistas das rádios comunitárias
foram silenciados, ameaçados, intimidados
e censurados. Tais acções
foram directamente encabeçadas pelos
dirigentes públicos, membros do
partido no poder e, em alguns casos,
por agentes do estado disfarçados de
desconhecidos mas que agem em defesa
dos interesses da elite política.
As formas de silenciamento tomaram
várias formas. Nas rádios comunitárias
sob tutela do Instituto de Comunica-
ção Social (ICS), recorreu-se ao soft
power, silenciando as rádios comunitárias
por ordens dadas hierarquicamente.
Isto resultou em que as Rádios
Comunitárias eliminassem da sua
programação toda a informação que
não fosse do agrado do Governo e do
partido no poder, particularmente sobre
o conflito armado.
Nas rádios comunitárias independentes
do Governo, filiadas ao Fórum das
Rádios Comunitárias (FORCOM),
recorreu-se a ameaças e, em acasos extremos,
à violência contra as rádios, os
seus coordenadores e repórteres, para
silenciá-los. Houve registo de casos
graves de jornalistas ou seus familiares
directos que foram agredidos por desconhecidos,
mas que se supõem estar
ligados às Forças Armadas.
A capacidade institucional das rádios
é de grande vulnerabilidade, caracterizada
por falta de recursos humanos
e materiais para o trabalho. A vulnerabilidade
torna as lideranças e os
jornalistas das rádios expostos ao aliciamento
pelo poder político, que está
empenhando em capturar e controlar
a actividade jornalística das rádios.
Estes factores criaram condições para
que algumas rádios comunitárias se
esta rádio dava um espaço de antena
aos partidos da oposição. A Rádio
Comunitária de Catandica foi acusada
de ter sido responsável pela derrota
da Frelimo naquela região, dado que
tinha denunciado o administrador local
de ter desviado fundos para apoiar
a campanha eleitoral da Frelimo, além
de ter promovido debates onde a oposição
era também convidada. Após as
eleições, o director provincial efectuou
uma comunicação ao coordenador da
rádio na qual queria perceber o posicionamento
político da rádio. Eis o
extracto da sua preocupação:
“Eu não sei se a rádio passa conteú-
dos políticos ou não, favorecendo um
ou outro partido político. Era disso
que queria ter o esclarecimento. Acho
que oportunamente estaremos juntos.
Estamos a marcar uma visita para Bá-
ruè (…). Era oportuno que a gente se
encontrasse para podermos alinhar
algumas coisas. Para nós se existem
esses problemas fica parecer que nós
(direcção provincial ou ministério) somos
coniventes ou não temos controlo
sobre o que está a acontecer com os
nossos Centros Multimédia Comunitários
(CMC). Um caso de um CMC
em Báruè pode ser interpretado, a ní-
vel nacional, como CMCs inimigos da
governação. Nós vamos mandar uma
brigada para aí, imediatamente, para
vir sentar consigo para poder perceber
algumas coisas antes de podermos tomar
outro tipo de decisões. E havia de
pedir a sua colaboração nesse sentido,
que pudesse apoiar a nossa equipa a
fazer esse trabalho”.
No mesmo ano, a brigada viria a visitar
a Rádio e, durante a visita, solicitou
uma série de documentos da rádio dos
quais os estatutos, o que foi prontamente
rejeitado pela coordenação da
mesma rádio.
O cenário de medo era geral em todas
as rádios. Em Guro, onde o conflito
não foi intenso, os jornalistas também
afirmaram que, embora não tenham
recebido ameaças, não se sentiam seguros
devido ao ambiente de guerra.
“…O pessoal trabalhava com medo receando
que, se calhar no regresso à casa
e/ou em pleno serviço, pudesse sofrer alguma
agressão. Este medo que reinou no
seio dos fazedores da rádio local obrigou-
-nos a não cumprir a nossa agenda, que
era para realizarmos algumas sessões de
rádio ao vivo nos postos Administrativos
que compõem este distrito”, contou o jornalista
da rádio comunitária local.
Esse medo afectava duplamente os
familiares dos jornalistas. Primeiro, o
medo de ver o seu familiar correr o
risco de morte. Segundo, o risco de ele
mesmo, como familiar do jornalista,
fazer parte da lista dos que devem ser
raptados e mortos. Um dos familiares
de um dos jornalistas da Rádio Catandica
disse:
“Aqui em casa tínhamos medo de qualquer
ataque porque aqui na Vila de Catandica
havia raptos e estava a morrer
muita gente. De facto, era guerra de
ódio, as forças governamentais atacavam
qualquer cidadão muito mais membros
do partido da oposição e inimigo dos chefes
do partido no poder. Também os agentes
económicos eram alvos para abater.”
O silêncio imposto
Em Espungabeira, no distrito de
Mossurize, ainda em Manica, a coordenação
da rádio comunitária referiu
que o conflito não se fez sentir e que
jornalistas circulavam sem qualquer
receio. Esta informação foi desmentida
pelos jornalistas da mesma rádio.
Além dos jornalistas, representantes
das organizações da sociedade civil
criticam o silêncio da rádio quando
eram raptados e mortos cidadãos supostamente
com ligações à Renamo.
“Aqui, durante o conflito armado, a rádio
local não fez o seu papel como devia fazer.
Não desempenhou o seu papel visto
que aqui na Vila de Espungabeira havia
raptos dos cidadãos supostos membros da
rádio divulgava as realizações do governo
do dia. Os da Renamo nos convidavam
para os seus comícios e nunca participamos
para fazer a cobertura porque
tínhamos medo de ser dado nomes pelo
partido no poder. Estávamos sempre livres,
não tínhamos medo porque não estávamos
cobrir eventos de outro lado mas
não por desejo.”
Curiosamente, quer a rádio comunitária
de Espungabeira assim como a
de Sussundenga, pertencem ao ICS,
um organismo do Estado, controlado
pelo Governo, através do GABINFO.
Aliás, os delegados provinciais do ICS
são simultaneamente representantes
do GABINFO nas suas províncias.
Estranho ou não, foram as rádios do
ICS que sofreram as maiores priva-
ções, ameaças e censuras nas zonas do
conflito.
O cenário traçado pelo jornalista da
Rádio de Sussundenga é corroborado
pela sociedade civil e pela oposição. A
oposição, representada pela Renamo,
descreveu:
“A rádio comunitária negava sempre
publicar os nossos trabalhos tais como
anúncios, nem queria cobrir os nossos
comícios, só queria apenas trabalhos do
partido Frelimo. Sussundenga era zona
de depósito dos corpos humanos, durante
aquele período. Foram achados mais de
60 corpos vítimas de conflito armado e
ninguém reportou.”
A Frelimo e o governo local traçaram
um quadro referencial contrário ao
apresentado pelos repórteres, pela sociedade
civil e pela oposição. A versão
da Frelimo e do Governo local é a de
que “A rádio fez o seu papel como rádio.
Estava sempre a publicar as notícias, os
programas educativos e a apelar às pessoas
para não fazerem guerra. Estávamos
a apelar à população através da TVM,
RM e Rádio Comunitária Local para
não participar na guerra. E sensibilizar
a população para continuar a produzir
muita comida para o consumo familiar e
para exportar e não para importar.”
Conforme a descrição acima, as rádios
comunitárias em Manica dançaram
ao ritmo definido pelas autoridades
locais.
Razões para a tranquilidade
em tete
Embora a maioria das rádios de Tete
tenha reportado tranquidade, o mesmo
já não se pode dizer da rádio de
Mutarara em que os jornalistas reportaram
um ambiente de terror. Alguns
jornalistas da rádio comunitária local
chegaram a equacionar a possibilidade
de abandonar a profissão devido aos
sequestros e às ameaças de que eram
alvos de membros do partido no poder.
Devido a ameaças, a rádio viu-se
obrigada a abster-se de veicular informação
sobre o conflito armado. Os
jornalistas da rádio local contaram-
-nos que o ambiente foi de “muito
terror e de medo” que “estava patente
no nosso seio e, às vezes, achávamos
melhor abandonar a carreira do jornalismo
por vermos a morte mais próxima
de nós. Éramos ameaçados pelos
membros do partido Frelimo.”
,QYHVWLJDomRGHWHFWDYLRODo}HVGHOLEHUGDGHGHLPSUHQVDQDV]RQDVGHFRQÁLWRDUPDGR
Obrigado a revelar as suas
fontes no meio de três homens
armados
Um dos jornalistas conta o terror que
viveu, quando foi solicitado ao comando
da Polícia para onde foi colocado
no meio de três homens armados e
obrigado a revelar as suas fontes.
“Nos finais de 2015, ocorreram algumas
mortes selectivas de cidadãos
indefesos no posto administrativo de
Sena (Sofala). Quando fomos ao encontro
da polícia para reagir, esta declinou
prestar quaisquer declarações
sobre os casos. Publicámos a reportagem.
Depois da publicação de algumas
entrevistas na comunidade sobre
a ocorrência dos casos, eu pessoalmente
fui solicitado pela polícia e cercado
por três homens armados até aos
dentes para prestar declarações sobre
a notícia veiculada. Daí em diante, eu
e meus colegas passamos a trabalhar
com medo, visto que somos indefesos
e lutamos pela nossa protecção e das
nossas famílias. Depois desse incidente,
os repórteres não queriam mais escrever”,
descreveu o jornalista.
Os jornalistas da rádio comunitá-
ria de Mutarara confidenciaram-nos
que, por várias ocasiões, receberam
ameaças dos membros da Frelimo e
do comandante da Polícia local, que
os obrigavam a parar de publicar assuntos
ligados ao conflito porque, segundo
eles, as notícias colocavam em
pânico a população.
Silenciamento e intimida-
ções na Zambézia
Na província da Zambézia, o epicentro
do conflito foi o distrito de Morrumbala,
situado a cerca de 200 quilómetros
a sul de capital Quelimane.
Com uma base militar da Renamo
instalada neste distrito, Morrumbala
foi teatro das operações de confrontos
entre as forças de Defesa e policiais
do Governo e os guerrilheiros da
Renamo. O conflito teve um impacto
directo no exercício da liberdade de
imprensa na província. A rádio comunitária
local foi silenciada pelo
governo local, impedida de reportar
qualquer informação sobre o conflito
político que decorria no distrito. O silenciamento
manifestou-se em forma
de autocensura.
À semelhança de muitos distritos,
Morrumbala não tem acesso a meios
de comunicação impressos, rádios e
televisões privadas. As únicas fontes
de informação são a rádio Moçambique
e a Televisão de Moçambique e a
Rádio Comunitária de Morrumbala,
sob tutela do Instituto de Comunica-
ção Social.
Durante o conflito militar, a rádio foi
capturada. Pelas ordens do Governo, a
rádio nada podia reportar que estivesse
ligado ao conflito. Dada a dependência
da Rádio ao Governo, através
do ICS, as ordens foram acatadas e o
conflito terminou sem que algo tivesse
sido reportado.
“Havia um forte contingente das Forças
de Defesa e Segurança estacionado na
vila Sede Distrital e outros contingentes
ao longo da estrada Morrumbala-Pinda,
Morrumbala-Zero, Morrumbala-Sabe e
outros troços. Nós não chegámos a reportar
isso nem um dia”, contou um jornalista
da rádio comunitária de Morrumbala.
Durante 2016, em Morrumbala houve
confrontos militares entre as tropas
do Governo e da Renamo, causando
milhares de deslocados. Escolas foram
encerradas, hospitais atacados e
saqueados.
“Quero-lhe ser honesto! Nós nunca íamos
atrás da informação nas zonas de conflito
armado. Durante o conflito não estávamos
livres de publicar a informação sobre
este conflito, mesmo havendo vontade de
exercer a nossa missão de informar”, disse
o mesmo jornalista.
Em Morrumbala, foi decretado um
recolher obrigatório durante a escalada
do conflito. Não se podia sair à rua
depois das 22 horas.
“Postura responsável e
cautelosa”
A coordenação da Rádio Comunitária
de Morrumbala qualificou o silêncio
como “postura responsável e cautelosa”.
Esta postura de se alhear aos
acontecimentos relacionados com o
conflito agradou o Governo local e o
partido Frelimo. O administrador do
Distrito de Morrumbala, Pedro Sapange,
e o partido Frelimo afirmaram
que, durante o período em referência,
não sentiram uma alteração da programação
da Rádio. E o administrador
congratula-se com a situação.
“ [A rádio comunitária] sempre desempenhou
o seu papel, até alguns dias promoviam
debates radiofónicos envolvendo
líderes comunitários, onde a mensagem
fundamental era encorajamento para um
futuro melhor e para a solução deste conflito,
destacavam também as negociações
que o presidente da República conduzia
com o líder da Renamo”, afirmou o administrador.
O administrador local afirma que o
papel do seu executivo foi de “divulgar
mensagens de apelo à calma e sossego
no seio da população, no sentido de se
evitar situações de desespero”.
Por seu turno, o delegado político
distrital da Renamo em Morrumbala,
Carlos Cordeiro Tomo, denunciou
que ele e os demais membros do seu
partido foram banidos da rádio, não
podendo ser entrevistados para emitirem
as suas opiniões e até mesmo
para fazerem uma publicidade paga
não eram admitidos.
Expostos e sem protecção
Durante o período do conflito armado,
foi, porém, notável a ausência de
uma acção urgente, seja individual ou
coordenada, da sociedade civil para
proteger o exercício da liberdade de
Imprensa. Nenhuma organização interveio
publicamente para defender o
direito dos jornalistas de exercer livremente
o seu trabalho.
A Liga dos Direitos Humanos, das
mais antigas e interventivas organiza-
ções de defesa dos direitos humanos
em Moçambique, envolveu-se bastante
no trabalho de defesa dos direitos
dos deslocados e refugiados de Tete
mas este trabalho não teve como foco
a liberdade de Imprensa.
O FORCOM, organização que serve
de umbrela das rádios comunitárias,
durante o período de conflito, não
conseguiu dar resposta às violações da
liberdade das rádios comunitárias.
Naldo Chivite, do FORCOM, afirmou
que a organização incentiva que
os jornalistas e as famílias destes tenham
a cultura de denunciar as violações
que sofrem para que o FORCOM
possa accionar mecanismos
legais para apoiar os jornalistas que
sofrem ameaças ou intimidações no
exercício das suas funções.
Esta situação demonstra que o conflito
armado encontrou uma sociedade
civil não preparada para assegurar
a protecção do exercício da liberdade
imprensa e que, durante o conflito,
não conseguiu se organizar para agir
em defesa da imprensa.
* Investigação feita pelo MISA Mo-
çambique em parceria com a Fundação
MASC
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EDITORIAL Cartoon
Opresidente do MPLA, José
Eduardo dos Santos, está ausente
da campanha eleitoral
do seu partido. Com as várias
cortinas de fumo que a propaganda
eleitoral vai criando, alguns aspectos
essenciais do momento político actual
vão sendo ignorados, quando deveriam
ser centrais ao debate eleitoral. Um
desses aspectos essenciais é justamente
o papel do presidente Dos Santos.
Para já, a ausência de Dos Santos suscita
três leituras.
Em primeiro lugar, reforça a teoria de
que a doença cancerígena de JES está
num estado avançado, restando-lhe
apenas energia para as viagens frequentes
a Barcelona, para ser submetido
a tratamento. O vaivém constante,
com escalas em Luanda, parece servir
somente para assinar decretos que garantam
o poder futuro da sua família
e de alguns dos seus poderosos colaboradores,
como os generais Kopelipa,
Leopoldino Fragoso do Nascimento e
Carlos Feijó, o artífice das suas manipulações
político-jurídicas.
Em segundo lugar, a ausência deixa
transparecer o desprezo pessoal de
José Eduardo dos Santos ao sucessor
que foi escolhido, João Lourenço. A
verdade é que JES não lhe reconhece
peso ou importância suficientes para
merecer uma inequívoca mensagem
sua, num comício, de apoio ao candidato
do MPLA.
Finalmente, aos olhos da sociedade,
JES está muito sujo, pela forma predatória
como tem saqueado o país para o
seu próprio enriquecimento desmesurado
e ilícito, e para o enriquecimento
da sua família e dos seus colaboradores.
Devido à imagem pública de Dos
Santos, nem João Lourenço nem o
MPLA o desejam na sua campanha.
Em circunstâncias normais, o presidente
deveria no mínimo ter usado a
oportunidade das eleições para viajar
pelo país, numa jornada de agradecimento
aos militantes do MPLA que o
mantiveram no poder durante 38 anos.
JES poderia até ignorar o povo angolano,
a quem tem causado indiscritível
sofrimento e tem rebaixado à condição
sub-humana, com as suas políticas de
exclusão – mas não os militantes do
seu partido.
Parece haver uma grande contradi-
ção no facto de o MPLA estar a exigir
mais uma vez o sacrifício dos seus
militantes mais pobres. Nem mesmo
José Eduardo dos Santos, o principal
beneficiário do poder do partido, das
riquezas de Angola e da divisão dos
angolanos, se quer expor.
Milhares de militantes do MPLA e
funcionários públicos têm estado a ser
transportados – sob coacção – em camiões,
como se fossem gado, de uma
província para outra, para encherem
os comícios. E neste aspecto vê-se
logo qual é a estirpe de João Louren-
ço: também só quer gado no lugar do
povo.
Este é o mesmo MPLA que se gaba
sempre de ser o único partido com
quadros para governar Angola. Que
tipo de quadros são esses, tão competentes
no empobrecimento da maioria
dos angolanos? Há dias, a minha mãe
acompanhou o funeral de um vizinho
a quem o hospital administrou o soro
errado, dada a sua condição de diabético.
O hospital tirou a vida de um
jovem por pura negligência, como se
nada fosse. Até um bom kimbanda,
sem instrução académica, teria feito
primeiro o diagnóstico do paciente
antes de lhe ter administrado qualquer
mixórdia. Que quadros são esses que
nos dão esse tipo de saúde mortífera?
Nem vale a pena falar das escolas. Basta
lembrar as palavras recentes de um
grande quadro e membro do Comité
Central do MPLA, o “Dr.” António
Luvualu de Carvalho, que nos garante
que o oxigénio que respiramos “é
um ganho intangível da paz” que o
camarada presidente nos ofereceu tão
generosamente em 2002. Que quadros
são esses que garantem regularmente
a demolição de casas de cidadãos na
busca arbitrária de terrenos para os
poderosos, sem compensação?
O MPLA tem quadros tão bons, que
foge como o diabo da cruz ao debate
público com os “fracos” da oposição.
Sabemos todos que João Lourenço
não tem capacidade nem verbo para
debater com Isaías Samakuva ou com
Abel Chivukuvuku; contudo, enquanto
quadro do MPLA, ganha com a
propaganda que o agiganta, ou seja,
com ar quente. Então, se assim é, que
se proponham debates temáticos sobre
a economia, a política e outros assuntos
relevantes entre quadros escolhidos
pelo MPLA e os partidos da oposição.
O povo deve poder estar na plateia,
e deve ter direito a fazer perguntas.
Sabemos no entanto que os quadros
do MPLA não aceitariam o desafio.
Basta-lhes os títulos e a arrogância do
poder.
Parece então que do que precisamos
não é dos quadros do MPLA, mas sim
de angolanos com sentimentos humanizantes,
com humildade, conhecimentos
e patriotismo para servirem
o povo. Só mesmo o MPLA precisa
dos seus quadros, para continuarem a
enganar e a colonizar o povo angolano.
Camarada Dos Santos, apareça pelo
menos num só comício e agradeça ao
povo por tê-lo deixado, e à sua família
e amigos, roubarem e maltratarem os
angolanos à vontade. Pelo menos isso.
*makaangola.org
F
oi a primeira vez, pelo menos em público, que o Presidente Filipe
Nyusi reconheceu a possibilidade de haver “indícios criminais” no
relatório de auditoria sobre as dívidas ocultas.
O Presidente falava no fim da semana passada, durante o encerramento
da última sessão do Comité Central da Frelimo, onde se pressupõe
que o assunto tenha sido abordado pelos militantes do partido com
alguma profundidade.
Mas ao mesmo tempo que o Presidente manifestava esse reconhecimento,
procurava igualmente persuadir os moçambicanos a ocuparem-
-se de outras coisas, sublinhando que as dívidas ocultas não devem ser a
“única agenda” do país.
É possível compreender a pressão que se exerce de vários quadrantes sobre
o Presidente e o seu governo, no que toca à necessidade de um rápido
desfecho quanto ao assunto das dívidas ocultas. É como uma música
que se repete várias vezes; cansa, e deixa de ser agradável para o ouvido.
Mas este é um assunto que continua a marcar directa e individualmente
a vida de muitos moçambicanos. Não se trata, por isso, de uma questão
trivial, que só os teimosos e mal intencionados insistem em manter na
agenda pública.
Estas são dívidas que em termos do seu peso sobre a economia do nosso
país representam cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto
(PIB). Provocaram deslizes nas finanças públicas que pouco se sabe ainda
até que ponto irão afectar a agenda de desenvolvimento do país. Mo-
çambique não está irradiado da cooperação com o resto do mundo, mas
como tem sido várias vezes reiterado pelos nossos parceiros, há assuntos
que não poderão andar para a frente enquanto não houver um desfecho
satisfatório sobre este dossier.
Como consequência da forma como elas foram contraídas, o país perdeu
a confiança dos seus principais parceiros e credores internacionais.
Isto, por sua vez, provocou uma grande derrapagem na economia do
país, afectando significativamente a condição económica de cada um
dos seus cidadãos.
A maior indignação dos moçambicanos nem sequer resulta do facto
das dívidas terem sido contraídas, mesmo que tal tenha sido à margem
do parlamento. Neste momento nem importa para que fins elas foram
contraídas. Muitos moçambicanos se sentiriam confortáveis com o facto
dos fundos terem sido aplicados para questões de interesse nacional,
seja tal o que for.
O que é deveras preocupante é o facto das dívidas terem sido contra-
ídas sem se saber muito bem para que fim se destinavam. Como não
constitui novidade para ninguém, nenhuma das três empresas que se
pretendia financiar com os empréstimos está a funcionar.
Para além dos indícios criminais agora à vista, há sinais preocupantes de
grande incompetência e amadorismo na forma como tudo foi feito. Terá
sido incompetência com intenção criminosa? Quem, afinal, é que no seu
melhor juízo poderia acreditar que três empresas, sem qualquer estudo
de viabilidade económica para se informar das condições do mercado,
sem contratos prévios com potenciais utilizadores de seus serviços, poderiam,
num espaço de três anos, colectivamente gerar receitas totalizando
2,4 biliões de dólares?
E se estas empresas eram capazes de gerar este nível de receitas, ficam
por descodificar as razões porque outras empresas públicas nacionais,
melhor estabelecidas e em alguns casos operando em regime de monopólio,
continuam deficitárias.
É esta abordagem de laissez faire com que foram tratadas questões sérias
do Estado, que é motivo da indignação geral que se está a tornar um
incómodo. E enquanto não for afastada a hipótese de esforços deliberados
para dificultar o trabalho dos auditores, enquanto não houver uma
informação concisa sobre os valores supostamente em falta, e enquanto
não se puder provar que não houve sobrefacturação a granel, o assunto
das dívidas ocultas continuará no topo da agenda de muitos moçambicanos,
por mais que se pretenda que o mesmo encontre a sua morte
natural. E não haverá protestos do mais alto sentido de patriotismo que
irão tranquilizar seja quem for.
As dívidas não são a única agenda do país, isso é verdade, mas o impacto
das suas consequências em cada um dos cidadãos destes país torna-as
num assunto que não se pode simplesmente desejar que desapareça, por
alguma magia, da esfera pública.
5HGHÀQLQGRD
agenda do país
OPINIÃO DE MADURO PARA VENEZUELANOS
Dos Santos foge da campanha eleitoral
Por Rafael Marques*
Savana 04-08-2017 19 OPINIÃO
539
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
E
stou chocado com a parcialidade
da comunicação social europeia
na crise da Venezuela.
A Venezuela vive um dos momentos
mais críticos da sua história.
Acompanho crítica e solidariamente
a revolução bolivariana desde o iní-
cio. As conquistas sociais das últimas
duas décadas são indiscutíveis. Para o
provar basta consultar o relatório da
ONU de 2016 sobre a evolução do
índice de desenvolvimento humano.
Diz o relatório: “O índice de desenvolvimento
humano (IDH) da Venezuela
em 2015 foi de 0.767 — o que
colocou o país na categoria de elevado
desenvolvimento humano —, posicionando-o
em 71.º de entre 188 países e
territórios. Tal classificação épartilhada
com a Turquia.” De 1990 a 2015,
o IDH da
Venezuela aumentou de 0.634 para
0.767, um aumento de 20.9%. Entre
1990 e 2015, a esperança de vida ao
nascer subiu 4,6 anos, o período mé-
dio de escolaridade aumentou 4,8
anos e os anos de escolaridade média
geral aumentaram 3,8 anos. O rendimento
nacional bruto (RNB) per
capita aumentou cerca de 5,4% entre
1990 e 2015. De notar que estes progressos
foram obtidos em democracia,
apenas momentaneamente interrompida
pela tentativa de golpe de Estado
em 2002 protagonizada pela oposição
com o apoio activo dos EUA.
A morte prematura de Hugo Chávez
em 2013 e a queda do preço do petróleo
em 2014 causou um abalo profundo
nos processos de transformação
social então em curso. A liderança carismática
de Chávez não tinha sucessor,
a vitória de Nicolás Maduro nas
eleições que se seguiram foi por escassa
margem, o novo Presidente não
estava preparado para tão complexas
tarefas de governo e a oposição (internamente
muito dividida) sentiu que o
seu momento tinha chegado, no que
foi, mais uma vez, apoiada pelos EUA,
sobretudo quando em 2015 e de novo
em 2017 o Presidente Obama considerou
a Venezuela como uma “ameaça
à segurança nacional dos EUA”, uma
declaração que muita gente considerou
exagerada, se não mesmo ridícula,
mas que, como explico adiante, tinha
toda a lógica (do ponto de vista dos
EUA, claro).
A situação foi-se deteriorando até
que, em Dezembro de 2015, a oposi-
ção conquistou a maioria na Assembleia
Nacional. O Tribunal Supremo
suspendeu quatro deputados por alegada
fraude eleitoral, a Assembleia
Nacional desobedeceu, e a partir daí a
confrontação institucional agravou-se
e foi progressivamente alastrando para
a rua, alimentada também pela grave
crise económica e de abastecimentos
que entretanto explodiu. Mais de cem
mortos, uma situação caótica. Entretanto,
o Presidente Maduro tomou a
iniciativa de convocar uma Assembleia
Constituinte (AC) para o dia
30 de Julho e os EUA ameaçam com
mais sanções se as eleições ocorrerem.
É sabido que esta iniciativa visa ultrapassar
a obstrução da Assembleia Nacional
dominada pela oposição.
Em 26 de Maio passado assinei um
manifesto elaborado por intelectuais e
políticos venezuelanos de várias tendências
políticas, apelando aos partidos
e grupos sociais em confronto
para parar a violência nas ruas e iniciar
um debate que permitisse uma saída
não violenta, democrática e sem ingerência
dos EUA.
Decidi então não voltar a pronunciar-
-me sobre a crise venezuelana. Por que
o faço hoje? Porque estou chocado
com a parcialidade da comunicação
social europeia sobre a crise da Venezuela,
um enviesamento que recorre
a todos os meios para demonizar um
governo legitimamente eleito, atiçar o
incêndio social e político e legitimar
uma intervenção estrangeira de consequências
incalculáveis.
A história recente diz-nos que as
sanções económicas afectam mais os
cidadãos inocentes que os governos.
Basta recordar as mais de 500.000
crianças que, segundo o relatório da
ONU de 1995, morreram no Iraque
em resultado das sanções impostas
depois da guerra do Golfo Pérsico.
A história recente também nos diz
que nenhuma democracia sai fortalecida
de uma intervenção estrangeira.
Os desacertos de um governo democrático
resolvem-se por via democrá-
tica, e ela será tanto mais consistente
quanto menos interferência externa
sofrer. O governo da revolução bolivariana
é democraticamente legítimo
e ao longo de muitas eleições nos últimos
20 anos nunca deu sinais de não
respeitar os resultados destas. Perdeu
várias e pode perder a próxima, e só
será de criticar se não respeitar os resultados.
Mas não se pode negar que o Presidente
Maduro tem legitimidade constitucional
para convocar a Assembleia
Constituinte.
Mas nada disso justifica o clima insurreccional
que a oposição radicalizou
nas últimas semanas e que tem
por objectivo, não corrigir os erros da
revolução bolivariana, mas sim pôr-
-lhe fim e impor as receitas neoliberais
(como está a acontecer no Brasil
e na Argentina), com tudo o que isso
significará para as maiorias pobres da
Venezuela.
O que deve preocupar os democratas,
embora tal não preocupe os media
globais que já tomaram partido pela
oposição, é o modo como estão a ser
seleccionados os candidatos. Se, como
se suspeita, os aparelhos burocráticos
do partido do governo sequestrarem o
impulso participativo das classes populares,
o objectivo da AC de ampliar
democraticamente a força política da
base social de apoio à revolução terá
sido frustrado.
Para compreendermos por que provavelmente
não haverá saída não violenta
para a crise da Venezuela temos
de saber o que está em causa no plano
geoestratégico global.
O que está em causa são as maiores
reservas de petróleo do mundo existentes
na Venezuela. Para os EUA,
é crucial para o seu domínio global
manter o controlo das reservas de petróleo
do mundo. Qualquer país, por
mais democrático, que tenha este recurso
estratégico e não o torne acessível
às multinacionais petrolíferas, na
maioria, norte-americanas, põe-se na
mira de uma intervenção imperial.
A ameaça à segurança nacional, de
que fala o Presidente dos EUA, não
está sequer apenas no acesso ao petróleo,
está sobretudo no facto de o
comércio mundial do petróleo ser
denominado em dólares, o verdadeiro
núcleo do poder dos EUA, já que nenhum
outro país tem o privilégio de
imprimir as notas que bem entender
sem isso afectar significativamente o
seu valor monetário.
Foi por esta razão que o Iraque foi
invadido e o Médio Oriente e a Lí-
bia arrasados (neste último caso, com
a cumplicidade activa da França de
Sarkozy). Pela mesma razão, houve
ingerência, hoje documentada, na crise
brasileira, pois a exploração do petróleo
do pré-sal estava nas mãos dos
brasileiros. Pela mesma razão, o Irão
voltou a estar em perigo.
Pela mesma razão, a revolução bolivariana
tem de cair sem ter tido a
oportunidade de corrigir democraticamente
os graves erros que os seus
dirigentes cometeram nos últimos
anos. Sem ingerência externa, estou
seguro de que a Venezuela saberia
encontrar uma solução não violenta e
democrática.
Infelizmente, o que está no terreno é
usar todos os meios para virar os pobres
contra o chavismo, a base social
da revolução bolivariana e os que mais
beneficiaram com ela. E, concomitantemente
com isso, provocar uma ruptura
nas Forças Armadas e um consequente
golpe militar que deponha
Maduro.
*professor universitário.
Por Boaventura Sousa Santos*
Em defesa da Venezuela
O
poder é individual, é
pertença de um indiví-
duo, é algo que habita
determinados seres privilegiados?
Na verdade, o poder é uma palavrinha
mágica que, no seu sentido
mais imediato, põe-nos logo
a alma em sentido ou ajoelhada
em santa reverência. Por isso é
corrente dizermos e escrevermos,
por exemplo, coisas como
“ele tem poder”, “ele não tem
poder” ou “chegou ao poder”.
É bem mais difícil conceber o
poder não como uma coisa à
mão de semear mas como uma
relação ou, melhor, como produto
de uma relação, de uma
relação onde estão em jogo mú-
tiplas coisas ao mesmo tempo.
Na verdade, o poder é produto
de uma relação complexa, física
e psíquica. Não é uma substância
fisicamente tangível e não é
pertença individual. O poder é,
intrinsecamente, produto de um
grupo.
O poder é pertença
de um indivíduo?
F
az pouco mais de um ano que
os moçambicanos (juntamente
com os parceiros internacionais)
descobriram que o Estado tinha
dado garantias financeiras para cobrir
as actividades (ler: dívidas) de três empresas
destinadas a garantir a segurança
marítima de Moçambique - Ematum,
ProIndicus e MAM. A Kroll - empresa
de auditoria financeira paga pela embaixada
da Suécia, que trabalhou em
paralelo com a Procuradoria-Geral da
República - foi escolhida para levar a
cabo a investigação sobre os mecanismos
e os indivíduos que determinaram
o acumular-se de uma dívida que ultrapassa
os 2 mil milhões de dólares, e que
o Parlamento moçambicano tem, em
larga medida, votado à posteriori como
sendo dívida pública, com recurso junto
do Conselho Constitucional por parte
de vários sujeitos, entre os quais o Movimento
Democrático de Moçambique
(MDM).
O relatório, assim como anteriormente
anunciado, não traz nomes (salvo raras
excepções), mas destaca de uma forma
clara os mecanismos que deram origem
a esta avultada dívida pública, contraí-
da entre 2013 e 2014, de que nenhuma
instituição, nem interna, nem externa,
tinha conhecimento. Existem ainda
várias lacunas, como a própria Kroll
admitiu, no que diz respeito ao destino
final de uma parte desses valores, nomeadamente
500 milhões de dólares,
supostamente usados para a compra de
armamentos, mas de que foi impossível
ter confirmação.
Apesar dessas limitações, o relatório
entregue à Procuradoria-Geral da República
evidencia mecanismos perversos
que deixam entender quão grande
tenha sido a influência de um punhado
de homens do SISE (os serviços de
segurança moçambicanos) ao longo
da presidência de Armando Guebuza
(2004-2014), que contribuíram largamente
para fazer com que Moçambique
fosse o único estado africano, juntamente
com a República Democrática
do Congo, a cair num default financeiro
em 2016.
O impacto do relatório Kroll
Em Moçambique, a publicação do relatório
da Kroll despertou um debate
muito acesso e até violento, como era
de imaginar. Quer em termos políticos,
com as oposições (mais o MDM do que
a Renamo, preocupada com o fecho das
negociações de paz com o Governo),
quer ao nível da comunicação social, a
palavra de ordem é de culpabilizar os
responsáveis deste desastre financeiro.
O CIP (Centro de Integridade Pú-
blica), com uma postura definível de
justicialista, tem publicado em alguns
semanários privados as fotos de personagens
de destaque do cenário político
frelimista com uma barra vermelha em
cima das respectivas caras e, por baixo,
a palavra “Cúmplice!” repercorrendo o
estilo americano do “Wanted!” usado
para os criminosos e bandidos no Far-
-West.
Este bombardeamento mediático pode
parecer restrito à elite política local ou,
no máximo, interessar os parceiros internacionais
que deverão decidir se retomarão
o apoio ao Orçamento de Estado
moçambicano, incapaz de fechar
as contas através de recursos internos.
Na verdade, aquilo que parece emergir
desta campanha, acompanhada por
outros episódios francamente inconvenientes
nesta fase (como a aquisição,
por parte do Parlamento, de 17 Mercedes
luxo para uso dos deputados, que
custaram cerca de 4 milhões de dólares),
é a grande distância entre governados
e governantes, entre o país real
e o país “dourado” da política moçambicana.
A opinião pública, geralmente
silenciosa e passiva, começa a dar sinais
de grande intolerância para com estes
comportamentos da elite dirigente
local, tanto mais que a Procuradoria-
-Geral da República não tem levado
a cabo nenhuma acção concreta como
consequência da entrega do relatório
por parte da Kroll, dando a impressão
de que esta estivesse à espera que uma
decisão política ao mais alto nível lhe
dissesse o que fazer.
Agravamento de tensões
sociais
Poderá ser um caso, mas, em poucos
dias, dois episódios deram a sensação
de que os níveis de suportação dos mo-
çambicanos estão praticamente esgotados:
na Macia, uma vila na província de
Gaza atravessada pela principal artéria
rodoviária do país, a EN1, vendedores
ambulantes protagonizaram motins
no meio da rua, queimando pneus e
manifestando-se contra a local câmara
municipal, devido ao facto de esta ter
mandado remover as suas modestas
infra-estruturas comerciais das bermas
da EN1, alegando motivos de seguran-
ça. Dois dias depois, o corpo técnico da
UEM, a maior universidade do país,
encenou uma manifestação no campus
principal desta instituição, reclamando
o bónus anual que a UEM devia
pagar até fim de 2016, mas que foi
constantemente adiado, devido à falta
de fundos para o efeito. Nas conversas
de rua não existe um cidadão que não
tenha conhecimento daquilo que está a
acontecer ao nível político, com grande
decepção para o comportamento de
uma elite cada vez mais distanciada das
sensibilidades reais do país.
Estes motivos todos fazem com que a
situação social, antes das condições políticas
ou financeiras de Moçambique,
seja neste momento preocupante, tanto
mais que a própria elite política não
tem plena consciência disso. Se fica difícil,
se não impossível, fazer previsões,
não será tão ousado dizer que há m
incertezas e que qualquer coisa poderá
acontecer, se a “batata quente” do escândalo
financeiro não for gerida com
responsabilidade e com imparcialidade.
*académico
O impacto do Relatório Kroll
Por Luca Bussotti *
20 Savana 04-08-2017 OPINIÃO
SACO AZUL
Por Luís Guevane
O
provérbio latino que diz que
“se quer paz, prepare-se para a
guerra” pode ser interpretado
na perspectiva do desenvolvimento.
O provérbio encaixa-se perfeitamente
na história contemporânea de
Moçambique. Ou seja, desde que se iniciou
o processo de construção da independência
política, tendo como marco o
ano de 1975, que Moçambique procura
a paz através da força. Até ao presente
momento, passadas quatro décadas, a
principal força usada no alcance dessa
paz tem sido a político-militar. A perspectiva
do desenvolvimento, como dizia
acima, remete-nos a outras forças que
também existem e podem (e devem) ser
usadas no alcance dessa paz. São muitas:
a força intelectual, a força cultural, a
força das políticas públicas de desenvolvimento,
a força da ética, da inclusão, da
compreensão do outro, da liberdade de
Um País chamado Liberdade
pensamento, entre outras. Os que aprovam o
orçamento (geral do Estado), invariavelmente,
sempre escolheram a força político-militar
como caminho para a paz. A brutalidade
psicológica desta força é imensamente monumental
que não lhes permite outra opção
de escolha para o alcance da paz. Excelente
seria se esta escolha tivesse o mérito de
produzir inclusão, produzir carteiras para os
pequenos não se sentarem no chão, ao relento,
produzir mais centros de alfabetização
e educação de adultos, mais conhecimento,
mais liberdade de pensamento, mais capacidade
produtiva, mais cidadania, mais patriotismo.
Produz a perpetuação da pobreza.
A procura de paz através da força não é exclusiva
de Moçambique. É verdade. Entretanto,
a aposta nessa força e não em outra
continua preocupante. Que fundo de patriotismo
é revelado quando cantamos o hino
nacional? Como nos sentimos ao cantar
“Moçambique, o teu nome é liberdade”? Liberdade
de quê e na óptica de quem? Mais
cidadania, mais patriotismo, podem signifi-
car, entre outros aspectos, o processo de luta
para que de facto o nome de Moçambique
seja Liberdade. Ou seja, liberdade de a Procuradoria-Geral
da República reconfirmar
que ninguém está acima da lei, liberdade de
a mesma agir de forma célere e profissional
sem intenção de adormecer a “responsabilização”
e muito menos embarcar no jogo do
medo como prova de lealdade ao “dedo indicador”.
Liberdade tem uma forma abstrata que vale
pela sua complexidade. Cada um encaixa
nela o conteúdo que achar melhor. O ponto
está na qualidade desse mesmo conteúdo.
Daqui derivam os liames entre o profissionalismo
e a ética. Quando estes vínculos, por
regra, se tornam pouco consistentes criam
um crescente descrédito nessas instituições
vocacionadas para cumprir com integridade
a sua vocação. Mais do que descrédito
a sentença popular dita desconfiança
derivada do hábito criado pela viciação
da balança da justiça, tão normal como
a de muitas outras. Mas, claro, no meio
de tanta balança viciada surge, por vezes,
uma rigorosamente no ponto, inquestionável.
Quando isso acontece, esta, a
“inquestionável”, é que está fora do processo!
Isto é algo que caracteriza os pa-
íses pobres entre os quais Moçambique,
ou seja, “Liberdade”. Liberdade viciada.
Inclusão determinada pelo grupismo.
Democracia que clama por um Estado
que se pretende que seja normal e que
procura a paz através de um conjunto
de forças equilibradas. É preciso que
o canto nos liberte; quanto mais vezes
cantarmos “Moçambique, o teu nome
é liberdade”, mais coragem teremos de
tornar isso verdadeiro.
D
esde a Revolução Agrária, o progresso
tecnológico sempre alimentou
forças opostas de difusão
e concentração. A difusão ocorre à
medida que os poderes e os privilégios antigos
são corroídos; a concentração ocorre
à medida que o poder e o alcance daqueles
que controlam as novas capacidades se
expandem. A chamada Quarta Revolução
Industrial não será uma excepção a este respeito.
A tensão entre difusão e concentração já
se está a intensificar em todos os níveis da
economia. Ao longo da década de 1990 e
início dos anos 2000, o comércio cresceu
duas vezes mais rápido que o PIB, retirando
centenas de milhões de pessoas da pobreza.
Graças à globalização do capital e do conhecimento,
os países conseguiram transferir
recursos para sectores mais produtivos
e mais bem remunerados. Tudo isto contribuiu
para a difusão do poder de mercado.
Mas esta difusão ocorreu em paralelo com
uma concentração igualmente acentuada. A
nível sectorial, um par de indústrias-chave
– principalmente as finanças e as tecnologias
da informação - garantiu uma crescente
participação nos lucros. Nos Estados Unidos,
por exemplo, o sector financeiro gera
apenas 4% do emprego, mas representa mais
de 25% dos lucros das empresas. E metade
das empresas dos EUA que geram lucros de
25% ou mais são empresas de tecnologia.
O mesmo aconteceu ao nível organizacional.
Os 10% de empresas mais lucrativas dos
Estados Unidos são oito vezes mais rentá-
veis do que a empresa média. Na década de
1990, o múltiplo era apenas três.
Esses efeitos de concentração ajudam a explicar
a crescente desigualdade económica.
Uma pesquisa de Cesar Hidalgo e os seus
colegas do MIT revela que, nos países onde
a concentração sectorial diminuiu nas últimas
décadas, como na Coreia do Sul, a
desigualdade de rendimentos diminuiu.
Naqueles em que a concentração sectorial
se intensificou, como na Noruega, a desigualdade
aumentou.
Uma tendência semelhante pode ser vista
ao nível organizacional. Um estudo recente
de Erling Bath, Alex Bryson, James Davis
e Richard Freeman mostrou que a difusão
do salário individual desde a década de
1970 está associada a diferenças salariais
entre empresas, e não dentro delas. Os economistas
de Stanford, Nicholas Bloom e
David Price, confirmaram essa descoberta e
argumentam que praticamente todo o aumento
da desigualdade de rendimentos nos
Estados Unidos tem origem na crescente
diferença dos salários médios pagos pelas
empresas.
Tais resultados não são apenas fruto de mudanças
estruturais inevitáveis, mas também
de decisões para lidar com essas mudanças.
No final da década de 1970, quando o neoliberalismo
se estabeleceu, os responsáveis
políticos ficaram menos preocupados com
as grandes empresas que convertiam os lucros
em influência política e mais preocupados
com o facto de os governos estarem a
proteger as empresas não competitivas.
Com isto em mente, os responsáveis polí-
ticos começaram a desmantelar as regras e
regulamentos económicos que haviam sido
implementados depois da Grande Depressão
e incentivaram fusões verticais e horizontais.
Essas decisões ajudaram a possibilitar
uma nova onda de globalização, que
difundiu cada vez mais o crescimento e a
riqueza entre os países, mas também estabeleceu
as bases para a concentração de rendimentos
e riqueza dentro dos países.
A crescente “economia de plataformas” é
um exemplo disso. Na China, a gigante do
comércio electrónico Alibaba está a liderar
um enorme esforço para conectar as áreas
rurais aos mercados nacional e global, nomeadamente
através da sua plataforma Taobao
de consumidor para consumidor. Esse
esforço envolve uma difusão substancial: em
mais de 1.000 comunidades chinesas rurais
Um novo rumo para o liberalismo económico
- as chamadas “Aldeias Taobao” - mais de
10% da população ganha agora a vida a vender
produtos na Taobao. Mas, à medida que
a Alibaba ajuda a construir uma economia
inclusiva que compreende milhões de mini-
-multinacionais, também está a expandir o
seu próprio poder de mercado.
Os responsáveis políticos precisam agora de
uma nova abordagem que resista à concentração
excessiva, o que pode gerar ganhos
de eficiência, mas também permite que as
empresas acumulem lucros e invistam menos.
Claro, Joseph Schumpeter argumentou
que não seria necessário preocuparmo-nos
muito com as rendas de monopólio, porque
a concorrência eliminaria rapidamente a
vantagem. Mas o desempenho das empresas
nas últimas décadas pinta um quadro
diferente: 80% das empresas que obtiveram
um retorno de 25% ou mais em 2003 ainda
tinham o mesmo resultado dez anos depois.
(Na década de 1990, essa percentagem era
aproximadamente 50%).
Para combater essa concentração, os responsáveis
políticos devem, em primeiro lugar,
implementar leis de concorrência mais
inteligentes que se concentrem não apenas
na quota de mercado ou no poder de fixação
de preços, mas também nas muitas formas
de extracção de rendas, desde direitos autorais
a regras de patentes que permitem que
os operadores estabelecidos tirem partido
de velhas descobertas e façam mau uso da
centralidade na rede. A questão não é “quão
grande é demasiado grande”, mas como diferenciar
entre “boa” e “má” grandeza. A resposta
depende do equilíbrio que as empresas
atingem entre captura e criação de valor.
Além disso, os responsáveis políticos precisam
de facilitar o crescimento das start-ups.
Um ecossistema empreendedor vibrante
continua a ser o antídoto mais eficaz para
a extracção de rendas. As tecnologias digitais,
por exemplo, têm o potencial de reduzir
o poder dos grandes oligopólios de forma
mais eficaz do que as intervenções políticas
pesadas. No entanto, as economias não
devem depender apenas dos mercados para
provocar o “impulso” que o capitalismo realmente
precisa. De facto, mesmo com os
responsáveis políticos a defenderem e a elogiarem
o empreendedorismo, o número de
start-ups tem diminuído em muitas economias
avançadas.
Por fim, os responsáveis políticos devem
ultrapassar a presunção neoliberal de que
aqueles que trabalham arduamente e seguem
as regras são os que crescerão. Afinal,
o ponto oposto a essa perspectiva, que se baseia
na crença fundamental no efeito equalizador
do mercado, é o que Michael Sandel
chama da nossa “arrogância meritocrática”:
a ideia equivocada de que o sucesso (e o fracasso)
depende só de nós.
Isto implica que os investimentos em educação
e formação não serão suficientes para
reduzir a desigualdade. Também são necessárias
políticas que abordem de frente os
desvios estruturais - de salários mínimos a,
potencialmente, regimes universais de rendimento
básico.
A economia neoliberal atingiu um ponto de
ruptura, fazendo com que a tradicional divisão
política esquerda-direita seja substitu-
ída por uma divisão diferente: entre aqueles
que procuram formas de crescimento menos
inclinadas para a extrema concentração
e aqueles que querem acabar com a concentração
fechando mercados e sociedades
abertas. Ambos os lados desafiam as antigas
ortodoxias; mas enquanto um procura
remover o “neo” do neoliberalismo, o outro
procura desmantelar completamente o liberalismo.
A era neoliberal teve o seu tempo. É hora de
definir o que vem depois.
*Sebastian Buckup é director de programa-
ção do Fórum Económico Mundial.
Por Sebastian Buckup*
Savana 04-08-2017 21 PUBLICIDADE
O projecto HP+, com financiamento da USAID, está a recrutar
um Assessor de Monitoria Financeira para exercer
funções integrado na Direcção de Planificação e Cooperação
(DPC) do Ministério da Saúde (MISAU), em Maputo.
Os candidatos deverão ter formação adequada e experiência
relevante de trabalho.
Os candidatos interessados deverão por favor enviar o seu CV
e carta de apresentação para: lflowersmiller@thinkwell.global.
O espaço reservado no correio electrónico para o assunto
deverá ser preenchido com Assessor de Monitoria Financeira
da DPC, seguido do nome do candidato. Por exemplo:
Assessor de Monitoria Financeira da DPC – Suraia Cossa.
O prazo de apresentação de candidaturas é até ao dia 14 de
Agosto de 2017, às 17.00 horas.
Se estiver interessado em obter a descrição completa do cargo,
queira por favor solicitar por correio electrónico.
Descrição do posto: Assessor de Monitoria Financeira da
Direcção de Planificação e Cooperação (DPC) do Ministé-
rio da Saúde (MISAU)
O posto de Assessor(a) de Monitoria Financeira visa prestar
assistência técnica à Direcção de Planificação e Cooperação
(DPC) do Ministério da Saúde (MISAU) nas áreas de planificação
e monitoria da execução orçamental, com vista a
acautelar o uso eficiente e transparente dos recursos do sector
e a promover a responsabilidade na sua utilização. Este posto
pretende também contribuir para o reforço da capacidade
institucional da DPC. Em particular, e em colaboração com
o pessoal do MISAU, o(a) Assessor(a) deverá contribuir para
a realização das acções que visam o alinhamento da execução
financeira – do Orçamento do Estado e dos Fundos Externos
– com as actividades definidas no Plano Económico Social
(PES) do Sector da Saúde, estabelecendo a ligação entre
a planificação e a execução orçamental. No âmbito das suas
funções, o(a) Assessor(a) de Monitoria Financeira trabalhará
nesta área com a DPC, a DAF (Direcção de Administração
e Finanças) e os Centros de Custo do MISAU.
Principais qualificações e requisitos
R5 ),' éã)5-/* ,#),5 '5 )()'# 65 #( (é -65 -.ã)5 5 '-
presas, ou equivalente
R5§5 )( #éã)5 5*, ,ð( # 5. ,5' -., )5 '5 )()'# 5 5
Saúde, Saúde Pública ou equivalente
R5 2* ,#ð( # 5, )(" # 5 '5 /(éċ -5-#'#& , -5 5*& (#ŀ -
ção e/ou financiamento no sector saúde ou noutro sector
da Administração Pública
R5 2* ,#ð( # 5, )(" # 5 '5 -- --),# 65 #&#. éã)5 5 - (-
volvimento de capacidades
R5)(" #' (.)-5 0 (é )-5 5#( ),'á.# 65 '5* ,.# /& ,5 5
MS Excel e de MS Office
R5 * # 5* , 5., &" ,5 5').#0 ,5 +/#* -5 #0 ,-#ŀ -
R5)(" #' (.)5 2 & (. 5 5 ),./!/ð-5 5 (!&ð-65 - ,#.)5 5
falado
Maputo, 26 de Julho de 2017
POSTO DE TRABALHO
22 Savana 04-08-2017 DESPORTO
P
ode estar a chegar ao fim
o casamento entre Lucas
Barrarijo e a direcção do
Clube Ferroviário de Maputo.
O fim da união, firmada e
anunciada no princípio da época,
está dependente do resultado da
23ª jornada do Moçambola, na
qual os “locomotivas” da capital
visitam a Liga Desportiva de
Maputo, jogo a ter lugar amanhã,
no campo da segunda equipa.
A primeira semana de Agosto de
2017 foi das mais complicadas na
vida do técnico “locomotiva” que
viu, no último fim-de-semana,
sua competência ser posta em
causa pela massa associativa daquele
clube, devido aos maus resultados.
Oito derrotas, cinco empates e
nove vitórias é o saldo apresentado
pelo Ferroviário de Maputo,
em 22 jornadas, desempenho que
o coloca na sexta posição, com 32
pontos. A equipa apontou ainda
21 golos e sofreu 19, tendo Timbe
e Chijioke como os melhores
marcadores, que somam quatro
golos cada.
Barrarijo, que chegou no clube
verde e branco da capital do
país, em Janeiro, depois de deixar
o Clube de Chibuto, era visto
como “o homem certo” para levar
a equipa sénior de futebol ao 11º
título nacional, porém, os resultados
estão aquém das expectativas.
No último domingo, após o em-
)XWXURGDHTXLSDWpFQLFD´ORFRPRWLYDµHPMRJRQHVWHÀP GH VHPDQD
Barrarijo joga última cartada!
Por Abílio Maolela
pate diante do 1º de Maio de
Quelimane, os adeptos do Ferroviário
de Maputo fizeram-se ouvir,
pedindo a demissão da equipa
técnica, assim como da direcção
do clube, alegando que ambas não
estavam em condições de dirigir
os destinos daquela colectividade.
Enfurecidos, os adeptos vandalizaram
a tribuna de honra do
Estádio da Machava, enquanto
alguns dirigentes do clube impediram
os jornalistas de fazer o seu
trabalho, arrancando seus instrumentos
de trabalho.
Embora o presidente do clube,
Sancho Júnior, tenha garantido
que o técnico irá continuar no comando
técnico da equipa, o facto
é que o homem que “revolucionou”
o Ferroviário da Beira tem,
na partida de sábado, a sua última
chance para garantir a sua continuidade.
A equipa comandada por Barrarijo
regista os piores resultados
daquele clube, desde 2013, ano
em que o Ferroviário de Maputo
chegou a lutar pela manutenção.
Sublinhar que Sancho Júnior disse
que o futuro de Barrarijo estava
em aberto, mas que a decisão não
seria tomada em função das exigências
dos adeptos.
Pela frente, o Ferroviário de Maputo
terá a Liga Desportiva de
Maputo, equipa que também não
atravessa o seu melhor momento.
Ocupando a sétima posição com
31 pontos, a equipa de Akil Marcelino
soma oito vitórias, sete
empates e mesmo número de
derrotas, tendo marcado 29 golos
e sofrido 25. Telinho é o melhor
marcador da equipa com 11 golos.
Embora não seja contestado, devido
ao curto tempo de trabalho,
o substituto de Daude Razak
também está longe de convencer
os adeptos da Lida Desportiva.
Sendo assim, neste sábado, estarão
em campo dois conjuntos que
ambicionam mostrar serviços as
suas direcções, assim como as respectivas
massas associativas.
Os dois técnicos partem para a
partida com o objectivo de ganhar,
apesar de reconhecerem o
poderio do adversário.
Sinal laranja na Matchiki
7FKLNL
Para além do derby entre a Liga
Desportiva de Maputo e o Ferroviário
também da capital do
país, as atenções da 23ª jornada
do Moçambola estarão centradas
nos campos do Costa do Sol e da
União Desportiva de Songo.
No dia 27 de Novembro, em Songo,
o líder União Desportiva local
recebe o Desportivo de Nacala,
equipa que na última jornada roubou
dois pontos ao segundo classificado,
Costa do Sol.
Na frente do campeonato com 46
pontos (mais cinco que o Costa
do Sol), a equipa de Chiquinho
Conde vai ao jogo com a ambi-
ção de consolidar ainda mais o seu
estatuto de favorito à conquista
do canecão nacional, enquanto a
equipa de Antero Cambaco luta
por consolidar a sua manutenção
na prova mais importante do país.
Enquanto isso, na Matchiki-
-Tchiki, o Costa do Sol defronta a
Universidade Pedagógica (UP) de
Lichinga que, depois de um 11º
lugar na primeira volta (18 pontos),
desacelerou, ocupando a penúltima
posição com 21 pontos,
tendo somado três pontos, em seis
jogos na segunda volta.
O “canário” está proibido de errar,
de modo a manter as suas ambi-
ções acesas. No último fim-de-semana,
a equipa de Nelson Santos
deixou escapar os três pontos, ao
permitir um empate, nos minutos
finais, diante do Desportivo de
Nacala.
Aliás, a oscilação dos resultados
do Costa do Sol faz com que os
seus adeptos não acreditem na
conquista do título, visto que a
equipa peca nos momentos considerados
capitais.
Campeão em busca do tempo
perdido
Se na Matchiki-Tchiki, o Costa
do Sol tenta manter o sonho,
em Nacala, o Ferroviário da Beira
tenta recuperar o tempo perdido.
Os “locomotivas” da Beira encontram-se
a dois lugares da descida
de divisão, somando 23 pontos,
no 12º lugar, enquanto o Ferroviário
de Nacala ocupa o quatro
lugar, com 33 pontos.
Com quatro jogos em atraso, devido
a sua participação na Liga
dos Campeões Africanos (está
nos quartos-de-final), o campeão
nacional visita o seu homónimo
de Nacala que, mais uma vez, in-
filtrou-se na linha da frente.
Em Chimoio, o Textáfrica bate-se
com o Ferroviário de Nampula
que também se mostra, mais uma
vez, incapaz de devolver a alegria
à capital do norte. Para Arnaldo
Salvado, o mau desempenho da
equipa deve-se a “desorganização”
da Liga Moçambicana de Futebol.
Tudo se deve aos atrasos que
se verifica nos voos, assim como
na emissão das passagens.
Na vila de Chibuto, na província
de Gaza, o Clube de Chibuto recebe
a Associação Desportiva de
Macuácua, que luta pela manutenção
na fina flor do nosso futebol.
Realçar que a jornada 23 do Mo-
çambola reserva ainda os jogos
entre ENH de Vilanculo e Maxaquene;
e 1º de Maio-Chingale
de Tete.
Lucas Barrarijo joga sua última cartada
frente a Liga Desportiva de Maputo
O
Ferroviário da
Beira sagrou-se
campeão nacional
de basquetebol
seniores masculinos
ao derrotar, na noite desta
terça-feira, o seu homónimo
de Maputo por 69-58.
Num renovado pavilhão
e completamente lotado,
os locomotivas da Beira
levaram de vencida os de
Maputo, no jogo número
5, o último dos play-offs
da Liga Nacional de Basquetebol
- Mozal.
As duas equipas estavam
empatadas com duas vitórias
e pressionadas para
a conquista do título no
Ferroviário da Beira é o novo
campeão nacional
último jogo. O Ferroviário da
Beira foi a equipa eficaz.
O Ferroviário da Beira recebeu
uma taça, medalhas e um cheque
no valor de 200 mil
meticais, contra 100 mil
meticais do seu homónimo
de Maputo.
Savana 04-08-2017 23 PUBLICIDADE DESPORTO
A Faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo
Mondlane-FEUEM, torna público que vai iniciar a partir
da primeira quinzena de Setembro de 2017, a terceira
edição do curso de MESTRADO EM HIDRÁULICA E
RECURSOS HÍDRICOS. O Mestrado é uma pós-graduação,
que corresponde a uma especialização a partir
duma base de Licenciatura em Engenharia Civil, Engenharia
Química e Engenharia Agronómica ou outras
iUHDVDÀQV FRPRD*HRORJLDHR3ODQHDPHQWR)tVLFR
São assim convidados todos os interessados a submeter
as suas candidaturas até ao dia 20 de Agosto de 2017
na secretaria dos Mestrados sita nas instalações da Faculdade
de Engenharia, Estrada Nacional Nr 1, Km 1,5.
Estrutura e duração do curso
O curso tem a duração de 2 anos (4 semestres) com os
dois últimos semestres dedicados exclusivamente ao
trabalho de dissertação. O curso oferece duas orienta-
ções principais, uma direcionada para o Abastecimento
de Água e Saneamento Urbano (Ramo A) e outra para a
*HVWmRGDÉJXDH2EUDV+LGUiXOLFDV(Ramo B). A parte
curricular do curso compreende 11 disciplinas oferecidas
em regime modular e presencial. Cada módulo
ocupa 4 semanas de aulas e uma semana de preparação
e realização de exames.
Vagas e Propinas
3DUDDSUHVHQWHHGLomRGR0HVWUDGRHVWmRGLVSRQtYHLV
25 (vinte e cinco) vagas. A taxa de ingresso anual é de
15000.00 MZM, o custo por módulo é de 12500.00 MZM
e a taxa de inscrição para a dissertação de Mestrado de
25000.00 MZM. São admitidos para a dissertação todos
mestrandos com média da parte curricular igual ou superior
a 14 valores.
Documentos de Candidatura
)LFKDGHFDQGLGDWXUDGHYLGDPHQWHSUHHQFKLGD
'XDVFySLDVDXWHQWLFDGDVGRVFHUWLÀFDGRVGHOLFHQFLDtura
ou equivalente
&ySLDVDXWHQWLFDGDVGRVFHUWLÀFDGRVGDVGLVFLSOLQDV
feitas e respectivas cargas horárias
'XDVFDUWDVGHUHFRPHQGDomR
&XUULFXOXP9LWDHHP3RUWXJXrVRXLQJOrV
)RWRFySLDDXWHQWLFDGDGR%,RX3DVVDSRUWH
&HUWLÀFDGR GH SURÀFLrQFLD GD OtQJXD LQJOHVD UHFRmendado
mas não obrigatório)
EDITAL
MESTRADO DE HIDRÁULICA E RECURSOS HÍDRICOS (MHRHM) 3a
EDIÇÃO
&DUWDGHPRWLYDomR
Instrução dos processos de candidatura
Os candidatos deverão submeter os processos de
candidatura junto a secretaria do curso de Mestrado
da Faculdade de Engenharia da UEM até ao dia
$)DFXOGDGHGH(QJHQKDULDQRWLÀFDUiRV
resultados de admissão a partir de 01/9/2017. O período
de matrículas será na primeira semana de Setembro
de 2017.
Selecção de candidatos
A selecção dos candidatos será feita por uma comissão
de pós-graduação em conformidade com
regulamento para os cursos de Mestrados da UEM,
apoiando-se em componentes de relevo tais como: i)
DFODVVLÀFDomRÀQDOGRFXUVRGHOLFHQFLDWXUDRXHTXLYDOHQWH LL
R&XUULFXOXP9LWDH LLL DPRWLYDomRSDUD
LQJUHVVDUQRFXUVR LY DH[SHULrQFLDSURÀVVLRQDOGR
candidato.
Local e horário de funcionamento
O Mestrado será leccionado na Faculdade de Engenharia
da Universidade Eduardo Mondlane no perí-
odo pós-laboral (15.00h- 20.00h) de 2a a 6a feira.
Contacto para apresentação de candidaturas:
Unversidade Eduardo Mondlane
Faculdade de Engenharias
'HSDUWDPHQWRGH(QJHQKDULD&LYLO
(VWUDGD1DFLRQDOQR NP &3
7HO )D[ 3$%;
Maputo
Esclarecimentos adicionais.
Esclarecimentos adicionais poderão ser consultados
no portal da Faculdade de Engenharias
(www.engenharias.uem.mz) ou por correio electró-
nico através do seguinte endereço:
matsinhe@zebra.uem.mz.
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE ENGENHARIA
1 As fichas de candidatura poderão ser obtidas na Faculdade
de Engenharia, Departamento de Engenharia Civil,
Estrada Nacional #, Km 1,5, Maputo ou baixadas a partir
do portal da Faculdade de engenharias www.engenharias.
uem.mz
24 Savana 04-08-2017 CULTURA
Zeca Craveirinha, filho de
José Craveirinha, e Mutxine
Malangatana, filho
de Malangatana Valente
Ngwenya, ambos gestores do espólio
dos seus pais, queixaram-se numa
oficina criativa havida recentemente
no Centro Cultural Moçambicano-
-Alemão.
Sob moderação de Matilde Muocha,
curadora da Fortaleza de Maputo, o
tema em debate era a Gestão do Espólio
de Craveirinha e Malangatana,
num evento organizado pela plataforma
Mbenga: Artes e Reflexões,
que é um grupo de jovens jornalistas
culturais. “Quando comecei a recolher
os textos que o meu pai foi espalhando
em vida tive dificuldades porque
as pessoas não querem devolver à
família”, contou Zeca que considerou
tal atitude injusta.
A família, prosseguiu, é que deve, antes
de qualquer outra entidade, preservar
e defender a herança deixada
por estas figuras. Zeca revelou que
partes desses escritos dispersos, alguns
deles em Portugal, retratam epiFilhos
de artistas reclamam a não devolução de obras
sódios da vida na clandestinidade na
época anterior e durante a guerra de
libertação nacional. “Tenho algumas
dessas cartas que escreveu quando estava
preso, em 1965, durante os três
meses em que esteve numa solitária”
disse.
Acrescentou, porém, “apenas são as
cópias porque as versões originais, escritas
em papéis higiénicos, na prisão,
não foram devolvidas por quem as
detém”, lamenta.
Quando chamado a tomar a palavra,
Mutxine Malangatana assumiu que a
sua família e a Fundação Malangatana
estão a sofrer os mesmos constrangimentos
para além da questão
da conservação das obras de artes
plásticas. “A obra de Malangatana
está dividida entre a colecção familiar
e a pública que envolve o material
que está sob pertença do Estado, de
empresas e singulares”, disse.
Uma das preocupações do momento,
assumiu, é com a estátua de ferro
que se encontra na antiga fabrica de
pneus Mabor, no bairro do Zimpeto,
em Maputo.
O objectivo, continuou, é juntar este
material, inclusive o que está no estrangeiro
para depois conservá-lo
num museu que a Fundação projecta.
Assumiu, por outro lado, que embora
“nós por termos crescido em meio a
este material temos algumas noções
de conservação”, há a necessidade de
se ter apoio de profissionais da área.
No final, a música ficou sob a responsabilidade
do músico e intérprete
moçambicano radicado na Noruega,
Paulo Macamo, que conduzia um trio
constituído por Samito Tembe na bateria
e Nené no baixo. A.S
OCentro Cultural Brasil-
-Moçambique em Maputo
acolheu, no passado
dia 27 de Julho, o lançamento
do mais recente livro de poesia
intitulado O Deus Restante,
de Luís Carlos Patraquim.
O livro foi apresentado pelo académico
Gilberto Matusse, numa
sessão que contou ainda com uma
leitura de textos e participação de
Sangare Okapi. Esta é a sexta obra
publicada pela Cavalo do Mar, na
colecção filhos do vento e é a décima
oitava obra do autor.
Escreve o poeta e académico brasileiro
Marco Lucchesi que “Luís
Carlos Patraquim vive no delta da
língua portuguesa. Entre Pasárgada
e Inhambane. Como um dos seus
poetas mais completos e mais inspirados”.
A abordagem literária de Patraquim,
uma linguagem poética de
fusão, complexidade e profundidade,
leva-o a ser por muitos considerado
como sucessor do poeta mo-
çambicano José Craveirinha.
Poeta, dramaturgo, guionista e jornalista,
Luís Carlos Patraquim nasceu
em Maputo, Moçambique, em
1953. Integrou o grupo fundador
da Agência de Informação de
Moçambique (AIM). De 1977 a
1986 trabalhou no Instituto Nacional
de Cinema de Moçambique
(INAC) e na Televisão Moçambicana,
como autor de roteiros e de
argumentos e como redactor do
jornal cinematográfico Kuxa Kanema.
Patraquim tem uma vasta obra
publicada, em prosa, poesia e teatro.
Está traduzido em diversas línguas.
Dois novos livros do escritor, intitulados
“O senhor Freud nunca
Painel que debateu sobre o espólio dos artistas em causa
O Deus Restante de Patraquim
OCentro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) acolhe no sá-
bado, dia 5 de Agosto, a partir das 15:00h, a segunda edição do
Festival de Hip-Hop denominado “Punhos no Ar”.
Nascido no ano passado (2016), através de uma parceria entre
o Centro Cultural Franco-Moçambicano, o Café Bar Gil Vicente e a
Nexta Vida Entertainment, o Festival de Hip-Hop “Punhos no Ar” é
um evento centrado na valorização do Hip-Hop moçambicano, além de
promover um encontro de várias províncias, permitindo assim um importante
intercâmbio entre os amantes e praticantes da área e o aprofundamento
dos laços que unem os fazedores da cultura Hip-Hop no país.
Esta segunda edição, para além de exaltar e promover os principais elementos
da cultura Hip-Hop: MC, DJ, Breakdance e Graffiti, conta com
várias novidades, nomeadamente Feira de Hip-Hop, Freestyle Battle
(Maputo vs Beira), Beat Battle (Maputo vs Chimoio) e um dado não
menos importante serão desta vez sete cidades, representando o Sul,
Centro e Norte.
De Maputo, e com Hélder Leonel a fazer as honras da casa, participarão,
Azagaia, Sick Brain, Trkz, Gee-Fly, Kloro, Flow Man, Duas Caras, Hot
Skillz, Filady, 2/4+1, SIX74 (Mastha Bad), Micro 2, Nexta Vida Crew
e DJ Clax, a partilhar o palco com artistas oriundos de outras cidades
de Moçambique, tais como, da Beira: 4 Ases, Aivo K, La Vida Louca
e Batalhão de Inteligência, de Chimoio: Inspector Desusado, Tuz MC,
Função Inversa e AZ-Pro, de Tete: KDS, de Quelimane: Stupa Serious,
de Nampula: Xelter, MD Akas e um convidado surpresa.
No palco do CCFM, estes artistas terão a oportunidade de mostrar as
suas potencialidades e trocar ideias com figuras de proa, para juntos contribuírem
para elevar o Hip-Hop moçambicano ao mais alto nível.
A.S
veio a África” e “Música extensa”,
foram apresentados publicamente,
no passado dia 12 do corrente mês,
no Camões, em Maputo. “Quatro
décadas a andar nisto de aprender a
escrever, desconseguindo a mais das
vezes, acertando quando os deuses
generosamente concedem a avara
benesse de um sentido, que é o que
se pergunta sempre. Há o paradoxo
de se comemorar a interrogação.
Mas isso é da ordem do livro, da
edição, dos meandros e segredos da
recepção, do leitor que reescreve o
que lhe propomos. Estes assim ditos
quarenta anos são uma espécie
de selo, uma fulguração breve para
celebrar um percurso. Porque árduos
continuam os caminhos por descobrir,
para ir chegando, em viagem
e movimento perpétuo”, descreve
Luís Carlos Patraquim. A.S
Luís Carlos Patraquim lançou três obras num curto espaço de tempo
“Punhos no Ar” no CCFM
A
empresa Telecomunica-
ções de Moçambique-
-TDM realiza, no próximo
dia 18 de Agosto, a cerimónia
de premiação dos vencedores
da VIII Edição do Concurso
Literário TDM, referente ao ano
2016.
Trata-se de um concurso que, a par
da Bienal das Artes TDM, é promovido
com regularidade desde
2001 por esta empresa, na área cultural,
abrangendo as categorias de
Conto, Romance e Poesia.
O concurso tem por objectivo incentivar
a produção literária e estimular
o gosto pela leitura no país,
TDM premeia vencedores
premiando os autores no intuito de
promover o surgimento de novos
talentos no domínio da literatura
em Moçambique.
Para além de atribuir um prémio
no valor de 150 mil meticais por
categoria, a TDM responsabiliza-
-se pela edição especial das obras
dos vencedores com vista a garantir
que cheguem aos leitores de todos
os cantos do país e não só.
Desde a sua introdução, já se candidataram
ao Concurso Literário
TDM mais de mil autores, parte
dos quais, incluindo os premiados,
já preenchem com afirmação o universo
dos escritores da literatura
nacional.
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1230 DE AGOSTO DE 2017
2 Savana 04-08-2017 SUPLEMENTO Savana 04-08-2017 3
Savana 04-08-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) Com a situação que o país atravessa tendo em conta as próximas eleições
autárquicas, os membros do partido Frelimo estão preocupados com o
que vai acontecer.
A sociedade civil acompanha os vários assuntos que envolveram altos
quadros do partido dos camaradas. Como dizíamos acima, o próximo pleito vem aí
e os partidos estão a finar as suas máquinas para vencer a todo o custo.
Sabemos que os meios de comunicação públicos têm-se batido em apoiar as campanhas
do partido no poder. Por isso os altos responsáveis desses meios de comunicação
têm de fazer o seu trabalho. Nesta primeira imagem, deduzimos que o actual
PCA da TVM, Jaime Cuambe, teve de se aproximar ao antigo PCA da TVM,
Armindo Chavana, para ter algumas dicas sobre como proceder quando chegar o
momento.
O ambiente de preocupação é total. Os camaradas não escondem a inquietação.
Recentemente, soubemos que o Comité Central da Frelimo esteve reunido. Entretanto,
o que foi discutido deixou muitos membros desolados. Reparem que o Ministro
da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula, teve de consolar a Ministra
dos Recursos Minerais e Energia, Letícia, klemens, que não escondeu o seu descontentamento
face ao que foi tratado na sala de reunião que reuniu a cúpula da freli.
Não é em vão o desassossego no seio dos camaradas. Vão precisar de muito jogo de
cintura para vencer os próximos pleitos que se avizinham. Nesta terceira imagem,
onde se encontram a Ministra da Administração Estatal, Carmelita Namashulua e
a Presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo. Os rostos de apreensão
são bem visíveis.
Os olhares também transmitem mensagens de cisma. Mesmo com diferença de
alturas, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, teve de inclinar-se para
trocar algumas considerações com o homem do primeiro tiro, Alberto Chipande.
Um verdadeiro confronto de olhares.
Outros membros aproveitaram a caminhada para tecer os seus sentimentos sobre
o que foi discutido no encontro dos frelimistas. Mesmo com o atacador de um dos
sapatos de Carvalho Muária, com risco de pisá-lo e cair, é ignorado por ele devido
ao que ele comenta para a líder da bancada da Frelimo na escolinha do barulho,
Margarida Talapa , que concentra o seu olhar para o chão onde pisa. Isso é sinal de
que terrenos movediços estão por vir. Parece que os ecos do encontro não demonstram
um futuro risonho. O tempo dirá.
O que os preocupa?
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF "HPTUP EF t "/0 99*7 t /o
1230 Diz-se... Diz-se
Calou-se, esta
q u a r t a - f e i r a ,
2 de Agosto, a
voz do escritor e
poeta moçambicano, António
Pinto de Abreu. À
data presidente do Conselho
de Administração
(PCA) das Linhas Aéreas
de Moçambique (LAM),
António Pinto de Abreu
não resistiu a uma batalha
que vinha travando contra
uma teimosa doença que
havia decidido tirá-lo a
vida.
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Savana 04-08-2016
EVENTOS
1
0DSXWR GH$JRVWRGH $12;;,91o 1230
EVENTOS
A
comunidade imamanti
ismaili, em Moçambique,
celebrou na última
segunda-feira o Jubileu
de Diamante do príncipe
Aga Khan como líder espiritual
(Imam) dos muçulmanos ismailis.
O evento, que teve lugar na
cidade de Maputo e contou com
participação de diversas individualidades
da nata moçambicana,
reforça o compromisso de
Aga Khan em prol das parcerias
que se baseiam na ética da acção,
da paz e do pluralismo.
Recorde-se que, no dia de 11 de
Julho de 1957, sua Alteza Aga
Khan assumiu o mandato de líder
espiritual da comunidade Ismaili,
o 49º Iman que segue uma linhagem
directa e hereditária com
mais de 1400 anos.
No âmbito desta histórica efemé-
ridade, Sua Alteza enfatizou as
prioridades do jubileu, incluindo
o alívio da pobreza, a promoção
da educação pré-escolar e primá-
ria, o fortalecimento das institui-
ções e revigoramento da sociedaComunidade
Ismaili celebra
Jubileu de Aga Khan
O
Fundo Nacional de
Investigação (FNI) incentiva
os agricultores
nacionais a tomarem
os ensaios científicos de modo
a aumentarem os níveis de produção
e produtividade no país.
Segundo Vitória Langa, Directora
do FNI, colocando a ciência
e a investigação ao serviço
da agricultura, Moçambique
estará em condições de produzir
para o seu auto sustento, o
que pode contribuir para a baixa
de preços dos produtos e a
consequente melhoria do bemProdução
agrícola ganha impacto com
investigação científica
Para além da semente melhorada
atribuída aos camponeses, foram
partilhadas técnicas económicas
que permitem produzir mais em
pouco tempo e poupar recursos.
Testemunhados os resultados, Vitória
Langa diz que ficam assim
esclarecidas as dúvidas dos que
questionavam o desenvolvimento
da agricultura baseada na ciência e
na investigação tal como acontece
noutros países. Sublinhou que o
motivo de satisfação neste tipo de
projectos é que os resultados se reflectem
no prato.
Para a directora-técnica para agronomia
e recursos naturais
do IIAM, Anabela Zacarias,
trata-se de um testemunho
de que é possível ter uma
semente viável com altos índices
de produtividade mediante
a realidade de cada
área. No entanto, aponta que
para que Moçambique seja
auto suficiente em matéria
de produção é preciso disseminar
a mensagem nos camponeses,
mas também incutir
a necessidade de uma produ-
ção em escalas para que haja
produtos em todos os ciclos.
de civil.
“Ao longo dos 60 anos, a Rede
Aga khan para o Desenvolvimento
(AKDN) tem transformado a
qualidade de vida de milhões de
-estar das populações.
A directora do FNI fez estas declarações
depois de visitar, esta
segunda-feira, machambas, de agricultores
nos distritos de Boane e
Namaacha, que são assistidos pelos
cientistas do Instituto de Investiga-
ção Agronómica de Moçambique
(IIAM).
A visita tinha como principal objectivo
aferir como é que os ensaios
tecnológicos produzidos pelos
cientistas do IIAM reagem nas
machambas e o resultado no terreno
não deixou margens para dúvidas
do sucesso na iniciativa.
pessoas, em todo o mundo, independentemente
da sua origem,
raça e religião”, disse o Representante
Diplomático da AKDN,
Nazim Ahmad.
Nas áreas da saúde, educação, revitalização
cultural e capacitação
económica, as organizações da
AKDN têm estado a trabalhar
para inspirar a excelência e melhorar
as condições de vida e as
oportunidades, também em algumas
das regiões mais remotas e
problemáticas do mundo.
Savana 04-08-2017 EVENTOS
2
D
ois projectos da construtora
brasileira, Odebrecht, ramo
de Desenvolvimento, acabam
de ser distinguidos, em
Nova Iorque, nos Estados Unidos
da América (EUA), pela Câmara de
Comércio Brasil-EUA e o Person of
the Year (POY) Fellowship Committee.
Os projectos foram premiados
pelo seu impacto na sociedade
e a contribuição das pesquisas para
os académicos e ganharam o pré-
mio POY Fellowship, iniciativa a
que concorrem também estudantes
apoiados pela Fundação Lemann e o
Projectos da Odebrecht
distinguidos em Nova Iorque
Instituto Ling. Anteriormente, estes
projectos venceram o Prémio Odebrecht,
no Brasil.
Agora reconhecidos internacionalmente,
os projectos “Selectora
de Mudas de Cana-de-açúcar” e
“Energia Renovável e Sistema de
Purificação de Água – Sistema de
Purificação Manual” exploram o uso
das novas tecnologias e iniciativas
inovadoras para o desenvolvimento
sustentável.
O respectivo prémio foi entregue
numa cerimónia recentemente
ocorrida no Harvard Club de Nova
F
oi, recentemente, publicada a
lista dos finalistas para a quinta
edição dos African Legal
Awards 2017, uma iniciativa
promovida pela Legal Week em associação
com a Corporate Counsel
Association of South Africa.
Entre as sociedades de advogados
distinguidas, destaque vai para a
Tomás Timbane – Sociedade de
Advogados, com sete nomeações nas
TTA recebe sete nomeações no
African Legal Awards 2017
Iorque, um clube privado em Manhattan,
com a presença de Albert
Fishlow, professor emérito da Universidade
de Columbia (NY) e especialistas
em economia brasileira,
Paulo Vieira da Cunha, economista
e ex-diretor do Banco Central brasileiro
(BC) e dirigentes da Câmara
de Comércio Brasil-EUA e da Odebrecht.
Na ocasião, Albert Fishlow destacou
a contribuição do prémio como um
estímulo à educação e a contribuição
da Odebrecht com esta iniciativa é o
foco no futuro.
seguintes categorias: “African Law
Firm of the Year (Small Practice)’,
‘CSR, Diversity, Transformation and
Economic Empowerment Award’,
‘Employment Law Team of The
Year’, ‘Litigation and Dispute Resolution
Team of the Year’, ‘M&A
Team of the Year’, ‘Property and
Construction of the Year’ e ‘Transportation
and Infrastructure Team
of the Year”.
O evento de publicação de vencedores
terá lugar no próximo dia 08 de
Setembro em Joanesburgo, na vizinha
África de Sul.
“Com o reconhecimento vem a responsabilidade
de continuarmos a
lutar por um lugar na esteira estratégica
das instituições e dos empresários
em Moçambique”, referiu o
advogado Tomás Timbane.
O
mangal da zona Norte do
país, sob alçada da Administração
Nacional das
Áreas de Conservação
(ANAC), sofre pressão de grandes
construções que usam este recurso
marinho para as suas obras, especialmente
nos últimos dois anos.
A preocupação foi partilhada no
workshop sobre prioridades de
investigação, monitoria, gestão e
conservação nas áreas de conserva-
ção marinhas, reunião que vai permitir
avaliar as iniciativas em curso
e os progressos alcançados, partilhar
lições aprendidas, num fórum
que se pretende que trabalhe cada
vez mais de forma conjunta.
Durante este seminário foram
apresentados os resultados das ac-
ções de seguimento do workshop
realizado em 2015, apresentar as
actividades de investigação, monitoria
e conservação em curso, rever
e actualizar as prioridades com
base na situação actual de cada
área de conservação.
Agostinho de Nazaré, Director
de Serviços e Conservação e Desenvolvimento
Comunitário na
ANAC, disse que a ANAC tem
vindo a desenvolver acções de
monitoria dos recursos marinhos,
por reconhecer a sua importância,
como meio de vida das comunidades.
Trata-se de uma base estabelecida
em 2015 para permitir avaliar
a performance do trabalho.
O governante explicou que, nos úlANAC
pressionada
pelas construtoras
timos dois anos, existe uma grande
pressão sobre o mangal, prática
que tem sido mais notória na época
em que houve monitoria mais
efectiva. Houve captação de dados
que permitem avaliar melhor, embora
a prática já vinha há bastante
tempo.
Segundo ele, a pressão sobre os
recursos aumenta de forma acentuada.
Há uma taxa de extracção
do mangal pelas comunidades e se
calhar transcendem os níveis aceitáveis,
que é utilizado para grandes
obras nas cidades, e isto se reflecte
na redução de várias espécies marinhas,
de peixe e camarão, que se
reproduzem no mangal.
“Existem zonas em que não há
muita pressão. No caso das Quirimbas,
eventualmente porque há
uma grande necessidade de desenvolvimento.
Isto cria mais pressão
do que o uso pelas comunidades
para a construção de casas e habitações
que precisam deste recurso.
A utilização do mangal mais danosa
é quando é para resolver interesses
de tamanho muito maior do
que uma extracção sustentável ao
nível local”, disse Nazaré.
Nazaré contou também que, embora
essas áreas estejam na nossa
gestão da ANAC, o trabalho tem
sido realizado em conjunto com
outras vários parceiros, aliás, que
tem um nível de especialização
muito lato, das quais o Centro
Terra Viva, WWF e outras.
Savana 04-08-2016
EVENTOS
3
PUBLICIDADE
CONJUNTURA ECONÓMICA DA CRISE DAS DIVIDAS OCULTAS
Maputo. Julho de 2017 1 de 4
Por João Mosca e Rabia Aiuba1
CONJUNTURA ECONÓMICA DA
CRISE DAS DIVIDAS OCULTAS
O presente texto procura analisar os efeitos de curto prazo sobre os indicadores
nominais da economia e sobre a economia real provocados pela chamada
crise das dívidas ocultas. Apresenta uma síntese das medidas adoptadas e
não adoptadas face ao choque na economia e na sociedade. Seguidamente,
sugerem-se medidas económicas e não económicas necessárias para que se
inicie um ciclo de crescimento com maiores garantias de estabilidade política e
social a médio e longo prazo, evitando-se os ciclos frequentes de crescimento e
de crise, de curta duração e de grande amplitude. Embora seja uma análise de
conjuntura, estabelecem-se algumas relações com a evolução da economia nos
últimos anos e sugerem-se medidas de saída da crise.
Os autores chamam à atenção para que os efeitos económicos com refl exos
sobre a sociedade sejam aprofundadamente estudados, de modo a que os
cidadãos tenham uma melhor percepção das consequências das dívidas e o que
elas signifi cam. As reclamações contra o pagamento das dívidas, as iniciativas
de tornar a orçamentação das dívidas como inconstitucionais, a demanda de
responsabilização e devolução dos recursos desviados (se for o caso), entre
outros aspectos, constituem reivindicações legítimas, mas que correm o risco de
abrandamento no tempo.
O conhecimento dos efeitos económicos e sociais de forma fundamentada
e com evidências permitirá um maior poder reivindicativo e de advocacia
junto dos centros de decisão. O estudo, que deverá incluir cenários de longo
prazo, facilitará a fundamentação do diálogo e a apresentação de propostas à
governação, no sentido de se assegurar um desenvolvimento estável a longo
prazo, social e ambientalmente sustentável, inclusivo, com instituições efi cientes
e transparentes em prol do bem-estar dos cidadãos.
1. Breve quadro geral macroeconómico da
crise
Qualquer variação de uma variável da economia provoca efeitos múltiplos
sobre toda a economia. No caso em apreço, isolam-se os efeitos da dívida
pública somente sobre as variáveis agregadas que compõem a equação básica
da economia: Y (rendimento) = C (consumo) + S (poupança que se considera
em equilíbrio com I, investimento) + G (gastos públicos) + XN (sector externo,
importações e exportações).
A fi gura abaixo resume os efeitos de curto prazo de uma variação repentina da
dívida pública, aplicados ao caso de Moçambique. Deve-se frisar que as causas
da crise não são somente da dívida externa ou das dívidas ocultas. Um conjunto
de factores convergiu para o efeito, nomeadamente a queda dos preços
internacionais de alguns produtos exportados por Moçambique, o confl ito e as
calamidades naturais. Sem ser menos importante, existiram erros fundamentais
e sistemáticos de política económica, debilitação do Estado e das instituições,
corrupção, aumento do número de pobres e das desigualdades sociais e
espaciais, um padrão de crescimento socialmente não inclusivo nem sustentável
em termos ambientais e de preservação dos recursos naturais.
Observa-se na Figura 1 que a dívida, agravada pelas ocultas, teve um impacto
importante porque estas provocaram a suspensão do fi nanciamento das
instituições internacionais ao Estado, particularmente do FMI. Sabe-se dos níveis
de dependência de Moçambique por recursos externos, sobretudo em relação
ao fi nanciamento ao Orçamento do Estado, à Balança de Pagamento (sobretudo
por via dos infl uxos de capitais - IDE, cooperação, donativos e fi nanciamento
do défi ce). Estes impactos foram traduzidos na redução repentina e de grande
volume dos infl uxos de capitais que se refl ectiram de imediato na depreciação
acelerada da taxa de câmbio. Esta fez subir a infl ação dos bens importados,
que constituem uma elevada percentagem dos bens consumidos no país,
principalmente nos centros urbanos.
Figura 1: Efeitos previsíveis - esquema teórico
1. João Mosca, Professor Catedrático. Director Executivo e
Investigador do OMR. Rabia Aiuba, fi nalista da licenciatura em
Economia e Monitora de Investigação no OMR.
Maputo | Julho | 2017
Nº2
Savana 04-08-2017 EVENTOS
4
CONJUNTURA ECONÓMICA DA CRISE DAS DIVIDAS OCULTAS
2 de 4 Maputo. Julho de 2017
2. Comportamento da economia após o
choque inicial da crise
Os quadros que se seguem procuram sintetizar os efeitos da dívida (conjugados
com os outros factores da crise). Deve-se considerar que a crise despoletou em
Abril de 2016, pelo que os valores desse ano devem ser ponderados por dois
períodos: o fim do ciclo de crescimento e aparente estabilidade, e o início da
desaceleração e dos outros efeitos na economia. São apresentadas as variáveis
geralmente mais usadas para este tipo de análise.
Quadro 1: Evolução de algumas variáveis nominais da economia
Indicador Unidade de
medida Fonte 2015 2016
Inflação (IPC) % Acumulada até
31/12 INE 10,55 23,67
IPC alimentos % Acumulada até
31/12 INE 17,55 34,85
Taxa de câmbio MZM/USD Vigente a 31/12 BdM 45,07 71,39
Taxa de juro % 1 ano BdM 18,78 22,37
Taxa de juro de referência % Cedência de
liquidez BdM 7,79 15,15
Do quadro acima, pode-se constatar uma rápida deterioração dos indicadores
inflação (medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - IPC), taxa de câmbio e
das taxas de juro. Tem importância a inflação dos preços de alimentos nos dois
anos. Esta inflação permite constatar que os preços dos alimentos subiram, em
dois anos, mais de 50%, o que não foi acompanhado pela subida paralela dos
salários, nem da produção de riqueza. A subida dos preços de alimentos afecta
principalmente os mais pobres devido ao peso destes gastos no orçamento
destas famílias. As taxas de juros também subiram de forma significativa, o que
se reflecte no nível do investimento e do consumo (considerando-se que cerca
de um terço do crédito à economia se destina ao consumo). O comportamento
destas variáveis confirma o esquema teórico da Figura 1.
Como reflexo das reacções das variáveis nominais, a economia real (aquela que
afecta directamente os cidadãos) reagiu do seguinte modo:
Quadro 2: Evolução de algumas variáveis da economia real
Indicador Unidade de
medida Fonte 2015 2016
Crescimento
do PIB
% valores
em USD P Corrente FMI -12,2 -23,8
Crescimento
do PIB
% valores
em MZM PC 2009 volume INE 6,6 3,9
Crédito à
economia 106 MZM PC 2015 BdM 232.128 233.608
Dívida pública 106 USD 2014 e 2015 MEF 11.498 14.535
Serviço da
dívida 106 MZM PC 2015 OGE 6.922.800 13.526.912
FCBF
(Investimento) 106 MZM PC 2009 INE 148.588 104.116
Exportações 106
USD P Cor 2014 e 2015 BdM 3.916,40 3.413,30
Importações 106
USD P Cor 2014 e 2015 BdM 7.951,70 7.576,60
Nota: P Cor (preços correntes); PC (preço constante).
Fonte: INE para inflação, para cálculo dos valores a preços constantes de 2015.
Sem esquecer que o “choque” da crise teve início em meados de 2016, pode-se
constatar:
t O crescimento da economia, calculado em dólares americanos, decaiu
em cerca de 24% em 2016, tendo-se já verificado, no ano anterior, um
crescimento negativo de cerca de 12%. Este dado é importante pois os
relatórios internacionais baseiam-se nesta informação. Pode-se assim
considerar que a riqueza nacional decresceu em cerca de um terço, em dois
anos.
t Em termo de meticais, o crescimento de 2016 foi de cerca de 4%. Uma
apreciação por trimestre, segundo os dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE), indica a desaceleração do crescimento no 2º semestre,
tendo alcançado, no último trimestre, um crescimento de 1,1%.
t O crédito à economia em 2016 manteve-se sensivelmente nos níveis
de 2015, o que pode ser justificado pelo efeito de inércia e de contratos
já efectuados antes de estalar a crise. Informações existentes indicam
a subida rápida e em grandes proporções do crédito malparado, bem
como o encerramento de muitos pequenos negócios (não existem dados
estatísticos deste indicador).
t A dívida pública, entre 2014 e 2015, subiu um pouco mais que três mil
milhões de USD, cerca de 26%, o que pode ser considerado muito elevado.
Este aumento faz parte da dinâmica do crescimento da dívida, sobretudo
depois de 2010.
t O serviço da dívida aumentou apenas em um ano, em perto de 1,95
vezes. Este incremento vertiginoso deve-se a pagamentos efectuados por
dívidas contraídas anteriormente (que não as ocultas) e pela subida das
taxas de juro (estas sim, uma consequência da crise das dívidas ocultas).
Recorda-se que em 2016 Moçambique passou a integrar o grupo de países
não cumpridores dos seus compromissos financeiros internacionais. Em
linguagem corrente, o país passou ser catalogado como “lixo” segundo as
agências internacionais de rating.
t Observa-se uma queda importante do investimento entre 2016 e 2015
(cerca de 30%).
t As exportações decresceram em cerca de 12,8%, o que revela a baixa
elasticidade da oferta (capacidade de reacção produtiva, por razões
diversas) do tecido económico virado para a exportação.
t As importações diminuíram em cerca 4,7%, o que constitui um
comportamento atípico. Realça-se, no entanto, que foram tomadas medidas
de redução das taxas de fronteira para as importações de bens essenciais de
consumo, o que pode ter atenuado os preços internos devido ao efeito da
depreciação da taxa de câmbio.
t Não existem informações actualizadas mas pode-se deduzir ter ocorrido
perda de emprego na economia. Sabe-se da perda de emprego na
construção civil, no turismo e restauração, entre outros sectores.
Segundo as instituições de avaliação especializadas, são conhecidas as perdas
de posições de Moçambique em 2016 em alguns dos principais indicadores
internacionais, como por exemplo no Índice de Competitividade Global, no
Ambiente de Negócios e no Índice de Liberdade Económica. Em relação ao IDH,
a última informação é referente a 2015, tendo havido uma ligeira melhoria no
índice (de 0,416 para 0,418, entre 2014 e 2015), tendo piorado um ponto no
ranking entre países.
Em resumo, as consequências são graves se forem quantificadas as perdas do
poder de compra e os correspondentes sacrifícios no consumo, a descida do
investimento e os possíveis efeitos sobre a produção nos próximo anos e sobre
o emprego, e na imagem internacional de Moçambique e suas consequências
junto dos credores, cooperação internacional e instituições financeiras.
3. Principais medidas de anticrise
Um conjunto de medidas iniciais anticrise foram tomadas pelo Banco de
Moçambique (BdM) e podem ser sintetizados nos seguintes aspectos: subida
das taxas de juro de referência; aumento das reservas dos bancos comerciais
junto do banco central; aumento do rácio de solvabilidade mínimo para 12%; e,
intervenção em dois bancos com dificuldades de solvabilidade e incapacidade
de capitalização. O objectivo principal do BdM é o de controlar e fazer baixar a
inflação. As críticas que surgiram foram essencialmente: o aumento do custo do
capital, contraindo o investimento e todo um conjunto de indicadores nominais
e reais da economia, sobretudo o crescimento e o emprego. A desaceleração do
crescimento reduz os impostos e as receitas fiscais (cujo ajustamento do défice
seria por via da redução dos gastos públicos em maior valor que a perda de
receitas dos impostos). Pode-se prever a redução do consumo das famílias.
Referiu-se que o Governo devia complementar o BdM com outras medidas, o
que não aconteceu. Referiram-se medidas de incentivo à produção, algum
direccionamento do crédito com taxas de juro bonificadas, reformas no Estado e
nas empresas públicas, melhoria no ambiente de negócios, entre outras.
Os gastos totais em 2016, segundo o orçamento rectificativo, reduziram-se em
cerca de 13% em relação a 2015. A agricultura e a educação foram bastante
penalizadas, em cerca de 35% e 24%, respectivamente. Os gastos em saúde
aumentaram em cerca de 6% e os gastos militares mantiveram-se similares a
2015. De notar que os gastos militares indicados, não incluem os investimentos
(pagamento de prestações e serviço da dívida) das três empresas envolvidas nas
dívidas ocultas.
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EVENTOS
5
CONJUNTURA ECONÓMICA DA CRISE DAS DIVIDAS OCULTAS
Maputo. Julho de 2017 3 de 4
O Estado é actualmente um grande devedor às empresas que lhe prestam
serviços e realizam obras de infra-estruturas, isto é, é um agente que acrescenta
mais instabilidade no tecido económico.
Quadro 3: OGE - Gastos totais, agricultura educação, saúde e militares, a preços constantes
de 2015.
Em 103 MZM
Indicador 2015 2016 (rectifi cativo)
Gastos públicos totais 226.425.059,34 196.276.839,98
Agricultura 7.290.258,04 4.704.535,69
Educação 16.326.196,31 12.411.711,95
Saúde 17.369.030,12 18.329.784,83
Militares 7.399.286,07 7.387.557,31
Fonte: OGE. INE para infl ação (para cálculo dos valores a preços constantes de 2015).
As principais empresas públicas com dívidas elevadas (por exemplo EDM, LAM,
Aeroportos de Moçambique, etc.) que estão em falência técnica, são inefi cientes
e prestam serviços de baixa qualidade e caros aos cidadãos, mantiveram-se,
como anteriormente. São empresas politizadas, praticando preços de monopólio
(LAM) ou preços políticos, isto é subsidiados (electricidade, águas, transportes
públicos urbanos, caminhos-de-ferro), cujo objectivo é a manutenção do custo
de vida dos grupos sociais mais pobres, sobretudo nas cidades. Existem vários
casos comprovados de corrupção, confl ito de interesses, promiscuidade política,
falta de transparência e má gestão, sem que existam medidas por parte do Estado
enquanto único ou principal accionista. Há uma clara política de protecção ao
consumidor urbano devido ao temor por manifestações de rua.
Para “recaptar” os recursos externos suspensos com o anúncio das dívidas ocultas,
realizaram-se diversas visitas, presidenciais e de outros níveis, ao exterior para
convencer os países cooperantes, os investidores e os credores que Moçambique
continuava sendo um país de grandes riquezas naturais, de oportunidades e que
oferecia facilidades ao investidor.
A partir de princípios de 2017, começam a verifi car-se algumas reacções
positivas, mesmo que parciais, sobretudo a apreciação do metical e a descida
dos preços dos bens importados e por uma maior oferta da produção nacional
(início da colheita da campanha agrícola 2016/2017). Consequentemente, a
infl ação será inferior em 2017, porém muito acima da subida dos salários e dos
rendimentos da maioria da população, isto é, o sacrifício no consumo continuará.
A apreciação do Metical deveu-se a razões de mercado (entrada de mais valias
de transacções entre investidores de gás, aumento dos preços e reactivação
das exportações de carvão e de alumínio, infl uxos de capital relacionados com
projectos da cooperação e redução da procura de divisas pelos importadores).
As exportações estão a aumentar (dados do 1º trimestre de 2017), não como
consequência das medidas internas, mas por uma conjuntura favorável de
subida dos preços do carvão e do alumínio e a manutenção dos preços baixos
do petróleo. Consequentemente, as reservas em divisas aumentarão.
Estas reacções podem dar a percepção de recuperação da economia. Porém,
podem constituir uma ilusão de curto prazo. Mudanças de conjuntura podem
alterar, em qualquer momento, essas evoluções positivas. Enquanto não forem
tomadas medidas que possibilitem um crescimento estável de longo prazo, o
ciclo da crise não está ultrapassado.
Em resumo, pode-se afi rmar que as medidas governativas tinham como
objectivo não alterar a “ordem” estabelecida por via do orçamento, a defesa do
poder (através dos subsídios e do reforço securitário e policial) e a diplomacia
para atenuar a redução dos infl uxos de capital como o principal meio de nãoagravamento
das crise económica e social. Nada de novo na economia política
e na política económica do Estado, com três pilares fundamentas: (1) defesa do
poder; (2) obtenção de rendas e capital externo e, (3) manutenção de um Estado
inefi ciente e sustentador de benefícios e de negócios para as elites.
Se as estatísticas ofi ciais referem a queda do investimento, dos gastos públicos,
das exportações, das importações e do consumo (dados do consumo não
apresentados nos quadros acima), não se pode compreender que o governo, o
BdM e as instituições fi nanceiras internacionais, apresentem um crescimento de
3,9% do PIB em 2016, comparativamente com o PIB de 2015. Algo não está certo.
4. Medidas necessárias para um
crescimento estável a longo prazo
O comportamento da economia a médio e longo prazo depende, principalmente,
de reformas estruturais da economia, no sistema político, nas instituições e nos
contextos internacionais. A estabilidade política e a paz social são absolutamente
necessárias. Deve-se contar sempre, e cada vez mais, com as mudanças climáticas
que serão mais frequentes e de maior intensidade.
É sabido acerca da evolução da economia através de ciclos de crescimento e de
desaceleração ou crise, conforme revela a fi gura abaixo. Os ciclos de períodos
mais longos possuem, em geral, as seguintes vantagens: (1) maiores períodos
de crescimento e menores tempos de crise; (2) menores amplitudes entre os
cumes dos períodos de crescimento e os pontos mais baixos das fases de crise;
(3) variações menos rápidas nas taxas de crescimento e de desaceleração da
economia. Em síntese, maior estabilidade da economia e confi ança dos cidadãos,
dos investidores e do tecido económico.
No caso de Moçambique, e reportando à crise das dívidas ocultas, pode-se
constatar que se verifi cou uma crise de mudança repentina da tendência da
economia, grande amplitude na variação das taxas de crescimento e de outras
variáveis da economia. Não é possível referir a duração da presente crise. Sair da
crise de forma durável signifi ca crescer pelo menos acima da taxa de crescimento
demográfi co, criar emprego líquido, reduzir os défi ces externos e públicos e as
respectivas dívidas, reduzir a infl ação para menos de 3%, diversifi car a economia,
iniciar um dinâmica de redução da pobreza e das desigualdades sociais e
territoriais, diminuir a dependência externa e dos factores de vulnerabilidade da
economia, incluindo em relação às mudanças climáticas.
Figura 2: Ciclos económicos
Considerando a complexidade deste ponto, apenas se apresentam, de forma
genérica, aquelas que podem ser as medidas que contribuam para a estabilidade
a longo prazo. Referem-se alguns aspectos não económicos, mas com grande
infl uência sobre a economia.
Primeiro, a paz assente na confi ança dentro do sistema do poder e deste com
os cidadãos é a condição sem a qual não é possível haver desenvolvimento. A
paz deveria ser a primeira grande responsabilidade da governação (Frelimo) e
da Renamo.
Segundo, as reformas do sistema político com vista a uma mudança efectiva de
regime é outra medida sem a qual não se poderá esperar crescimento estável a
longo prazo. Isso signifi ca principalmente:
t Redefi nir o papel do Estado no actual e futuro contexto histórico, regional
e internacional, isto é, quais são as funções económicas e sociais para a
promoção do desenvolvimento competitivo e o bem-estar dos cidadãos.
t Descentralizar poderes de decisão para o nível provincial e capacitar
tecnicamente as instituições executivas a nível distrital.
t Democratizar as instituições públicas e maior abertura para alargamento
dos espaços de liberdades e garantias dos cidadãos.
t Construir o Estado de direito, com transparência, separação dos poderes e
delimitação entre os interesses públicos e privados e entre a política e os
negócios.
t Modernizar o aparelho de Estado tornando-o mais “leve”, efi ciente e efi caz,
com reforço das funções de regulação e fi scalização.
t Melhorar e reforçar o sistema judiciário despolitizando-o, para que seja mais
célere, com actualização da legislação aos novos desafi os da sociedade
(tráfi cos, novos tipos de crimes, etc.) e da economia.
t Aumentar as medidas de anticorrupção, aplicar a lei de acesso à informação
e estabelecer mecanismos de controlo democrático das instituições.
t Reformar o sector público empresarial, para o tornar competitivo, com
gestão transparente e sem confl itos de interesses, nem politização das
empresas para assegurar a prestação de melhores e mais baratos serviços
aos cidadãos.
Terceiro, são imprescindíveis mudanças fundamentais de política económica,
principalmente:
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CONJUNTURA ECONÓMICA DA CRISE DAS DIVIDAS OCULTAS
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t Diversifi car a economia priorizando a agricultura assente no sector familiar
e na produção alimentar e de outros bens para o mercado interno, sempre
que possível com transformação dos produtos primários (agro-indústria) e
a indústria a montante da produção primária.
t Incentivar o investimento para os sectores acima mencionados e estabelecer
contratos que assegurem, necessariamente, valores acrescentados locais,
responsabilidade social corporativa, aplicação de fi scalidade semelhante à
prática de outros países considerando a importância da competitividade
fi scal.
t Concentrar o investimento público nas infra-estruturas que articulem o
território entre as zonas produtoras e os principais centros consumidores,
em centros de saúde, em escolas, em regadios e na cabotagem marítima.
t Melhorar o ambiente de negócios e aumentar os incentivos e apoios para as
pequenas e médias empresas e a criação de emprego.
t Incentivar a poupança interna e regular o crédito para que seja absorvido
maioritariamente pelos sectores prioritários (agricultura, comercialização,
agro-indústria e de bebidas, têxteis e confecções e indústria de materiais de
construção civil).
t Redefi nir a política alfandegária e de protecção aos sectores referidos nos
bullets anteriores.
t Legislar os limites de endividamento público.
Os contextos internacionais podem provocar crises nas economias vulneráveis
aos choques externos. O grau de vulnerabilidade depende de vários factores,
principalmente: dependência de capital externo; dívida externa e pública; défi ce
externo e cobertura da Balança de Pagamentos (em que medida as exportações
cobrem as importações); nível de abertura da economia; e, diversifi cação da
economia e do comércio externo. Para todos os indicadores mencionados
Moçambique possui um elevado nível vulnerabilidade.
As reacções da economia a medidas de política económica derivam de múltiplos
factores. Por essa razão, é importante a monitorização sistemática e actualizada
da evolução conjuntural da economia.
A implementação de algumas destas medidas implica, necessariamente,
mudanças fundamentais na política económica, no modo de fazer política e
nas instituições. Essas medidas afectariam os interesses económicos da elite
política e das actuais dinâmicas de acumulação e de confi guração de grupos
de interesses económicos. Estes aspectos levantam a hipótese de se reforçarem
os obstáculos institucionais e dos poderes com o objectivo de inviabilizar o
modelo de desenvolvimento desejado já referido anteriormente. Isto porque, as
reformas preconizadas afectariam os interesses económicos e os (des)equilíbrios
dos poderes instituídos.
5. Resumo
As dívidas ocultas foram a razão próxima da actual crise da economia
moçambicana, que possui muitos outros factores. O choque desta crise, a ser
medido pelos principais indicadores macroeconómicos entre 2015 e 2016, foi
muito elevado e com efeitos gravosos para a grande maioria da população,
sobretudo dos mais pobres. As dívidas ocultas introduzem elementos extra
económicos de legalidade, legitimidade, de funcionamento das instituições e de
prestígio do actual sistema político e do próprio país.
As primeiras medidas anticrise foram principalmente de política monetária.
O Governo não assumiu opções de política orçamental/fi scal, de reformas
institucionais e sobre a economia real, que criassem sinergias, potenciando os
efeitos das medidas do Banco de Moçambique. A paz é condição sem a qual
será difícil a recuperação sustentável da crise. É importante que a sociedade e
os sectores mais moderados da governação estejam atentos à intensifi cação das
actividades e acções do aparelho ideológico e repressivo do poder. A governação
deve demonstrar humildade democrática e reconhecer o que de errado
aconteceu em política económica, na gestão e na transparência da governação,
na gestão das expectativas e no comprometimento por um desenvolvimento
que benefi cie os cidadãos.
A actual crise possui complexas articulações e alianças internas e externas. A
recuperação da confi ança dos cidadãos, da cooperação e das instituições e
organizações internacionais, é fundamental para que exista a retoma dos
infl uxos de capitais externos, absolutamente indispensáveis à recuperação da
crise e para que exista um clima de paz política e social.
As primeiras reacções às decisões anticrise começam a produzir efeitos positivos
sobre a economia, mesmo que parciais, particularmente a apreciação do Metical
e a redução dos preços dos bens importados, com particular importância dos
preços ao consumidor. Deve-se ter consciência que ainda não existiram medidas
sobre a maioria e mais importantes causas da crise. Se isso não acontecer, é
previsível que a saída da crise seja mais lenta e parcial e que as dinâmicas que
justifi cam a actual crise se aprofundem, gerando, mais cedo ou mais tarde, uma
nova crise. Entretanto, como anteriormente, corre-se o risco de existir uma ilusão
de recuperação da crise.
A sociedade civil reivindica a inconstitucionalidade da inclusão das dívidas na
lei orçamental, reclama por informação sobre o destino do dinheiro e exige a
responsabilização dos actores (executores e mandantes). Seria importante
conhecer, de forma aprofundada, os efeitos sobre a economia e a sociedade,
tanto no prazo imediato (período do choque), como a longo prazo. Só assim
a sociedade civil terá conhecimento pleno das consequências das medidas
ilegais/inconstitucionais, da falta de transparência e da eventual corrupção
multimilionária de alto nível. Esse conhecimento será necessário para que a
sociedade civil conheça a evolução da economia de forma actualizada, o que
reforçará as suas acções de diálogo, advocacia e de natureza reivindicativa.
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EVENTOS
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87
A
Secretária-geral adjunta da
Organização das Nações
Unidas (ONU) e Directora
Executiva da ONU Mulheres,
Phumzile Mlambo Nguka,
disse numa palestra realizada essa
terça-feira, no Instituto Superior
de Relações Internacionais (ISRI),
que para que todos os Objectivos
do Desenvolvimento Sustentável
(ODS) sejam alcançados com sucesso,
é necessária a erradicação da
desigualdade de género.
Nguka defende que a principal estratégia
para acabar com a desigualdade
de género é colocando mulheres em
posições de tomada de decisão sobre
as nações.
Actualmente, cerca de 20 mulheres,
no mundo inteiro, são chefes de Estado.
Para Nguka, esse número não
é representativo, considerando que
esta camada ainda não está a ser nomeada
nos níveis desejáveis e, para
que tal aconteça, os dirigentes dos
países devem colocar essa questão
nas suas agendas.
“Os deputados e Presidentes das
Assembleias da República devem
esgrimir a questão da igualdade de
género e garantir que as leis criadas
em favor da mulher e contra a desigualdade
sejam implementadas”,
disse.
Nguka exortou também os governos
a melhorarem a qualidade da
educação das mulheres para que elas
ocupem posições importantes no
país não apenas para preencher um
número, mas por mérito.
Uma outra estratégia apontada para
a luta contra a desigualdade género é
o envolvimento do homem de forma
activa no assunto para que este perceba
que a questão da desigualdade
de género não deve ser apenas preocupação
das mulheres, pois é um mal
que prejudica a todos.
É nesse sentido que a ONU criou a
iniciativa Ele Por Ela, um projecto
que existe há três anos e que será
implementada no país em Setembro.
Sobre acções contra a desigualdade
de género no país, em particular,
Nguka manteve um encontro com
a Presidente da Assembleia da ReAcabar
com desigualdade de género para alcance de todos ODS
pública, Verónica Macamo, e diz
terem entrado em acordo de cooperação
no sentido de elaborarem uma
legislação contra a discriminação
da mulher, sobretudo da zona rural.
“Gostaria de ver a mulher a ter
benefícios do seu esforço no sector
agrícola porque as mulheres figuram,
nesse sector, entre as pessoas mais
negligenciadas, sendo que são as que
mais participam no processo de produção,”
acrescentou.
Em relação aos jovens, considera que
o investimento nesta classe não é
proporcional às suas necessidades e,
para ultrapassar essa questão, o país
deve trocar experiências com outras
nações com as quais pode aprender,
porque os jovens têm grande papel
na erradicação da descriminação e
violência contra mulher.
A directora-executiva da ONU Mulheres
falou também da necessidade
de se manter a paz no país e reconheceu
o facto deste não ser o maior
desafio no momento. Exortou ainda
a todos para se sentirem responsá-
veis pela efectivação da mesma.
“É preciso aproveitar a ausência de
guerra na África Austral para implementar
com sucesso os ODS e os
países devem adaptar as suas políticas
locais para alcançar esses objectivos.”
Nguka diz que seu desejo é que 2030
seja um ano em que já não haja desigualdade
nem casamentos prematuros
e que se tenha acabado com todas
as legislações que descriminam
a mulher.
Para além da palestra proferida no
ISRI, Nguka também manteve um
encontro com Organizações da Sociedade
Civil.
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