O Largo das Escolas, perto da Praça da Independência encheu-se de
amarelo para receber Abel Chivukuvuku, o líder da Convergência Ampla de
Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE).
O Largo das Escolas, perto da Praça da Independência encheu-se de amarelo para receber Abel Chivukuvuku, o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), uma aglomeração de seis formações políticas que obteve 6% nas eleições de 2012.
Patrícia Beatriz veio do bairro do Cazenga com a irmã e acredita que Chivukuvuku pode fazer a diferena caso ganhe as eleições.
“Acho que ele é um bom líder, merece. Para nós que vivemos nos bairros, nos ghettos, haverá mais escolas, posto de saúde, água para todos e energia”, diz a jovem de 22 anos, vestida a rigor com uma t-shirt amarela com a cara do candidato.
Para Patrícia, que se estreia a votar, o MPLA já não é solução, com ou sem o histórico José Eduardo dos Santos.
“O MPLA? Talvez no princípio [pudesse fazer o que é preciso], mas depois vai continuar tudo o que já era”, afirma.
Um pouco à frente, Manuel Adão Pedro – de 22 anos – aproveita o recinto do comício para “vender picolé” (gelados).
“Sou da província do Cuanza Norte e é a primeira vez que estou em Luanda. O meu pai morreu, a minha mãe morreu. A família vendeu a casa dos meus pais e eu estou na rua. Saí da província e vim para Luanda para poder sustentar o meu irmão”, disse à reportagem da Lusa.
Manuel é pouco claro quanto à opção por Chivukuvuku, mas alinha duas ideias: “Queremos ganhar ao MPLA, queremos emprego e alegria”.
“Se o José Eduardo continuasse o povo ia sofrer. Chivukuvuku merece, porque vai ajudar muita gente, tirar muita gente do sofrimento. Como? Trazendo emprego”, conclui.
Manuel vende cada gelado a 50 kwanzas (25 cêntimos). Por dia fatura 3.350 kwanzas (16,5 euros) e leva para casa 650 kwanzas (3,3 euros).
“Isso não dá para viver. Faço umas outras coisas para me poder remediar”, diz a rir.
São raros os apoiantes no local do comício com idades acima dos 50 anos. Muitos dos mais velhos fazem parte da organização.
Não é o caso de António Kafai, um mecânico de 52 anos aqui de Luanda. Ao contrário dos jovens, aos saltos com a música que sai em alto volume das colunas, António está abrigado do sol, debaixo de uma árvore ao lado do palanque.
“Votei nas duas primeiras eleições (1992 e 2008) no MPLA e depois na CASA-CE. Quando aqui não dá mantimento, você vai tentar noutro lado. Ver se dá certo”, conta à Lusa.
O MPLA foi buscá-lo ainda novo à escola. “Combati contra a UNITA na guerra civil, estive mobilizado durante dois anos nas FAPLA [braço armado do MPLA]”, recorda António Kafai, acrescentando que depois começou a ganhar a vida como mecânico.
“Um colega da empresa [onde trabalhava] foi assasinado por bandidos e a minha mulher disse-me ‘um dia você vai perder a vida como o outro’ e eu saí”, diz António. Agora trabalha por conta própria.
Sobre a “saída” de José Eduardo dos Santos do cargo de Presidente de Angola (depois de 38 anos no poder) António duvida.
“Eu não sei se o José Eduardo saiu ou não, ele continua como presidente do partido”, ri-se o mecânico.
“O primeiro é o primeiro. Ele ficou com uma parcela e aquele homem que vai entrar [João Lourenço] é um novo e tem de cumprir a voz daquele que encontrou. Antes de mais nada tem de ser orientado”, adianta o veterano.
A campanha eleitoral para a votação de 23 de agosto em Angola fecha na segunda-feira e os partidos fazem as últimas ações de massas para convencer os indecisos.
Antigo dirigente da UNITA antes de se tornar um dos co-fundadores da CASA-CE, João Narciso Teca faz parte da lista de candidatos a deputado e acredita que o seu partido pode sair vencedor das eleições de quarta-feira.
“Se as eleições forem justas, livres e transparentes ele [Abel Chivukuvuku] ganha, a CASA-CE ganha”, diz, confiante.