“A História mostra-nos que um conflito se alastra ao longo do tempo se não há uma resposta pujante. Há aqui uma tentativa de minimizar estes ataques, mas estamos diante de um problema grave e que resulta, em parte, de uma questão estrutural”, disse à Lusa Elcidio Macuacua.
Segundo o historiador moçambicano, a falta de uma resposta incisiva por parte das autoridades moçambicanas para os ataques protagonizados por grupos até agora desconhecidos em pontos recônditos de Cabo Delgado mostra que o país é ainda vulnerável, principalmente nas zonas costeiras.
“Não se justifica que até hoje não se consiga dar uma resposta efetiva para este problema. Pelo menos na identificação das pessoas, suas causa e motivações”, afirmou.
Para Elcidio Macuacua, uma das principais hipóteses para explicar os ataques armados em Cabo Delgado é a disparidade económica que as comunidades atravessam, na medida em que há segmentos da sociedade que se sentem excluídos naquelas comunidades.
“Com a descoberta de recursos minerais, a província de Cabo Delgado está a atravessar um novo período. Mas isso parece não beneficiar a todos”, observou, aludindo aos benefícios da exploração de gás natural por multinacionais na região.
Além de um “posicionamento mais pujante por parte das autoridades”, Elcidio Macuacua entende que o envolvimento de outros atores sociais para a resolução deste problema é fundamental, destacando o papel das instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil.
“É verdade que gradualmente surgem pesquisas de entidades a tentar dar uma resposta para este problema, mas falta um pouco mais. É preciso que as universidades e outras instituições de pesquisa deem sua contribuição com trabalhos de base para que se perceba a real dimensão do problema”, afirmou.
“Todos nós como moçambicanos somos chamados a contribuir. São vidas que se perdem e isto quer dizer que é um problema de todo o país”, acrescentou.
Na semana passada, grupos desconhecidos atacaram duas aldeias em Cabo Delgado, tendo deixado, além de várias casas destruídas, quatro vítimas mortais e dois feridos.
Desde há um ano, segundo números oficiais, já terão morrido pelo menos 100 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança.
A onda de violência em Cabo Delgado (2.000 quilómetros a norte de Maputo, no extremo norte de Moçambique, junto à Tanzânia) eclodiu após um ataque armado a postos de polícia de Mocímboa da Praia, em outubro de 2017.
Na altura, dois agentes foram abatidos por um grupo com origem numa mesquita local que pregava a insurgência contra o Estado e cujos hábitos motivavam atritos com os residentes desde há dois anos.
Depois de Mocímboa da Praia, têm ocorrido vários ataques que se suspeita estarem relacionados com o mesmo tipo de grupo, sempre longe do asfalto e fora da zona de implantação da fábrica e outras infraestruturas das empresas petrolíferas que vão explorar gás natural, na península de Afungi, distrito de Palma.