A petrolífera estatal Sonangol não vai distribuir os dividendos do exercício de 2017 devido aos prejuízos acumulados de anos anteriores, que ascendiam, no final do ano passado, a mais de 2.100 milhões de euros. Os números indicam que, afinal, Isabel dos Santos não é, ou pelo menos não parece ser, um dos marimbondos malignos (ou uma espécie de fantasma de Savimbi) com que foi rotulada pelos “cristãos-novos” do MPLA.

Segundo o Relatório e Contas da empresa referente a 2017 – só validado este mês pelo accionista Estado -, no último ano da gestão de Isabel dos Santos na petrolífera, a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) registou um resultado operacional positivo de 197.538 milhões de kwanzas (1.060 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017).
Contudo, lê-se igualmente no documento, a Sonangol, ao abrigo Lei das Sociedades Comerciais, “não poderá efectuar a distribuição dos resultados, até à cobertura integral dos prejuízos acumulados dos exercícios anteriores”.
Esses prejuízos acumulados ascendiam, no final do ano passado, segundo o documento, a 398.178 milhões de kwanzas (2.160 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017).
“Propomos que o Resultado Líquido do Exercício seja integralmente aplicado para a cobertura dos prejuízos de exercícios anteriores, por serem necessários para o efeito. A presente proposta de aplicação de resultados, tem subjacente a necessidade de garantir a sustentabilidade da empresa, de modo a continuarmos a implementação da estratégia de crescimento e solidez definida no Programa de Regeneração da Sonangol”, lê-se na proposta de aplicação dos resultados do relatório e contas da Administração da petrolífera, que desde Novembro de 2017 é liderada por Carlos Saturnino.
Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, produto que representa mais de 95% das exportações do país.
Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, considerada pelo “novos” governantes como uma espécie maligna da marimbondo ou, alguns casos uma espécie de fantasma de Savimbi, liderou a Sonangol entre Junho de 2016 e Novembro de 2017, tendo sido depois exonerada das funções pelo novo chefe de Estado, João Lourenço.
Globalmente, o resultado líquido do grupo Sonangol em 2017 foi de 27.250 milhões de kwanzas (147 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017), correspondente a um aumento de 107% face a 2016, “reflectindo os ganhos da estratégia adoptada pela OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]”, refere a Administração da petrolífera, sobre o acordo envolvendo os países produtores para o corte na produção.
As vendas da Sonangol em 2017 – essencialmente petróleo bruto – aumentaram para 19%, face ao ano anterior, para 2,916 biliões (milhões de milhões) de kwanzas (15.700 milhões de euros, à taxa de câmbio de 31 de Dezembro de 2017).
O custo com o pessoal desceu para 152.952 milhões de kwanzas (826 milhões de euros), fruto da quebra de 1,46% no total de trabalhadores do grupo – que conta com cerca de 20 subsidiárias -, para 8.099 colaboradores efectivos no final de 2017.

Isabel dos Santos tinha razão

Porque é que, no dia 28 de Fevereiro, Carlos Saturnino diabolizou Isabel dos Santos? A ex-PCA da Sonangol disse na altura que as afirmações do seu sucessor foram “nada mais que um circo, uma encenação!”. E explicou que “procurar buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolher fazer acusações ao anterior Conselho de Administração” não passava de “uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol”, lembrando: “E seguramente não foi este Conselho de Administração a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!”
Recorde-se que, em 2015, após a apresentação por Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresarial”, o Executivo angolano tomou conhecimento da gravidade do problema da Sonangol.
“A Sonangol, que supostamente deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube-se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária”, disse Isabel dos Santos, explicando que, “em consequência deste facto, o Executivo angolano tomou a decisão de criar a Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos, e de contratar um grupo de consultores externos”.
“A Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos criada por Decreto Presidencial 86/15 Data 26.10.2015, foi composta por: Ministro dos Petróleos, Ministro das Finanças, Governador do BNA, PCA da Sonangol, Ministro da Casa Civil da Presidência da República”, recorda Isabel dos Santos.
A arrogância pessoal de Carlos Saturnino, que mais pareceu um acerto pessoal de contas, pôs em causa as decisões tomadas pelo governo angolano em 2015 e 2016, pôs em causa a presença de consultores, pôs suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, negando – ou branqueando – o o facto de que a Sonangol estava falida.
“Pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestruturar a Sonangol, e tentar manipular a opinião pública, para que se pense que a Administração anterior trouxe os consultores por falta de competência ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabilidades da falência da Sonangol”, afirmou Isabel dos Santos.
E acrescentou: “Esta manipulação dos factos assemelha se a um autêntico revisionismo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol”.
Indesmentível parece ser que o resultado da gestão de Isabel dos Santos até 15 de Novembro de 2017, resultou num aumentou de lucros da Sonangol em 177% e que a divida foi reduzida em 50%.
Convicta do seu trabalho, Isabel dos Santos disse que “as tentativas de Carlos Saturnino de reescrever a história são consequência, no meu entender, de um retorno em força da cultura de irresponsabilidade e desonestidade que afundaram a Sonagol em primeiro lugar”.
Goste-se ou não de Isabel dos Santos, a verdade é que – como ela própria afirmou – “o grau de agressividade e as campanhas difamatórias reproduzidas, e em perfeita coordenação com os órgãos de imprensa da oposição, e com as oficinas de manipulação das redes socias, demostram que há um verdadeiro nervosismo em alguns meios com interesses financeiros, que durante anos aproveitaram e construíram fortunas ilegítimas à custa da Sonangol, e agora tudo fazem para que o escândalo da minha acusação difamatória, distraia a opinião pública de ver os verdadeiros responsáveis”.
Importa ainda realçar, não esquecer, que – segundo Isabel dos Santos – “esta campanha generalizada e politizada contra mim, faz-me acreditar que estão de retorno os interesses das pessoas que enriqueceram bilhões à custa da Sonangol. São estes, que hoje fomentam e agitam a opinião pública de forma a poder retomar os seus velhos hábitos”.
Por fim, disse que “o problema da Sonangol não é, e nunca foi Isabel dos Santos, mas sim a irresponsabilidade da gestão, e das entidades que beneficiarão de contratos leoninos e ganharam milhões, e hoje esperam poder continuar a gozar e viver desta prevaricação.”
Folha 8 com Lusa