terça-feira, 20 de novembro de 2018

Silvinho regressou ao “padherine”


Silvinho regressou ao “padherine”
Ontem, o Silvinho regressou às origens e fez finalmente as pazes. Na companhia do Abdul Naguibo, Silvinho esteve no “Padherine”, no arreal profundo de “Satháre”, o bairro mais iconográfico de Inhambane (só competindo nessas manias de quem mais deu de cultural à cidade, com o Chalambe), oferecendo livros às crianças da escola onde ele frequentou o ensino primário. E fez bem! Um bravo mas desinteressado assomo de filantropia. Na peça da TVM, vi a professora Maria Ofélia, já velhinha, exultando de alegria e comoção. Dois seus antigos alunos de primária regressavam à escola onde levaram nas mãos as incontornáveis reguadas associadas ao aprendizado da tabuada e da gramática.
A Maria Ofélia tinha a fama de professora ríspida, mas quem passou por aqueles critérios do ensino, desse outrora não muito distante, não guarda na memória as mágoas por um "bullyng" que, na verdade, nunca foi. Hoje seria violência com direito a severa sanção moral. Mas os métodos de antes tinham sucesso. A escola era uma verdadeira base de socialização primária. Silvinho e Naguibo formaram suas bases mentais nesse “padherine”, como era conhecida a escola. E hoje são o que são na vida pública moçambicana. Silvinho é o Roque Silva, o actual Secretário Geral da Frelimo, o mais prolífico desde Manuel Tomé. Abdul Naguibo é o atual PCA da RM, filho do velho Nhalenguana (ou, por outro dizer, o irmão do Carimo Nhalenguana). “Padherine” é uma corruptela bitongueira de “nos padres”. A escola, hoje denominada 1 de Maio, foi aberta pela igreja católica ainda no regime colonial. Com uma minúscula capela e 4 salas de aulas, juntava as missões de evangelizar e educar. Chamaram-lhe Escola Paroquial de Santo António de Santarém.
Silvinho e Naguibo são de uma geração que fez o ensino primário entre o final do regime colonial e os primeiros anos da independência. Do “padherine” devem guardar memórias de uns tempos onde naqueles arrabaldes se jogava à bolas de trapinhos e, nos intervalos, se subíamos cajueiros para sacudir os ramos grávidos da fruta mais fecunda. Ontem, o dois poisaram novamente nesse lugar de memórias indeléveis.
Hoje a escola tem outras crianças estudando. Quem sabe, na forja outros quadros deste país sairão daquele minúsculo lugar. A ideia de fazer as pazes, no caso do Silvinho, é que ele se abalou ainda nos anos 80 para Gaza. Foi lá onde começou como funcionário do “Apoio e Controlo”, onde se fez o político sagaz que ele é. O canino defensor da Frelimo. Afável mas temido. Um buldózer que mete o partido em tudo o que faz. Maquiavélico com medida.
Recordo-me quando ele ia de Xai Xai de férias à Inhambane. Para nós os mais novos, incluindo seus irmãos e vizinhos da minha idade, ele parecia um forasteiro. Desses que se descasam das origens. Nem punha momentaneamente o rabo naquelas esteiras alinhadas defronte da casa do Tio Maciel (o pai do Jaco Maria e do Dua), onde passávamos tardes jogando Monopólio e ouvindo os Supertramp (Free as a Bird) num “duplo deck” Sony. O Silvinho se tornara num estrangeiro. Tendo feito carreira em Gaza, calcorreando toda a província como administrador, ele encarnava o espírito machangana: um enorme “machão” no tratamento da oposição.
No regresso para Satháre (outra corruptela bitongueira, agora de Santarém, o nome colonial do bairro, que hoje se chama Liberdade), ele faz as pazes com as aragens poeirentas da zona. O sorriso da Maria Ofélia é como que uma aprovação desse regresso. Silvinho foi recebido como um filho que nunca partiu. Seu coração sempre esteve na terra. O Naguibo também. Desenganem-se os zambezianos se pensam que ele é um muanachaubo kankala buruto. Nada! É também bintogueiro de gema, da mais pura verve intelectual manhambana, que cresceu entre os coqueiros verdes da sura e os sabores do mihili frito com arroz de coco.
Comentários
Tomo Valeriano Uma crônica e tanto. Gostei do seu mapa cognitivo Mosse. Falas com conhecimento profundo da sua terra. Fantástico
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Eusebio Jose Maria Ofélia, lá para os anos 94 passei pelas mãos dela,gaLgava todos dias da "Columbia" chamlabe e tsopelava os tratores de guipolisana para chegar rápido a escola de tanto medo da vara que Madava chefe trazer, o bloco era de 5 salas Marcelo Mosse e duas varandas uma frontal e outra traseira, hum saudade dos tempos...
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Nordine Mussagy Mussagy Outrora, Escola paroquial Santo António de Santarém, hoje escola primária 1 de Maio.
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Nelio Nhampossa Maria Ofélia, minha professora de 1 e 2 classe na 1 de Maio em 1996 e 1997 respectivamente, reformada desde lá!
Quem é de Santarém sabe o que é milhile frito!
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Guilherme Mussane Afinal, tu!?... Exclama perguntando o Tio Nimi ao se aperceber do papel do Nanga entre os Manis, na peçaa "A Revolta da Casa dos Ídolos", de Pepetela.
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Carla Florinda Pires Chamane 😂😂😂😂😂😂
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Sonito Wana Guiamba Texto muito interessante. Estudei na 1 de Maio, não sabia que antes chamava-se padherine.
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Emmanuel Jovo Muito bom...
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Carla Florinda Pires Chamane Morri com essa do "padherine". Enfim coisas de santarém .😍
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Vasquinho King Eu gosto de ouvir Abdul Naguib e tive o prazer de conviver com Roque Silva sao excelentes profissionais parabens
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Manjate Custodio Maria Ofélia minha colega por um semestre em 1992 na altura o director era David Rafael. Professora muito rigida e disciplinadora e que tenha muita saúde e longa vida.
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Solomone Manyike Parabéns ! Exemplo a seguir! "Movimento - o regresso"
Parabéns!
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Gito Katawala Ahh, eu estava quase convencido que o Silvinho era mesmo de Gaza. Agora entendo... Hehehe
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Ahmad Mussagy Mussagy 76,77,78.....Maria Ofélia...." Tepo yathu"💟💟💟💟💟
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Castro Maciel Bonito, Parabéns a iniciativa é justo..
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Nelson Mungoy Grandes quadros, sou admirador do Naguib como cidadão, recordo me do elogio que fez ao Rapper Azagaia, ao afirmar que para ele se existe um músico jovem é este pk não fazia sentido cantar se Terezinhas com o país caminhando para o abismo.
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Victoria Mbaila Wa gayaaaaaaa céu, wa gaya Santarém
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Responder2 dia(s)Editado
Gito Cumbe Mosse ,so me falta enxugar as
lagrimas quando fala de satarém onde nasci e cresci comendo esse *mihili,mithifa,dzithoghoma ,dziphatha com farinha rale* usando o barco de Luis Mbambia com malta Regal mabanana,com todo orgulho MANHAMBANA 100%
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Mumino Abdul Remane Momito Monopólio,Supertramp e Philip Flaming, kkkkkkk!
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Gervasioa Absolone Chambo Ouvir os mais velhos a contar sobre a 
prof.a M. Ofélia e escola 1 de maio é excitante. Frequentei de 90 a 97. Passei por muitas mãos. A que me fez bom aluno foi a de prof. Júlio Mudanise meu mentor
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Julião João Cumbane Só tu para contar com encanto..., Marcelo Mosse!
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Tininha Samuel Mbaila Guianana gya Satarré...
Mbaila nha lissine...
O que esperar?
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Gito Cumbe Gervasio conheces Gito cumbe(Guibucuane)
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Sonito Wana Guiamba Esta cronica, fez-me voltar a 1 de Maio.
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Francey Zeúte Grande Marcelo Mosse, quando pousa o pulso para dedilhar fa-lo com uma mestria invejável. Gosto de passar por cá e me deliciar com esta belíssima escrita. Os parabéns. Vi a matéria no Noticias de hoje.
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Sidio Macuacua Ya Ya Ya desta vez superou.... GOSTO
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