“É preciso evitar mais ações imprudentes das autoridades ucranianas”
27.11.2018 às 10h11
Na sequência da aprovação, pelo Parlamento ucraniano, da lei marcial, que dará poderes extraordinários ao Governo da Ucrânia, o Presidente russo conversou com Angela Merkel e pediu-lhe ajuda
Vladimir Putin manifestou-se “extremamente preocupado” com a decisão da Ucrânia de impor a lei marcial, aprovada pelo Parlamento ucraniano na sequência de um ataque russo a três embarcações militares, ocorrido no domingo passado.
Numa conversa telefónica com Angela Merkel, o Presidente russo também disse esperar que a chanceler alemã possa intervir e assumir as rédeas do assunto do lado de Kiev, e que Berlim possa “influenciar as autoridades ucranianas no sentido de evitar que cometam mais ações imprudentes”, diz o comunicado do Kremlin, no qual a conversa entre os líderes da Alemanha e da Rússia aparece transcrita.
O ataque aos dois navios da Marinha ucraniana e a um rebocador (“Berdyansk”, “Nikopol” e “Yany Kapu”) deu-se no domingo. Segundo Moscovo, as referidas embarcações violaram a fronteira com a Rússia e cometeram “ações ilegais nas águas territoriais russas”. Os serviços de segurança da Rússia (FSB, antiga KGB) deram conta de três feridos que já terão recebido tratamento médico e cujas vidas “não estão em risco”. Também fizeram saber que os referidos navios receberam ordens para abandonar a zona mas que se terão recusado a fazê-lo, efetuando uma “manobra perigosa”.
Já a Ucrânia, por sua vez, denunciou “um ato agressivo da Rússia visando uma escalada premeditada” nesta região e afirmou que estavam, no momento do incidente, 23 ucranianos a bordo e que seis deles ficaram feridos, um deles em estado grave. Também referiu que houve um aviso prévio sobre a deslocação dos navios, informação que Moscovo, no entanto, nega.
Depois do ataque, os navios prosseguiram caminho mas foram bloqueados por um petroleiro ao aproximarem-se da chamada Ponte da Crimeia ou Ponte de Kerch, que na verdade consiste em duas pontes paralelas construídas pela Rússia.
Na sequência do ocorrido, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, assinou na segunda-feira um decreto para impor a lei marcial em regiões que fazem fronteira com a Rússia, o qual viria a ser aprovado pelo Parlamento ucraniano no mesmo dia. A medida é aplicada a partir desta quarta-feira, 28 de novembro, e só será levantada ao fim de 30 dias. O Governo ucraniano adquire, com isto, uma série de poderes que não estavam ao seu alcance até agora, nomeadamente o de restringir manifestações públicas, regular os meios de comunicação, suspender eleições e obrigar os cidadãos habilitados para tal a realizar tarefas consideradas “socialmente necessárias”, como trabalhar em bases militares.
Também devido ao incidente, o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se de emergência na segunda-feira, a pedido da Ucrânia, e os embaixadores de ambos os países acusaram-se mutuamente de terem criado esta situação de conflito para desviar a atenção dos respetivos povos da fraca popularidade interna tanto de Poroshenko, como de Vladimir Putin.
Nikki Haley, embaixadora dos EUA na ONU, considerou a captura dos navios ucranianos pela Rússia “ilegal” e afirmou que uma “relação normal” entre os EUA e Moscovo se tornou “impossível”. Também pediu à Rússia que liberte os navios ucranianos e as suas tripulações, pedido que a Ucrânia já fizera. “Pedimos à Rússia que respeite suas obrigações internacionais e não se oponha ou inviabilize o trânsito marítimo ucraniano no estreito de Kerch”, afirmou a embaixadora norte-americana. Mais tarde, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, haveria de acusar Moscovo de “provocar uma escalada perigosa da tensão” e de ter “violado as leis internacionais”, apelando, também, à libertação dos navios. “Moscovo tem de respeitar a soberania ucraniana e a sua integridade territorial dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas e das águas territoriais.”
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