Os chineses aterram, sempre, em nosso país para escolher a madeira mais fina como os seus olhos; mas, desta vez, vieram para agitar o governo a expulsar a Mapapai do seu lar. Os chineses são agitadores de lares. Em toda África andam a separar casais. Têm olhos quase cegos, bem fechados, mas conseguem ver o diabo em famílias alheias.
A Mapapai é uma esposa dedicada. As 4 horas levanta-se e varre todos grãos de gente para a cidade. E volta a Katembe, com pães, arroz e trigo. Apressa-se a preparar os filhos que vão à escola, na cidade; todos sentam-se nos seus braços que são verdadeiros bancos maternos. Volta a Maputo correndo; seu lenço, com as cores da bandeira, suja o vento de firmeza. Caminha sobre as águas com os filhos.
Às vezes o período menstrual começa-lhe no meio da caminhada. Os filhos correm de um lado para o outro com pensos para lhe calar o sangue que sai em forma de gasolina. Quando retoma a caminhada pequenas nódoas de sangue ficam nos becos do mar. É elegante apesar da velhice: tem em todo corpo missangas em forma de pneus, na cabeça tem galhos que lhe seguram o cabelo do vento e desfila quando anda. Os saltos dos seus pés fazem com que não tenha uma caminhada recta; enrola-se quando caminha. Parece uma serpente atirada a um chão cimentado.
Os padrinhos da Mapapai vieram da China e dizem que ela deve abandonar o lar. Dia 10 é o prazo para a Mapapai carregar tudo, que durante anos construiu, em trouxa. Dizem que a Mapapai é uma esposa perigosa porque quando há ventania acorda tarde, quando há sismo não sai para varrer o quintal, enfim, muitas coisas contra a Mapapai. Algumas vezes, de desespero, Mapapai caiu no meio da caminhada e fui diagnosticada tensão.
Os chineses trouxeram uma outra esposa para a família Katembe. Uma miss África: alta, magra, com pulseiras que de noite explodem de luz e com seios bem parados que a Mapapai; não usa lenço com cores da bandeira porque é jovem. É uma moça jovem que vai ser lobolada no dia 10. Uma moça com as pernas suspensas no ar, com curvas em todo corpo e com extensões caríssimas.
Mapapai é uma puta! Uma puta que leva as suas filhas para venderem, em bancas imóveis, ali na Rua de Bagamoio – dizem alguns. E os outros dizem que a nova moça apesar de exigir taxas, mesmo depois de lobolo, é melhor que a Mapapai.
Samora, Alberto e Armando dormiram com a Mapapai. Mas, hoje só o Filipe já não a quer mais. Os chineses agitaram-no.
Sentiremos muitas saudades tuas.
Sentiremos muitas saudades tuas.
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