Manifesto anti-Lourenço em numerário alfabético e de acordo com o antigo acordo AO-90 por Brandão de Negrais, meta-futurista, aspirante eterno a poeta e guardião das portas do novo templo da nova Deusa da Nova Suméria e de todos os santos e santinhos d’Entre Tigre e Eufrates.

Por Brandão de Pinho
Basta, enfim, basta! Um país que consente deixar-se representar por Lourenço é um país que não o é. É uma corja d’indigentes, d’indignos e d’invisuais! É um “coio” escarlate de charlatães, de vendidos e de bandidos e está abaixo de zero!
Abaixo esse país assim!
Exonere-se o Lourenço, exonere-se! Por fim!
Um país com um Lourenço que gosta de equitação é um país que gosta de ser montado!
Um Lourenço a cavalo na cria de uma égua e de um burro é uma mula estéril, obediente, caprichosa e teimosa! Sem fogo e sem alma!
Lourenço é mais do que um zungueiro!
Lourenço é quase zungueiro!
Lourenço perceberá de política, gostará de literatura, falará russo, jogará xadrez, entenderá de artilharia pesada, dominará a história, privará com a realeza, andará de avião, saberá cavalgar, montar, lavrar, mandar, exonerar, prender, procriar, saberá de tudo e tudo e mais alguma coisa mas não sabe governar que é a única coisa que ele faz.
Lourenço é um sonso insosso.
Lourenço veste de cinza.
Lourenço usa “lingerie” branca.
Lourenço especula e inocula os seus jovens turcos concubinos.
Lourenço é Lourenço.
Lourenço é João, é José, é Eduardo! Mas não é Santo.
Exonere-se o Lourenço, exonere-se! E afins!
O nome do Lourenço na verdade não é Lourenço! O cargo de Lourenço não é o de Presidente, nem de General nem o de Doutor em História!
Lourenço chama-se de verdade Soror Mariano de Hermenegildo Alcoforado e é o mais distinto membro da aristocracia visigótica do Antigo Império Português.
O Lourenço é um zungueirão.
Não é preciso ir para as ruas para se ser zungueiro, basta sê-lo!
Não é preciso vestir-se de metralha para ser salteador, basta governar como o partido de Lourenço! Basta não ter escrúpulos, nem morais, nem altruístas, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas, com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho quase imperceptível, basta ser muito enfadonhamente delicado, vestir de anódino cinzento, ter olhos meigos mas inexpressivos! Basta ser Judas! Basta ser Lourenço!
Exonere-se o Lourenço, exonere-se! Enfim!
Lourenço nasceu, se é que nasceu, para provar que nem todos os que governam sabem governar!
Lourenço é um autómato que faz exactamente aquilo que toda a gente sabe que vai fazer de acordo com um guião escrupulosamente escrito, mais escrupulosamente rodado e ainda mais escrupulosamente levado à tela!
Lourenço é o governo dele próprio! A sua própria exoneração! A caricatura de si em si por si e para si de si próprio!
Lourenço nu é engelhado!
Lourenço de sua boca nem cheira bem nem mal! É asséptico e o seu dentista é da Checoslováquia e é o dentista do partido!
Lourenço não trata da saúde em Luanda ou no Lobito ou em Lisboa! Mas trata e bem da saúde aos angolanos! Traidor!
Exonere-se Lourenço, exonere-se! Até que enfim!
Lourenço é o escárnio inconsequente da consciência!
Se Lourenço é angolano, então eu não sou português e mil vezes prefiro ser espanhol!
Lourenço encerra em si toda a decadência mental!
E ainda há quem o bajule! E ainda há quem lhe leia os jornais!
E ainda há que se arvore de lhe dar conselhos para estar calado, para não reagir a provocações, para ignorar e para dar ao desprezo!
Loureço fala muitas línguas mas não sabe nenhuma língua nacional!
Eduardo dos Santos era santomense!
Almada Negreiros era santomense!
Lourenço não é santomense! Não é cabo-verdiano! Tampouco é angolano! Lourenço é soviético! É russo! É espanhol! É cubano! É marciano!
Continue o senhor Lourenço a governar assim que há-de ganhar muito com o “Alcufurado” e há-de ver que algum fundidor ferreiro do Cuanza Norte ainda lhe faz uma estátua de ferro, e um maqueteiro uma exposição das “maquetes” pró seu monumento erecto por subscrição nacional do Jornal de Angola a favor dos feridos da guerra, e verá a Praça Agostinho Neto mudada em Praça Dr. João Lourenço e com festas da cidade p’los aniversários, e sabonetes em conta João Lourenço e pasta Lourenço p’rós dentes, e graxa Lourenço p’rás botas e “Niveína” Lourenço, e comprimidos Lourenço, e autoclismos Lourenço e Lourenço, Lourenço, Lourenço, Lourenço, Lourenço, Lourenço… E limonadas Lourenço-Magnésia…
E fique sabendo Sr. Lourenço que se um dia houver justiça em Angola todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Lourenço que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões!
E que Fernando Pessoa não passava de um seu heterónimo que por sua vez tinha mais heterónimos!
E fique sabendo Sr. Lourenço que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume a governação angolana? Não! Mil vezes não!
Exonere-se Lourenço, exonere-se! Ao fim e ao cabo!
Angola, que é uma espécie de alter-ego de Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa, da África e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Europas e Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus e a Europa cativa dos africanos! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro e toda a Angola irão abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritarão comigo, a meu lado, a necessidade que Angola e Portugal têm de ser qualquer coisa de asseado!
Exonere-se Lourenço, exonere-se! Fim último!