segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HÁ uns anos, um ministro, numa das suas sucessivas viagens de trabalho ao exterior, lançou meio-desabafo quando questionado sobre o curso das investigações no assassinato de uma figura nacional de raça branca.

"Cá para os nossos botões, o Américo Sebastião não passa de bode expiatório"

XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
HÁ uns anos, um ministro, numa das suas sucessivas viagens de trabalho ao exterior, lançou meio-desabafo quando questionado sobre o curso das investigações no assassinato de uma figura nacional de raça branca.
E a partir de Londres, o governante disse, mais ou menos que na Europa, a morte de um negro não é motivo de celeuma, na comunicação social e nos corredores da política.
Ao contrário quando, em África, morre um branco.
Volvidos todos esses anos, vem-nos à memória o episódio desse ministro, levados pelo caso-Américo Sebastião, empresário português raptado na manhã do longínquo 26 de julho de 2016, na estação de abastecimento de combustível de Nhamapadza, Marínguè, província de Sofala.
Sebastião teria sido levado numa das duas viaturas adulteradas para parte incerta e os seus cartões de débito e crédito, utilizados para o levantamento do correspondente a quatro mil euros, não mais por terem sido bloqueados.
Desde então, as autoridades moçambicanas chamaram a si as investigações, que, ainda na semana passada, culminaram com decisão da Procuradoria Provincial de Sofala, não em definitivo, de congelar o processo, por ausência de matéria.
No intervalo entre as anunciadas investigações e a medida da PGR-Sofala, enorme jogo de corredores por parte da família de Américo Sebastião, incluindo junto de figuras políticas de nomeada, ainda vinda, a Moçambique, da Salomé Sebasitão, a esposa do empresário em causa. Nem água vem, nem água vai.
Ela não desarma, entretanto. Há pouco, foi recebida pelo Papa Francisco, de quem recebeu a mensagem de encorajamento e de “esperança”, o que a terá enchido de…esperança.
Não bastando isso, Salomé foi ainda recebida pelo padre Ângelo Romano, da Comunidade Santo Egídio, em Roma, a mesma agremiação que esteve por detrás do processo negocial de paz, entre governo-Frelimo e a Renamo, dando lugar ao Acordo Geral de 92.
Por aqui se percebe que o assunto do rapto de Américo Sebastião tem motivações políticas, por um lado.
Por outro, existe a forte possibilidade de o homem continuar vivo, a avaliar pelas palavras que Salomé Sebastião atribui ao Papa Francisco. O que já é deveras animador, diga-se.
Mais um breve recuo no tempo, se calhar para secundar o Papa Francisco.
Imediatamente ao rapto de Nhamapadza, as autoridades moçambicanas teriam aludido ao facto de, aquela região de Marínguè, ser de forte presença de elementos da Renamo sem, contudo, terem pretendido tirar o ‘capote da chuva’.
Na ocasião, se especulou que o desaparecido andava a financiar um dos lados, a troco de certos recursos que por lá abundam, o que teria irritado a contraparte da contenda política.
Cá para os nossos botões, o Américo Sebastião não passa de bode expiatório.
‘Granda’ mulher, esta Salomé,
EXPRESSO – 05.11.2018

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