quinta-feira, 22 de novembro de 2018

ESTADO DE SÍTIO: CAFUNFO SOB FOGO DE MILITARES E POLÍCIAS



“Estávamos a brincar na rua, com os nossos brinquedos, quando vimos a polícia a disparar à nossa frente. Estavam a dar tiros contra as pessoas que estavam a marchar na estrada grande. Éramos dez crianças e fugimos para casa. Deixámos os nossos brinquedos na rua”, conta Teresa Adolfo, de 10 anos, depois de ter presenciado o tiroteio de duas horas que hoje aterrorizou a vila de Cafunfo, no município do Cuango, província da Lunda-Norte.
Forças combinadas das Forças Armadas Angolanas (FAA), Polícia de Intervenção Rápida (PIR), Polícia de Guarda Fronteira (PGF) e agentes da ordem pública (Polícia Nacional) intervieram para dispersar uma marcha pacífica de cerca de 300 simpatizantes do Movimento do Protectorado Lunda-Tchokwé, uma organização ilegal que reivindica a autonomia da região das Lundas, “como a Escócia no Reino Unido”.
Neves Bihihia dirigia-se à farmácia, situada na via principal (Estrada Grande), quando foi atingido no pé direito por um agente identificado como sendo da PIR. Os correspondentes comunitários do Maka Angola deslocaram-se ao Hospital Regional de Cafunfo, onde foram informados sobre o estado crítico do Neves Bihihia. O paciente foi isolado e está sob forte guarda policial.
Pouco antes das 8h00, os manifestantes partiram do Bairro da Elevação rumo à vila de Cafunfo, com efectivos militares e policiais no seu encalço. “As FAA, que inicialmente estavam a seguir os manifestantes, não aguentaram e chamaram a PIR, a PGF e a polícia de ordem pública”, relata o pastor protestante Martinho Rafael, de 37 anos.
“Cercaram os manifestantes nas imediações da estrada principal da vila de Cafunfo e aí iniciaram os tiros por volta das 8h00. Os homens e as mulheres do protectorado dispersaram a tempo”, refere o mesmo pastor.
Segundo Martinho Rafael, que levava a sua motorizada à oficina, “os militares e polícias, de vergonha, começaram a prender inocentes e a espancá-los de forma brutal porque ‘desconseguiram’ prender os homens do protectorado”. O pastor conta ainda ter testemunhado o brutal espancamento de um adolescente seu conhecido por efectivos da PIR, mas cujo nome lhe escapa, que fugia dos tiros e nada tinha a ver com a manifestação. “Tinham de espancar e prender alguém para incluir no relatório deles. Não detiveram os do protectorado que estavam na manifestação”, assevera.
O activista cívico Salvador Fragoso diz que o tiroteio de duas horas “fez lembrar a população de Cafunfo sobre a época da guerra civil. Não havia nada que justificasse duas horas de tiros. Contra quem? Estamos com muito medo”.
Sabino Manuel, um conhecido comerciante local que se encontrava à porta do seu estabelecimento na hora do tiroteio, foi um dos 14 elementos detidos. “O irmão Sabino é um comerciante bem conhecido, até pelos oficiais e agentes da Polícia Nacional. Nós, activistas locais, também conhecemos muito bem este homem e sabemos que nunca teve simpatias pelo movimento regionalista de José Mateus Zecamutchima, o líder do Protectorado da Lunda-Tchokwé. O irmão Sabino é de Benguela”, denuncia Jordan Muacabinza.
Com o anúncio antecipado da manifestação, a vila de Cafunfo acordou em estado de sítio.
“Parece que estamos em situação de guerra aqui em Cafunfo. As ruas estão militarizadas. Não há livre circulação de pessoas. Os populares continuam a ser intimidados”, afirma Jordan Muacabinza.
Segundo Salvador Fragoso, “os homens do Protectorado avisam que vão fazer uma manifestação e, muitas vezes, nem saem do quintal, onde ficam a entoar cânticos, em frente da casa de um dos líderes, André Zende, ou num espaço aberto. Mas isto é suficiente para colocar todas as forças de defesa e segurança em estado de alerta máximo e de guerra”.
O Maka Angola contactou por via telefónica o comandante da Esquadra de Cafunfo para ouvir a versão oficial sobre o tiroteio: “Para mais informações, ligue ao comando municipal”, e desligou abruptamente o telefone. Até à hora da publicação desta matéria, não foi possível contactar o comando municipal. Continuaremos a tentar, para mais esclarecimentos.
A 26 de Junho do ano passado, durante a repressão de uma manifestação do Protectorado no Cuango, um dos seguranças do chefe de Operações do Comando Municipal do Cuango, João Mazanga, matou Pimbi Txifutxi, de 35 anos, com um tiro no abdómen, quando este saía da igreja, de bíblia na mão. Nesse dia, as forças policiais e os militares feriram vários cidadãos e efectuaram dezenas de detenções (ver aqui).
Cafunfo é a única região onde o governo recorre sempre às FAA para reprimir manifestações, por mais insignificantes que sejam.
Benjamim Paulo Beja
Os militares da FAA e seus accessorados aproveitam-se da desordem para saquear e roubar os bens das populações e comerciantes. São tacticas estudadas ao longo dos dias que vivem aí fazendo buscas de inteligência em locais comerciais e residenciais identificadas com bens e sob esta acção aproveitaram saquear e matar para não deixar rastos. Triste realidade das operações transparência e resgate nas zonas diamantíferas do Kafunfo.
Domingos Amândio
É assim mesmo que receberam "as ordens superiores". Reprimir, matar se necessário, para corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. É triste. Não há esperanças com o MPLA.
Dabuena Paks
Ignorante...
GostoResponder4 dia(s)
Edmara Salvador
Ignorante mesmo.
GostoResponder4 dia(s)
Edmundo Resende
Edmara Salvador quem é ignorante neste caso?
GostoResponder3 dia(s)
João Henrique Hungulo Rodilson
Querem reivindicar que Lunda afinal? Os Cabindas talvez tenham alguma razão, agora os tchokwes? Dentro de pouco tempo o povo do Cunene vai reivindicar dizendo que quer liberdade, depois Malanje, depois Kwando Cubango, por fim Angola acaba. Que revindicação uma província situada bem na lateral de Angola procura? Lunda é Angola, se Angola aceitar essa néscia reivindicação acredito que Angola deixará de ser o que é, e, acabará só.
Manuel Chinsito
Sim, Cabindas têm toda razão mais alguma coisa.Quanto as Lundas, o caro amigo poderá investigar mais e certamente também se pode encontrar um enquandramento com base na revisão da constituição da República de Angola.Há sim alguma razão para conflito que infelizmente vai provocando um pouco esses males.São defacto, causas profundas que também merecem a rápida, resolução na base de concertação, moralização e consequentemente para o resgate da Autoridade do Estado.Autoridade do Estado não se confunde com militarização, matanças, pânico, restrições, e outros.Desejamos rápida recuperação para o ferido e que os demais se reencontrem, dialogando para convencer a parte Governate sobre as reais razões e suas consequências.
GostoResponder3 dia(s)
João Henrique Hungulo Rodilson
Manuel Chinsito não confunda as coisas, Lunda é Angola e nada mais, bem como Cabinda o é, agora querer instalar - se num foco de estrangerismo devido o diamante que tem, é ilícito, desde então, todas cidades com interesses materiais avultados acorrerão ao mesmo comportamento de índole separatista. Repito, Cabinda tem algum juízo de ser mas Lundas não? Lundas está longe de ser isolada de Angola, se isso for acontecer, então Kwando Kubango irá também separar - se de Angola, depois Cunene, mais tarde Malanje, assim por diante até Angola ser composta por um aglomerado de Estados Independentes. Não é justo achar Lundas pelo facto de ter diamante, ser uma terra à margem de Angola. Lunda até é muito mais Angola que Cunene e Kwando Cubango, não há motivo único sequer que venha colocar Lunda à margem de Angola. Sabe - se o que esse povo procura é riqueza, mas a riqueza é do País e não apenas dos que nas Lundas residem. Rafael Marques essa sua péssima comparação de Lundas com Escócia é absurda. Desde quando Lundas foi similar a Escócia? Não estás aqui a querer incitar divisão tribal? Lunda nunca estará longe de Angola, isso é inconcebível e inadmissível Rafael Marques.
GostoResponder2 dia(s)Editado
Manuel Chinsito
João Henrique Hungulo Rodilson Cabinda não é Angola! Ponto Final.Há sim uma ocupação ilegal em Cabinda.Os cabindenses não são culpados por se situarem Geograficamente naquele espaço.Peço que caro amigo não me levanta mais esse assunto com estremismo.O meu povo está lá a sofrer .Isso fica bem sublinhado e tomem consciência para quem pensa diferente até hoje.Lamento pelo ferido na Lunda.Essa temosia traduz conflitos e atrasa com o desenvolvimento dos povos, agravando a pobreza.De Cabinda, falam os Cabindas e se quiser saber, engaja-se por favor.Cabinda tem de ser resgatado.O sangue derramado pela causa reclama.
GostoResponder2 dia(s)
João Henrique Hungulo Rodilson
Rafael Marques, tenho sim liberdade de falar sobre Cabinda, e saiba que Cabinda é Angola. E não apenas de Cabinda, Cabinda é o quê que não posso falar dela? é um paraíso que somente anjos e deuses tenham de falar desta? se falo de USA, de China, de Rússia, de Portugal que delá não sou, o que é Cabinda que tenha de me tornar mudo quando se fale dela? caro amigo Rafael Marques Cabinda é Angola. Cabinda é Angola desde 1 de Fevereiro de 1885, quando representantes do governo português na pessoa de Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão tenente da Armada e comandante da corveta Rainha de Portugal, e os príncipes, chefes e oficiais do reino de NGoyo assinaram o famosso tratado de simulambuco. Desde então, Cabiunda passou à fazer parte de Angola e nunca mais deixou de sê – la, senão Cabinda hoje seria terreno Belga e ligado ao Congo Brazaville, talvez seria hoje Cabinda um terreno Congolês, seria uma Província congolesa, mas graças ao tratado de Simulambuco Cabinda fez – se local angolano, o tratado colocou Cabinda sob protectorado português. O tratado foi feito antes da Conferência de Berlim, que dividiu África pelas potências europeias. Desde logo Cabinda é Angola e mais nada, aceita a verdade caro irmão angolano, Cabinda é um espaço angolano amigo Rafael Marques, para de insitar separatismom, tribalismo e regionalismo, isso desenvolve a segregação entre os povos, somos todos irmãos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste Rafael Marques.
GostoResponder2 dia(s)Editado
Tamara Monteiro
Ninguém é digno de tirar a vida de alguém por mais justificação que se apresente, mas uma manifestação de um “movimento ilegal”, por reivindicar um território que faz parte de Angola, acredito que nem eu própria aceitaria. Peço as autoridades governamentais que deiam o devido parecer. GUERRA NÃO.
António Francisco Domingos
Sendo uma marcha de uma organização ilegal, não tinha autorização para fazê-lo, todavia as autoridades no exercício das suas funções, devem ter cautela com o abuso do poder.
Felisberto Correia
Não sei porquê mas falta alguma coisa neste texto para que faça todo sentido, porque deixa de ser lógico um acontecimento como este depois dos inúmeros pronunciamentos feitos por altas patentes a respeito da operação transparente e sobre a posição da polícia nos últimos tempos face a situação que poderá viver o país.
Faustino Lopes
É considerado ilegal ou impróprio aquilo que contrarie a lei, que ofenda o direito de terceiros, que incite a violência, que promova qualquer tipo de discriminação racial, religiosa, sexual, de idade ou contra povos, por exemplo, que aronte os valores médios presumidos da sociedade ou que contrarie os "termos de uso". Também é considerada ilegal a publicação de links, spam ou qualquer tipo de publicidade. Ninguém será obriogado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.
Paulo Caetano
As pessoas devem perceber que embora a manifestação seja um direito consagrado na constituição, carece de autorização, por outro lado, as autoridades devem encontrar um outro meio-termo para dispersar a população, porque o uso de arma com certeza não foi o mais apropriado.
Miguel Francisco Michel Michel
Amigo Benjamim fale de outras coisas mas não defenda os quase 400 mil zairenses que delapidaram os diamantes o que se está a falar foi em junho a operação é a partir de Setembro nada haver.
Manuel da Piedade
Mesmo que fosse uma marcha fora dos parâmetros legais, método utilizado para dispersar os marchantes não é usando armas de fogo sob pena de uma bala dispersa atingir um indefeso.

Sem comentários: