As três principais forças políticas angolanas consideram a deslocação do Presidente João Lourenço a Portugal uma oportunidade para reforçar as relações de cooperação entre os dois países, com vantagens mútuas. Não é bem a descoberta da pólvora, mas anda lá perto.
João Lourenço, Presidente da República, Titular do Poder Executivo e Presidente do MPLA (partido no poder desde 1975), realiza de 22 a 24 deste mês a sua primeira visita oficial a Portugal na qualidade de chefe de Estado, empossado em Setembro de 2017, que acontece após a deslocação a Luanda, em Setembro último, do primeiro-ministro português, António Costa.
Sobre a deslocação, a vice-presidente do MPLA disse que é um momento para os dois países passarem em revista as suas relações de cooperação. Em declarações à agência Lusa, Luísa Damião referiu que Angola é um país aberto a todos os Estados do mundo, com relações bilaterais e multilaterais, “que se pauta por uma cooperação fraterna e vantajosa entre os Estados”.
Luísa Damião tem razão. Fosse ela vice-presidente do MPLA na altura em que José Eduardo dos Santos era presidente e diria exactamente a mesma coisa. Aliás, no Congresso do Partido Comunista Português, em 4 de Dezembro de 2016, Luísa Damião representou o MPLA e no seu discurso fez uma esclarecedora intervenção de bajulação ao então “escolhido de Deus” e ao reconhecimento ao papel do PCP na venda, ao preço da chuva, de Angola ao seu MPLA.
“A visita do Presidente João Lourenço enquadra-se no âmbito das relações diplomáticas que existem entre Angola e Portugal. Existem vários acordos de cooperação, em vários domínios, e creio que é uma oportunidade para se passar em revista as relações de cooperação entre os dois países”, frisou agora Luísa Damião. Nada como ser original dizendo o óbvio.
Para Luísa Damião, depois da visita de António Costa, chegou a vez do Presidente angolano, sendo este “um momento oportuno para reforçar as relações entre os dois países”, sublinhando que as relações entre Angola e Portugal “são históricas”.
“Penso que, entre os Estados, existem momentos altos e momentos baixos nas relações, mas o importante mesmo é aproveitarmos o bom momento, para reforçarmos as relações e cooperar naquelas áreas que possam beneficiar os dois povos”, salientou.
Por sua vez, o vice-presidente UNITA, Raul Danda, referiu que o chefe de Estado angolano está a “procurar marcar os seus laços” com a sua presença em Portugal.
“E, como é óbvio, as relações têm de passar por Portugal, porque foi uma potência colonial, porque fala a mesma língua que nós e porque é uma espécie de placa giratória para a diplomacia europeia”, disse o vice-presidente do principal partido da oposição angolana.
Raul Danda lembrou que as relações entre os dois Estados conheceram um período “um bocado difícil”, referindo-se ao caso que envolveu o ex-vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, e a justiça portuguesa, por alegado crime de corrupção cometido enquanto PCA da Sonangol.
“Isso foi fruto das discussões que estamos a ter, por causa das críticas que foram feitas, algumas vezes por algumas entidades portuguesas relativamente à corrupção, aos desvios de dinheiros. Felizmente, hoje chega-se à conclusão que os dinheiros que as pessoas têm não vêm nada da renda de casa da avó ou da tia, etc., mas vêm mesmo da corrupção, do roubo”, frisou.
“E é preciso, de facto, passado este tempo, este momento, que os portugueses chamavam de ‘irritante’, que agora se possa passar para uma relação mais saudável, porque necessária”, acrescentou.
Já o vice-presidente da CASA-CE, a segunda maior força política da oposição angolana, começou por realçar os laços históricos e de amizade entre os dois países e povos.
“As nossas relações, para o bem, para o mal, são históricas, familiares, culturais e que acho que, na Europa, o nosso porto seguro é Portugal. Pessoalmente, ando pela Europa fora, mas só começo a sentir-me em casa quando chego a Portugal”, disse André Mendes de Carvalho “Miau”.
De acordo com o vice-presidente da CASA-CE, as relações entre Angola e Portugal “devem ser ampliadas, cultivadas”.
“De vez em quando, é o mesmo que sucede às vezes nas famílias. Os irmãos têm algumas contradições e nós também temos de vez em quando alguns aspectos menos altos na nossa relação. Mas acho que são relações para durar, para aprofundar e são bem-vindas”, destacou.
Relativamente à cooperação, André Mendes de Carvalho “Miau” defendeu que sejam bem identificados os campos a cooperar, para que se criem valências de ambas as partes.
“É fácil, porque temos a língua a unir-nos e a língua facilita muito, mas também é o conhecimento que Portugal tem de Angola. Temos que reconhecer que eles estão mais avançados do que nós e que estão capazes de nos prestar um auxílio, que, tendo em conta o conhecimento passado e profundo que eles têm de Angola, podemos tirar mais-valias comparativamente a outros países da Europa e mesmo de outros continentes. Portanto, são para valorar, para fortificar, aprofundar essas relações em todos os domínios”, acrescentou.
Folha 8 com Lusa
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