Morreu o fundador do mais temido grupo armado no Afeganistão
Jalaluddin Haqqani criou a rede com o seu nome nos anos 1970 para combater os soviéticos e chegou a ser um dos grandes recursos da CIA.
Muitos dos principais atentados dos últimos anos contra forças afegãs ou da NATO foram responsabilidade do seu grupo de combatentes, a rede Haqqani, uma das facções dos taliban, suspeita também de ligações ao Daesh. Criado inicialmente para combater a ocupação soviética do Afeganistão, tornara-se no grupo de guerrilha e jihad mais temido entre os islamistas a operar no país. Morreu o seu fundador.
Esta rede, cuja liderança Jalaluddin Haqqani entregara em 2011 ao filho, Sirajuddin, era conhecida pelos ataques complexos e coordenados, para além de raptos de figuras importantes. Esteve também por trás de ataques especialmente mortíferos contra civis, como a explosão de um camião armadilhado que matou mais de 150 pessoas em Cabul, no ano passado.
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Os Estados Unidos e o Governo afegão acusam os serviços secretos do Paquistão (ISI) de apoio ao grupo, que tem a sua principal base na região paquistanesa do Waziristão do Norte, junto à fronteira Leste do Afeganistão. Em 2011, o chefe do Estado-maior Interarmas americano, Mike Mullen, descreveu a rede Haqqani como “verdadeiro braço armado” dos ISI; Islamabad nega quaisquer ligações.
“Sua excelência, Haqqani Sahib [título de autoridade, senhor ou doutor], deixou-nos fisicamente, a sua ideologia e métodos permanecem”, lê-se num comunicado dos taliban afegãos, publicados nos sites onde os islamistas habitualmente fazem os seus anúncios e citado pelo Centro Americano de Vigilância de Redes Jihadistas (SITE). “Tal como sofreu muitas adversidades pela religião de Alá na sua juventude, também sofreu uma longa doença dos seus últimos anos.”
Apesar de estar afastado da liderança directa – os rumores da sua morte eram frequentes desde que entregou o comando ao filho por doença –, acredita-se que continuava a desempenhar um importante papel de conselheiro. Mas o principal impacto da sua morte será simbólico e emocional. Para os taliban era um herói, “um guerreiro exemplar, entre as grandes personalidades da jihad da sua era”, escreveram ainda os “estudantes de teologia” no comunicado sobre a sua morte.
Ataques sofisticados e técnicas inovadoras
“Esteve envolvido em tantos ataques sofisticados e utilizou tantas técnicas inovadoras de guerra assimétrica, criando sucessivas dores de cabeça ao Governo afegão”, comentou à televisão Al-Jazira Mushtaq Rahim, analista político sedeado em Cabul. “Foi sempre visto como um herói entre os taliban. Nos anos 1980 foi um osso duro de roer para as forças russas e depois para a administração de Cabul.”
Quando foi criada, a rede era um dos diferentes grupos armados apoiados pelos EUA e pelo Paquistão para combater as tropas soviéticas. Nos anos 1980, admite a CIA, tornou-se numa dos principais recursos da agência americana neste combate por procuração entre Washington e Moscovo.
Depois da guerra civil que se seguiu à retirada soviética, os taliban acabaram por assumir o controlo de grande parte do Afeganistão, chegando em 1996 a Cabul. Nessa altura, Haqqani escolheu aliar-se aos islamistas liderados então pelo mullah Omar.
Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, quando Omar recusou expulsar a Al-Qaeda do país, a campanha militar da NATO permitiu à oposição armada aos taliban (Aliança do Norte) derrotar rapidamente os jihadistas. Foi nessa fase que a rede Haqqani ganhou de novo proeminência pela capacidade de lançar ataques coordenados e bem organizados.
A recompensa de cinco milhões de dólares, que os EUA ofereciam até 2011 por informações que levassem à sua morte ou captura, vale agora para o filho, Sirajuddin, que para além de liderar a rede Haqqani é líder adjunto dos taliban, respondendo a Haibatullah Akhundzada.
Desde o início do ano os taliban já negociaram várias tréguas de dias ou semanas com Cabul (não é certo se foram cumpridas pelos combatentes da Haqqani) mas as baixas civis no Afeganistão são as mais elevadas dos últimos dez anos: entre 1 de Janeiro e 20 de Junho, a ONU contabilizou 1692 mortes, quase metade atribuídas a ataques dos taliban, metade ao Daesh, cada vez mais activo na região.
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