terça-feira, 7 de agosto de 2018

''Os meus amigos angolanos que me perdoem'



(*) Elísio Macamo


Estive a ouvir o discurso que o seu presidente proferiu no Parlamento Europeu em Estrasburgo, a escassos quilómetros donde trabalho. Duas coisas chamaram a minha atenção.
A primeira foi um discurso feito à medida dos europeus como se ele estivesse a prestar contas. Ao invés de reflectir sobre o que significa construir a democracia nas condições do seu país, ele fez uma check list daquilo que os europeus querem ouvir os africanos a dizer sobre o que estão a fazer. Achei isto estranho, tanto mais que Angola tem sido, internamente, muito "soberana" na definição da democracia ou donde quer ir.
Image
A segunda coisa foi o que ele disse sobre os emigrantes africanos que tentam chegar a Europa. Ele adoptou a perspectiva do populismo político europeu que olha para esse fenómeno como um problema para a Europa e como falhanço dos governos africanos. Chegou mesmo a dizer que se envergonhava por isso. Ignorou completamente o facto de que o maior fardo pelos emigrantes é assumido pelos países africanos que acolhem esta gente e, também, que este fenómeno não pode ser visto longe de toda uma economia mundial construída a favor daqueles que colonizaram a África. Ao invés de exigir que os europeus assumam responsabilidades pelo mundo que eles próprios construíram ele pede desculpas pelo facto de reagirmos como podemos à estrutura dum mundo que não foi por nós construído.
"“Foi um discurso feito à medida dos europeus como se ele estivesse a prestar contas. Ao invés de reflectir sobre o que significa construir a democracia nas condições do seu país, ele fez uma check list daquilo que os europeus querem ouvir os africanos a dizer sobre o que estão a fazer.”"
Muito estranho, mas não surpreende. Os nossos líderes têm algumas dificuldades em interpretar o mundo em que conduzem os seus países. Revelam pouca empatia com o seu próprio povo. Líderes de outrora, tipo Samora Machel, Tomas Sankara, Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, etc., apesar de todos os outros defeitos que tinham, teriam discursado de outra maneira num fórum como aquele. E isso é necessário. Os europeus não nos vão respeitar enquanto líderes de países abençoados com recursos como é o caso de Angola não souberem usar estes momentos para chamar atenção para o que está errado no mundo em que vivemos. O que está errado é o que nos cria os problemas que temos".
(*) Sociólogo moçambicanoMario Pascoal
Boa noite, sr. Elisio Macamo. Respeito a sua opinião. Tenho a seguinte reflexão.
Ora, entendo que quando o Presidente angalano vai à França teve alguns contactos ao mais alto nivel no governo frances. Presumo que foi aconselhado de que se Angola pretende mudar o quadro politico, económico deveria discursar naquele areopago, pois ficaria facilitado os apoios de que tanto precisa. Portanto, JGL julgo que tem uma estrategia que é diferente da dos nossos anteriores lideres.
GostoResponder24 sem
António Conceição
Acho que João Lourenço esteve muito bem no Parlamento Europeu porque os Governos Africanos vitimizam-se sempre como forma de justificar o facto de nao atingirem as metas preconizadas e nunca fazem mea culpa.
Ao nao assumirem os seus erros nunca conseguem tomar medidas eficazes porque os diagnosticos sao errados. Errados porque partem de pressupostos errados, errados porque omitem mais do que aquilo que explicam e deste modo entramos num circulo vicioso.
caso mais paradigmatico é o caso da EMATUM em que é preciso virem pessoas de fora para nos obrigar a corrigir um erro que é nosso e teimamos em nao corrigir castigando assim o povo.
Concordo consigo quando diz que os europeus devem assumir a sua parte da culpa, mas como podemos exigir quando nao cumprimos a nossa parte?

Sem comentários: