terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Os bons, maus e Vilões



TEMA DA SEMANA 2 Savana 19-01-2018 C omo fazemos regularmente todos os anos, a presente edição é dedicada à análise pormenorizada do desempenho de cada um dos membros do governo, procurando ser o mais objectivo possível nessa análise, e tendo como base as principais acções que se esperam de cada ministro, na execução do seu respectivo mandato. A análise resulta de observações feitas pela nossa equipa redactorial ao longo do ano, reportando as principais incidências de actuação de cada membro do governo nesse período. Carlos Agostinho do Rosário: Primeiro-Ministro O sistema político vigente em Moçambique coloca a figura de Primeiro-Ministro como um “secretário” do Presidente da Repú- blica, mesmo sem capacidade de exercer qualquer poder sobre os outros ministros. A actual constituição determina que o Presidente da República é simultaneamente Chefe do Estado e Chefe do Governo, e atribui ao Primeiro Ministro apenas competências para “assistir e aconselhar o Presidente da República na direcção do Governo”, para além de ser a entidade do executivo responsável pelas relações com a Os três anos dos ministros da administração Nyusi Afinações numa máquina remendada responder cabalmente a todas as questões apresentadas pela oposição. Com alguma surpresa, no último congresso da Frelimo subiu à Comissão Política do partido no poder, um lugar que poderia ocupar apenas por inerência de funções. Vitória Diogo: Ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social Começou forte, mas aos poucos foi perdendo fôlego e transformando o ministério numa instituição de “lançamento de políticas”. Os três anos foram de reuniões, seminá- rios, conferências e lançamento de plataformas. Faltam dois anos para a ministra mostrar trabalho e levar avante a política de emprego. Os três anos foram de reconstrução do Ministério, o que, segundo a crítica interna, fez com que se perdesse a memória institucional. Mesmo assim, conseguiu eliminar a sanha persecutoriada da sua antecessora contra o empresariado, sobretudo o de origem externa, acções do agrado da ala xenófoba do seu partido. Não obstante, o ministério tem mostrado estar atento em relação aos abusos contra os trabalhadores e na mediação dos conflitos laborais, incluindo os projectos liderados por interesses chineses, neste momento os maiores apoiantes financeiros do país. A ministra também mantém um distanciamento pontual em relação aos sindicatos, pois não é função do ministério ser a “casa protectora dos sindicatos”. O Conselho Constitucional, ao dar direito ao contraditório nos processos de disputa laboral que culminaram no passado com expulsões arbitrárias, também limitou os poderes da própria ministra. Os que gostam do estilo batalhador da ministra referem que ela tem sido alvo de “muitas politiquices” facto que ofusca muito o seu trabalho. Ela é vista como ministra herdada do “guebuzismo”, por outro lado é irmã de Luísa Diogo, olhada com desconfiança pela actual ala dominante do partido e, como se não bastasse, é acompanhada por um vice visto como próximo do gabinete presidente e com grandes ambições políticas. Dentre várias atribuições, o Estatuto Orgânico desta instituição diz que o Ministério de Trabalho, Emprego e Segurança Social deve adoptar medidas e implementar leis e regulamentos laborais consentâneos com o desenvolvimento do país, prossecução da concertação social com vista à melhor actuação e relacionamento entre parceiros sociais e a promoção dos direitos dos trabalhadores, promoção de emprego e auto-emprego, formação profissional e desenvolvimento de esquemas de segurança social. Contudo, a questão do emprego, que é a bandeira do Ministério continua descrito como um “falhanço”. Pelas críticas que nos chegam, aparentemente a ministra ainda não conseguiu explicar bem a fusão entre Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFP) e Escola dos Estudos Laborais Alberto Cassimo, ficando IFPELAC, uma instituição que administra 17 outros centros de formação profissional no país. Este exercício é visto internamente como um aborto. O INEFP devia ser um training job e a Escola dos Estudos Laborais deveria estar sob alcançada do ministério que tutela escolas básicas. No IFPELAC separou-se do emprego e criou-se o Instituto Nacional de Emprego (INEP), uma instituição que ainda não possui um estatuto orgânico e orçamento apenas está previsto para este ano, 2018. “Este exercício prejudicou aquilo que é uma das principais vocações do Ministério, o emprego”, dizem. Os números sobre o emprego, que o ministério diz ter criado são também internamente questionados, sobretudo, na altura de crise financeira que obrigou ao encerramento de muitas empresas. A política de emprego no país, no entanto, ultrapassa claramente os poderes da ministra e do ministé- rio, quando é importante decidir sobre políticas que estimulem a vinda de novos empreendimentos utilizando mão-de-obra intensiva, eventual recurso a mão-de-obra externa na exploração agrícola, liberalização no recrutamento de quadros externos para o desenvolvimento do país, um dos pavores da pequena elite tecnocrática nacional que vê no proteccionismo uma forma de proteger empregos e salários inflacionados por falta de competição em certos segmentos do mercado do trabalho. O intricado processo de vistos de trabalho para quadros externos prejudica o ambiente de negócios, estimula a corrupção e é uma ajuda à tesouraria dos escritórios de advogados que chegam a cobrar USD4.000,00 para tratar de expediente junto do ministério. No capítulo referente à segurança social, Vitória Diogo parece estar a conseguir disciplinar o Instituto Nacional Segurança Social (INSS), uma instituição que o Presidente da República chegou a tecer duras críticas ao avisar aos gestores que não deviam brincar com “os dinheiros dos trabalhadores”, e também não transformar a instituição numa “capoeira pú- blica, onde qualquer pessoa vai lá buscar galinha”. A recente acusação, pelo Ministério Público, do actual PCA da instituição, Francisco Mazoio e o então presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Rogério Manuel, devido ao rombo de cerca de 84 milhões de meticais daquela instituição, é um exemplo. Mesmo assim, a queda do Nosso Banco não deixou de beliscar a ministra sabendo-se dos poderes que tinha para influenciar políticas do banco por via do accionista INSS. O próximo grande desafio da ministra é a revisão da lei do Trabalho, uma iniciativa que deixa muito nervosos os sindicatos. O sector empresarial e os investidores externos esperam mais abertura e uma lei flexível com a economia de mercado que vigora no país e expurgada das heranças socialistas que complicam diariamente a vida das empresas. O vice continua a não vingar no ministério. A não eleição para o Comité Central no último Congresso da Frelimo mostra que a sua estrelinha está cada vez menos brilhante. Atanásio Salvador M’tumuke: Ministro da Defesa Nacional Convidado para o governo já na idade de reforma, o Major-general na reserva é um dos ministros mais influentes no executivo de Filipe Nyusi. No último Congresso da Frelimo, Salvador M’tumuke foi eleito membro do Comité Central, órgão mais importante do partido governamental no intervalo entre os Congressos e chegou a aventar-se a possibilidade de chegar à Comissão Política. Por ser influente e ter um papel vital na sucessão de acontecimentos desde a tomada de posse do PR Nyusi em 2015, é uma questão de fundo saber-se do seu posicionamento nos atentados contra o líder da oposição Afonso Dhlakama em Setembro de 2015, quando esteve em cima da mesa a “opção Savimbi”, a “guerra suja” contra a Renamo na zona Centro e a recusa ou anuência da integração dos quadros militares da Renamo nas forças armadas, a componente que tem decisivamente atrasado um acordo com o movimento da “perdiz”. De qualquer forma, não poderia ter acontecido sem o seu apoio, a profunda remodelação operada nas chefias dos vários ramos das forças armadas em 2017. Dado que as “despesas” nas acções ofensivas contra a Renamo em 2016 foram partilhadas com unidades especiais da polícia, dado o fraco envolvimento do exército nas “acções de limpeza” em Mocímboa da Praia, é difícil um claro pronunciamento sobre a operacionalidade das forças armadas nas suas actuais missões. Tal como no Ministério dos Combatentes, o Ministério da Defesa Nacional continua a debater-se com o problema de “militares fantasmas” e foi o próprio Ministro M’tumuke a confirmar o que já era de domínio público durante XVIII Conselho Coordenador do seu ministério em Novembro passado. “Devemos continuar com o processo de prova de vida dos militares para identificar possíveis militares fantasmas e evitarmos pagamentos indevidos, os quais constituem um encargo para as contas do Estado e lesam o erário público”, rematou M’tumuke. O ministério foi recentemente abalado por um escândalo levado à barra do tribunal e que consistia no desvio sistemático de salários no sector do exército. O ministério da Defesa é dos mais importantes no governo. Para além de defender a integridade nacional em caso de ameaças externas, esta instituição também tem a missão de garantir a consolidação da unidade nacional, promover o desenvolvimento económico e social do país, intervir em caso das calamidades naturais e outras situações de emergências entre outras competências. M’tumuke esteve recentemente na Mocímboa da Praia, palco de acções armadas ligado ao radicalismo islâmico. Há indicações de que se pondera o envolvimento do exército para combater àquilo que a retórica governamental apelida de “terrorismo interno”. É preciso lembrar que foi Assembleia da República. Com estas limitações constitucionais, Carlos Agostinho do Rosá- rio tem estado à altura do cargo que ocupa, particularmente representando com um elevado nível de dignidade o executivo junto do órgão legislativo. Homem de pouca fala mas de bom trato, raramente a ele se podem apontar falhas de actuação dentro do mandato que lhe cabe. Porém, há que apontar que depois de um primeiro ensaio de conferências de imprensa regulares para dar a conhecer aos moçambicanos pormenores sobre a acção do governo, a prática caiu em desuso. Como líder da equipa do governo no parlamento, é notável a forma respeitosa como se dirige aos deputados, incluindo procurar TEMA DA SEMANA Savana 19-01-2018 3 nos três anos de Salvador M’tumuke que os famigerados esquadrões de morte ganharam terreno, eliminando fisicamente todos aqueles que não comungavam com a narrativa do regime no teatro de operações, embora a sua paternidade seja atribuída às forças especiais de polícia ligadas a administração Guebuza. Como não se conhece o desfecho do caso das “dívidas ocultas” não é possível determinar-se os montantes recebidos no ministério para a compra de equipamentos, embora o ministro das Finanças insista em falar na controversa quantia de USD500 milhões, usada potencialmente nas ofensivas contra a Renamo. Em função da evolução da problemática, M’tumuke poderá ou não vir a ser afectado politicamente por constatações complementares. Nazira Abdula: Ministra da Saúde Bastante aplaudida nos primeiros anos do seu mandato por ter desmontado negociatas nos concursos de fornecimento de medicamentos, o terceiro ano da actual ministra da Saúde foi ensombrado pela revelação de que, das “vítimas” no corte nos apoios ao Orçamento de Estado imposto pela comunidade internacional. A humanização dos serviços de saúde, outra das grandes bandeiras içadas por Nazira Abdula, também está longe de passar da teoria à prática. Um pouco por todas as unidades sanitárias, ouvem-se lamentações de pacientes que, em longas fi- las de espera, clamam por atendimento. O sector recebeu duas novas grandes unidades sanitárias, na Matola e em Quelimane, mas por falta de recursos, os dois hospitais têm dificuldade em funcionar na sua plenitude. A crise orçamental interrompeu a construção de várias unidades sanitárias que permanecem semi-acabadas. A ministra, vinda duma influente família muçulmana de Nampula, sabe que a situação não está boa no sector. “Temos muitos desafios. É necessário melhorar a nossa capacidade de registo e controlo da qualidade e da humanização, a comunicação entre os diferentes intervenientes e a nossa capacidade de resposta em relação às reclamações que recebemos dos nossos utentes”, reconheceu, ano passado, na Reunião do Comité Nacional de Qualidade e Humanização. Em mais uma visita a hospitais, Abdula, a primeira mulher ministra da Saúde de Moçambique, voltou a ser confrontada, no presente mês, na capital do país, com queixas sobre morosidade no atendimento, tendo em resposta, admitido que as principais consultas hospitalares poderão passar a ser feitas também no período de tarde, uma iniciativa já experimentada entre Setembro de 2016 e Agosto de 2017, em cinco hospitais das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane. A medida está a receber elogios por uma opinião pública que acredita que os atendimentos manhã/tarde podem reduzir, significativamente, as enchentes nas consultas hospitalares. Resta saber se a medida terá o apoio de médicos e enfermeiros especializados que se dividem no trabalho que prestam no sector público e nas clínicas privadas. Enquanto os doentes reclamam mau atendimento, o pessoal do Sistema Nacional de Saúde Pública alega falta de motivação [desde salários e subsídios, condições de trabalho até habitação], num dos sectores que é um dos parênteses mais pobres do Orçamento do Estado moçambicano, uma equação difícil sobre a qual a médica pediatra deve encontrar meio-termo. Em Junho último, Filipe Nyusi “tirou-lhe” o vice Mouzinho Saí- de, substituído por um comissá- rio político, numa operação que cheirou mais a prenda ao antigo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Leopoldo da Costa, um camarada com fortes interesses no sector para o qual foi nomeado. Mouzinho Saíde, que antes brilhava no Conselho de Ministros como porta-voz do Governo, está agora na direcção do Hospital do Central de Maputo. Carmelita Rita Namashulua: Ministra da Administração Estatal e Função Pública É uma das caras mais visíveis da herança guebuzista no actual governo, que ainda resiste, já lá vão três anos na administração Filipe Nyusi. Namashulua dirige um superministério, mas a sua mediatização é fraca devido à sua fraca intervenção. A ministra de Administração Estatal e Função Pública tem sob a sua égide funcionários públicos e agentes do Estado, tem a tutela dos municípios e dos administradores distritais, bem como os dossiers referentes a organização administrativa do país. Contudo, conseguiu manter o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) sob a sua alçada. O projecto para que o INGC saísse do Ministério da Administração Estatal e Função Pública foi engavetado pelo Conselho de Ministro, depois de ter sido debatido. Não esteve bem na fotografia na gestão do “Caso Município de Nampula”, na sequência do assassinato do respectivo edil, Mahamudo Amurane. Tentou criar uma comissão de gestão do município, o que falhou. Continua engavetada o processo da descentralização dos serviços sociais básicos como saúde e educação nos municípios governados pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM). No entanto, a título ilustrativo, nos Municípios de Matola (Maputo), Xai-Xai (Gaza), Inhambane e Maxixe (Inhambane) governados pela Frelimo, já têm esses serviços sob sua gestão desde Janeiro de 2016. Nos Municípios geridos pela oposição, a “falta de capacidade” é a desculpa encontrada. Em 2016, o município da Beira aprovou a nova toponímia da cidade, mas até hoje aguarda pela homologação da ministra de tutela. A questão das nomeações paralelas de administradores nas autarquias não é da responsabilização da ministra, mas a questão constitui um exemplo da incapacidade da Frelimo em compreender o papel do movimento autárquico e, sobretudo, o seu pavor contra os municípios dominados pela oposição. Aparentemente, a prova de vida afinal, o que mudou foram apenas os players porque a farra de negó- cios milionários no fornecimento de medicamentos e equipamentos hospitalares, essa continua no Ministério da Saúde (MISAU). Uma investigação do Centro de Integridade Pública (CIP), divulgada o ano passado, apurou que, durante 2015, ano em que Nazira Abdula substituiu Alexandre Manguele da direcção máxima do MISAU, assistiu-se a uma consolidação do padrão anterior, que consiste no lançamento de concursos divididos em lotes que são ganhos por mais de uma empresa. Contudo, apesar destas mudanças, refere o estudo, os lotes são ganhos quase sempre pelas mesmas empresas, na verdade novos players desde que Abula sucedeu Manguele. Entre os fornecedores apontam-se familiares próximos à ministra. Três anos depois, a batalha de provisão de medicamento nos hospitais também não dá motivos para festejar. Os medicamentos continuam a escassear nos hospitais e, em contrapartida, a abundarem nos dumbanengues e nas farmácias privadas, onde são comercializados ao cidadão a preços proibitivos. Este ministério é uma biométrica na primeira operação do género realizada no país, foi um sucesso. Por exemplo, um total de 23.716 funcionários e agentes do Estado, dos 357.430 registados no sistema de cadastro electrónico não fizeram a prova de vida biométrica, o que fez regressar o fenómeno de “funcionários fantasmas”. A maioria destes ausentes (18.495) não chegou nunca sequer a receber salário via e-Sistafe, o que levou as autoridades daquele ministério a fazer um trabalho para se clarificar o seu vínculo com o Estado e a motivação e as condições em que os mesmos foram cadastrados. A actualização apurou também que 8.765 funcioná- rios e agentes do Estado estavam indevidamente activos no sistema. Eram funcionários exonerados, demitidos, suspensos, reformados, falecidos, expulsos. Deste número, constatou-se que 2.892 receberam salários, pelo menos uma vez, através do Sistema da Administração Financeira do Estado. No total, realizaram a prova de vida 324.949 funcionários e agentes do Estado, o correspondente a cerca de 93,2% do total. Há ainda muito trabalho nesta área, no sentido de se desactivar funcionários fantasmas que sugam o erário público. A ministra tem mais dois anos para o exercício. Um dos maiores desafios para o ministério e da ministra é a transformação dos administradores distritais de meros comissários políticos da Frelimo em chefes de governo locais e descentralizados. O papel político do administrador é uma das maiores heranças do guebuzismo, actuando estes funcionários do Estado como quadros partidários, não raras vezes com ramificações com os serviços de segurança na perseguição aos elementos influentes das comunidades que sejam identificados como simpatizantes da oposição. Claramente, Nyusi quer um novo modelo de administradores e administrações distritais, espelhando as suas ideias numa notável intervenção em 2017, para a qual foram convidados todos os representantes das administrações distritais. Ragendra de Sousa: Ministro da Indústria e Comércio Um tarimbado professor universitário e solícito comentador de TV, quando já emprestava os seus conhecimentos à bancada parlamentar da Frelimo, Ragendra de Sousa tem agora oportunidade de testar a validade prática das teorias que durante anos tem defendido para o país, agora na qualidade de ministro da Indústria e Comércio. Depois de ter sido um obscuro vice e não ser a escolha imediata para a cadeira ministerial, a expectativa é até que ponto será capaz de traduzir a actividade reflexiva própria da universidade em acções concretas e ganhos para o pelouro que passou a dirigir a partir de Dezembro de 2017. Ragendra de Sousa terá de superar os preconceitos teóricos com que os académicos olham muitas vezes para os políticos e políticas públicas, assumindo o pragmatismo que se impõe à governação. Não há muitos anos, viu-se envolvido numa desgastante disputa laboral pelo facto de uma empresa de que era gestor ter sido incapaz de pagar salários. Esse episódio foi referenciado em certa opinião pública como prova de que dos manuais da universidade até ao terreno vai uma distância que pode ser de um oceano. Também transporta o “passivo” de ter sido gestor num período da História em que o tecido empresarial do país colapsou, quando a economia estava quase totalmente centralizada no Estado. Será interessante ver a relação que vai manter com a Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique, a maior agremiação patronal do país, uma vez que disse outrora que o país não tem empresários, mas sim “senhorios” que arrendam armazéns. Sobre os seus ombros está a “co-responsabilidade” de melhorar a posição do país no índice do Banco Mundial “doing business”, assim como desmantelar o poderoso “lobby” que se esconde atrás do terminal especial de contentores em Nacala, acção em que, aparentemente, o próprio Presidente da República foi desautorizado, para frustração dos empresários do Norte. Para a melhoria da competitividade dos preços dos serviços prestados em Moçambique, aguarda-se também o seu protagonismo no questionamento da “kudumba”, um sistema de monitoria de carga muito controverso que encarece o preço das mercadorias, mas dá chorudos dividendos aos cofres da Frelimo, accionista da empresa, através da “holding” SPI. No “doing business”, em colaboração com a CTA, há uma premente celeridade em matéria legal, em coordenação inter-sectorial, para que o país, virado à prestação de serviços, seja de facto mais competitivo e dê respostas concretas ao empresariado nacional e ao do “hinterland” , nomeadamente nas barreiras comerciais nos portos e fronteiras e na documentação e sistema de taxas em matéria de importações e exportações, incluindo as mercadorias em trânsito. O seu antecessor, aparentemente, passou uma certidão TEMA DA SEMANA 4 Savana 19-01-2018 de óbito ao oneroso e incompetente sistema de silos para a comercialização agrária, mas potenciou outro “moribundo”, o ICM (Instituto de Cereais de Moçambique) a um renovado protagonismo na comercialização agrária, reduzido até à pouco, como muitas instituições estatais, em cobradores de rendas (no caso de armazéns) e pagamento de salários à mais ou menos ociosa massa de trabalhadores e directores. O Banco Mundial e o FMI também devem estar a afiar as facas para os embates com Ragendra de Sousa, que já alardeou que não “preciso que o FMI me venha dar aulas”. “Estudei com alguns deles (FMI) e até nem eram estudantes brilhantes”, vangloriou-se, na altura. É importante referenciar que é neste pelouro que “mora” uma das veteranas do ministério, Rita de Freitas, uma das estrelas incontornáveis de 2017, e que, à sua maneira e com todas as limitações e condicionalismos, tentou demonstrar que os “consumidores também são patrões”, relegando para o esquecimento a ineficiente e incipiente associação dos consumidores nacionais. Max Tonela: Ministro dos Recursos Minerais e Energia Max Tonela foi para ministro da Indústria e Comércio em 2015 com créditos de gestor, dado o seu percurso na Electricidade de Moçambique (EDM) e na Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB). Nunca esteve bem no lugar. Herdou, naquela pasta, como todo o Governo formado em 2015, patologias estruturais que, se calhar, levarão décadas a curar. Mesmo assim, averbou à frente da Indústria e Comércio registos interessantes, como ter evitado o colapso do estratégico sector do açúcar, ao reintroduzir a taxa de importação e estrangular o “dumping”. Também conseguiu convencer o Conselho de Ministros a mostrar flexibilidade na atracção da gigante holandesa “Heineken” a instalar-se em Moçambique e na mobilização da Cervejas de Moçambique para a expansão da produção da cerveja a partir de milho. Foi no seu tempo em que iniciou a campanha contra a “imundície” nas casas de pasto, personificada na inspectora-geral das Actividades Económicas, Rita Freitas, e que levou ao encerramento de estabelecimentos “emblemáticos”. Max Tonela deu visibilidade ao Instituto de Cereais de Moçambique (ICM), mas à custa do abafamento da Bolsa de Mercadorias de Moçambique, sinalizando um desnorte na elaboração de uma estratégia sobre a problemática da comercialização agrícola. Não conseguiu que Moçambique fosse, no geral, “amigável” ao investimento, com a posição” do país no índice “Doing Business” do Banco Mundial a ser sofrível, apesar de avanços qualitativos nesse campo. Na nova função de ministro dos Recursos Minerais e Energia, que ocupa desde Dezembro de 2017, terá a seu cargo a responsabilidade de defender os interesses do Estado moçambicano face ao super-poder dos colossos do sector. Um dos primeiro embates é em relação DFI (decisão final de investimento) para o Bloco Um na Bacia do Rovuma, liderado pela norte-americana Anadarko. Discreto e esquivo, principalmente à comunicação social, como ministro dos Recursos Minerais e Energia terá também de lidar com os vorazes apetites da nomenklatura do partido no poder em Moçambique, Frelimo, pelo filão de recursos sob tutela do seu pelouro. A sua suposta proximidade ao chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, deve ter sido estraté- gica na escolha para a nova função no importantíssimo MIREME, tendo em conta as “favas contadas” com que o “sector maconde” encara o filão de oportunidades existentes nessa área. Fica por esclareceu o que de facto aconteceu à antecessora Letícia Klemens, alguém que foi “puxada” para o sector para responder às exigências presidenciais, frustrado que estava com a visão demasiado ortodoxa e inflexível do incorruptível Pedro Couto. José Pacheco: Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Depois do descalabro que foi no Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), um sector onde não deixa saudades, José Pacheco ainda está no seu período de graça no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. A exoneração de Pacheco da direcção máxima do MASA, em Dezembro último, gerou uma euforia jamais vista, confirmando os níveis históricos da sua impopularidade junto da opinião pública. Como tal, a sua nomeação, 24 horas depois, no mais alto posto da diplomacia moçambicana, gerou uma onda de indignação e valeu pesadas críticas ao presidente Filipe Nyusi, que foi acusado de ter tomado uma das mais fatais decisões na sua governação. Para além de pouco flexível, o técnico agrário de formação é visto como arrogante [foi determinante para os impasses com a Renamo na mesa das negociações] e a “percepção pública” nas suas ligações com o “irmãos chineses” na exportação ilegal de madeira e, mais recentemente, o escândalo de desvio de cerca de 170 milhões de Meticais no Fundo de Desenvolvimento Agrário, também ensombraram a sua governação. A apreciável fasquia em que o seu antecessor, Oldemiro Baloi, um “macaco velho” na diplomacia, colocou o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, exige um desempenho forte de Pacheco e para qual muitas dúvidas existem. Há, sensivelmente, um mês no cargo, Pacheco, um veterano nos meandros da governação, herdou um ministério estratégico para a posição de Moçambique além-fronteiras, uma tarefa que partilha com o próprio Chefe de Estado. Um dos seus testes do momento é estabilizar as relações bilaterais com Portugal, um dos tradicionais parceiros de Moçambique, que anda de costas voltadas com o Governo moçambicano. Depois do escândalo do rapto de um empresário português na Gorongosa por forças de segurança moçambicanas, sobre o qual as autoridades de Lisboa já manifestaram a sua indignação com a falta de avanços no seu esclarecimento, por parte das autoridades de Maputo, mais recentemente duas portuguesas foram assassinadas na região centro de Moçambique, também em situações ainda por esclarecer. O fenómeno da “guerra suja” e dos “esquadrões da morte” é um “dossier” que voltou a colocar Moçambique no mapa dos países de maior violação de direitos humanos, como sugere o “Próximo a Morrer”, o relatório da Human Right Wacth, publicado a semana passada, em Maputo. O “Zé da Rua 6” (ao Macurungo, na Beira), como é carinhosa e, por vezes, jocosamente, tratado, tem ainda a missão de fazer pazes com uma comunidade internacional cujas relações com Moçambique, embora às vezes se tente ocultar, esfriaram-se desde a descoberta, em Abril de 2016, do escândalo das dívidas ocultas avaliadas em mais de USD 2 mil milhões contraídas na administração Guebuza. Caso o “homem das sete vidas” sobreviva também às próximas tempestades, aqui estaremos em Janeiro de 2019 para contar a sua performance nos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Tendo como dado adquirido o seu desconhecimento pelas relações internacionais, ao ministro Pacheco foi-lhe dado uma vice, Maria Lucas, uma diplomata muito respeitada entre os seus pares e descrita como “tecnicamente competente”. Conceita Sortane: Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano Uma comissária política emprestada, em Novembro de 2016, à mais alta hierarquia do sector da Educação, Conceita Sortane não aguentou a pedalada do seu antecessor, Jorge Ferrão, um ministro que estava aparentemente a tentar revolucionar o sector, apesar da derrapagem administrativa no atraso da distribuição do livro escolar e o pagamento das horas extraordinárias aos professores. Sem Ferrão, o MINEDH deixou de ser aquele pelouro que dá a cara sobre os temas mais prementes do sector, como as condições de trabalho e a formação de docentes, que condicionam a qualidade de ensino. Com Sortane, não se vê mais um MINEDH que reúne os mais diversos intervenientes da educação em busca das soluções para os problemas que apoquentam o sector. Sortane também é penalizada pela “crise das dívidas ocultas” que emagreceu o Orçamento de Estado e compromete a expansão do sector, num país que cresce demograficamente 5% ao ano. Enquanto isso, a classe docente, que em Moçambique ronda aos 150 mil professores do Sistema Nacional de Ensino, coloca-lhe nas costas uma cruz pelos sucessivos atrasos salariais que, em 2017, mais um ano de crise, levou a greves sucessivas de professores em vários estabelecimentos de ensino pelo país adentro. A produção do livro escolar, uma das grandes batalhas de Jorge Ferrão, que culminou com o afastamento da nomenklatura predadora da Frelimo, que amealhava dezenas de milhões de dólares nos concursos para os livros escolares obrigatórios, parece estar a voltar à estaca zero com a comissária política. Em 2017, foi introduzido um novo modelo de livro para a primeira e segunda classes, que só ficou disponível entre Março e Abril, agitando alunos, pais e encarregados de educação. Doze meses depois, há um novo modelo para o livro da segunda classe que, entretanto, ainda não está aprovado, numa altura em que faltam cerca de duas semanas para o arranque do ano lectivo 2018. Por outro lado, o sistema de distribuição continua vulnerável aos sindicatos predadores instalados no sector, que desviam o livro de distribuição gratuita das escolas para o mercado negro, onde é vendido a preços especulativos. Enquanto isso, mais de 600 mil crianças continuam a estudar sentadas no chão e ao relento no país. A “Operação Tronco”, uma ofensiva do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, veio “salvar” a antiga deputada da Frelimo, que com a madeira apreendida no âmbito da operação, viria a anunciar um programa ambicioso de produção e distribuição de carteiras escolares, lançado ainda no ano passado, com a meta de produção de 824.361 carteiras no período de 2017 e 2018. Membro da Comissão Política da Frelimo e chefe adjunta da brigada central do partido para a província de Manica, Conceita Sortane, ela mesmo, descreveu, em Agosto do ano passado, durante a abertura do terceiro Conselho Coordenador do MINEDH, o estado calamitoso do sector da educação. “A situação actual, em termos de aprendizagem, particularmente, nas classes iniciais do Ensino Primário, é preocupante! O que nos coloca desafios, referentes à qualidade dos nossos serviços e seus resultados que se reflectem na fraca aprendizagem dos alunos, problemas de gestão financeira ao nível das instituições de ensino e fraca pontualidade e assiduidade nas escolas por parte dos professores e alunos”, assumiu a ministra, admitindo ainda que é preciso resgatar a auto-estima do professor e reorganizar a carreira de docente. Nos dois anos que faltam para o fim de mandato, Conceita Sortane terá que mostrar que não está no MINEDH para cumprir agendas políticas e equilíbrios de género e/ou étnico-regionais, mas para servir um sector que é vital para o futuro do país. Como “prenda de fim do ano” recebeu USD10 milhões para pagar retroactivos em horas extraordinárias aos professores, o que pode influir positivamente na sua imagem. Adelaide Amurane: Ministra na Presidência para Assuntos da Casa Civil Não há muito a dizer sobre esta ministra que, pela sua natureza, não tem nenhuma exposição pú- blica. Amurane é uma das sobreviventes da administração Guebuza e já vai no seu terceiro ano no Governo de Filipe Nyusi. Reiteramos uma sugestão avançada na avaliação passada. Este ministério poderia claramente transformar-se numa direcção. TEMA DA SEMANA Savana 19-01-2018 5 PUBLICIDADE PUBLICIDADE TEMA DA SEMANA 6 Savana 19-01-2018 Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar: Higino Marrule Há uma nova cara no mais badalado ministério moçambicano. Mas o que se espera do novo protagonista são sobretudo novas políticas, num sector que tem deixado Filipe Nyusi à beira de um ataque de nervos. Marrule é agrónomo de profissão e já trabalhou anteriormente no ministério. Bateu com a porta por confronto directo com uma das ministras mais incompetentes do reinado Guebuza. Depois disso tem trabalhado em projectos da USAID, o braço da cooperação norte-americana em Moçambique. É duvidoso que tenha cartão partidário, mas não é certamente pela militância política que foi escolhido para chefiar um ministério problemático, onde soçobraram notáveis e históricos da Frelimo. dução que hoje, graças à tecnologia de satélite, podem facilmente ser desmontados pelos organismos internacionais especializados. Também é preciso desmontar a falácia que é o Chókwé, refém de um compromisso histórico herdado, provavelmente um dos maiores sorvedores de fundos no sector, sem resultados palpáveis. Deve também ajudar na formulação de uma política, que pode ser aplicada no Vale do Zambeze e que passa eventualmente pela “importação” de produtores agrários, para que eventualmente se ultrapasse o drama do deficit alimentar, da baixa produtividade e da armadilha demográfica das famílias camponesas moçambicanas. Para tudo isto é preciso vontade política, espaço para que se deixe trabalhar e também fundos substanciais que, em momento de bloqueio, parece muito difícil a sua disponibilização. É preciso uma aliança estratégica com o ministério de Celso Correia para a tomada de assalto à terra arável ociosa nas mãos dos poderosos da Frelimo à espera de um qualquer aventureiro estrangeiro para especularem com a venda de território que, ironicamente, dizem, é constitucionalmente propriedade do Estado. Ministro do Interior: Jaime Basílio Monteiro O ministério passou e está a passar por uma profunda transformação. Kalau deixou de ser o comandante da polícia e a morte do seu vice, o general Weng Seng, patrocinou uma enorme remodelação na corporação policial. O crime violento continua na ordem do dia, sobretudo nas novas urbanizações das grandes cidades. Mas como referenciou recentemente o director da polícia de investigação criminal, rebaptizada de SERNIC, os raptos deixaram quase de existir, o que dá corpo às teorias que as acções eram politicamente motivadas e gozavam de cumplicidades importantes em vários escalões da polícia. Monteiro, ele próprio um polícia, com cobertura presidencial, teve coragem suficiente em influenciar que oficiais da sua geração passassem à reforma. Estas rotações têm permitido trazer a postos de chefia polícias de academia em detrimento da velha guarda herdada do exército e de qualidade técnica duvidosa. Bernardino Rafael, o novo comandante da polícia, tem “fechado os olhos” à vários “banhos de sangue” entre alegadas gangues do crime no grande Maputo, mas estas acções têm encontrado assinalável apoio na opinião pública, muito martirizada pelo crime violento. O mesmo Bernardino tem sido menos persuasivo no combate à onda de radicalismo islâmico no norte de Cabo Delgado, onde praticamente todos os dias se registam incidentes violentos. Vários polícias têm sido mortos desde o início das hostilidades a 5 de Outubro de 2017. Outra das incidências onde a polí- cia é chamada a intervir é na prevenção dos acidentes de viação. Há claramente um recrudescimento de acidentes nas estradas com elevados índices de sinistralidade. Com a trégua militar que se vive no centro do país, a polícia foi afastado do debate em torno dos “esquadrões da morte” dado que se pensa que eles foram criados a partir de unidades dentro do corpo especial de polícia. O protagonismo da polícia em acções de rua e contra manifestações populares diminuiu durante 2017. Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural: Celso Correia O titular do pelouro continua a ser a estrela da companhia. Tem ideias, tem projectos, consegue fundos para as suas iniciativas e é resiliente aos formidáveis ataques de que é alvo desde que é ministro. Como já escrevemos antes, provavelmente é quem dá mais dores de cabeça ao presidente Nyusi, uma vez que os sectores conservadores do partido Frelimo é sobre ele que descarregam as suas iras e intrigas e o chefe do Executivo tem de lhe dar cobertura política. Mas ele é indiscutivelmente um dos melhores activos à disposição do presente governo. Com recursos minguados, Celso Correia conseguiu fundos suficientes para pôr em prática um programa ambicioso de conservação e ambiente que começa a dar frutos e a colocar Moçambique no mapa. No tráfico de marfim e caça furtiva, o ministro tomou iniciativas junto de países chaves na solução dos problemas: África do Sul, Vietname e China. Avançou com pacotes legais por forma a complementar as acções de natureza estruturante para o sector. A unidade armada de protecção à fauna e flora, embora tenha levantado muitas dúvidas no início, é agora alvo de elogios por parte dos operadores da floresta e de maneio do bravio. O ministério reclama para si o mé- rito de ter reduzido substancialmente o abate indiscriminado de elefantes no Niassa. No Vietname, têm sido apreendidas significativas quantidades de marfim de elefante e chifre de rinoceronte, reclamando o ministério que corresponde a uma política consertada com as autoridades daquele país. Celso Correia fez a primeira incineração de marfim no país e levou uma associação dos Estados Unidos a atribuir um prémio de conservação ao presidente Filipe Nyusi. O filantropo Greg Carr estabeleceu um novo contrato de concessão para o Parque Nacional da Gorongosa, o que garante um apoio imprescindí- vel para o desenvolvimento sustentável do mais emblemático parque faunístico moçambicano. Porém, o crime organizado no sector esteve em clara reorganização durante 2017. Os abates a elefantes recrudesceram no Niassa, os sindicatos do crime na área Magude/ Massingir/Chókwé continuam activos e com grandes proteccionismos, há novos focos de caça furtiva e abate de elefantes na zona Centro, uma área nova de incursão de furtivos. Na conservação da floresta, Correia fez passar legislação estruturante para o sector, proibindo a exportação de madeira em toros e estabelecendo uma moratória em relação a novas licenças de abate de espécies florestais. O ministério dirigiu algumas das operações mais espectaculares de apreensão de madeira em todo o país, não obstante a oposição de sectores influentes da sociedade moçambicana a tais operações. A “operação tronco”, muito mediatizada, teve um grande aplauso nacional e deu a ideia de que o governo estava bem activo no combate ao crime. A entrega de parte da madeira para a feitura de carteiras é importante porque dá empregos, aplica recursos nacionais e tira alguns milhares de crianças do chão, uma das imagens mais vergonhosas da pobreza moçambicana. Mesmo com os doadores com as torneiras fechadas, Correia foi ao Banco Mundial buscar USD400 milhões para um programa de desenvolvimento rural em Nampula e na Zambézia, o “Sustenta”. Continua a avançar a campanha de distribuição de títulos de terra (DUAT) e não está claro se o programa “Estrela” se transformou em “Sustenta”. Mesmo com a situação preocupante de distúrbios esporádicos na área de Palma por insurgentes islâmicos, continua de pé um ambicioso plano de reassentamento na província de Afungi, com o apoio da Anadarko e da Eni. Quando vários ministros tinham atirado “a toalha ao chão” perante a inexistência de fundos para realizar os “Jogos Escolares”, Correia e o MITADER conseguiram atrair recursos importantes que possibilitaram a realização do evento que junta jovens de todas as províncias do país. Não é por acaso que o mascote dos jogos era um rinoceronte. Para combater os seus detractores Correia tem vindo a afastar-se dos seus interesses empresariais tendo sido anunciado em 2017, que a CGD finalmente negociou a sua quota no BCI (Banco Comercial e de Investimentos). Celso Correia pode considerar-se um dos perdedores do Congresso de Setembro. Teve uma votação modesta na sua reeleição para o Comité Central e não conseguiu chegar à Comissão Política. Não se sabe se o recado de Graça Machel sobre os militantes que “sobem de elevador” lhe era particularmente dirigido. O lobby das “dívidas ocultas” ligado a Guebuza, sempre que pretende atacar Nyusi, visa Celso Correia em particular, inclusive em termos raciais. Adriano Maleiane: Ministro da Economia e Finanças 2017 continuou a ser um ano torturante para o titular do ministério. Injustamente ou não continua ele a ser o ministro das dívidas ocultas. É no seu ministério que estão acolitados os gurus internacionais que, a peso de ouro, vão tecendo vaticí- Os pedidos ao novo ministro não são complicados na sua explanação. Apoio à produção e produtividade do sector familiar da agricultura, eliminação do deficit na produção alimentar no país, mecanização crescente no sector agrícola mais evoluído, mais extensionismo, mais irrigação e mais interligação nas cadeias de valor que elevem o produto agrícola ao estatuto de bem industrial. Para cumprir estes paradigmas Marrule tem de vencer alguns pressupostos doutrinários internacionais que olham com extrema desconfiança para o apoio ao sector familiar, sobretudo quando se trata de entregar apoios a fundo perdido e fora das cadeias competitivas de mercado. Depois há os bancos, que são esmagadoramente privados e consideram muito mais rentável a aplicação das suas disponibilidades na compra de títulos de dívida do governo e no crédito ao consumo que a entrega de fundos a um sector tão errático e instável como é a agricultura. Logo, o ministro da Agricultura tem que ser um agregador de vontades e capacitado em diálogo institucional que envolve claramente outros ministérios e instituições. Este é o desafio de Marrule. Caro que tem de continuar a olhar com atenção para o açúcar, para o algodão e para as novas culturas de rendimento como o são o gergelim e o feijão bóer. Tem de ser criativo no caju e na política de taxas e dos próprios números que vêm a público, nem sempre traduzindo o que de facto se passa no sector real. Aliás, a propósito de números e metas, Marrule tem que falar olhos nos olhos com os seus técnicos e directores, habituados a anos a fio na fabricação de números de pronios sobre o entendimento com os credores. Maleiane foi a Washington e não conseguiu impressionar os funcionários do FMI. Não há novo programa enquanto não forem esclarecidos os “buracos” no Relatório da Kroll, uma situação que é da responsabilidade do Governo. Em retorno, ao abrigo do Artigo IV, uma delegação do FMI veio a Maputo repetir as mesmas coisas e acrescentar críticas à condução das políticas económicas do país. No meio das críticas só se safaram as medidas monetaristas do governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela. Tal como o governador, o FMI também considera preocupante o endividamento doméstico, a estratégia do governo para fazer face ao deficit orçamental, resultante do boicote dos doadores internacionais. Embora seja ele o “ministro das dívidas”, a decisão política sobre como lidar com o assunto não lhe compete a ele. O assunto será resolvido em função da maior ou menor pressão a que o governo esteja submetido pela comunidade internacional. Embora pouco relevante em maté- ria de políticas, o ministério acabou por ficar colado à compra de viaturas de luxo para o governo e parlamento, um assunto sempre mal visto perante a opinião pública. Foi Maleiane quem esteve em frente de uma difícil negociação com o banco suíço Credit Suisse e com os detentores TEMA DA SEMANA 8 Savana 19-01-2018 S e nesta segunda-feira foi o Presidente da República a completar três anos após a tomada de posse, esta sexta-feira, 19 de Janeiro, é o seu governo. O SAVANA abordou o director executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), Adriano Nuvunga que sem hesitar disse que o desempenho do governo foi mau, e justifica a sua tese com a baixa dos principais indicadores de desenvolvimento do país, nestes três anos. O professor de Ciência Política refere que faltou entrosamento do governo tendo se evidenciado uma espécie de contradição na actuação, bem como a falta de políticas económicas fora do Plano Quinquenal do Governo. Para Nuvunga, de momento ainda não há evidência do envolvimento do PR em acções de corrupção, mas o problema é que o PR deixa os membros do seu governo se envolverem nessa prática dando a sensação de que está a acarinhar. Passam hoje (sexta-feira) três anos após Filipe Nyusi ter empossado o seu governo. Como avalia o seu desempenho? Por um lado, se olharmos para o governo como um órgão dirigido pelo Primeiro Ministro(PM), por delegação do Presidente da República(PR), acho que o seu desempenho é mau. As estatísticas falam por si: Houve redução da actividade económica, cujo crescimento médio era de 7% nos últimos 20 anos e baixou para 3,2% em 2017. Agricultura também baixou de 3,1% em 2015 para 2,5% em 2017. A inflação chegou aos 22,3% em Maio de 2017, entre outros indicadores. Por outro, se olhar para o governo como equipa de trabalho não percebo como é que ele se estrutura e funciona. Por vezes, perguntas quem é o PM na República de Moçambique, porque não se faz presente como figura estruturante do processo de governação em Moçambique. Ele, o PM, é uma pessoa boa e afável, mas não é isso que vai resolver os problemas de pobreza dos moçambicanos. As pessoas querem que o PM estruture a governação para a implementação de políticas públicas sérias. Além do PQG não conheces políticas claras, realizáveis, monitoráveis e avaliáveis que o governo está a implementar sob alçada do PM. Salvo o projecto “sustenta” e das carteiras que estão sob alçada do MITADER que foram lançados pelo PR. Aliás, o pensamento do governo para desenvolver o país acaba girando a volta do MITADER e termina por ai. O PM visitou empresas públicas e exigiu reformas, coisas que não se via antes? Quando o PM gasta combustível pago por nossos impostos, em visitas às empresas é perca de tempo. Mostra que não há termos de A opinião é de Adriano Nuvunga “Governo teve um mau desempenho” Por Argunaldo Nhampossa referência. O PM não precisa de ir a mCel/TDM para ver que estão delapidadas ou para reunir conhecimento sobre o que se passa e o que se deve fazer para resolver esses problemas. As empresas têm que ter gestores com termos de referências claros de governação, boa gestão, não clientelismo, não patronagem política, gestão profissional e criteriosa para o alcance dos objectivos que são definidos pelo PM quando empossa os gestores. Mas é negativo visitar as empresas públicas? Mas isso depois resulta em o quê? Visitou a mCel e TDM e o CIP disse que o mais importante era trazer a tona o saque que se verifica nessas empresas, informações essas que nunca foi reveladas. Depois da visita o que aconteceu em termos práticos? Nada. Isto é manobra de diversão e significa que o governo não está claro sobre o papel das empresas públicas para além do saque que faz. O PM nomeia um PCA de uma empresa e amanhã vai visita-lo. O normal é fazer o levantamento do ponto de situação da empresa, rever os objectivos das empresas para recoloca-la na rota do alcance desses objectivos. Ofensivas presidenciais E como viu as ofensivas do PR depois do PM ter passado por alguns dos locais que o PR veio a visitar? Nem o PR precisa de ofensivas, isso é desorganização. Por exemplo, após a tomada de posse o Ministro dos Transportes e Comunicações visitou as empresas públicas tuteladas, depois seguiu o PM e mais tarde o PR. Isto mostra que não estão claros e estão a divertir-nos. Visitaram os TPM, as pessoas continuam a ser transportadas de my love que passam defronte da própria presidência. Este foi um dos anos em o PR fez mais mexidas na tentativa de dinamizar a sua equipa de produção. Com que impressão ficou com aquelas mexidas? Vi muito mal as mexidas. Você definiu os objectivos e critérios para aqueles lugares, o que fez foi alterar as pessoas nos cargos sem dizer quais as razões. A Letícia Klemens ficou apenas um ano. Aquando da sua nomeação reclamamos e houve várias justificações incluindo a do próprio PR alegando que era pessoa certa. Tempos depois foi tirada sem dizer as razões. Há outros ministros que desde a nomeação nunca fizeram nada, estão adormecidos em sectores estratégicos para o desenvolvimento e não são mexidos, incluindo os que estão em conflito com a lei. Fica claro aqui que as pessoas são nomeadas e exoneradas em função de outros jogos de interesse e menos com a solução dos problemas da população. O PR tem feito o uso abusivo da cláusula constitucional “nos uso das competências que são atribuídas determina”. Tem que responder a população porque colocou uma determinada pessoa num cargo, porque ele foi eleito e essas pessoas usam recursos públicos. Se atribuiu nota negativa ao desempenho do governo automaticamente o seu chefe também... Aqui depende da perspectiva. Viemos duma governação autoritária e intolerante, mas com sentido desenvolvimentista. Acho que Nyusi é bom por ser dialogante, sorridente e tirou na sociedade aquela imagem de tensão do tempo de Guebuza. Mas isso não resolve o problema do dia-a-dia das famílias. Iniciou o processo de paz e está parado, não há frutos e acho que é preciso concluir esse processos. Se pensarmos que o PR está no poder para fazer menos danos daqueles que herdou, penso que há que um sentido positivo aqui. Mas se olhar para as expectativas de desenvolvimento há mutos problemas porque está ser um homem de processes inacabados. Falou da paz que é imprescindível para o desenvolvimento. Como tem acompanhado as negociações? Todos processos de negociação de paz andam envolto de secretismos. Para mim, o mais importante é que os processo sejam concluído de forma séria e que se estabeleça confiança nas pessoas para que possa descer das lideranças para o povo e dinamizar um processo construtivo de reconciliação nacional e de retirada das raízes de ódio e exclusão que minam a paz. Afonso Dhlakama tem se mostrado optimista quanto a um entendimento sobre a matéria de descentralização e céptico quanto aos assuntos militares. Acredita num acordo duradoiro? Afonso Dhlakama tem a sua razão. É militar e compreende os processos de desenvolvimento à luz de instrumentos militares. Tem um chip próprio de desconfiança que é a forma que tem de ganhar segurança. Em questões militares penso que temos que ser tolerantes. É por isso que falava de entendimento a nível das lideranças para fechar o dossier de modo que alimente o processo de pacificação e construção de uma paz social com participação de todos. A descentralização é um dos pilares importantes, não somente para a solução da paz, mas para consolidação da democracia e promoção do desenvolvimento. Isto vai contribuir para o surgimento de novas e descentralizadas elites locais nos diferentes pontos do país que localmente vão problematizar as questões de desenvolvimento incorporando as dinâmicas de indústria extrativa que possam promover diálogo com as elites baseadas em Maputo para partilha de poder. A Municipalização é o primeiro degrau. Veja que em Nampula, por exemplo, quem faz campanha vem de Maputo. Tomas Salomão é uma pessoa muito grande para Nampula, penso que deveria deixar para as elites de Nampula. Isto é continuação de maputização de Moçambique, sendo que a descentralização é um o caminho para a promoção das elites locais. No seu entendimento, como é que deve ser eleito o governador provincial? Isso é complicado. Mas, acho que deveria ser a pessoa que encabeça a lista do partido na província. Não se corre o risco de não ter as elites locais? Não. Isso é um passo importante para desmaputizar. Olha, deve se colocar os requisitos de residência, os partidos devem escolher para candidato a Governador da Província entre os filhos dessa província que lá vivem e todos aqueles que lá estejam há 5 ou 2 anos e que desenvolvam actividade académica, económica, social e artística. Não importa a origem de nascimento, desde que seja moçambicano e que tenha participado do processo do desenvolvimento da província pelo menos no tempo acima referido. Em que medida a eleição directa não traria uma mais valia? Essa seria problemática porque ainda estamos num processo iniciante de consolidação democrática. Precisamos de consolidar a paz, as eleições como mecanismo de indicação de dirigentes políticos para podermos avançar. Precisamos de reduzir aquele legado que não nos permite sair da luta de libertação e dos 16 anos da guerra civil e temos de consolidar esse processo e partimos para uma agenda de desenvolvimento. O nosso problema é que os partidos políticos que temos não são democráticos, mas são os que temos. Neste momento deve se dar maior saliência aos partidos para que possam se estruturar e individualizar cada vez menos os processo. Quando o partido indica o cabeça de lista isso permite maior participação e mais consensos. A eleição tem que ser a pessoa de topo na lista. Tens pessoas num circulo eleitoral de Nampula que nunca viveram em Nampula, mas foram indicados a partir de Maputo, mas a outra opção pode resolver esse problema e acelerar a descentralização. A advocacia em prol do combate à corrupção é a bandeira do CIP. como viu o envolvimento do governo nessa frente? O que vimos é que o PR não está ele como pessoa empenhado no saque, ou seja, ainda não temos essas evidências, o que desde já é uma contribuição. Vimos situações anteriores em que a liderança máxima do país geria uma economia polí- tica da corrupção, neste momento não estamos a ver. Mas, sucede que o PR está cercado de ministros que parece que fizeram um investimento e através da corrupção querem recuperar o investimento feito para chegar ao topo. Não estamos contra os empresários que se tornam ministros, só que perguntamo-nos qual é o incentivo que o empresário tem para deixar a sua lucrativa actividade empresarial e ir para o governo para ganhar 80 mil meticais, um Mercedes, uma casa e viajar na classe executiva. Há um conflito profundo de interesses entre os governantes, maioritariamente dos que vem da área empresarial com a sua função. Parece que tem autorização de fazer corrupção. E qual é o maior escândalo de corrupção que o CIP viu nestes três anos de administração Nyusi? A questão não é essa, porque não é o fogo grande que queima, mas aquele bem afinado. No anterior mandato tínhamos um sistema centralizado de corrupção, onde fazer corrupção era como arriscar. O discurso governamental de combate à corrupção nada tem a ver com o dia a dia do país e isso reforça o nosso entendimento que o PR não vai fazer nada sobre à corrupção. Apesar de termos ouvido no congresso que houve muitas falas sobre o combate à corrupção, o que nos foi transmitido pelos porta-vozes é que os corruptos tinham de ser ressocializados e ninguém ia ser responsabilizados por acções de corrupção. O PR acarinha a corrupção perante evidência claras, a falta de responsabilização no caso das dívidas ocultas é dos exemplos disso. “Filipe Nyusi não está envolvido em actos de corrupção, mas acarinha” TEMA DA SEMANA Savana 19-01-2018 9 PUBLICIDADE TEMA DA SEMANA 10 Savana 19-01-2018 Miguel de Brito e Salvador Forquilha, pesquisadores do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA) e do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), respectivamente, analisam a eleição intercalar de Nampula, que terá lugar no próximo dia 24 do corrente mês, e concluem que há poucas possibilidades do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) continuar na presidência daquela autarquia. Para os estudiosos das ciências políticas, a ausência da Renamo na corrida eleitoral de 2013 e a insatisfação dos eleitores da Frelimo com o candidato escolhido pela direcção do partido, fez com que a organização de Daviz Simango aparecesse como alternativa quando comparada com outros concorrentes. Neste momento, apesar do excelente desempenho do edil finado, o MDM chega a esta eleição intercalar visivelmente fragilizado, na sequência da crise interna e mal gerida pela liderança do partido. No entender dos analistas a difícil relação entre a liderança do MDM e o antigo edil afectou negativamente a organização junto dos munícipes de Nampula. Os entrevistados do SAVANA avaliam a entrada da Renamo na corrida como um marco importante na medida em que aumenta as possibilidades de escolha por parte dos eleitores e, por via disso, contribui para o reforço e aprofundamento do processo democrático. Para Miguel de Brito, o município de Nampula tem sido historicamente uma autarquia da Frelimo do ponto de vista de resultados eleitorais. A vitória do MDM em 2013 foi atípica, pois deveu-se, em parte, a uma enorme abstenção entre os eleitores da Frelimo, insatisfeitos com o candidato que o seu partido tinha escolhido, e à ausência da Renamo. O pesquisador do EISA entende que a escolha pela Frelimo de um candidato menos controverso do que o de 2013, a presença da Renamo na corrida e as circunstâncias em que aconteceu a morte de Mahamudo Amurane (no meio de uma crise com o seu partido) vão ser grandes obstáculos à retenção do poder pelo MDM. Salvador Forquilha é da opinião de que o MDM chega a esta eleição intercalar visivelmente fragilizado, na sequência da crise interna mal gerida, cristalizada particularmente na difícil relação entre a liderança do partido e o antigo edil de Nampula. Forquilha diz que a maneira como a crise começou, se desenvolveu e, sobretudo, foi gerida afectou negativamente, junto dos munícipes de Nampula, a imagem da liderança e do partido MDM no seu conjunto. Isso porque, de acordo com pesquiA previsão é dos politólogos Miguel de Brito e Salvador Forquilha Será difícil MDM manter Nampula Por Raul Senda sador, no contexto do conflito entre o antigo edil e o seu partido, foi-se construindo e cristalizando a ideia, segundo a qual o MDM atropelava grande parte de princípios, que dizia defender, nomeadamente a transparência, a inclusão, o respeito pelo erário público, etc.,... princí- pios publicamente assumidos e defendidos pelo Presidente Amurane durante os anos da sua governação. Na óptica de Forquilha, no imaginário dos munícipes de Nampula, os ganhos conseguidos pela governação municipal, em termos de serviços públicos, sobretudo nos últimos anos, nomeadamente, no que se refere ao saneamento do meio, vias de acesso, infraestruturas, transporte estavam mais associados à pessoa do Amurane e sua equipa do que propriamente ao partido MDM. “Ora, o agudizar da crise entre o antigo edil e o seu partido afundou, literalmente, a imagem do MDM junto dos munícipes de Nampula, contrariando, assim, o sentimento inicial dos nampulenses favorável ao MDM, particularmente nos primeiros anos da governação do Presidente Amurane. Neste contexto, penso que vai ser extramente difícil que o MDM consiga mobilizar o eleitorado com sucesso”, previu a académico para depois sublinhar que, “é importante não nos esquecermos do facto de que, em 2013, teoricamente, houve uma parte do eleitorado da Renamo que votou no MDM... e que hoje, com a entrada da Renamo na corrida, o MDM, muito provavelmente, não vai poder contar com esse eleitorado”. O efeito Renamo Quanto à entrada da Renamo na corrida eleitoral municipal depois de longos anos de ausência, Miguel de Brito entende que o partido de Afonso Dhlakama é uma organização com uma história de popularidade eleitoral na província de Nampula, onde no quinquénio 2003-2008 governou três municí- pios e, em 2003 chegou a alcançar 40% do voto na cidade de Nampula. “Penso que no actual contexto político e sócio-económico do país, a Renamo será um contendor forte nesta eleição intercalar e será um teste para esse partido na preparação para as eleições de Outubro de 2018, depois de ter estado afastado de eleições autárquicas durante uma década”, explicou Brito. Sobre a mesma questão Salvador Forquilha refere que é importante na medida em que aumenta as possibilidades de escolha por parte dos eleitores e, por via disso, contribui para o reforço e aprofundamento do processo democrático. Contudo, segundo Forquilha, a entrada da Renamo também é importante para a sobrevivência política da organização. Sublinha que, para um partido da dimensão da Renamo, estar sistematicamente ausente das eleições locais pode, a médio e longo prazo, ter implicações negativas, do ponto de vista da construção, mobilização e consolidação da base de apoio a nível local. Salvador Forquilha diz que além de participar nesta eleição intercalar, a entrada desta organização pode significar uma preparação, por parte da Renamo, para as eleições autárquicas de 2018. Erro da CNE é preocupante Miguel de Brito classifica a confusão dos cadernos eleitorais como erro grave e que devia ter sido melhor supervisionada pelas sombras que causou no processo. “Felizmente a CNE rapidamente reconheceu o erro, rectificou-o e aparentemente os partidos estão satisfeitos com a reacção da CNE. É preciso notar que aquele erro não haveria de ter necessariamente impacto no dia da eleição porque os cadernos que estarão nas mesas são extraídos da base de dados por outros métodos”, disse. Salvador Forquilha diz que olha para a situação com muita preocupação, essencialmente por duas razões. A primeira diz respeito aos efeitos da dita “confusão” para a transparência e credibilidade do processo eleitoral em curso. De acordo com Forquilha, para o bem da democracia, é fundamental que a CNE assuma as suas responsabilidades no sentido de garantir que tenhamos processos eleitorais transparentes, credíveis, capazes de devolver aos partidos políticos e aos cidadãos em geral a confiança nos órgãos de gestão eleitoral, de maneira a que se possa reduzir o potencial de violência antes e depois das eleições. Na análise de Forquilha, a segunda razão da preocupação relativamente à dita “confusão”, prende-se com a constatação de que mais de 20 anos depois, os nossos órgãos de gestão eleitoral ainda cometem este tipo de erros, que são graves e inaceitá- veis... sobretudo quando se fala da importância da profissionalização dos órgãos de gestão eleitoral. “A experiência de mais de 20 anos de processos eleitorais em Moçambique mostra que o funcionamento dos órgãos de gestão eleitoral, a desorganização que caracteriza a forma como os processos eleitorais têm decorrido, muitas vezes, estão na origem da falta da transparência e da credibilidade dos nossos processos eleitorais e, por via disso, na origem de conflitos eleitorais que o país tem vindo a viver ciclicamente. Por isso, erros desta natureza são inaceitáveis e extremamente preocupantes”, lamentou. Salvador Forquilha estranha o silêncio da Frelimo e diz que o mesmo é preocupante e levanta muitas questões como: Será que esta “confusão” passou despercebida aos olhos da Frelimo? Com toda a capacidade técnica e experiência que a Frelimo possui em processos desta natureza, como foi possível não ter detectado essa “confusão”? E se a detectou por que razão não a denunciou, em nome da transparência e credibilidade do processo? Estratégias de campanha eleitoral Sobre a campanha de caça ao voto, cujo o término está marcado para domingo, 21, Miguel de Brito diz que a Frelimo está a fazer uma campanha na mesma linha de campanhas anteriores, utilizando um misto de figuras locais e “pesos-pesados” da sede (Maputo). Os outros dois partidos estão provavelmente a utilizar uma outra estratégia, mais “localista”, que poderá ter a ver com a forma como estão a “ler” a disposição do eleitorado. Salvador Forquilha refere que eleição intercalar de Nampula se reveste de capital importância para a Frelimo porque, é uma oportunidade para “recuperar” um município estrategicamente relevante para além de que esta é o primeiro teste político mais importante para a nova liderança saída do 11º Congresso. “Nesse sentido, para a nova liderança, ganhar ou perder esta eleição intercalar pode ter implicações políticas muito importantes dentro do partido”, disse. Sobre a materialização de inúmeras promessas, num mandato que não vai para além de 10 meses, Miguel de Brito foi claro e directo e garantiu que a sua materialização é quase impossível devido o factor tempo. Entende que os candidatos, estão a usar este processo eleitoral, como um ensaio para o pleito eleitoral de Outubro próximo. Salvador Forquilha entende que muitas das promessas eleitorais que os candidatos trazem exige um plano de acção mais estruturado e de médio e longo prazo. Todavia, do ponto de vista estratégico, ganhar esta eleição vai ser crucial para qualquer partido, em termos de vitória em Nampula nas próximas eleições autárquicas. “É interessante notar que à medida que a campanha evolui há uma tentativa de apropriação do legado do Amurane para além do MDM – também pela Frelimo. A Renamo, pelo contrário, parece convencida que pode ganhar sem recorrer a este artifício. Veremos até que ponto isto vai funciona”, frisou Forquilha. Não actualização do censo eleitoral é inconstitucional Ao contrário do estabelecido na lei eleitoral, para a eleição intercalar de Nampula, os órgãos de administração eleitoral ignoraram a actualização do censo e recorreram aos dados de 2014 facto que impedirá que eleitores que completaram 18 anos em 2015, 2016 e 2017 e até 2018 exerçam o seu direito cívico. Perante o vício, Miguel de Brito refere que por força da lei, o censo deveria ter sido actualizado para esta intercalar porque, os dados de 2014 vão impedir que cerca de 35.000 eleitores exerçam o seu direito cívico e constitucional nesta intercalar. “Para além de ilegal e inconstitucional, penso que é extremamente injusto. Fiquei admirado que nenhum dos partidos tenha protestado contra a decisão de não se actualizarem os cadernos de eleitores. Estou curioso em ver se o Conselho Constitucional se irá pronunciar sobre este assunto quando analisar o processo para a sua validação”, disse. Miguel de Brito, EISA Salvador Forquilha, IESE SOCIEDADE TEMA DA SEMANA Savana 19-01-2018 11 Menos de um mês depois de assumir a presidência do Zimbabwe, através de uma intentona militar susceptível de ensombrar a sua legitimidade, Emmerson Mnangagwa está num périplo pela região austral de África, onde tem mantido encontros com antigos e presidentes em exercício. “Está a dizer aos seus antigos companheiros de luta que já estou aqui”, diz ao SAVANA um membro da comitiva presidencial do Zimbabwe que, às nove horas desta quarta-feira, aterrava no Aeroporto Internacional de Maputo para uma visita de trabalho de um dia na capital moçambicana. Em Moçambique, o quarto país visitado por Mnangagwa desde que tomou posse a 24 de Novembro de 2017, na sequência da renúncia forçada de Robert Mugabe, o actual presidente zimbabweano encontrou-se, para além do presidente Filipe Nyusi, com os antigos estadistas, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, companheiros que conheceu durante os movimentos de libertação. No seu périplo, Mnangagwa escalou primeiro a África do Sul, onde reuniu com o presidente Jacob Zuma, na qualidade de presidente em exercício da Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral (SADC). Seguiu à Angola, onde encontrou-se com o presidente João Lourenço, que preside o órgão sobre Política, Defesa e Segurança e, na segunda-feira, esteve na Namíbia, onde manteve conversações com o presidente Hage Geingob. É o reencontro de antigos combatentes pela libertação de África, cujas amizades foram forjadas na longa noite colonial, quando se batiam pela independência dos seus países. Mnangagwa é um notável combatente do movimento libertador do Zimbabwe que, de armas em punho contra o regime de minoria branca da então Rodésia do Sul, conquistou os seus galardões de herói da libertação. Foi nessa condição que se conheceu com muitos dos actuais e antigos líderes africanos, na altura como combatentes que partilhavam um sonho de uma África livre do colonialismo. Partilharam estratégias em movimentos regionais como a Linha da Frente, uma organização fundada por um grupo de países da região para travar as acções de desestabilização militar, desencadeadas pelo regime do Apartheid da África do Sul contra os países independentes da região. Aliás, esta quarta-feira, MnangaMnangagwa apresenta credenciais na região Por Armando Nhantumbo gwa destacou que era uma honra estar num país irmão onde esteve como combatente durante a luta pela independência do Zimbabwe, que só viria a ser alcançada em 1980. “Sinto-me como se estivesse em casa”, disse. No périplo, menos de um mês depois de ascender a presidência da República do Zimbabwe através de uma operação militar, Mnangagwa está a informar a velhos amigos sobre a transição que chama de pacífica no seu país. “Tenho de informar e dar a conhecer aos meus irmãos mais velhos e presidentes [dos países] da SADC sobre a situação política no Zimbabwe, desde a transição pacífica ate à nova ordem política no país”, disse, num discurso manuscrito que leu na Presidência da Republica, na tarde desta quarta-feira, três horas depois de ter mantido conversações com o seu homólogo moçambicano. Mnangagwa aproveitou a ocasião para voltar a exaltar Robert Mugabe, que considerou como pai e ícone da revolução zimbabweana, cujo legado, assegurou, será preservado e tratado com a devida consideração. Garantiu ainda que as eleições gerais agendadas para este ano ,no Zimbabwe, irão decorrer num clima de liberdade e justiça e em obediência aos padrões democrá- ticos e de transparência e liberdade previstos pelos princípios da SADC e na União Africana (UA). Por sua vez, o presidente moçambicano disse também que era uma honra receber aquele que chamou de amigo de longa data, cuja amizade foi fundada e fortalecida em 1963 em Bagamoio, Tanzânia, com líderes da libertação moçambicana. Frisou que as excelentes relações político-dipomáticas foram alicerçadas na epopeia da luta de libertação. Filipe Nyusi disse que a escolha de Moçambique, por Mnangagwa, como dos primeiros países a visitar confirma as relações histó- ricas entre os dois países. Cooperação bilateral Na cooperação bilateral, Emmerson Mnangagwa manifestou preocupação com a fraca implementação dos acordos entre os dois países, afirmando que, doravante, não se pode tolerar a ineficiência dos ministros zimbabweanos e moçambicanos. “Não queremos mais trabalhos ministeriais que não tragam resultados palpáveis. Queremos que os nossos ministros sejam proactivos e nos tragam resultados” vincou. Por sua vez, Filipe Nyusi entende que é tempo de se acelerar as parcerias. “É preciso sermos ousados na busca de parcerias para a exploração das oportunidades existentes”, disse. “Os nossos países devem continuar a trabalhar juntos para trilhar o caminho do progresso”, acrescentou Nyusi, para quem o sector privado dos dois países também deve ser mais activo na exploração das oportunidades. Os dois estadistas não entraram em detalhes sobre as parcerias, mas sabe-se que Moçambique é dos principais fornecedores da energia eléctrica para o Zimbabwe, um país do interland que tem ainda no Porto da Beira, em Sofala, a porta para o comércio internacional. SOCIEDADE O brinde de amigos de longa data 12 Savana 19-01-2018 INTERNACIONAL SOCIEDADE SOCIEDADE Pacote para as férias de Natal O repouso que tanto necessita Reserve um quarto para 4 pessoas por apenas R990 Almoço de natal por R295 adulto e R120 por criânça. Oferta de pequenos presentes de natal. Jantar/festa na véspera do novo ano. Call us on 013 758 1222 or email on reservations@bundulodge.co.za or visit our website on www.bundulodge.co.za A Human Rights Watch (HRW), uma organização internacional de defesa dos direitos humanos, apela à comunidade internacional para repensar a sua cooperação com Moçambique, caso nada seja feito para a responsabilização dos violadores dos direitos humanos durante o último conflito armado no país. Num relatório de 54 páginas, com o título “O próximo a morrer”, lançado na passada sexta-feira, são narrados alegados abusos cometidos pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e a guerrilha da Renamo, durante os confrontos armados que assolaram o país entre 2015 e 2016. A pesquisa, realizada entre Novembro de 2015 e Dezembro de 2016, nas províncias de Manica e Sofala, principais palcos do conflito, aponta desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e a destruição de propriedade privada, alegadamente levados a cabo pelas forças governamentais. Contra a Renamo, a HRW tem documentados assassinatos políticos, ataques aos transportes públicos e o saque de postos médicos. Pessoas acusadas ou suspeitas de apoiarem ou terem informação privilegiada de um dos lados foram detidas e espancadas pelos dois lados, tiveram as suas propriedades, principalmente casas, vandalizadas e até incendiadas, como forma de obrigá-las a confessar, lê-se no relatório. A HRW diz que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, admitiu, em resposta a um questionário enviado pela organização, ter dado ordens para atacar autocarros públicos, que, alegadamente, transportavam, secretamente, militares. Mas, negou assassinatos políticos, tendo os considerado “propaganda” do partido no poder. Forneceu uma lista com 306 nomes de membros do seu partido que foram alegadamente atacados ou assassinados pelas forças governamentais, entre Março de 2015 e Dezembro de 2016. A HRW contabilizou 32 casas destruídas ou queimadas nas aldeias de Nhampoca, Mukodza, Inhaminga, Nhamapadza, Casa Banana, Vunduzi, Nhamandzi e Gorongosa, província de Sofala, que os moradores disseram terem sido alvos das FDS. Para HRW, este tipo de acções configuram abusos e viola as obrigações de Moçambique enquanto estado-Parte do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polí- ticos (PIDCP), da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes e da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, entre outros tratados Investigar seriamente Findo o conflito, com a instauração Violação dos direitos humanos HWR pede reavaliação do apoio a Moçambique Por Argunaldo Nhampossa de tréguas, que já vigoram há mais de um ano, a HRW acusa o Governo de não ter investigado adequadamente os abusos cometidos durante aquele período. Diz que as vítimas dos abusos, familiares e testemunhas nunca foram contactadas pelas autoridades moçambicanas, muito menos ouviram falar de uma investigação em curso, no sentido de esclarecer o que verdadeiramente se passou e, consequentemente, responsabilizar os mentores. “O facto de violações de direitos desta gravidade saírem impunes, algo que prevalece em Moçambique, encoraja o cometimento de novos abusos”, sublinha a pesquisa. A HRW assinala que o Governo deve cumprir as suas obrigações no âmbito do Direito Internacional em matéria de direitos humanos e investigar de forma imparcial e minuciosa as denúncias de abusos graves cometidos, quer pelas forças governamentais, quer pela Renamo, e levar os responsáveis à justiça. Encoraja o executivo a criar uma base de dados nacional de pessoas desaparecidas, com informações detalhadas para ajudar a identificar e localizar quem foi detido, vítima de desaparecimento forçado ou assassinado. Tomaram como exemplo o caso das valas comuns de Macossa, na província de Manica, cujo relatório ainda não divulgado pela Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade da Assembleia da República, que encabeçou as investigações. Sobre este assunto, Ian Levine director-executivo adjunto de Programas da HWR, diz que ficou decepcionado com a falta de resultados, passados dois anos após a descoberta das valas. Considerou preocupante que não se saiba o que aconteceu com aquelas pessoas e quem são, o que revela falta de prestação de contas do Governo ao seu próprio povo. Para além de instar o Governo moçambicano, a Assembleia da Repú- blica e a Renamo para investigarem seriamente o assunto e entregar os prevaricadores à justiça, recomendou a comunidade internacional a exercer a devida pressão ao Estado Moçambicano. “Reavaliar a assistência financeira e de outro tipo, incluindo formação e capacitação, para garantir que as instituições envolvidas em violações dos direitos humanos não continuam a receber apoio, a menos que o Governo moçambicano tome medidas concretas para acabar com estas violações e para responsabilizar os seus autores”, defende a pesquisa, aludindo aos doadores internacionais, numa altura em que suspenderam o apoio directo ao Orçamento do Estado. Aponta para a necessidade de os doadores introduzirem no diálogo político com o Governo moçambicano preocupações relevantes em matéria de direitos humanos e a respectiva monitoria. Não houve abusos - PR A HRW enviou também uma carta ao Presidente da República, Filipe Nyusi, solicitando esclarecimento sobre os abusos cometidos durante o conflito. Em resposta, a Presidência da República disse não ter registado nenhum caso de tortura ou abusos dos direitos humanos pelos agentes policias durante o conflito. Negou ainda a destruição ou o incêndio de casas pelas FDS, detenção e desaparecimento de pessoas e a inexistência das valas comuns. Amnistia não cria FRQÀDQoD Em declarações ao SAVANA o director-executivo adjunto de programa da HRW, que trabalhou em Moçambique durante a guerra dos 16 anos, Ian Levine, afirmou que a amnistia não cria confiança na sociedade, porque os principais actores vão trocar acusações eternamente. O Estado moçambicano já concedeu duas amnistias aos crimes e abusos cometidos durante a guerra dos 16 anos e as hostilidades de 2013/14. Aquele activista de defesa dos direitos humanos disse esperar com agrado um acordo de paz para que as instituições possam investigar o assunto e levar os responsáveis à barra do tribunal. Para Ian Levine, tal iniciativa vai ajudar na recuperação das famílias, pois vão saber que a pessoa que assassinou o seu familiar foi julgado e condenado. Entende também que a responsabilização vai ajudar a que a paz seja efectiva e duradoira, bem como na criação de um clima de maior confiança. Ian Levine espera que a publicação do relatório da HRW provoque debates sérios em torno dos objectivos da pesquisa, obrigando o executivo moçambicano a reconsiderar a posição expressa na carta, de modo a iniciar novas investigações para a responsabilização dos abusadores dos direitos humanos. Levine manifestou disponibilidade da sua organização em ajudar nas investigações e capacitação dos magistrados e técnicos. HRW apela ao governo moçambicano para investigar seriamente os abusos Savana 19-01-2018 13 DIVULGAÇÃO PUBLICIDADE SOCIEDADE Men Engage boys and men for gender equality Africa FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS Organizadores: Parceiros: MINISTÉRIO DE GÉNERO, CRIANÇA E ACÇÃO SOCIAL saude masculina paz igualdade sexualidades masculinidades positivas emocoes prestacao de contas justica de genero nao-violencia saude tarefas domesticos II SIMPÓSIO MENENGAGE África II SIMPÓSIO MenEngage África 23 - 27 | ABRIL | 2018 Campus da Universidade Eduardo Mondlane | Maputo Inscrições: www.maputosymposium2018.org.mz Email: secretariat@maputosymposium2018.org.mz 14 Savana 19-01-2018 Savana 19-01-2018 15 NO CENTRO DO FURACÃO Ministro de Mar, Águas Interiores e Pescas: Agostinho Mondlane É um ministro invisível e com um alto grau de dificuldades de comunicação. Três anos após ser empossado como ministro, Mondlane ainda não apareceu, num ministério com o papel crucial na coordenação, planificação e na execução das políticas estratégicas nas áreas do mar, águas interiores e pescas. Cada ano que passa, a contribuição do pescado no Produto Interno Bruto (PIB) tem reduzido tendo caído de 8.1% em 2014, para 3.8 % em 2017. Ministério. Em 2017, a produção foi de 2.040 toneladas em todo o país e para 2018 prevê-se uma produção de 2.202 toneladas, um crescimento 162 toneladas. Na pescaria comercial do atum, o ministério prevê em 2018 a entrada em funcionamento de dez embarcações nas províncias de Maputo e Sofala. Prevê igualmente uma produção de 2.870 toneladas. É preciso notar que o atum é um negócio que custou ao país um endividamento de USD850 milhões, através da famigerada Ematum, que possui actualmente 24 embarcações atracadas no Porto de Pesca de Maputo. A salvação da Ematum, poderá passar pelas mãos do ex-agente da CIA e das forças especiais norte-americanas, Erik Prince, fundador da não menos controversa Blackwater Security, antiga firma norte-americana especializada em serviços de segurança militarizada. Esperemos que não seja mais uma burla ao nível de outras que empurram o país para o fundo do poço Nyeleti Mondlane: Ministra da Juventude e Desportos Empossada, há dois meses (Novembro de 2017), em substituição de Alberto Hawa Januário Nkutumula, Nyeleti Brooke Mondlane já se fez notar na direcção do pelouro, por algumas mexidas no xadrez, como é há- bito. A grande mexida foi a nomeação de Francisco da Conceição para o cargo de director do Instituto Nacional do Desporto, uma instituição responsável pela implementação da política do desporto, mas que anda amorfa, desde a saída do “veterano” António Munguambe. Esta decisão, embora não seja sufi- ciente para mudar a face do desporto, demonstra alguma visão que a nova titular do pelouro tem, facto que não se verificou durante o reinado do seu antecessor, que precisou de mais de um ano para fazer as mexidas necessárias. Nyeleti Mondlane chegou ao cargo num momento em que o anterior timoneiro enfrentava duras críticas, sobretudo pela falta de visibilidade de políticas concretas em relação à juventude, um sector explosivo do país que precisa de ocupação e emprego. Retirada do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, onde desempenhava as funções mais ou menos obscuras de vice-ministra, Mondlane não têm nenhum histórico na área desportiva. Ela é membro da poderosa Comissão Política da Frelimo, órgão que orienta e dirige o Partido no intervalo das sessões do Comité Central. Embora possa ser pessoalmente injusto, Nyeleti representa na Frelimo a visão pós-congresso de Quelimane de que os filhos dos responsáveis também deveriam começar a ocupar cargos na direcção do partido, contrariando a visão negativa dos filhos-família mimados das nomenclaturas africanas, mais populares em revistas de jetset e gostos extravagantes. Aliás, a sua eleição para aquele órgão é apontada como a razão principal da sua ascensão ao cargo de ministra, à custa de Nkutumula, que não se conseguiu manter no Comité Central, para além da antipatia que nutria por outros jovens em ascensão no partido. A filha de Eduardo Mondlane estreia-se no Governo, dirigindo um Ministério alvo de muitas críticas, do Chefe de Estado, por um lado, pela má gessenvolver num pelouro complexo e de grande escrutínio público, sobretudo nas questões da juventude. Como resposta, o FPD, já na liderança de Arsénio Sarmento, lançou dois concursos públicos, um para a concessão de duas bilheteiras e o outro para a concessão da Piscina Olímpica do Zimpeto. Até ao momento, não se sabe que resultados foram obtidos, mas aplaudimos esta decisão (que peca por tardia), pois, entendemos ser a única capaz de garantir a sustentabilidade daquelas infra-estruturas. Um dos problemas deixados por Nkutumula está relacionado com a revisão do diploma que define as modalidades prioritárias, documento caduco que é alvo de muitas críticas por dar prioridade às modalidades que não produzem resultados visíveis, como o futebol (há oito anos que não se qualifica ao CAN). A discussão do documento foi uma promessa não cumprida pelo “jovem ministro” e ainda constitui preocupação do movimento associativo, que não aceita que o futebol continue a consumir fundos públicos sem produzir resultados satisfatórios. Outros projectos não concluídos são o do estabelecimento do Regime Jurídico para a criação das Sociedades Anónimas Desportivas, e o da legalização de algumas federações desportivas que continuam a receber apoios do Governo, sob olhar impávido da Inspecção Geral do Desporto, liderada por José Dimitri. Apesar destes factos, Nkutumula deixou algumas conquistas, destacando-se a parceria com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano para a introdução de clubes-escolares, entendidos como vectores da massificação desportiva. Aliás, durante o XIII Festival Nacional dos Jogos Desportivos Escolares, o MJD fez o levantamento de dados antropométricos dos atletas, um passo importante para a captação de talentos. Mas para a área do desporto há uma vice, sobretudo para se ocupar de aspectos formais como inaugurações e abertura de eventos. No que a juventude diz respeito, de referir a divulgação da política desta faixa etária, em braille, como uma forma de inclusão e assinatura de contrato-programa com o Conselho Nacional da Juventude. Referir que a área da juventude é a menos sonante daquele Ministério, facto que também preocupa o Presidente da República. A exclusão política, a falta de oportunidades de emprego, assim como de financiamento de pequenas iniciativas são alguns dos problemas que apoquentam este grupo etário, por sinal a maioria do país. O ex-ministro, conhecido como frequentador das redes sociais, nalguns casos usando pseudónimo, na hora da partida, deixou muitos fãs no sector. Cidália Chaúque: Ministra do Género, Criança e Acção Social Talvez seja um dos Ministérios de difícil análise, devido a pouca visibilidade das suas acções, assim como da sua titular, Cidália Manuel Chaúque Oliveira que, entretanto, tem merecido rasgados elogios do Presidente da República, que considera o seu pelouro como o exemplo de uma instituição que “não gasta, mas que faz”. Liderando um Ministério com a missão de, entre outras acções, promover a assistência social às pessoas e agregados familiares em situação de pobreza e de vulnerabilidade, Cidália Chaúque ainda continua sem forças para minimizar a mendicidade, assim como a violência doméstica que, em 2017, tomou proporções alarmantes, com os homens a serem as maiores vítimas. O “desaparecimento” de Chaúque é justificado, em alguns sectores, como sendo motivado pela indisponibilidade financeira, que torna o MGCAS numa das faces mais visíveis da situação de penúria económica do país. Um dos exemplos desse facto foi a redução, durante o ano passado, do número de centros infantis, em todo o país, de 1.380, em 2016, para 975, o que influenciou também a redução do número de crianças assistidas de 133 mil, em 2015, para 122 mil, em 2017. No geral, o MGCAS assistiu, em 2017, mais de 178 mil crianças, sendo que mais de 87 mil, através do atendimento pré-escolar, cerca de 1.700 em Infantários, perto de 37 mil nos Centros de Acolhimento à criança e 52 mil, através do apoio multiforme, correspondendo a uma realização superior a 100% do planificado para 2017. No capítulo da assistência social, o MGCAS implementou e expandiu, no ano passado, programas de segurança social básica, tendo alcançado mais de 462 mil beneficiários, dos 540.531 previstos, o que representa uma realização de 85.48%. Esta realização corresponde a 17% dos potenciais beneficiários, estando abaixo da meta estabelecida no PQG para o ano de 2017, que é de 20%. Com estes números, a mendicidade continua no país, com crianças, idosos e deficientes a inundarem as avenidas e praças das grandes cidades, pedindo esmola. Aliás, para além dos programas do INAS não abrangerem todos os necessitados, os subsídios e as cestas bá- sicas definidos não satisfazem os beneficiários, propiciando a continuação destes nas ruas. O exemplo claro está na capital do país, onde apesar do Conselho Municipal ter aprovado uma postura que penaliza indivíduos que pedem ou dão esmola, a mendicidade continua e sob olhar impávido das autoridades, sejam municipais ou estatais. Outro aspecto que concorre para este tipo de práticas e que necessita de esclarecimentos é o facto do INAS assistir também alguns combatentes, um grupo social que se beneficia dos programas de assistência social, no Ministério dos Combatentes. Outro assunto que preocupa a sociedade e que merece atenção do MGCAS é a violência doméstica que, em 2017, registou novos contornos, com os homens a serem as novas vítimas. O óleo de cozinha, o caril e o petróleo foram as “armas” usadas pelas mulheres para molestarem os seus maridos, num acto descrito como de “vingança” dando protagonismo ao lado “minoritário” da questão, uma vez que os pesquisadores continuam a apontar, de forma contundente, as mulheres como as principais vítimas da violência doméstica. Tendo em conta o seu papel social, o pelouro de Cidália Chaúque precisa fortificar as suas acções, de modo a eliminar este mal que, não só ceifa vidas humanas, mas também desestrutura famílias e cria problemas psicológicos às crianças afectadas. Os números indicam que, em 2017, foram realizadas acções de capacitação dos vários intervenientes em matérias de promoção da equidade e igualdade de género, tendo beneficiado cerca de 1.500 pessoas, das quais 852 do sexo feminino e mais de 600 do sexo masculino, representando uma realização 92%, das mais de 1.500 pessoas planificadas. Neste cenário, em 2018, a antiga governadora de Nampula precisa mesmo de se reinventar para dar mais eco ao seu trabalho. Eusébio Lambo: Ministro dos Combatentes Dissemos, na avaliação de 2017, que Eusébio Lambo Gondiwa precisava acertar a sua direcção e, nesta, continuamos com a mesma posição. O facto é que, passados 12 meses, os problemas que levantamos continuam, tendo já merecido duras críticas de quem o nomeou, mas que ainda teima em mantê-lo. O próprio ministério poderia ser uma direcção no ministé- rio da Defesa ou na Acção Social. Um dos problemas do ministério está relacionado com o processo do registo dos combatentes que, desde 1986, ainda não terminou. Dados institucionais dão conta de que, passados 32 anos, o país só conseguiu registar 169.932 combatentes, num processo que já originou 35 mil falsos combatentes. Este facto fez com que Nyusi questionasse os métodos usados para o registo deste grupo, pois, o censo da população é feito, a cada 10 anos, e em duas semanas, abrangendo toda população nacional. As Nações Unidas produziram uma sofisticada base de dados à altura do Acordo Geral de Paz, mas estes dados são negligenciados, porque não são “convenientes” para o nível de manipulação e fraude que existe na atribuição dos vários estatutos de combatente. Claramente os números estão inflaccionados e há milhares de falsos combatentes em todo o país vivendo aboletados às pensões do Estado. Outro problema na mesa daquele governante está relacionado com a gestão do Fundo da Paz e Reconciliação Nacional, uma instituição criada no âmbito da assinatura do Acordo da Cessação das Hostilidades Militares entre o governo e a Renamo a 5 de Setembro de 2014 e que se destina ao financiamento de projectos dos combatentes. Dados disponíveis, indicam que, de Agosto de 2015 à Junho de 2017, foram financiados 1.727 projectos, dos 6.497 pedidos submetidos, o que representa uma realização de 26,6%, uma cifra bastante inferior. O Fundo da Paz, para além da sua cobertura estar abaixo das expectativas, a sua distribuição tem merecido várias críticas, pois, de um lado tem benefi- ciado sobretudo combatentes da Frelimo e, por outro lado, tem financiado projectos das províncias de Maputo e Maputo Cidade, que lideram a lista com 405 e 366 projectos financiados, respectivamente, contra 50 da província de Gaza e 58 da Zambézia, nos últimos lugares. Cabo Delgado, que tem 30% dos combatentes registados (um número também questionado), é uma das províncias menos beneficiadas daquele Fundo. Outro projecto ainda não clarificado é o da construção de casas para os combatentes. Até ao momento, o MICO construiu 73 casas para os seus benefi- ciários, sendo 50, em Nangade (Cabo Delgado), 15 na província de Maputo, seis em Inhambane e duas, na província de Gaza. Os números são ridículos. Durante a visita de Filipe Nyusi ao ministério, Eusébio Lambo disse que o seu pelouro tinha um programado construir, até ao fim do ano, 10 casas, em Tete e Niassa, entretanto, não tinha financiamento porque “o parceiro foi atacado durante a tensão político-militar, pelo que abandonou o projecto”. Lambo precisa mesmo de rapidamente encontrar o norte, sob pena de terminar o mandato sem deixar marcas, nem saudades. Carlos Bonete Martinho: Ministro das Obras Publicas Habitação e Recursos Hídricos O fenómeno El Nino que fustiga a região Sul do país e originou a crise de água, levou este ministério a vestir o fato macaco e procurar alternativas de modo a disponibilizar o precioso recurso às populações para o consumo e aos agricultores para agricultura. A situação ainda não está totalmente resolvida. Para colmatar as restrições de água que afectam as cidade de Maputo e Matola e o Município de Boane foram abertos 36 furos de água nos bairros que vão garantindo o abastecimento. Os revendedores de água passam a adquirir o preciso líquido nas novas fontes, evitando deste modo viajar até ao centro de abastecimento de Intaka. Aliás, espera-se que ainda neste ano esta conduta seja ligada à rede de abastecimento para reforçar o sistema, enquanto se aguarda pela conclusão das obras da Estação de tratamento de Sábie. Há críticas quanto ao programa de restrição do uso da água dos Pequenos Libombos, nomeadamente, as medidas draconianas que foram impostas aos agricultores quando se sabe que o sistema de abastecimento de água a Maputo tem perdas na ordem dos 40%. Também não é clara a fase em que se encontra o projecto de abastecimento de água a partir de Corumana, nomeadamente a construção da conduta e a estação de tratamento. A obra mais estruturante, a construção da barragem de Moamba Major está envolvida em problemas de corrupção envolvendo, uma vez mais a nomenclatura da Frelimo, uma situação que não é da responsabilidade do ministro. Carlos Bonete Martinho, um engenheiro civil, que dirigiu no passado as obras de construção das barragens de Corumana, Massingir e Nacala, reorientou os diferentes projectos implementados pela FIPAG, AIAS, ARA Sul, Centro e Norte para que colocassem mais fontes de água a mais povoações. Nisto foram construídos e reabilitados 1.912 fontes de águas e 27 sistemas de abastecimento em todo país com destaque para Nangade, Jangamo, Morrumbene, Inhamizua, Zalala, Anchilo entre outros. O MOPHRH, outro dos rostos visíveis da crise financeira que assola o país, principalmente no que diz respeito às estradas, vai se contentando com as obras no troço Beira-Machipanda, onde foram executadas 225 km dos 287km; Mocuba-Milange que dos 196 km já foram executados 170km e são neste momento consideradas de referência a par da ponte Maputo- Katembe e as suas estradas conexas. O balão de oxigénio foi injectado com o arranque das obras dos troços Cuamba Lichinga e NametilAngoche. Mas a maior dor de cabeça reside na paralisação das obras Caniçado-Chicualacuala, bem como nos troços Pambara-Save e Inchope-Caia ao longo da EN1 que se encontram em avançado estado de degradação. A construção e reparação de estradas terciárias está praticamente paralisada. Com o seu estilo bastante ponderado, Bonete precisou de dois anos para entender o dossier das rotas Montepuez- Ruassa; Litunde-Lichinga e Malema-Cuamba que estiveram envolto de negociações políticas e com sucesso conseguiu cancelar os contratos com a “poderosa” CMC e avançou com novos. As grandes empreiteiras do país estão todas com problemas de tesouraria pelo facto do governo não estar a honrar os compromissos. A CETA, possivelmente a maior empreiteira moçambicana, publicou um comunicado em que acusava o governo de causar problemas internos à empresa por falta de cumprimento dos compromissos financeiros. A outra dor de cabeça de Bonete Martinho está no sector de habitação que devido aos custos de construção, aliado à falta de músculo financeiro dos potenciais utentes, vão ficando às moscas. Prova disso é a vila Olímpica, com edifícios de qualidade duvidosa e preços claramente bonificados, nos quatro novos blocos tem apenas um inquilino. As cinco mil casas de Intaka já não conseguem clientes, o projecto de Zintava, está paralisado tal como acontece com o projecto das 1.200 casas de Chwiba na cidade de Pemba. Urge uma reflexão em torno do papel do Estado da construção das casas, no tipo de materiais de construção utilizados, sob pena de se estar a investir fundos sem retorno. Carlos Mesquita: Ministros dos Transportes e Comunicações Carlos Mesquita, engenheiro ferro-portuário ministro dos Transportes e Comunicações, foi um dos vários que em 2017 se perdeu em combate, mas procurou reerguer-se para combater os myloves através da colocação de mais autocarros nas estradas. Conseguiu implementar algumas medidas no domínio dos transportes públicos a nível da capital com aquisição de 50 novos autocarros que ainda se mostram insuficientes para aquilo que é a realidade da capital. Assinou um memorando de entendimento com a FEMATRO, que visa transformar os subsídios monetários que eram atribuídos aos transportadores de semicolectivos urbanos para aquisição de forma faseada de cerca de 300 autocarros, sendo que os primeiros 100 já foram apresentados publicamente. Contudo, esperamos que a estratégia chegue a um bom porto, aliado com as parcerias público-privadas na área dos transportes. Em parceria com o sector privado já foi ensaiado o projecto metro-bus, que terá um custo mensal 3.500 mt, preço este que se mostra proibitivo para a esmagadora maioria da população que em média mensal chega a gastar 1.200 mt incluindo as chamadas ligações, resultante de encurtamento de rotas. Resta saber se as empresas vão dar a mão ao projecto pagando os passes dos seus trabalhadores. No domínio dos transportes ferroviá- rios o problema das pessoas apinhadas nos vagões persiste. A frequência dos comboios que poderia servir de boa alternativa aos transporte rodoviários deixa a desejar, apesar da aquisição de 70 veículos ferroviários e 62 carruagens divididas entre os sistemas ferroviários sul e centro. O norte uma vez mais foi penalizado, salvo a rota Cuamba-Lichinga, que é uma das principais apostas do governo, apesar do preço “político” dos bilhetes que até fez ressurgir o fenómeno da candonga. O passado mês de Dezembro mostrou a necessidade de tornar acessível o comboio de carga para aquele destino que viu privados de alguns produtos para as festas devido intransitabilidade das estradas. Os operadores económicos insistem que o transporte rodoviário continua mais barato e querem a ferrovia privada a “fazer caridade”. No ano findo, em termos aeronáuticos, Moçambique foi finalmente retirado da lista negra da União Europeia, o que abre espaço para que as companhias possam sobrevoar aquele espaço, o que foi preponderante para abertura de concurso para que outras companhias explorem o espaço aé- reo nacional, tendo até ao momento entrado a Fastjet, em parceria com a Solenta Aviation. Pela negativa, foi a forma como o ministro geriu o escândalo da compra de uma aeronave do tipo Bombardier Challenger, de 15 lugares, formalmente destinado ao segmento executivo da LAM e sua subsidiária, a MEX. Contudo, mais tarde veio mesmo a confirmar-se que a aeronave foi adquirida para o Presidente da República. A cabotagem continua nos documentos. A migração digital já falhou todos os prazos. Num esforço titânico de recuperar aquela que foi a fonte financiamento das elites governamentais e do partido no poder, o ministério está a encabeçar o processo da fusão das empresas mCel e TDM. Já foi indicado o presidente, o Conselho de Administração que optou por rescindir contratos de trabalho com alguns antigos administradores, mas ainda falta clareza em como deverá funcionar a empresa no futuro. A mCel e as TDM estão tecnicamente falidas. Espera-se que Mohamed Rafique Jusob possa implementar na nova companhia uma filosofia próxima da EDM, uma companhia pública com novos métodos de gestão que não gozam da simpatia da ociosa e preguiçosa nomenclatura encostada ao partido governamental. Isac Chande: Ministro da Justiça Assuntos Constitucionais e Religiosos Indicado em Março de 2016, para substituir Abdulremane Lino de Almeida, um agente do Sise tornado ministro, um autêntico erro de casting, Isac Chande poderá ser o próximo a homem do governo de Nyusi a deixar o ministério para o cargo de Provedor de Justiça. Mas tal exercício ainda está refém de um “acordo político” entre a Frelimo e a Renamo na Assembleia da República. A Frelimo não dispõe de uma maioria de dois terços para viabilizar a indicação de Isac Chande. O decreto 75/2017, que estabelece os limites das despesas e regalias de titulares dos órgãos públicos, está a ser altamente criticado em vários sectores jurídicos/legais. Argumenta-se que estas mexidas deviam ter sido aprovados pelo parlamento e Chande devia ter alertado o Governo na qualidade de assessor do governo em matérias constitucionais. No entanto, Chande conseguiu introduzir o projecto piloto de pagamento electrónico dos serviços nos registos e notariado, uma prática vista como sendo positiva, pois deverá ajudar na flexibilização do atendimento como na redução do descaminho das receitas. A questão de fundo é que passam mais de nove meses e o sistema continua apenas na primeira conservatória. Existe também o desafio de informatização deste sector para que possa permitir que em qualquer parte deste país o cidadão solicite o seu registo de nascimento, o que contraria com actualidade em que o cidadão deve regressar ao local onde fez o registo. Na visita que o PR efectuou neste ministério, o director nacional dos Registos e Notariado admitiu a existência de sindicato de crime organizado que actua neste sector, que também contribui na venda de documentos relacionados com a atribuição de nacionalidade. O ministério conseguiu reabilitar algumas conservatórias no pais que clamavam por uma nova imagem, como é caso de Monapo, Malema, Angoche Chokwe entre outros. A sobrelotação das cadeias constitui outro desafio. Dotadas de uma capacidade para 8,188 reclusos as cadeia nacionais contam com uma população que ronda os 19 mil, o que é considerado um atentado aos direitos humanos. Apesar de alguns técnicos do IPAJ se envolverem em esquemas de cobranças ilícitas tiveram um papel determinante na regularização da situação dos reclusos que estavam em prisão preventiva. Isac Chande é acusado de inércia por não regrar o sector religioso, que se debate com a proliferação das igrejas que em bairros residenciais provocam poluição sonora. A cobrança de impostos às igrejas constitui outro assunto que está em banho maria, mas o grande problema reside no volume de procurações de bens que muitos cidadãos passam em prol das igrejas sem o que Estado faça nada. A IV conferência religiosa que teve lugar o ano passado em Quelimane era vista como oportuna para debater o assunto, mas acabou resvalando para o debate sobre a paz. Actualmente, a produção pesqueira nacional representa apenas dois por cento do PIB, cifra que Filipe Nyusi, considerou “inaceitável”, em Novembro passado, falando no município de Bilene, província de Gaza, na abertura do Fórum de Aquacultura. A captura de camarão está em crise e agora até na albufeira de Cahora Bassa há crise na captura do minúsculo kapenta, devido a problemas de sobreexploração decorrente do laxismo das autoridades. Contudo, uma das inovações no sector é aprovação pelo Governo de novas normas de exploração pesqueira que passam, a partir deste ano, 2018, a ser sujeitas à emissão de títulos de direito de pesca. O regulamento, aprovado no Conselho de Ministros, estabelece os critérios, requisitos e períodos de direitos de pesca para cada pescaria, as normas a observar no acto de licenciamento da actividade, ao mesmo tempo que define os valores a pagar pela concessão dos direitos de pesca, bem como o ajustamento das taxas. Pela primeira vez, entrará em prática o direito de pesca, representado por um título mobiliário que o detentor pode usá-lo como garantia com fins de obter apoios financeiros no desenvolvimento da sua actividade. Segundo os proponentes, o documento dará segurança ao operador pesqueiro no sentido de que fica assegurado que durante o tempo da vigência do título terá o direito de obter licença anual para pescar, o que, para o ministério, vai dar uma certa estabilidade aos investidores na área da indústria pesqueira. Esperemos que não passe de mais um sonho de difícil implementação. Em Novembro de 2017, foi inaugurado o centro de pesquisa em aquacultura no distrito de Chókwe, na província de Gaza. Financiado em seis milhões de dólares pelos governos da Noruega e da Islândia, uma das principais actividades do centro é o melhoramento genético da tilápia com a finalidade de produzir um peixe de crescimento rápido e resistente a doenças. Contudo, os números continuam aquém do desejável e é preciso mais trabalho do tão dos empreendimentos desportivos, com destaque para o Complexo Olímpico do Zimpeto e, por outro lado, pela ausência de políticas claras para a juventude. Durante a sua visita ao Ministério, Nyusi chamou os dirigentes das instituições sob tutela do MJD de “dorminhocos” e questionou à Nkutumula se não lhe doía a cabeça ao ver as infra-estruturas naquele estado de abandono. Não sendo mulher de obra feita nos sectores por onde passou, há claras reticências ao trabalho que poderá de- 16 Savana 19-01-2018 PUBLICIDADE Anuncie a sua marca, produto e serviços, na SAVANA FM . Nesta quadra festiva temos para si pacotes promocionais, contacte-nos através de: 84 1440048, 82 8944278 ou ainda através do e-mail radiosavana100.2@mediacoop.co.mz SAVANA 100.2 FM O s jornalistas vão passar a poder sentar-se nas galerias da Assembleia Nacional de Angola para cobrirem as sessões abertas daquele órgão, deixando de estar confinados a uma sala sem acesso ao hemiciclo, garantiu o ministro da Comunicação Social. A garantia foi avançada pelo ministro João Melo, numa recente mensagem colocada na sua conta oficial no Twitter, quando está convocado, pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), um boicote à cobertura da reunião plenária de 18 de janeiro, em protesto contra as limitações e condições de trabalho no edifí- cio-sede do parlamento. “Os jornalistas que quiserem podem agora ficar nas galerias”, garantiu o ministro, acrescentando ter visitado recentemente o local, em que a competência é da direção da Assembleia Nacional. “As condições de trabalho para os jornalistas no parlamento angolano são dignas e idênticas às de outros parlamentos”, afirmou ainda João Melo. De acordo com o ministro, os jornalistas “vão poder sentar-se nas galerias para assistir às sessões abertas”, mas, «regra universal, não poderão andar pelo hemiciclo”. A 10 de janeiro, em declarações à Lusa e antes da posição assumida pelo ministro João Melo, o secretário-geral do SJA, Teixeira CânJornalistas passam a ter acesso às galerias do parlamento angolano dido, fez saber que falta apenas uma posição firme das direções dos órgãos públicos de informação de adesão a este boicote, convocado pelo sindicato, à cobertura da reunião plenária destinada a apreciar e votar, na generalidade, o Orçamento Geral do Estado angolano de 2018. Aquele sindicato protesta contra as condições de trabalho a que os jornalistas são submetidos no parlamento angolano, no acompanhamento das reuniões plenárias, confinados a uma sala com um ecrã de televisão para transmissão da atividade via canal interno, mas sem poderem ter acesso à sala ou sequer conferir os resultados das votações, apesar do rigoroso processo de credenciamento para entrar no perímetro da Assembleia Nacional. Numa das sessões plenárias realizadas em dezembro, os jornalistas insurgiram-se mesmo contra a presença, na sala, de um agente da Polícia Nacional. Uma postura que, segundo o líder dos jornalistas angolanos, contraria o regimento da Assembleia Nacional. “Não aceitamos a condição a que submetem os profissionais, o regimento interno da Assembleia Nacional diz que as transmissões são públicas, não faz sentido que os jornalistas não estejam presentes no hemiciclo”, justificou. Porque, assinala, “não há no regimento nenhuma proibição” nesta matéria, até porque está previsto o acesso do público à sala. “Escrevemos para todos os grupos parlamentares, para a sétima comissão parlamentar, a dar conta e a fundamentar que o regimento não proíbe os profissionais de ficarem no hemiciclo. Daí julgarmos que a Assembleia Nacional esteja a interpretar mal o regimento, porque lá não há qualquer proibição para jornalistas”, recordou. INTERNACIONAL A Escola Comunitária Luís CabralECLC informa aos alunos, pais, encarregados de educação e ao público em geral, que ainda tem vagas para matricular novos ingressos da 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª, 11ª e 12ª classe por 500,00 meticais. Podendo obter mais informações na secretaria daquela escola sita na sede do bairro Luís Cabral, entrada a partir da Junta ou Maquinague ou pelos telefones: 847700298 ou 826864465 ou ainda 871232355. Matrículas para 2018 Savana 19-01-2018 19 OPINIÃO 563 Email: carlosserra_maputo@yahoo.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com E xistem dois problemas na produção de biografias: por um lado, a totalização e a unificação do “eu” de alguém; por outro, o destaque dado a este ou aquele fenómeno, a esta ou àquela situação. A totalização e a unificação do eu, consiste em sublimar no absoluto o percurso biográfico de alguém, o percurso histórico de alguém, consiste em dotar esse alguém da capacidade absoluta de se autoproduzir e autoreproduzir, como se, demiurgo, dispensasse a história, dispensasse o conjunto complexo de movimentos e laços que fazem a teia sem fim da história humana. Por outro lado, somos tentados a absolutizar este ou aquele aspecto da vida do biografado, este ou aquele momento, esta ou aquela faceta da personalidade, como se o biografado pudesse ser amputado dos múltiplos aspectos que o fazem “ele” na história social. Este um dilema à Jano. Biografias E la reduziu o volume do som da televisão ao mínimo, distendeu longamente o corpo e suspirou fundo. Então, eu dei-me pressa em acabar a página em que estava, pus o marcador e fechei o livro. Fiz os poucos passos de sala que me separavam dela e fui-me sentar a seu lado. Disse-lhe – “Conta-me lá, então!” Ela fechou os olhos por momentos, e quando voltou a abri-los, estes tinham ganho uma intensidade invulgar, ao mesmo tempo que o pergaminho da pele do seu rosto se distendia e adquiria uma inesperada elasticidade. Disse-me: – Aquela foi a noite mais longa e escura que alguma vez vivi. A sala de espera do nosso posto de saúde era, à época, um barracão de tijolo a céu aberto. Naquela noite, alinhavam-se ali três senhoras como eu, à espera do seu momento. Eu estava à tua espera. Mas, apesar das dores que me atormentavam, a anunciar a tua chegada próxima, dei comigo a apreciar a beleza infinita daquele céu, iluminado por miríades de estrelas que, de tanto brilho, quase que se podiam apontar uma a uma. Dei-me, até, ao pequeno devaneio de tentar contá-las. De longe, chegava o bramido persistente e rouco do mar a embater na areia, desfazendo-se, imaginava eu, em pequenas nuvens de espuma branca. O único local com iluminação artificial à volta era o edifício principal do posto de saúde, mas, Madoka, o filho que ela nunca teve mesmo aí, só na sala onde decorriam os partos. De lá vinham, de tempos em tempos, gemidos pungentes de mães prestes, ou então o vagido de alguém recém-nascido, e eu dizia comigo própria “mais um par de olhos que alguém pôs no mundo para contemplar a sua luz”. Fui chamada quando a noite estava a dar lugar à madrugada, que é, como vim a saber mais tarde, o ponto em que o mundo alcança a plenitude da sua escuridão e as estrelas a do seu brilho. Nasceste num momento que nos colocou em aflição, visto que, em vez do salutar e selvagem vagido, limitaste-te a soltar um gemido. Rapidamente, e por indicação da médica-chefe, as enfermeiras-assistentes pegaram em ti, correram contigo ao quintal e fizeram um estranho jogo do tipo voleibol, atirando com o teu corpo das mãos de uma para as mãos de outra, das mãos de outra para as mãos de uma, atravessando tu, em silêncio, aquele espaço de cerca de dois metros, até que, de repente, os teus pulmões se abriram e lançaste, não um vagido, mas um grito de animal selvagem que se confronta finalmente com o ar, com a luz e com a vida. De regresso, a médica-chefe disse-me – «Este teu filho será o fruto que poderás olhar, tocar e desejar, mas nunca o terás.» – Depois que contei isto à minha sogra, mãe do teu pai, ela deu-te o nome que resumia a profecia da médica: Madoka, ou seja, aquilo que se deseja, que se vê e com que se sonha, mas que nunca se poderá ter. Os teus primeiros meses de vida pareciam querer confirmar a profecia da médica, pois descobrimos que tinhas um problema de evacuação; sofrias de obstipação. Pensei que te iria perder, mas graças ao conselho de anciãs, joguei-me contigo ao colo fazendo mais de trinta quilómetros a pé até Homoíne, ao encontro de uma anciã conhecedora profunda de raízes e ervas. Foi onde te recuperei. Mais tarde, com o atingir da idade adulta, fizeste-me passar por outras aflições, e lembro-me que, entre elas, esteve o início da tua vida sexual activa. Contraíste uma série de infecções sexuais que te custaram toneladas métricas de penicilina aquosa, ervas e unguentos. Apesar de tudo, tenho-te aqui. Mas, como que cumprindo o vaticínio da mé- dica, sinto que a parte mais preciosa de ti não a tenho. Eu, então, disse: – Qual delas, mãe, se me tens aqui por inteiro? – Há uma luz que te ilumina no fundo e que é a tua essência, e essa nunca a terei, por mais que queira. Mas acho que é melhor ires descansar, agora. Amanhã teremos um dia muito agitado e cansativo, com as visitas que presumo que vamos receber para te felicitar pelo teu aniversário. – Tens encontro marcado com o fi- lho que nunca tiveste. O voo tem uma duração de perto de três horas, mas o Boeing 777-300 ER, avião usado na rota Luanda-Cidade do Cabo, na África do Sul, está configurado sobretudo para voos de longo curso. O aproveitamento recomendável de média de voo seria de 13 horas, no conjunto das operações dos voos regulares da empresa. Porque é que a TAAG – Linhas Aéreas de Angola faz mau uso destes aviões, torna mais dispendiosa a sua manutenção e diminui o seu tempo de vida? O que é que a TAAG e o país ganham com isso? Maka Angola tem registado a insatisfação de vários pilotos e especialistas do sector. Para “corrigir o que está mal”, recentemente, o presidente João Lourenço nomeou um Conselho de Administração com angolanos enfermos. Os expatriados William Rex Boutler (administrador para a Área Comercial), Patrick J. RotTAAG: o desnorte da companhia aérea de Angola Por Moiani Matondo saert (administrador para a Área de Operações de Voo), Vipula Mathanga Gunatilleka (administrador para a Área Financeira) e Eric Zinu Kameni (administrador para a Área de Manutenção) são os que gozam de boa saúde no Conselho de Administração e constituem aparentes mais-valias em termos de competência técnica e pergaminhos de boa gestão. Então, porque é que a TAAG está num desnorte? Esses mesmos expatriados já lá estão, nos referidos cargos, há alguns anos. Foram apenas reconduzidos. A má gestão dos aviões e das rotas Voltemos ao aproveitamento dos melhores aviões da TAAG, o Boeing 777-300 ER com capacidade para 293 passageiros, e cuja frota de seis aviões já tem uma média de quatro ou cinco anos de serviço. Os especialistas afirmam que os voos deveriam ter uma média ideal de 13 horas, no conjunto da programação dos voos realizados. Essa média observaria a ocorrência de 1.6 ciclos (o processo que comporta descolagem, pressurização, despressurização e aterragem), como objectivo para assegurar a média recomendada para a exploração comercial mais lucrativa e rentável dos aviões. Conforme explicam os pilotos, os custos de manutenção aeronáutica têm maior incidência sobre os ciclos que se efectuam no avião. Em oito horas de ida e volta à Cidade do Cabo, o 777-300 ER faz dois ciclos e fica parado cerca de quatro horas, à espera de passageiros, para além do tempo de rotação. O mesmo acontece com as seis horas de ida e volta à Joanesburgo. Nas duas rotas, por opção comercial da TAAG, os aviões 777-300 ER permanecem quatro a seis horas em terra, à espera de passageiros com destino a São Paulo (Brasil) e Lisboa. “Não é o passageiro que espera. O avião é que espera”, afirma um técnico. “Os aviões são feitos para estarem no ar, e assim darem maior rendimento e terem maior utilidade”, descreve um piloto classificado pelos parâmetros da Boeing como um dos melhores em Angola, mas que prefere o anonimato para evitar represálias. “Com o seu uso em rotas de curta e média duração, está-se a desgastar os aviões, a causar-lhes grande stress. Isto torna mais elevados os custos de manutenção. Por isso vemos muita degradação nos aviões, e não temos capacidade de manutenção local”, reclama o piloto. O desgaste é maior na rota Luanda-São Paulo-Rio de Janeiro. O Boeing 777-300 ER, depois de uma escala em São Paulo (onde desembarcam perto de 90 porcento dos passageiros), faz um voo de 40 minutos até ao Rio de Janeiro. “É extremamente prejudicial para o avião porque gasta dois ciclos numa distância tão curta. Os aviões modernos já não são por horas de voo, mas por ciclos. A ligação entre São Paulo e Rio e vice-versa normalmente serve para transportar uma dúzia de passageiros, mais ou menos”, lamenta um segundo piloto. “A TAAG não tem muitas rotas. Os aviões não devem andar vazios, como acontecia. Desde Outubro, a TAAG está a praticar preços muito abaixo do valor comercial, para atrair passageiros do Brasil, da África do Sul e de Moçambique”, justifica um alto funcionário da empresa. Como ilustração, um voo São Paulo-Joanesburgo com escala em Luanda tem o custo médio de 600 dólares, o mesmo valor (de referência cambial) de uma passagem que os angolanos pagam para três horas de voo de Luanda a Joanesburgo. Desde então, os voos da TAAG entre São Paulo e Luanda têm estado lotados com brasileiros que viajam em turismo para a África do Sul e Moçambique, com escala em Luanda. “Mesmo assim, alguns voos têm uma ocupação muito reduzida, apesar do enorme incentivo das tarifas praticadas, com preços abaixo do valor do mercado”, protesta a fonte. Essa política contribui sobremaneira para o turismo na África do Sul e em Moçambique, bem como no Brasil, mas de nada vale para o turismo em Angola. É um pesadelo para os brasileiros terem visto para Angola, não temos infra-estruturas adequadas de turismo e temos milhares de turistas que apenas passam pelo Aeroporto Internacional de Luanda. Isso é má política. Lista negra Uma das razões para o uso de aviões de longo curso em rotas de médio curso tem a ver com o facto de a TAAG permanecer no anexo B da lista negra das transportadoras aéreas impedidas de voar para a Europa. Alguns aviões da TAAG, como os 777-300 ER, beneficiam de um regime de excepção para voarem para Portugal, o único destino permitido na Europa. É a manutenção de Angola nesta lista que tem causado limitações na expansão e exploração de outras rotas comerciais de longo curso, bem como os relevantes acordos de parceria com outras transportadoras aéreas. Os prejuízos financeiros e de imagem do país permanecem bastante altos. Continua a não haver o debate interno para a erradicação das eventuais inconformidades que travam as melhorias necessárias para se tirar a TAAG e outras companhias angolanas da lista negra europeia. Ao invés de se corrigir o que está mal, os dirigentes responsáveis pela TAAG continuam a fingir que estão a melhorar o que está bem. *makaangola.org 20 Savana 19-01-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane A questão agora é se a China, bem posicionada para se tornar o líder mundial da inovação, concretizará essa oportunidade em 2018 ou pouco depois. A China conquistou muito desde 1978, quando Deng Xiaoping iniciou a transição para uma economia de mercado. Em termos de progressos económicos, o ritmo de transformação da China nos últimos 40 anos não tem precedentes. O PIB cresceu cerca de 10% ao ano em média, ao mesmo tempo que o país reformulava os padrões de comércio global e se tornava a segunda maior economia do mundo. Este sucesso tirou 800 milhões de pessoas da pobreza, e a taxa de mortalidade de crianças menores de cinco anos caiu para metade entre 2006 e 2015. A questão agora é se a China, bem posicionada para se tornar o líder mundial da inovação, concretizará essa oportunidade em 2018 ou pouco depois. A transformação da China tem sido sustentada por uma expansão da produção industrial sem precedentes. Em 2016, a China vendeu ao exterior mais de 2 biliões de dólares de bens, 13% do total das exportações, em termos globais. Também prosseguiu a modernização económica através de investimentos maciços em infra-estrutura, incluindo pontes, aeroportos, estradas, energia e telecomunicações. Em menos de uma década, a China construiu o maior sistema de comboios de alta velocidade do mundo, superando os 22 mil quilómetros em Julho de 2017. Espera-se que o consumo anual aumente em quase 2 biliões de dólares em 2021, o equivalente a acrescentar outro mercado consumidor do tamanho da Alemanha à economia global. No início deste mês, o CEO da Apple, Tim Cook, declarou que “a China deixou de ser um país de mão-de-obra barata há muitos anos, e essa não é a razão para vir para a China”. As vantagens do país, no que respeita à produção, residem agora no seu ‘know-how’ avançado e fortes cadeias de fornecimento. Compreensivelmente, a liderança da China China, o dragão de inovação Por Simon Johnson e Jonathan Ruane* quer aumentar a produtividade e continuar a avançar na cadeia de valor. No seu 13º Plano Quinquenal (em Maio de 2016), as autoridades estabeleceram o objectivo de a China se tornar uma “nação inovadora” até 2020, um “líder internacional da inovação” até 2030 e uma “potência mundial da inovação científica e tecnológica” até 2050. Também se comprometeram a aumentar os seus gastos em investigação e desenvolvimento para 2,5% do PIB e quase duplicar o número de patentes por cada 10 mil pessoas até 2020. Para permitir essa inovação, os governos municipais estão a construir centros de tecnologia, na esperança de atrair talentos. A cidade de Guangzhou está a encorajar investigadores, empresários e empresas a fixarem-se lá. A General Electric comprometeu-se recentemente a construir o seu primeiro projecto biofarmacêutico asiático num bio-campus de 800 milhões de dólares. A cidade de Shenzhen já é conhecida como a “Silicon Valley do Hardware”, e a área de Shenzhen-Hong Kong ocupa o segundo lugar em termos de clusters inovadores globais (medidos por patentes). Os negócios na China fazem-se com uma rapidez e simplicidade que não se vê em nenhum outro lugar do mundo. A China está a adoptar totalmente modelos digitais, não apenas a digitalizar os velhos modelos. A ausência de sistemas antigos já lhe permitiu ultrapassar o Ocidente em áreas como pagamentos digitais, economia de partilha e comércio electrónico. Os gastos totais em investigação e desenvolvimento na China (em percentagem do PIB) mais do que duplicaram de 0,9% em 2000 para 2,1% em 2016. Até agora, o aumento tem sido principalmente focado em investigação aplicada e desenvolvimento comercial, com apenas 5% dedicados a ciência básica. No entanto, a China ficou em 22º lugar no Índice Global de Inovação de 2017 (uma avaliação de 127 países e economias com base em 81 indicadores) à frente de Espanha, Itália e Austrália. A quota da China em publicações académicas de grande impacto cresceu de menos de 1% em 1997 para cerca de 20% em 2016. O grande volume de licenciados (6,2 milhões em 2012, seis vezes o total de 2001), combinado com uma diáspora treinada internacionalmente e altamente qualificada, cujos membros regressam a casa em grande número, deverá produzir talento suficiente para alcançar o efeito desejado. Os trabalhadores americanos ainda são consideravelmente mais produtivos do que os seus homólogos chineses. Em média, cada trabalhador chinês gera apenas cerca de 19% da quantidade de PIB que um trabalhador americano gera. Mas esta liderança está a ser corroída. Outros factores a favor da América incluem 30 das 100 melhores universidades do mundo, uma cultura empreendedora e a forte exposição das suas empresas às forças do mercado. Tradicionalmente, isso levou as empresas americanas a competir de forma agressiva, muitas vezes dependendo da inovação. Mas a indústria americana não é tão dinâ- mica como antes. Entre 1997 e 2012, dois terços das indústrias norte-americanas passaram por um aumento na concentração do mercado e um recorde de 74% dos funcioná- rios está a trabalhar nesses operadores histó- ricos (com 16 anos ou mais). A administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece ter interpretado mal o que é necessário. Trump favorece um futuro mais proteccionista, o que retira pressão sobre as empresas dos EUA para serem competitivas a nível mundial ou verdadeiramente inovadoras. As universidades americanas estão a ser prejudicadas por mudanças no código tributário e cortes iminentes nos gastos - parte do que parece ser uma guerra mais ampla contra a ciência. E a imigração - uma fonte essencial de talento e ideias – deverá ser restringida. Dadas as suas próprias políticas, e as dos EUA, a China está no caminho certo para se tornar o líder mundial da inovação. Até ao final de 2018, será mais evidente o quão fácil e rapidamente será escrito este último capítulo da história de sucesso da China. *Simon Johnson é professor da Sloan School of Management do MIT e o co-autor de White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You. Jonathan Ruane é co-fundador do curso de Negó- cios Globais de Inteligência Artificial e Robótica na Sloan School of Management do MIT. Recordo-me nitidamente da tua figura, sentado só, na cozinha, à noite. Por companhia, apenas a luz branca caindo do tecto, uma pequena panela de alumínio com molho, outra menor com arroz, o garfo, duas conchas, um guardanapo e o inevitável piripíri. O teu olhar dir-se-ia ausente, distante, muito longe, no tempo… Tantas vezes, ainda menino, te vi assim. Tanto te amei e admirei em silêncio. Tanto amor calado por tanto tempo. Demasiado tempo… A pouco e pouco, com o lento, mas inexorável passar dos anos, revejo-te na tua solidão, e compreendo-te profundamente. MP Fernando Manuel A América (EUA), onde tudo é possível, brindou o mundo com um claro palavrão dirigido inequivocamente para África (paí- ses não identificados) e alguns países latinos (Chile e Haiti). Para o referido palavrão, saído da boca de D. Trump, Presidente americano, utilizaremos “mrd” para não desvalorizar a palavra “lixo”. Sobre os países de “mrd” como Trump se referiu, ponto de origem dos imigrantes que o irritam, decididamente, há ainda muito a esperar. Ao longo dos tempos a América tem sido construída e reconstruída graças ao trabalho da mão-de-obra estrangeira. A América, país de forte gé- nese migratória, país de muitas oportunidades para quem se entrega ao trabalho, vai continuar a atrair cada vez mais e mais indivíduos de outras latitudes e nacionalidades. Vai continuar a ser crescenteTrump: qual “linguagem dura”? mente cosmopolita no seu desenvolvimento, multiracial e multiétnica como sociedade, culturalmente enriquecida pela diversidade. O linguajar inoportuno de Trump, rotulando de “mrd” os países por ele sorteados, foi prontamente criticado, considerado vergonhoso, racista, etc. Mais do que condenar o “mrd”, patente de Trump, é preciso procurar as causas da aparição e do exibicionismo desse “espírito malígno”. Há espíritos que se revelam depois de uma boa “fumaça” ou quando se atinge o ponto de equilíbio investido por oito neurónios ébrios e dois lúcidos. O ouro que brilhou da boca de Trump decorre de uma educação feita à base do primeiro grupo de neurónios. Diz-se que Trump pode ter alguma razão naquilo que queria transmitir mas que entretanto foi infeliz na escolha das palavras. Não soube expressar a urgência que esse grupo de países deve ter em ultrapassar mesquinhices anti-desenvolvementistas. Tomado pelas emoções do momento Trump desrespeitou todos os países onde os poucos ricos dormem e sonham e a esmagadora maioria da população continua adormecida oscilando entre a incerteza e a pobreza. Ao se referir a países de “mrd” Trump devia ter clarificado que se dirigia a uma determinada elite do poder que não consegue ter inteligência suficiente para transformar os recursos naturais de que os seus países dispõem em riqueza que melhore o bem estar dos seus cidadãos. Trump não clarificou que se referia aos que promovem guerras e matanças, aos que alteram a Constituição para se manterem eternamente no poder, aos que têm o país e o povo como sua propriedade imitando e ultrapassando o mais cruel dos faraós. Mas ele como Presidente tem o seu pessoal, suas embaixadas, seus negócios, seus pontos geoestratégicos nesses “shit hole countries” ou países de “mrd”. Quando os seus representantes regressam desses “mrd” apresentam relatórios frescos onde a “mrd” que desliza é claramente isuportável por ser repetitiva. Trump desmentiu. Acredita que não usou a expressão países de “mrd” mas sim uma “linguagem dura”. As condenações internacionais, por seu turno, foram muito civilizadas ao não usarem qualquer tipo de “linguagem dura”, revelando assim o lugar que cada um tem na hierarquia do poder mundial. A nova política migratória de Trump pretende “livrar-se” dos 11 milhões de imigrantes ilegais. Destes, quantos são originários dos países merecedores da sua “linguagem dura”? A quantas vai o muro que ele gostaria de não construir mas que diz precisar do mesmo? Diz-se que o Presidente goza de uma óptima sanidade mental. Acreditamos que sim. 22 Savana 19-01-2018 DESPORTO A nova direcção do Comité Olímpico de Moçambique tomou posse há sensivelmente seis meses, mas neste curto espaço de tempo já começou a dar um arzinho da sua graça e para este ano, os desafios são enormes, segundo o seu presidente, Aníbal Manave. Seguem os excertos da entrevista. Quais são os desafios do COM para este ano? -Para 2018 estamos a preparar, através da nossa comissão de atletas, o primeiro encontro nacional de atletas olímpicos e alguns não olímpicos. Nesse encontro serão discutidas várias questões de interesse para os atletas e para o desporto em geral. Concretamente, quais serão as questões que serão debatidas ? -Serão debatidas questões como o antidoping, e outras relacionadas com o que os próprios atletas pretendem. Como deve calcular, nós, os dirigentes, tratamos de questões relacionadas com a sua preparação e participação nas competições dos jogos olímpicos. Também vamos discutir matérias relacionadas com a situação dos atletas, particularmente no pós -carreira . Atletas na rua de amargura A que se refere exactamente? - Infelizmente, é preciso notar que muitos atletas encaram muitas dificuldades no pós- carreira. Estamos a falar de atletas que deram muita alegria ao povo, contudo, devido à contigências e vicissitudes da vida andam na rua de amargura . Então, temos que perceber que nós, os dirigentes, não somos os donos da verdade , daí que vamos ouvi-los, vamos lhes dar a voz para dizerem o que pensam, o que gostariam que nós fizéssemos em vários domínios. Será um encontro nacional, sendo que, provavelmente, contaremos com a presença de atletas de fora do pais, por forma a poderem transmitir as suas próprias experiências junto dos nossos. Nós temos potencial e os nossos atletas devem começar a reflectir que depois de competir, devem ser referências na sociedade, até porque o desporto tem esta particularidade : forma gente boa , pessoas com espírito de sacrifício, espírito patriótico e espírito de grupo. Consequentemente, as reflexões vão merecer, da nossa parte uma atenção especial. Consta- nos que o COM planificou, ainda para este ano, a realização de um seminário com jornalistas desportivos. Confirma? -Já me referi a isso em ocasiões anteriores. É, de facto, verdade que vamos realizar, ainda este ano, até porque já estamos a preparar, um seminário com jornalistas desportivos. Vamos sentar com COM atento à situação penosa dos antigos atletas Primeiro encontro nacional de atletas olímpicos e não olímpicos a ser organizado pelo Comité Olímpico de Moçambique Por Paulo Mubalo os jornalistas desportivos, até porque temos aspectos muito comuns que devemos partilhar, debater e discutir. Como já me referi, esse negócio é nosso, é dos atletas, treinadores, e dirigentes. É dos jornalistas também. Então, é preciso reflectirmos na maneira de proteger o nosso negócio, há que pensarmos no que devemos fazer para se dar mais visibilidade a esse negócio, para se dar a importância devida, porque há, de facto, lacunas e há as que têm que ser eliminadas. E qual é a estratégia a seguir de modo a alcançar esse desiderato? -Bem, iremos à frente com um programa chamado magazine olímpico, ainda não definimos qual será a periodicidade, se será mensal ou não, mas através dessa via vamos divulgar aquilo que são as nossas actividades, quer através de um compacto na televisão , quer através de um compacto no jornal , quer através de um compacto na rádio . Temos que ter isso por forma a que os nossos parceiros tenham espaço de visibilidade. Mas como vai articular isso com os órgãos de comunicação social? - Esta é uma questão que também coloco : como é que nós vamos fazer isso em conjunto com os órgãos de comunicação social? Mas achamos que o programa também é da comunicação social, por isso não vejo nenhum nó de estrangulamento. Também queria referir que nós iniciamos com muitos programas e que alguns só vão ser concretizados no primeiro semestre deste ano, porque a sua concepção , análise e implementação leva o seu tempo. Falta de recursos Que ilações há a tirar da vossa assembleia geral? -Nestes seis meses, pela primeira vez, fizemos um orçamento que foi discutido numa assembleia geral, e isto é muito importante. Pela primeira vez as federações sabem com que contar. Repito: é muito importante que toda a gente saiba que no comité olímpico posso contar com isto e aquilo . Obviamente que preparar um atleta é muito caro e numa preparação só por ano para os jogos olímpicos pode se chegar a gastar cerca de 25 mil dólares, e nós não temos recursos . Estamos a falar de está- gios, alimentação, alojamento, etc, etc., e é por isso que dizemos que o comité olímpico faz uma parte , as federações têm que fazer a outra parte, e os outros também devem fazer a sua parte. Portanto, a preparação dos atletas para qualificar aos jogos olímpicos não é uma tarefa apenas do comité olímpico, é uma tarefa de todos. Na retromencionada assembleia definimos o que é que cada federação vai ter e quanto mais parceiros tivermos, melhor ainda. Como é sabido, o comité olímpico não tem atletas nem tem treinadores, esses pertencem aos clubes e às federações. Então, não há motivos para os atletas queixarem-se de falta de apoio? - Tudo o que nós angariamos aqui é precisamente para eles, não é para nós. Nós, felizmente, temos uma verba para pagar salários, pagar as nossas despesas fixas e tudo o resto que vamos buscar é para beneficiar as federações , é para beneficiar os próprios atletas, sobretudo esses ai. Então, nós fizemos um exercício muito interessante , não é fácil a execução sobretudo, porque eu só posso executar a próxima actividade se a primeira tiver sido justificada , quer do ponto de vista técnico, quer de ponto de vista financeiro. Eu tenho que produzir um relató- rio, preciso submeter esse relatório ao meu parceiro para ele depois voltar a me dar dinheiro. Ora, se há demora na justificação , se passa um mês, se passam dois meses, o outro fica à espera. Claramente é um grande desafio para o comité olímpico? -É um desafio ao nível do comité olímpico que temos sim, e é um desafio que temos que ultrapassar, em coordenação com as federações , que é perceber que quanto mais céleres formos na justificação, o programa vai ser cumprido, se demorarmos, dificilmente o programa vai ser cumprido, porque há esta imposição dos nossos parceiros para a próxima actividade de olhar para traz . Convenhamos que são desafios organizativos que nós temos. Desta forma, é necessário melhorarmos a estrutura do comité olímpico, essencialmente, e temos que, também, com as próprias federações, vermos o que é possível melhorar nas estruturas das federações desportivas nacionais. Internamente já começaram com esse trabalho? -Ao nível do comité olímpico já começamos com este processo, estamos a introduzir jovens que estão a terminar cursos em gestão desportiva nas universidades. Eles têm muita vontade, muita dinâmica , mas falta-lhes alguma experiência. Portanto, nós estamos aqui precisamente para melhorar e crescermos juntos desportivamente, por forma a alcançarmos os resultados que almejamos, porque no desporto nada é por acaso, nada acontece por acontecer, é preciso uma estrutura organizativa para a sua realização. Em resumo, para os primeiros seis meses estamos com a máquina encarnada, obviamente que vamos melhorar ao longo deste ano e indiscutivelmente vamos fazer coisas melhores. Aníbal Manave, presidente do COM A Associação de Natação da Cidade de Maputo (ANCM) vai realizar, no próximo dia 27 deste mês, um workshop sobre a natação. O evento, a ser corporizado por atletas, dirigentes desportivos, estudantes e interessados, vai compreender vários temas, entre eles, os desafios do desenvolvimento da natação em Moçambique, e a contribuição da natação no desenvolvimento económico e social do país, Assuntos como associativismo, infraestruturas , disciplinas náuticas também serão debatidos. De salientar que a Associação de Natação da Cidade de MaNatação vai a debate puto vai reactivar, num futuro breve, a natação para os portadores de deficiência para além da reintrodução do polo aquático. “Queremos implementar a natação para pessoas portadoras de deficiência e / ou necessidades educativas especiais , porque sentimos que há um grupo de pessoas que continua a ficar de fora”, palavras de Caetano Rúben, secretário- geral da ANCM. A natação procura popularizar-se 24 Savana 19-01-2018 CULTURA O s artistas moçambicanos esperam que neste novo ano as actividades culturais sejam mais abrangentes comparativamente com ano passado. “Esperamos que neste novo ano os eventos culturais na capital do país sejam mais em termos de números. Gostaríamos de ver mais casas a proporcionar música ao vivo”, disse o guitarrista Juma. Algumas casas de pasto iniciaram programas de música ao vivo. “Nos finais do ano passado começamos a sentir que alguns locais já tinham iniciativa de organizar eventos com música ao vivo. Esperamos que isso continue este ano. O que gostaria de ver é nos hotéis daqui da capital tivesse música ao vivo. É uma forma de promovermos a nossa cultuArtistas querem mais eventos culturais ra para os que visitam o país”, frisa o baterista Jojó. A falta de sensibilidade por parte dos gestores de casas de pasto faz com que os eventos musicais sejam escassos. “Temos muitos locais com condições de ter estes programas musicais mas não organizam. Deveria ser um dos requisitos para impulsionar a música nacional. Outra coisa que os gestores destes lugares tem é de não gostar de pagar devidamente os artistas”, lamenta o viola baixo Dulinho. As entidades culturais não estão a cumprir com o seu papel no desenvolvimento da música e cultura no geral. “É difícil perceber que trabalho está a fazer o Ministério da Cultura e Turismo. Tivemos alguma esperança com a junção destas duas áreas. Só ouvimos que os dirigentes culturais visitam locais turísticos. Sobre a questão cultural ainda não ouvimos algo de concreto. Estamos a perder esperança de ver a nossa cultura a desenvolver. Por isso que ouvimos que somos um país sem cultura”, aponta Juma. O trabalho dos artistas nacionais não é valorizado no seio da sociedade. “Os músicos moçambicanos são valorizados no estrangeiro, mas aqui no nosso país somos comparados com marginais. Quantas coisas tristes ouvimos que os artistas passam. Quando morrem assistimos movimento de dirigentes a darem condolências. Queremos ser valorizados em vida. Não serve o que temos assistido com todos artistas em todas vertentes. Precisamos de uma sociedade com sensibilidades para as artes e cultura”, lamenta o Jojó. (A.S) A vocalista do grupo Cranberries, a irlandesa Dolores O’Riordan, faleceu em Londres, nesta segunda-feira, 15 de Janeiro corrente aos 46 anos. A cantora perdeu a vida num quarto de hotel da capital inglesa, onde se encontrava para gravar uma nova versão de “Zombie” com a banda Bad Wolves. A causa de morte ainda é desconhecida. Os seus agentes levantam a hipótese de “morte súbita”. Amigos da cantora teriam relatado ao site especializado em celebridades denominado TMZ que ela estava “terrivelmente deprimida” nas últimas semanas e vinha reclamando de dores nas costas. No começo do ano passado, no entanto, a banda teve de cancelar a turnê europeia devido a problemas de saúde de Dolores O’Riordan. Ela tinha transtorno bipolar. Em comunicado, os seus representantes indicam que a cantora “estava em Londres para uma curta sessão de gravação” e que “os familiares estão devastados” e pediram privacidade após a morte súbita. Segundo um comunicado diz ainda que os integrantes “estão devastaArtistas receosos em termos de actividades culturais no presente ano Partiu voz de “Zombie” dos por ouvir as notícias” e pediram privacidade “nesta hora muito difí- cil”. Formado em 1990, o Cranberries emplacou hits como “Zombie”, “Linger”, “Dreams”, “Ode to my family” e “Salvation”. Dolores O’Riordan nasceu em Limerick, na Irlanda, também lançou trabalhos a solo, como os álbuns Are You Listening? (2007) e No Baggage (2009). A banda é tão conhecida pelos seus temas rock de grande popularidade nos anos 1990 quanto pela voz meio-soprano de O’Riordan e, como postulava a revista Rolling Stone em 1995, “os Cranberries são a maior exportação musical da Irlanda desde os U2”. Foi um dos grupos de rock de maior sucesso na década de noventa, venderam mais de 40 milhões de discos em todo o mundo. Depois de encerrar a trajectória em 2002, a banda de rock irlandesa voltou aos palcos sete anos depois para uma turnê mundial, em 2012, lançando o álbum Roses. No anos passado, o grupo lançou o disco acústico denominado Something Else, em que revisitam suas músicas gravadas com a Orquestra de Câmara Irlandesa e incluíram três canções novas. 2 Savana 19-01-2018 SUPLEMENTO Savana 19-01-2018 3 Savana 19-01-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) A notícia de existência de ataques em certos locais lá para as bandas do norte do país faz questionar o que estará a acontecer. Ouvimos que são ataques protagonizados por indivíduos ainda desconhecidos. É preocupante. Pouco se fala do assunto. Aparecem os porta-vozes da polícia a fazer uns comentários, sempre na tentativa de minimizar o assunto. A situação é grave. Como as coisas não acontecem nestas bandas do sul, muitos fingem não estar a acontecer algo. A guerra dos 16 anos iniciou assim. Estamos habituados que certas individualidades dêem a cara para comentarem acerca de assuntos que nos preocupam, mas neste momento parece que perderam a língua. Aparenta que nesta primeira imagem Eduardo Mondlane Júnior, esteja a fazer troça o antigo estadista, Joaquim Chissano. Este fica apenas a olhar. Nisso outro antigo estadista, Armando Guebuza, procura intervir para que a troça seja prescrevida. Todos que estão ao redor procuram camuflar o que acontece com aparências serias, outros com dissimulados sorrisos. Sabemos que está a decorrer a campanha eleitoral para as eleições intercalares para o Município de Nampula. O que está a suceder é que depois da viúva do edil de Nampula, Mahamudo Amurane ter aparecido a dizer que apoia o candidato do partido dos camaradas de seguida surgem alguns vereadores do partido MDM a dizer que também direcionam o seu apoio ao candidato do partidão. Coisas de política mesmo. Enquanto conhecemos líderes de partidos que já fazem isso a muito tempo. Quem não sabe que o presidente do PIMO, Yaqub Sibindy desempenha esse papel há muito tempo. Deve estar a dizer ao presidente do Conselho Constitucional, Hermenegildo Gamito que os macuas estão a imitar um meio papel lambe botas . Outros já se preocupam com a literatura, conversar com escritores. O general na reserva, Hama Thai lançou o livro “Liderança e Processos de Decisão em Samora Machel”, que conferiu em 2016, o título de Doutor em Gestão e Administração de Empresas pela Commonwealth Open University”. Por isso nesta imagem insisti uma conversa com o escritor Mia Couto. Esta atitude deixou alguns que sempre se intitulam escritores com os nervos a flor da pele. Vejam como Pedro Chissano, não conseguiu esconder o dissabor. A sua observação faz com que António Prista desvia o olhar para testemunhar o que ouvia. Deve estar a dizer que ele lançou em 2013, o livro intitulado “Algumas Histórias e Brincadeiras com B Grande”. Conhecemos escritores assim com uma ou duas obras lançadas nas suas longas carreiras. O outro é o Luís Bernardo Honwana que lançou a sua segunda obra, 50 anos depois do célebre “Nós Matamos o Cão Tinhoso”. Aqui Luís Bernardo Honwana deve estar a justificar aos que o indagavam sobre as razões de não voltar a publicar. Insisti, ele que já lançou o livro “A Velha Casa de Madeira e Zinco” para o jornalista Alves Gomes que bosqueja um sorriso. É o que ocorre na pátria amada. O que se passa? Savana 19-01-2018 EVENTOS 4 PUBLICIDADE

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