terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Inconsistência Cambial: A Política do Ziguezague

Como era esperado, a nova política cambial anunciada pelo governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, no início do ano, não resistiu sequer um mês ao embate com a realidade.
Por causa do falhanço dessa política, o governador teve de emitir, com carácter de urgência, os Instrutivos n.os 1, 2 e 3/2018, de 18 de Janeiro. A finalidade geral desses Instrutivos é repor subtilmente a rigidez do câmbio do kwanza, depois de este ter entrado em descontrolo com a introdução das “bandas cambiais”.
Esta rigidez, que apenas permite uma oscilação de 2% no valor da moeda, está estabelecida no ponto 4.1.3 do Instrutivo n.º 1, que determina que: “Cada Banco Comercial pode apresentar até 4 (quatro) propostas com taxas de câmbio diferentes, devendo o limite mínimo e máximo ser de até 2% (dois por cento) sobre a taxa de câmbio de referência à data do leilão.” E também no Instrutivo n.º 3, nos seus pontos 2, 3 e 4, em que o governador prescreve que a taxa de câmbio de compra no mercado seja calculada com uma redução de até 0,25% (zero vírgula vinte e cinco por cento) sobre a taxa de câmbio de venda. Estabelece-se também que o BNA publicará diariamente, no seu portal institucional, as taxas de câmbio de referência e que, na comercialização de moeda estrangeira no mercado interbancário e aos seus clientes, os bancos comerciais podem aplicar, sobre a taxa de câmbio de referência publicada no portal institucional do Banco Nacional de Angola, uma margem, para mais ou para menos, de até 2% (dois por cento).
Então, o que aqui temos é a limitação das oscilações cambiais do kwanza a 2%. Este valor é quase igual a zero, e na realidade não introduz qualquer flexibilidade relevante no sistema cambial.
Em 1979, o recém-nascido Sistema Monetário Europeu começou por criar um sistema de câmbios semi-rígido, adoptando margens de variação entre os 2,25% e, nalguns casos, os 6%. Depois de se perceber que este sistema não funcionava, definiram-se margens de variação de 15%. Quer isto dizer que, na Europa, quando se percebeu que o sistema falhava, aumentaram-se as margens. Em Angola, faz-se precisamente o inverso…
Na realidade, o governador José de Lima Massano não sabe o que fazer. Queria introduzir mecanismos de mercado na política cambial, mas assustou-se. Submetido às regras do mercado, o kwanza demonstrou que estava demasiado valorizado, pelo que se verificou a sua rápida desvalorização, rompendo-se as “bandas” em pouco mais de duas semanas.
Perante este cenário indesejado, a reacção do governador foi acabar com o mercado, fingindo que o mantém. A verdade é que estamos de volta a um câmbio rígido, depois de uma desvalorização do kwanza em quase 18%.
Sabemos que o governador diz que não houve desvalorização, mas sim uma depreciação, fazendo um jogo ridículo de palavras. Em português corrente, desvalorização e depreciação são uma e a mesma coisa. É certo que na linguagem económica se faz a distinção entre desvalorização e depreciação. Desvalorização representa um abaixamento do valor da moeda por decisão da entidade oficial que toma conta da moeda: o Governo, o Banco Central, etc. Depreciação é, também, um abaixamento do valor da moeda, mas como resultado das forças de mercado. Quer um conceito, quer outro representam exactamente a mesma situação: diminuição do valor da moeda. E, se repararmos, a 8 Janeiro de 2018, quem começou por apresentar um ajuste administrativo à taxa de câmbio foi o próprio BNA. Isto é, o BNA fez uma desvalorização, que depois foi continuada como depreciação, para usar o jogo de palavras do governador.
O facto é que estas considerações terminológicas são irrelevantes. Relevante é a perda do valor da moeda angolana. Como referimos, esta perda já ia em perto de 18%, quando o BNA decidiu travar os leilões cambiais e introduzir maior rigidez no sistema, através dos Instrutivos acima mencionados.
Como previmos, a nova política cambial sucumbiu rapidamente às pressões do mercado e deu azo a uma rápida desvalorização da moeda, iniciando de imediato mais pressões inflacionistas, que levaram à subida da taxa de juro de referência do BNA, de 16% para 18%.
A subida das taxas de juro, que inibe o investimento, e as pressões inflacionistas não são o quadro ideal para um relançamento da actividade económica.
Porém, o mais grave desta história é o facto de ela demonstrar que a equipa económica do Executivo não está preparada para combater os difíceis desafios com que se defronta a economia angolana.
Anuncia-se a entrega da política cambial ao mercado e, mal este segue um caminho indesejado, regressa-se ao intervencionismo (disfarçado de palavras suaves e tecnicismos).
Parece não haver estratégia de fundo em termos económicos, mas um experimentalismo ziguezagueante, que dará mau resultado, desde logo porque abala a confiança de potenciais investidores. Um dia é 3%, no outro é 2%; e amanhã, o que será?
É preciso estudar, ouvir e decidir uma estratégia económica global. E depois implementá-la e aguentar os seus efeitos.
O buraco económico em que Angola foi metida pelo Governo anterior não se tapa em duas semanas, mas há que não continuar a cavá-lo.
Como era esperado, a nova política cambial anunciada pelo governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, no início do ano, não resistiu seque
makaangola.org
Luis Pedro Tchizuka Lp O governo que desgoverna Angola teve a sorte de ter uma terra fertil e,com abundância de uma bacia hidrográfica invejável!!terra rica de recursos naturais e minerais,um povo que é arrastado para o precipício e nunca diz não,que nem ovelhas,se a terra tem tudo,mais tudo para dar certo,não dá certo porque?o meu amigo chinês respondeu-me:quen governa na cabeça tem água água,e na cabeça do povo tem minhoca minhoca.Parabéns ao chinoca.
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Manuel Simão Mbiya O MPLA e o seu governo nunca iram fazer do melhor neste pais, porque eles izurparam ou roubaram o poder do povo desde 1975 nunca foram eleitos pelo povo. Sempre utilizaram o sistema de fraude pra poder enganar o meu povo e é por isso tudo que eles fazerem ñ dará certo porque a mentira tem pernas curta e eles estam condenados pelo Deus a governar assim sem sucesso porque săo adrabões e o Deus ñ gosta quem audraba o seu povo.
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Edy Alcidio Edy Alcidio lembro-me sé a minha memoria não falha nos anos 90 , já se usa o USD em simultanio com o kwanza, nesta altura não havia probulema cambial.
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Admilson Marques Filipe eu não entendo! porque não utilizamos outra moeda de um outro pais? como o dollar ou euro ou o yenes da china?! poh o vão ao banco Mundial fechar acordos ou procurar saber como valorizar a moeda pelomenos 1:90 no dollar é 1:165 o euro? pk a republica de timorleste usa dollar! é nos não porque? deve-se adotar um novo sistema de moeda! é por sua fez ter um maior controlo 😑 Angola Pais do pai bana
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Reply1hEdited
Gaspar Paulo Amigo Admilson, uma moeda só se valoriza com produção interna, coisa que não temos! Até as nossas "fábricas" para trabalharem precisam de importar matéria prima!
Anginho Manuel Geraldo Coboi Sinceramente absurdo este governo ziquenizando o povo, como se fossemos mabecos foda-se, que voltem nas univercidades pah !
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Almeida Allstar Universidades*
Marcos Bravo Mesmo sabendo sobre a moeda nacional,continuam com palavras pomposas de enganar com linguagem homônimas de sempre
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Gustavo Panzo É bom que se crie uma política macroeconómica consistente, que garante não só a estabilidade, mas também um ambiente favorável ao crescimento para minimizar a situação económica que Angola vem enfrentando nos anos recentes.
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Edson Da Costa Mateus Isso só mostra a incapacidade desses governantes
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Duarte Manuel Marcelino Ops!!!
Estado falhado...
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Sambukila Sambukila O GOVERNADOR DO BNA COMEÇOU A EXPERIMENTAR MAL NO MEU PONTO DE VISTA. DEVERIA NO PRIMEIRO DIA DA SESSÃO DO FLUTUANTE IGUALAR A TAXA AO CÂMBIO DO MERCADO INFORMAL. ASSIM OS BANCOS COMERCIAIS NÃO TERIAM MARGEM DE ATRAIR AS KINGILAS. MAS ISSO PRESSUPÕE OUTRAS MEDIDAS QUE O BNA DEVERIA TOMAR EM SIMULTÂNEO COMO AUMENTO OBRIGATÓRIO DO CAPITAL PRÓPRIO DOS BANCOS EM 75%, REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS DE 16% PARA 5%, REDUÇÃO EM 40% DO TOTAL DA MASSA MONETÁRIA EM CIRCULAÇÃO. ESTÁS MEDIDAS TOMADAS AO MESMO TEMPO RESULTAM BEM A MÉDIO PRAZO.
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Domingos Artur Mito Mito Isso esta a cheirar mal
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Jeorge Tidjo Abílio Análise bem esclarecida!
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Edson Da Costa Mateus Isso só mostra a incapacidade desses governantes
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