Delator da JBS, Ricardo Saud disse que a colaboração "acabaria" com os senadores
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14 set 2017, 15h37
O diretor de Relações
Institucionais da JBS Ricardo Saud conhece o mundo político como
ninguém. Ele é detentor de segredos sobre como funcionava o submundo do
Congresso e o dia a dia do financiamento paralelo de deputados e
senadores. Desde o início da semana está preso temporariamente por ordem
do Supremo Tribunal Federal (STF) e na segunda-feira teve o imóvel
vasculhado depois de um mandado de busca e apreensão expedido após
supostamente ter violado o acordo de delação premiada que fez com o
Ministério Público. Confrontado a prestar esclarecimentos na última
semana, Saud detalhou como figuras de proa da política nacional
articularam, anos a fio, para que ele não revelasse o que sabia à
justiça.
Segundo Saud, o presidente do Senado,
Eunício Oliveira (PMDB-CE) e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL),
Romero Jucá (PMDB-RR) e Aécio Neves (PSDB-MG) o pressionavam para que a
delação não saísse do papel. O motivo: “a colaboração acabaria com
eles”. “Estavam há três anos falando com Renan, Aécio, Eunício, Jucá e
eles não resolviam a situação do depoente. Esses parlamentares pediam
para não fazer a colaboração porque acabaria com eles”, aponta trecho do
relato do executivo da JBS feito ao Ministério Público em 7 de
setembro.
A preocupação dos políticos com a
iminente delação da JBS tinha razão de ser. Em sua delação, Saud disse
ter distribuído propina a 1.829 candidatos eleitos, entre os quais
Eunício, Renan e Aécio. O dinheiro ajudou a irrigar as campanhas
vitoriosas de 167 deputados federais, 28 senadores e 16 governadores.
O diretor de Relações Institucionais da
JBS também detalhou, em delação premiada, que o publicitário André
Gustavo Vieira da Silva, preso na 42ª fase da Lava Jato, entregou cerca
de 7 milhões de reais a senadores do PMDB. Apenas naquele episódio, o
presidente do Senado Eunício Oliveira teria recebido 318.000 reais em
dinheiro vivo pelas mãos do publicitário, enquanto seu antecessor na
chefia da Casa, Renan Calheiros, teria sido o destinatário de 3,8
milhões de reais em espécie, repassados por André Vieira da Silva a
Durval Rodrigues, suposto emissário de Renan. Os pagamentos aos
peemedebistas, conforme Saud, foram feitos a pedido do ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega, interlocutor do PT junto à JBS, para “assegurar a
unidade do PMDB, que apresentava, ao tempo, risco real de fratura, com a
perspectiva de parte do partido passar a apoiar formalmente Aécio
Neves”.
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