A Inspecção Nacional das
Actividades Económicas
(INAE) ordenou o encerramento
do único matadouro
estatal em Manica, devido
à “total imundice” e por suspeitas
de abater gado doente e demasiado
magro, o que se tornava um autêntico
atentado à saúde pública, uma
medida aplaudida pelos vizinhos da
indústria, por se sentirem livres do
cheiro nauseabundo, de sangue e excrementos
de animais que escoriam
para a via pública e invadiam quintais.
Um edifício velho e sem nenhum
sistema de abate funcional resistia
às inúmeras denúncias da popula-
ção, até em comício popular durante
uma presidência aberta no recinto
do antigo quartel Zagarto (bairro 16
de Junho), até que uma missão da
INAE deu por fim, semana passada,
à “lástima”, de onde saía a maior
quantidade de carne disponibilizada
no mercado em Manica.
“Foi chocante”, descreveu Rita Freitas,
inspectora-geral da INAE, sobre
o estado em que funcionava o matadouro
quando a missão se fez ao
local, após denúncias e pedido de
intervenção da equipa central.
“Estava em péssimas condições e
perigava a saúde pública”, lamentou
Rita Freitas, acrescentando que os
animais eram abatidos no chão, esburacado
e lamacento (com excremento
acumulado de animais mortos) e
com recursos a facas, sujeitando-os a
muito sofrimento até à morte.
A rede de esgotos estava destruída
e “o sangue e os excrementos dos
animais mortos escorriam para a via
pública”, provocando cheiro nauseabundo
aos moradores vizinhos. Os
frigoríficos obsoletos tinham sido
transformados em vestuários dos
funcionários e já não havia sanitários,
aliás, para urinar recorriam ao curral.
“Seria injusto e desumano” deixar o
único matadouro do Estado continuar
a funcionar, frisou a inspectora,
sustentando que encontrou no local
gado ferido, magro e com sinais de
doença à espera de abate.
O SAVANA apurou que o matadouro
já não tinha uma estrutura fi-
nanceira para continuar a funcionar,
tanto que as actividades, largamente
concorridas, não conseguiam suportar
o pagamento de salários dos trabalhadores.
O matadouro apresentava o preço
mais baixo do mercado. O quilograma
de carne abatido era cobrado
a um metical. Para o matadouro vinham
animais de outras províncias,
sobretudo de Tete.
“Recomendamos várias coisas para
melhorar os serviços do matadouro”,
precisou Rita Freitas, mas devido às
condições obsoletas de quase toda a
infra-estrutura, aconselha o Estado a
construir um novo edifício, por a reabilitação
ser bastante onerosa.
Alívio
Os moradores vizinhos do Matadouro
aplaudiram a intervenção da
INAE, considerando que o encerramento
daquela indústria traz alívio
com o fim do mau cheiro que invadia
os seus quintais.
“Até os próprios bois agradecem,
porque era muito sofrimento. Passávamos
por tanto sofrimento com
o cheiro de podridão de sangue e
excremento de animais, que provocava
moscas e tirava-nos o sossego
de desfrutar nossos quintais”, disse
ao SAVANA, Berta Francisco, uma
moradora local.
Outra moradora contou que várias
vezes denunciaram a situação, mas
nunca ficou resolvida, sustentando
que os trabalhadores do matadouro
já não observavam questões básicas
de higiene nos abates, o que prejudicava
os consumidores da carne no
local e os moradores vizinhos.
“Até as pessoas que comiam aquela
carne abatida aqui estão aliviadas.
Nós moradores agora respiramos outros
ares, muito longe de cheiros fortes,
de peles em secagem, excremento
e sangue a feder na rua e nos quintais
vizinhos. Já dá vontade de ficar fora,
no quintal”, disse Rebeca Ernesto,
outra moradora do local.
Mais de 200 encerramentos
este ano
A INAE encerrou 217 estabelecimentos
nos primeiros nove meses
deste ano por graves “problemas de
higiene e limpeza” em todo o país,
sobretudo no ramo de hotelaria e
restauração e comércio, por terem
apresentado um quadro considerado
“atentado extremo” à saúde pública.
De Janeiro a 15 Setembro corrente, a
INAE inspeccionou 13.589 estabelecimentos
em todo o país, 1.850 das
quais em Manica, tendo ordenado
217 encerramentos (12 das quais em
Manica), a maioria por problemas de
higiene, como arrumações que proliferavam
ratos e baratas e outras por
licenças indevidas, emitidas erradamente
pelos municípios, quando a
emissão é da competência do Balção
Único de Atendimento (BAU).
“Foram encerrados porque apresentavam
condições inaceitáveis e perigavam
a saúde pública”, precisou
Rita Freitas, em conferência de imprensa,
em Chimoio, no fim da missão
inspectiva realizada de 12 a 16 de
Setembro naquela província.
Rita Freitas disse que, durante o
trabalho em Manica, foram inspeccionados
29 estabelecimentos, tendo
sido ordenada a incineração de vários
produtos de consumo sem condições
de consumo, em hotéis, restaurantes,
frescatas e até em rede de supermercados,
como a Shoprite.
Disse ainda que em vários hotéis
eram servidas refeições congeladas,
guardadas em sacos plásticos e tigelas,
e que muitos produtos frescos
não eram separados por espécies.
“Recomendamos também investimento
no centro social da fábrica
da Coca-cola, em Chimoio, por não
apresentar as condições exigidas”,
disse Ana Freitas, classificando no
geral a província de Manica de estar
“em condições aceitáveis”.
Contudo, Ana Freitas deplorou a
massiva presença de menores em
clubes nocturnos, para o negócio de
sexo, tendo recomendado aos proprietários
a respeitar a legislação
sobre as restrições de menores de 18
anos.
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