segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Qual é a “lógica” da contestação dos resultados da UEM?


Opinião


Em 1962 (era colonial) nascera a primeira Instituição de Ensino Superior (IES) em Moçambique, sob a catalogação “Estudos Gerais Universitários de Moçambique”.
Frise-se que a vanguarda universitária, nessa altura, tinha “saldo negativo” de pretos (sem conotações rácicas, por favor). Esta IES ascendeu à categoria de Universidade em 1968, tendo recebido o designo de Universidade de Lourenço Marques.

Paulatinamente, o acesso tornava-se possível para alguns “assimilados” que tivessem concluído o ciclo exigido como requisito. Com o fim do colonialismo, o então presidente Samora Machel atribuiu à mesma IES o nome de Universidade Eduardo Mondlane precisamente em 1976. A ausência da opressão colonial propiciou espaço para que mais pretos tivessem acesso a única Universidade do país. Entende-se que, enquanto o número de candidatos não superasse a disponibilidade de vagas, o Exame de Admissão não era critério de selecção. Lê-se no portal virtual da UEM que “a Lei n° 27/2009, de 29 de Setembro (Lei do Ensino Superior) estabelece, na conjugação do Artigo 22 com o Artigo 23, n° 5, alínea a), que constitui condição de acesso ao primeiro ciclo de formação do ensino superior, que corresponde ao grau académico de Licenciatura, a conclusão com aprovação da 12a classe ou equivalente. Tendo em atenção que o número de vagas é inferior ao número de candidatos, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) estabelece os Exames de Admissão como critério de selecção, sem prejuízo de outros factores de ponderação fixados na Lei”.

Entretanto, os mais recentes resultados do Exame de Admissão, divulgados pela UEM, mexeram com as mais variadas sensibilidades. Estudantes, professores e outros insurgiram-se depois de terem visto notas muito abaixo de dez e muito próximas de zero na situação de ADMITIDO. Sucede que o critério não tem em conta identificar o candidato mais inteligente, algo difícil mas não impossível de se aferir num exame “multichoice”. À semelhança de algumas universidades, em Moçambique, o critério tem em conta admitir os 35 candidatos (neste caso) com as maiores notas entre o total dos examinandos. Embora tais notas baixas sejam maioritariamente visíveis nos cursos pós-laboral, que tem um carácter digamos privado, os alaridos traduzem a ideia deste fenómeno ser novo porém não é verdade. Resultados com notas próximas de zero, não são de hoje na UEM e em outras IES. Por volta de 2003, quando se criou o curso superior de estatística, houve admissões, muitas, com notas entre 3.0 à 1.5 (três à um e meio). O que mais me preocupa, em torno dos alaridos, é a “lógica” da contestação. Se as IES privadas não têm o Exame como condição prévia para Admissão por quê convulsionar-se quando se trata da UEM? Relegar inteligência somente à UEM? Estaremos, nós, a querer elitizar o ensino?

Se perguntarmos para a geração dos Chistoph Jamu, PhD (RIP) e Brazão Mazula, PhD como foi que acederam a Universidade, provavelmente, nenhum deles fale de Exame de Admissão entretanto nem tão pouco coloca-se em causa seus “créditos” academicamente pelos seus feitos. À semelhança destes, há tantos outros que somente precisam de oportunidade para tornarem-se num exemplo de superação. Hoje o país está inserido num contexto de híper distracção que afecta negativamente mentes com QI e potencial para serem brilhantes. O meu dia-a-dia na sala de aulas permite-me ver exemplos de superação incríveis que contrariam um conjunto de “teorias defensoras de nota 10”. Sem no entanto banalizar o ensino, é preciso ajudar o estudante a remover o estereótipo que o leva a olhar para a Universidade como “bicho-de-sete-cabeças”.

Nota três é desagradável para todos, incluindo a mim, mas não deixa de ser leviano limitarmo-nos a contestar sem devida contextualização. Há muito debate que precisa ser travado para que possamos compreender e resolver os problemas da edução sobretudo dos aspirantes a universitário. É necessário, acima de tudo, ouvir os mais lesados (alunos) sob pena de os impingirmos métodos nada funcionais e em última análise arrastar toda culpa a eles.

Portanto, podemos até desgostar mas se a Universidade colocou como condição ter o nível médio concluído e a maior nota, o que tiver 4 (quatro) como a mais elevada entra e ponto final.
Circle Langa

Circle Langa

Comunicólogo/Designer e Pesquisador

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