Por Luís Andrade de Sá António Silva
Afastada da estrada nacional e do ambiente de conflito no centro de Moçambique, Mangunde, terra onde Afonso Dhlakama nasceu há 60 anos, é uma pequena vila em paz, a meio de uma longa picada de terra batida. O líder da Renamo estudou ali, na escola onde padres italianos continuam a ensinar técnicas de agricultura, mas, depois, ainda jovem, foi-se embora. "Não o tornámos a ver, não voltou cá", diz Arone Ticutenae Tenana, tio direito de Dhlakama e régulo da pequena vila no interior da província de Sofala, a cerca de 100 quilómetros do local onde se têm registado mais ataques, que as autoridades atribuem à Renamo.
Arone, 67 anos, 19 filhos e três mulheres, todos a morarem com ele "numa casa grande", sentado numa mota chinesa Lifan, "oferecida por um muzungo" (branco) é o símbolo da tranquilidade que se vive na aldeia. "Estamos fora da política, há uma convivência entre todos", diz este crente da Assembleia de Deus. A "convivência" está à vista no caminho que conduziu até ao tio de Afonso Dhlakama. Numa curva anterior, crentes da Zion Jacken-chen, uma seita cristã originária do Zimbabué, que proíbe a construção de templos, dançavam ao ar livre, no meio das árvores; e, junto à missão católica, o padre Giocondo Pendi passeava entre os embondeiros, aproveitando a última luz de fim de tarde.
Afonso Dhlakama está há uma semana "em parte incerta", depois do exército ter ocupado a base em que vivia, em Sadjundjira, a 200 quilómetros de Mangunde. "O desaparecimento dele causa preocupação na família", admite o tio, que insiste na sua neutralidade. "Não sou da Frelimo nem da Renamo, estamos a rezar pela paz". E perguntado, mais uma vez, sobre a sua relação com o sobrinho, Arone usa a expressão com que os moçambicanos dão o caso por arrumado: "Nada!" Moçambique vive a sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, na sequência de confrontos entre o exército e elementos armados da Renamo, principal partido da oposição, devido a divergências em torno da lei eleitoral.
As últimas semanas têm sido marcadas por confrontos de parte a parte e o exército governamental já ocupou algumas das principais bases do movimento, tendo colocado em fuga o líder da Renamo.
LUSA – 01.11.2013
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