domingo, 17 de novembro de 2013

Os primeiros tendões da paz moçambicana

Acabou a campanha. Voltemos ao essencial



A Segunda Guerra Mundial foi o resultado de uma paz mal feita no final da Primeira. A Itália, mesmo tendo juntado o seu destino aos dos Aliados, depois de uma vitória comum que lhe custou seiscentos mil mortos, quatrocentos mil desaparecidos e um milhão de feridos, quando se discutia a paz à volta da mesa, só recebeu as migalhas de um rico espólio colonial. E a Alemanha, derrotada, viu suas possessões africanas a serem entregues a outras potências e a cair num colapso, quando era um país de grandeza material. Quando os preparativos para a Segunda Guerra davam mostras as mentes magoadas já estavam dispostas a receber o inevitável. Entre o fim da Primeira Guerra Mundial (1918) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939) passaram 21 anos, o mesmo período que nos separa do Acordo Geral de Paz (1992) a estas escaramuças de 2013. Um certo dia, Prof. Dr. Elísio Macamo escreveu que a Renamo não perdeu a guerra, mas pode ter perdido a Paz. Estas pequenas comparações de contraste servem para ilustrar o ambiente sombrio por que estamos a passar e confirmar a tese de que a História se repete.

Aquando do tratado de Roma, em 1992, havia grandes esperanças e uma certeza absoluta de que a guerra tinha acabado e de que o país se tornara estável numa verdadeira e genuína reconciliação. Não vejo, nem sinto essa mesma confiança, nem sequer as mesmas esperanças, no turbulento país de hoje. É por ter a certeza de que ainda temos o nosso destino nas mãos, nas nossas próprias mãos, e que temos o poder de salvaguardar o futuro, que senti o dever de falar agora, quando a ocasião e a oportunidade se apresentaram. Vou dizer o que tenho dito, repetidamente! Não acredito que a Renamo deseje a guerra. O que ela deseja são os frutos da paz e a expansão ilimitada da sua influência. Mas o que aqui devemos considerar, enquanto ainda há tempo, é a prevenção permanente da guerra e o estabelecimento, o mais rapidamente possível, de condições de liberdade e democracia. As dificuldades e os perigos de hoje não serão eliminados se ficarmos à espera para ver o que acontece, nem praticando uma política de apaziguamento. É tempo de o Governo agir na busca de um interlocutor válido, na capaz de encetar condições de diálogo com a ala militar. Mas o mais importante é localizar o próprio Dhlakama, enquanto há tempo. Não se pode esperar que ele reapareça através dos meios de comunicação estrangeiros, o que poderá lançar desespero a todos nós e reanimar o espírito de vingança dos seus homens. O que é necessário é um acordo com a Renamo militarizada, e quanto mais for adiado, mais difícil será de o obter e maiores se tornarão os perigos que nos ameaçam. Pelas mortes de civis e militares, de Abril a esta parte, já não é válida a velha doutrina de que os atacantes irão gastar suas munições e render-se-ão ou seja, o exército tudo fará para devolver a paz aos moçambicanos. Vivemos um problema político e como tal deve ser resolvido por vias políticas e nunca por vias militares.

Não nos podemos dar ao luxo, se o pudermos evitar, de ter pouco espaço de manobra, dando azo à tentação de teste de força. Não podemos deixar fugirem os 21 anos tão importantes nos quais criamos sonhos de prosperidade. Poderemos ser todos, o povo, o Governo e a Renamo, vítimas de uma catástrofe. No passado, vi pessoas a aproximarem-se de nós e a avisar, mas ninguém lhes prestou atenção. Em 1988, o Papa João Paulo II, aquando da sua visita a este país, dizia que «a História não é um mero resultado de fatalidade; ela é algo feito também pelas providências humanas. A História deste momento ficará marcada por aquilo que nós, Igreja, Autoridades Políticas, Forças Religiosas, Forças Sociais e Comunidade Internacional, fizemos ou deixamos de fazer pela paz e pelo desenvolvimento de Moçambique. Parece impor-se enveredar pelo caminho do diálogo para a reconciliação, que faça cessar o espargimento do sangue do irmão e purifique o ambiente do ódio e do desamor». Mas, ao invés de escutar-lhe a mensagem, em 17 de Julho de 1989, o então Presidente, Joaquim Chissano, questionava «Quem é, realmente, a Renamo e quais as suas intenções? Os bispos não constituem uma equipa de mediação mas sim de uma exploração para nos ajudar, em primeiro lugar, a decifrar as intenções de gente que tinha começado a disparar mesmo antes de falar. Porque a luta da Renamo não nasce nem de uma cisão do partido ou reivindicações não obtidas. São violências, massacres e basta». Hoje, em 2013, sabemos das reivindicações da Renamo, algumas das quais, tão justas e benéficas mesmo para aqueles que as repudiam recorrendo à retórica. Foi precisamente por ter compreendido que a retórica em nada contribuiu que em 1990 Chissano afirmou (veja Tempo, 25.03.1990), nos EUA: «Informei o Presidente Bush da decisão do meu Governo de entrar em negociações directas com a Renamo para pôr termo ao sofrimento do nosso povo. O meu governo está pronto para iniciar o diálogo a qualquer altura. Se não estivéssemos ocupados com a independência da Namíbia poderia dizer que estamos prontos agora mesmo». Até ao ano de 1988, ou mesmo antes, Moçambique poderia ter sido salvo do horrível destino que lhe coube, e todos nós poderíamos ter sido poupados às misérias que a guerra lançou sobre a nação e sobre cada uma de nossas famílias.

Nunca houve, na história, uma guerra mais fácil de evitar actuando atempadamente do que a que acabou de desolar o país por 16 anos, sem se disparar um único tiro, e Moçambique poderia ser hoje poderoso, próspero e honrado; mas ninguém quis ouvir e fomos todos sugados, um a um, pelo terrível turbilhão. A decisão será nossa, mas de modo nenhum podemos deixar que aquilo volte a acontecer. Só o conseguiremos se agora, em 2013, o mais tardar até 2014, chegarmos a um bom entendimento com a Renamo militarizada, e mantendo esse bom entendimento por muitos anos de paz através da nossa força e determinação nacionais. É preciso, senão mesmo necessário, que o Governo de Moçambique declare amnistia geral aos guerrilheiros da Renamo e, em nome da paz, organize o seu recenseamento geral para se inteirar acerca de suas condições de vida, no sentido de dar-lhes a vida condigna na sociedade. Eles não são outros; são moçambicanos quanto o somos todos e não possuem outro Moçambique onde possam fixar residência. Ora, enquanto pretendermos que a sua residência seja o túmulo, pela lei da sobrevivência, tudo farão para protegerem a própria vida e o país pagará alto preço. Não nos podemos considerar livres se um só moçambicano estiver aprisionado nas matas da Gorongosa, de Moxungue, de Rapale e de Canda, sem esperança quanto ao seu futuro. Que cessem as perseguições aos renamistas armados, em nome da paz e chamemos aos até aqui renegados, à mesa de negociações. A paz é possível, porque os que tomaram a decisão para estas escaramuças na paz também têm o poder de as fazer cessar na guerra. O diálogo com quem não dispara, como até aqui aconteceu, poderá surtir poucos efeitos e exacerbar as tenções e a ansiedade. Gostaria de dizer aos meus colegas que estas escaramuças são as última. Esta é a primeira solução que respeitosamente proponho nesta alocução, que intitulei «os primeiros tendões da paz».
http://repensand.blogspot.com/2013/11/os-primeiros-tendoes-da-paz-mocambicana.html

  • Antonio A. S. Kawaria Hei-de com calma
  • Vasco Ernesto Muando Rende-se a paz com a paz! Informe aos moçambicanos que estão do seu lado para previligiarem a transparência na sua governação baseando se num plano. É mto fácil tirar a Renamo das matas, é que pergunte a Joaquim Chissano. Queremos que Moz seja de mozs. Queremos que a competência e a especialização sejam alma para direccionamento do emprego.
  • Germano Milagre Eusebio li com toda a atencao tudo o q escrevestes neste texto. Em 1o lugar estou totalmente surpreendido devo confessar. Em 2o so posso te dizer que me sinto totalmente irmanado com o q transmites. Desta vez e sem qualquer ironia estou 100% contigo de corpo e alma como se costuma dizer ... tenho pensado muito ultimamente em nos todos como Mocambicanos. Somos um pouco esquentados e temos esta mania de reagir muito emcionalmente muitas vezes sem pensar muito na nossa reaccao, mas dificilmente se encontra um povo tao generoso para a amizade. Na minha opiniao os Mocambicanos no geral sao o povo entre o qual e o mais facil e fazer as pazes entre nos. Basta q para isso um terceiro irmao faca ver aos dois q estao exaltados que nao ha razao para essa exaltacao e que podem sentar-se e bater um papo e compreender um ao outro, a vasta maioria do nosso povo neste ponto da nossa historia deseja a paz entre todos, o respeito civico ( acho q se deveria introduzir uma cadeira de civismo entre a 4a e 5a classes p q as criancas de hoje sejam melhores q nos no futuro ) e é um povo q aspira as coisas mais basicas... unidos entre diferentes partidos, com a tolerancia e desejo de juntos construirmos um Mocambique inclusivo e q nao deixa nenhum Mocambicano de fora poderemos chegar a esses objectivos basicos bem rapido... desta vez Eusebio eu tiro-te o meu chapeu ... espero q tenhas sido sincero, q nao haja aqui nada eleitoralista, pois ficaria profundamente desiludido ! Tenho sempre fé na boa índole de qualquer itmão Micambicano ... este e o principio certo. Espero q a tua voz seja ouvida aonde mais precisa de ser ouvida. Aquele abraço !
  • Vasco Ernesto Muando Germano, Eusébio é um tipo bom. Sempre repudiou a violência. Agora que tem fazer é transmitir aos outros que é possível sermos unidos na diferença. Os cabeças do partido tentem transmitir isso ao Chipande, Paunde, Nihia, etc que o diálogo é possível.
  • Germano Milagre Por isso exprimi o meu desejo que os lideres lhe ouçam nesse seu desejo de paz ....
  • Gito Katawala Que Ele te abencoe Eusébio. Abraco.
  • Samuel Braz Infelizmente os promotores dessa guerra, não estão interessado com a paz. Têm muito prazer de sabotar os moçambicanos.
  • Antonio A. S. Kawaria Já lê o artigo. Excelente. É o que temos dito. Nós que não temos o que recear dizemos frontalmente do que achamos. Não mocambicano de bom senso que julgue que as questões colocadas pela Renamo são de difícil consenso ou solucão. Ademais, temos um potencial de concidadãos em Mocambique para mediar.
  • Brazao Catopola Eusébio A. P. Gwembe, seriamente falando fumaste algo? Parabéns, pela primeira vez escrevendo algo sobre Moçambique. Juro quê fiquei feliz. Parabéns por vezes é preciso pôr o país em frente. Aleluia, aleluia...mas têm algumas coisas discutível mas parabéns mesmo
  • Cee Maquiti Brazao kkkkkk wena pa kkk.....Eusébio A. Gwembe well done
 
  • Oreste de Sousa Sim senhor palavras super sabias e bem expressadas. Ai esta a ciclicidez da història
  • Pedro Maunde Realmente a demonstração da musculatória do arsenal military do governo de Moçambique através de perseguições dos homens armados da Renamo só servirá para atiçar o teor das hostilidade e sofrimento do povo. Contrariamente ao que aconteceu em Angola, mi...See More
  • Raúl Salomão Jamisse Muito bem mr Eusébio, agora começou a ver o País real da forma como os Moçambicanos gostam e avante com mais ideias construtivas...
  • José Francisco Narciso Mas que eles aceitem a entregar as armas, para evitar que surja outra vez outro Exército paralelo, sempre que não de acordo em algo esses os da Renamo. Eu estando de acordo com todo escrito aqui, mas sigo pensando que o Dhlakama vai seguir sendo o pri...See More
  • Raúl Salomão Jamisse Caro José a tua ideia é certa mas não justa neste momento pois, o que importa aqui é a paz e não se alcançará a paz eliminando este e aquele...a RENAMO pode sim ser desmilitarizada sem violência desde que hajam garantias da sua inclusão no contexto sócio-político do País
  • Pedro Maunde historicamente não me parece assim José Francisco. Tudo deve ser feito para que através do diálogo os diferendos sejam esclarecidos, resolvidos baseados num tom de justice e reconciliação para o bem da maioria. tanto a Frelimo como a Renamo devem aceitar que ambos cometem errros e que podem mudra para o melhor
  • Pedro Maunde Caro Eusébio A. P. Gwembe, a forma histórica que usou para trazer a análise situacional de Moçambique contemporâneo me fez acreditar que a imparcialidade dos acadêmicos para a sugestão de opções de qualquer ordem é fundamental para o bem estar e constr...See More
  • Eusébio A. P. Gwembe José Francisco Narciso, eu acredito que é possível desarmar a Renamo, tal como diz Raúl Salomão Jamisse, sem recorrer à violência. Veja que enquanto uns vêm em Afonso Macacho Marceta Dhlakama a maior ameaça à paz, outros tantos acham ser o actual PR p...See More
  • Safari Parque Mucapana Gagnaux Se o objectivo de governar é servir, porque é q não se faz uma lei eleitoral q faculte ou favorize a alternância do poder? Pois a lei q temos é apenas efectivamente democrática nalguns países desenvolvidos. Acho que, independentemente da forma errada ou certa, é o q a RENAMO quer e o governo não! Por favor concedam tudo o q seja justo e não favorizem mais nenhuma das partes! E não demorem por favor! Philippe gagnaux
  • Raúl Salomão Jamisse Mr Safari Gagnaux há uma coisa que deve ser bem entendida, há uma máxima Latina que diz "dure lex sine lex" isto é, a lei é dura mas é a lei e com isso quero dizer que a tua posição é correcta mas pode pecar por querer um tratamento tão urgente que até banalize as leis que temos.
  • Chinhacuza Joaquim Desta vez Eusebio escreveu bem ate os seus comentarios dao a paz a alma e a moral
  • Raúl Salomão Jamisse Mr Safari Gagnaux há uma coisa que deve ser bem entendida, há uma máxima Latina que diz "dure lex sine lex" isto é, a lei é dura mas é a lei e com isso quero dizer que a tua posição é correcta mas pode pecar por querer um tratamento tão urgente que até banalize as leis que temos, ora Vejamos hoje fala-se de proporcionalidade porque existe uma lei que a acomoda e para mudar isso é preciso calma e procedimentos
  • Safari Parque Mucapana Gagnaux E' verdade por isso o homem faz guerra desde os primórdios dos tempos! E ainda não incluiu a proibição da lei, na lei! He he he Essa máxima da dura léx... foi feita por homens, em casos de guerra os homens podem e devem ser tolerantes... E mudar a Léx. Não disse q a RENAMO tinha razão! Disse que era isso q queriam. E a lei é diferente em vários países. Pelos vistos alguns de vcs são a favor da máxima nem q dê guerra! Eu não! Sou a favor da paz! A todo e qqr preço!
  • Safari Parque Mucapana Gagnaux A proporcionalidade tb pode ser injusta e todos sabemos q a que se tiveres sido eleito por fraude ficas em vantagem para continuar a fazer fraude. Isso pode servir numa assembleia. Num orgao eleitoral supostamente neutro não faz sentido.
  • Safari Parque Mucapana Gagnaux Tem q haver neutralidade nas decisões eleitorais e não só
  • Safari Parque Mucapana Gagnaux Os procedimentos calmos arrastam se a muitos anos! Não digo q se o Dlakama dissesse agora quero ser presidente que se deve-se ceder! Mas se diz q essa lei não é justa propondo algumas modificações q serão válidas para ambas partes deve se aceitar este tipo de coisas pois são pacíficas. E' um preço baixo a pagar para evitar a guerra. Philippe gagnaux
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