domingo, 17 de novembro de 2013

Afonso Dhlakama e a derrocada (final) da Renamo

É sabido por quase todo o mundo que a Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) foi um movimento facínora, terrorista e sem definição política. É sabido ainda que a Renamo, fundada nos anos setenta pelo Sr. Ken Flowers e pelos serviços secretos da então Rodésia do Sul (hoje Zimbabwe), na altura designado Movimento África Livre e depois MNR, tinha como objectivo principal desestabilizar a República (Popular) de Moçambique e debilitar a sua base económica e infra-estrutural, a área política, social, e cultural.
Ao fazê-lo, estaria o MNR não só a prestar serviços ao regime de Ian Smith visando fazer com que Moçambique e o seu governo não prestassem apoio ao irmãos Comrades da ZANU-PF, que lutavam pela independência total e completa do seu país, mas principalmente para criar uma base de rejeição à independência e à Frelimo pelo povo e restituir o poder aos colonialistas portugueses que reclamavam os seus prédios, as suas fábricas e demais infra-estruturas nacionalizadas –o Cristina e Co foram os percussores dos contactos com o Sr. Ken Flowers para a formação do Movimento África Livre. E mais ainda, ao desestabilizar Moçambique o Movimento África Livre, aliás o MNR, iria propiciar um clima de dependência quase que total de Moçambique ao regime do “apartheid” da África do Sul e da Rodésia do Sul, e para muitos colonialistas portugueses e assimilados moçambicanos que se haviam refugiado nestes países.
   
No seu modus faciendi e operandi, o MNR, definido, estruturado e apoiado logisticamente pelo regime da Rodésia do Sul, e de tanto instrumentalizado, visava a destruição de infra-estruturas tais como pontes, estradas, oleodutos, escolas, lojas, cantinas, hospitais, mutilando cidadãos indefesos, queimando camiões com mercadorias, pessoas, que incluíam crianças indefesas, semeando terror e luto, comparado apenas com os Khemer Rouge, movimento que aterrorizou e perpetrou uma das maiores carnificinas na Ásia a que o mundo testemunhou e equiparada apenas ao holocausto dos nazis.    
O seu primeiro líder, André Matsangaissa, morto num ataque à Casa Banana, Gorongosa, pelas FPLM, deixou espaço para que o Sr. Afonso Dhlakama manieta-se alguns elementos do grupo para assassinar o outro proeminente líder, o Muchanga, por via de um pelotão por si constituído e engendrado. Face à sua morte foi indigitado líder deste movimento. Foi na liderança de Afonso Dhlakama que o MNR se tornou num movimento guerrilheiro mais alargado e disperso por quase todo Moçambique agindo como um esquadrão de morte sem olhar a meios: palhotas queimadas, casas destruídas, pessoas mutiladas, orelhas arrancadas, olhos queimados, lábios decepados, mamas arrancadas do peito, seres humanos pilados, e tudo isso em nome de uma guerra fictícia contra o marxismo-leninismo, como se tal marxismo-leninismo estivesse enraizado nas partes decepadas dos corpos dos moçambicanos, embutido nas paredes de escolas e hospitais, nas pontes e estradas deste país que é nosso e não do Sr. Afonso Dhlakama.
Após a independência da então Rodésia do Sul, em 1980, baptizado de Zimbabwe, o MNR foi transferido para o regime do “apartheid” num acordo sancionado pelo Governo do regime da África do Sul para servir os seus interesses e continuar a acção que havia sido definida outrora e desde a sua génese. De lembrar que fontes fidedignas apontam para a atribuição de um vencimento de 800-900 rands por mês a Afonso Dhlakama, salário esse que pagava a sua acção visando mutilar, destruir, queimar Moçambique e o povo moçambicano, seu próprio povo. Como se pode denotar, o modus faciendi e operandi do MNR, hoje Renamo, não mudara com o seu novo patrão, antes pelo contrário e dada a natureza e génese do “apartheid”, dos seus líderes, a situação exacerbou-se e vimos o próprio exército sul-africano lado a lado com a Renamo e Afonso Dhlakama a tentar a todo custo pulverizar Moçambique e seu povo; mas dezasseis anos não lograram tais intentos.
GOVERNO SEMPRE PROCUROU A PAZ
OS ventos de mudança vieram com a queda do “apartheid” nos anos 90. É pertinente aqui lembrar que mesmo antes da queda do “apartheid” o Governo de Moçambique sempre procurou a PAZ junto dos irmãos e outros, mesmo que sanguinários, e tal resultara no Acordo de Nkomati, um pacto de não-agressão entre Moçambique e a África do Sul, o qual não surtiu o efeito desejado. Ainda nos anos 80, precisamente a 83 e ou 84, nova tentativa quase dera efeito mas a assinatura da declaração de 3 de Outubro (coincidentemente a mesma data proposta para o AGP que ora foi assinado a 4 de Outubro de 1992 e que sobreviveu, com alguns percalços leves, 21 anos) não aconteceu porque uma figura proeminente de Portugal questionaria a contraparte do MNR se a declaração continha como parte integrante a desnacionalização dos prédios e outros bens –resposta negativa resulta na não assinatura da declaração. Como se pode denotar, a agenda da MNR (hoje Renamo) sempre fora estabelecida por outras forças estranhas à própria direcção (!?) do movimento: os patrões!
Com a queda do “apartheid” e com ele os canais de apoio logístico, financeiro e outros quase debilitados e ou cortados, a intervenção da sociedade, do clero, a Comunidad Saint Egídio, o MNR viu-se obrigado a aceitar o Acordo Geral de Paz, pondo fim a uma guerra de desestabilização que durara 16 anos, impedindo que a jovem nação moçambicana pudesse ter tido uma oportunidade de prosperar logo após a sua independência.
Após pouco mais de duas décadas de paz efectiva, com um e outro percalço no processo democrático e pluripartidário, aventava-se um MNR mais politicamente talhado no que hoje se designa de Renamo, metamorfoseando-se em uma organização civilizada, cívica, e agindo como um partido político em face do facto de maior parte, senão todos os pontos do AGP de Roma terem sidos incorporados na Constituição da Republica pós-AGP. Seria de acreditar na sua desarmação e integração numa sociedade sem guerra.
Contudo, o medo de retaliação pelo povo, a incerteza e a desconfiança, acrescida do facto de a identidade inculcada nela por Ken Flowers e mais tarde o “apartheid”, a Renamo não conseguiu fugir e abdicar do seu maior bem e demais precioso, o poder sanguinário de matar e reter refém um povo sob a mira da arma. Para o efeito, manteve escondidos nas florestas de Moçambique homens que na altura jovens, hoje os parcos terroristas armados nos seus 50-60 anos de idade que, negados o seu direito de integrar o exército único, as FADM, foram constituídos em uma guarda presidencial do Sr. Afonso Marceta Macacho Dhlakama. 
Mesmo assim, na sua fictícia transição de movimento de guerrilha a partido político, um processo nada fácil, a Renamo foi mutilando a sua capacidade de inserção e ambientação, expulsando crânios, tais como o falecido Faite, o Chico Franscico e o Raul Domingos, situação que se precipita com a morte de David Aloni. Novas aquisições urbanas dariam um alento a este movimento, mas tal como se pode denotar, foi de uma nulidade total, pois o Sr. Afonso Dhlakama e a Renamo nunca se haviam divorciado do seu modus faciendi e operandi  e esta ala urbanizada não conseguiu o espaço que pensara obter e ocupar para tomar a Renamo de assalto e torná-la um partido político em face dos seus interesses, que não haviam sido conseguidos por via da sua filiação ao partido do governo do dia.     
Durante vários pleitos eleitorais, a Renamo, que optara por os boicotar, ameaçou sempre retornar à guerra caso perdesse. Ora, fica claro que ao notar o seu gradual definhar entanto que partido político com representação parlamentar e noutros órgãos de soberania, a Renamo decidiu revelar-se como sempre fora a sua natureza: um movimento criado para matar, desestabilizar e atacar alvos civis para conseguir os seus intentos pela força da AK47 e ludibriando o povo com mensagens de paz e não retorno à guerra. E importa sublinhar que esta nova investida da Renamo não é contra o comunismo, o marxismo-leninismo, ou o socialismo, mas sim a democracia propaladamente trazida por esta e contra o capitalismo social (?) que hoje se vive em Moçambique.
SUICÍDIO POLÍTICO
O Sr. Afonso Dhlakama, ao mudar-se para a cidade de Nampula (abandonando o centro do poder político e de contacto com o mundo diplomático), dava assim continuidade ao seu suicídio político, que iniciara, como se menciona acima, com a expulsão de nomes sonantes e com capacidade negocial, de pensar e de estar na sociedade. Rodeado de patentes militares do seu movimento guerrilheiro fiéis seguidores (guarda presidencial de Afonso Dhlakama), na sua maioria iletrados e ou com um nível de escolaridade muito reduzido, inicia o que Dhlakama pensava ser a sua última cartada para assaltar o poder e ou partilhá-lo com o governo do dia, ignorando a existência de outras forças políticas e da sociedade (notório na discussão sobre a paridade e o acomodar da Renamo face aos recursos descobertos e em vias de uma exploração massiva). Não logrando os seus intentos a partir de Nampula, que amiúde misturados com assuntos passionais, o Sr. Afonso Dhlakama, driblado ou não pelos seus assessores políticos (militares?) rumou a Sanjundgira, no centro de Moçambique. Neste local, pensava Afonso Dhlakama recuperar a sua hegemonia de guerrilheiro astuto, com poderio de, usando ameaças incendiárias, estando no meio do mato (entenda-se local propício para guerrilha) e na posse de armas e pessoas de carreira militar da sua confiança, recuperar esse estatuto há muito perdido e queria ele pressionar o Governo a vergar-se perante si e aceitar um GUN (Governo de Unidade Nacional), ou forçar um pacto político com o Governo (teria sido estrategicamente viável se o interlocutor tivesse sido o partido maioritário) para acomodar uma Renamo já politicamente moribunda. O Sr. Afonso Dhlakama lograra até conseguir levar o Governo à mesa de diálogo e conseguira alguns ganhos. Contudo, a sua ambição desmedida e maus cálculos estratégicos levaram-no a “esticar a corda” até que esta quebrou, resvalando-se para a situação político-militar actual no país e a perda do leverage que ele havia de uma maneira (astuta) ou de outra (pressão ao governo pela sociedade e forças externas) conseguido obter. Aqui saiu a ganhar o novo movimento que se formou a partir de uma costela da própria Renamo.
Com a perda deste leverage, a posição da Renamo inverte-se e está a esta altura este movimento/partido numa situação de guerra contra si mesmo e contra o povo moçambicano que o elegeu, abatendo e catanando indiscriminadamente moçambicanos, exactamente numa zona onde esta sempre teve o seu maior apoio e mais acima, Nampula, Rapale, onde se refugiou o seu contingente da guarda presidencial. Estão a Renamo e o Sr. Afonso Dhlakama numa situação sem volta, caso insista em manter-se escondido e fugitivo nas matas (?) de Gorongosa, face à tomada de Sanjundgira e à sua mítica base de Marínguè. Está a Renamo numa situação não muito diferente da UNITA quando Jonas Savimbi resolvera regressar às matas e reiniciar uma guerra sem quartel. Será este o melhor caminho para Afonso Dhlakama e o seu partido, que está em clara violação da Constituição da República de Moçambique? Estaremos nós a presenciar a possível derrocada final da Renamo nos moldes em que ela foi criada e recriada após o AGP de Roma?
DOS CENÁRIOS
Tudo indica que a Renamo, caso o Sr. Afonso Dhlakama continue foragido e ausente do cenário político, vai-se desmembrar em uma Renamo Renovada e ou venha a ser declarada ilegal pelos órgãos competentes, pois sem líder, em guerra e matando e mutilando o país, tal como o fizera desde a sua génese, nada obsta ao Tribunal Constitucional de o fazer. Esta hipótese já é ou tem alguma razão de ser, pois como se pode denotar aqui, o Sr. Afonso Dhlakama, provavelmente, deixou a corda esticar de propósito, pois a tomada de assalto a Sanjundgira revela ao MUNDO que a Renamo já se havia (ou está em processo de divórcio) divorciado dos seus aliados citadinos, a elite urbana política da Renamo, que claramente violara a sua ordem de não ocupar o parlamento nacional e as assembleias provinciais – novos símbolos, bandeiras e planos vieram à tona, duas ou três Renamos?!?
A Renamo, a decidir-se por continuar com as acções e incursões militares, não propriamente uma guerra civil (por enquanto), acabará como a UNITA militar de então, ou o M23 na RDC que recentemente depôs as armas e disse não à guerra assinando um acordo de cessar-fogo e de paz. Ou acabará o Sr. Afonso Dhlakama tal como o senhor de guerra, Joseph Koni, da LRA, um foragido por ter cometido crimes de guerra, sendo a esta altura objecto de uma caçada por soldados do seu país e uma força estrangeira (a dos Estados Unidos da América no caso de Joseph Koni, o qual viu-se obrigado a refugiar-se nas florestas da República Centro Africana, ido do Uganda).
Não me ocorre que ele, Afonso Dhlakama, seja autorizado a esconder-se nas matas e ou florestas de qualquer um dos vizinhos de Moçambique, sendo estes membros da SADC. Devo lembrar que a SADC lançou um repto, um aviso clarividente à Renamo na sua mais recente cimeira em Pretória, África do Sul. No âmbito do seu mandato, a SADC pode reunir tropas para intervir em Moçambique, não só para apoiar o Governo na reposição da ordem e tranquilidade públicas e bem-estar social e político dos moçambicanos, dando a todos uma plataforma segura e estável na região, mas também para salvaguardar os seus interesses (gás e portos para África do Sul, os corredores para os países do hinterland, os oleodutos para o Zimbabwe, o transporte de mercadorias e energia para todos os países da região, etc.).
Esta força da SADC teria na minha modesta análise apoio das grandes multinacionais que estão a investir triliões de dólares norte-americanos em prospecção, exploração e instalação de infra-estruturas no sul (Sasol em Temane), centro (Vale, Rio Tinto, Jindal, outros em Tete, Sofala e Niassa) e norte (Statoil, ENI, Anadarko, etc., em Cabo Delgado) do país.
O que realmente quer a Renamo alcançar num país onde as suas ameaças estão a esbarrar em ouvidos de mercador, pois o povo moçambicano está farto de guerra, de matança e, para o efeito, mesmo debaixo de ameaças, este mesmo povo foi recensear-se para as eleições autárquicas (acima de 82% dos possíveis eleitores) e está este mesmo povo em campanha eleitoral pacífica, apesar dos tiros que sibilam pelo vento fora na zona centro semeando luto e destruindo hospitais e infra-estruturas.
Eis a Renamo que não deixou de ser o Movimento África Livre, o MNR que o Sr. Ken Flowers criou e hoje é dirigida por um senhor de cabelo branco, com cerca de sessenta anos, e que deveria ser mais sensato, a brincar de guerrilha, desrespeitando um POVO e os seus próprios pares e precipitando hoje o seu partido para a sua derrocada final: seu possível total desaparecimento do espectro política moçambicano vis a vis a sua reinvenção!
Manuel Cabinda
NOTÍCIAS – 18.11.2013

1 comentário:

Anónimo disse...

Não passas de um palhaço com vestes de hostoriador. Cale a boca!!!!!!!!!!