sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Em clima de tensão, que estratégias movem Presidente de Moçambique?

Em clima de tensão, que estratégias movem Presidente de Moçambique?

Armando Guebuza atua em várias frentes, quer ao nível da sua sucessão ou da hegemonia da FRELIMO em Moçambique, segundo o analista Henriques Viola. Face às vozes contestatárias, Presidente faz ouvidos de mercador.
Em Moçambique os confrontos militares entre o exército e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), a principal força da oposição, desencadeiam várias especulações sobre os objetivos do Presidente do país, Armando Emílio Guebuza, ao ordenar o ataque das suas forças às posições do partido liderado por Afonso Dhlakama.

Tanto os ataques como as sucessivas aquisições de equipamento militar acontecem em época de campanha eleitoral para as autárquicas de 20 de novembro. E até ao momento não se conhece o candidato da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), o partido no poder, para as eleições presidenciais de 2014.

A DW África conversou com o analista político Henriques Viola, do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais, sobre a estratégia e objetivos por trás da conduta do chefe de Estado.

DW África: É do conhecimento público que há membros da FRELIMO que contestam algumas medidas do atual Governo. Acha que a atual tensão político-militar poderá desencadear algum tipo de desentendimento mais forte no seio do executivo ou do partido no poder?
Henriques Viola, analista político do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais
Henriques Viola (HV): Na verdade, a FRELIMO está a viver, há muito tempo, uma dicotomia de opiniões que, às vezes, dá a imagem de que possíveis fraturas internas possam levar a uma possível cisão. O principal problema, neste momento, do ponto de vista das diferenças internas dentro do partido FRELIMO, tem que ver essencialmente com o facto de Armando Emílio Guebuza não ter apontado ainda o seu sucessor.
Eu penso que, neste momento, o Presidente Guebuza joga em quatro tabuleiros. O primeiro é o da sua sucessão, em que ele tenta mostrar internamente, dentro da própria FRELIMO, que ele é que tem o maior poder. O segundo é ao nível da hegemonia política nacional do seu próprio partido.
O terceiro, considero ser o tabuleiro da sua relação com a sociedade civil moçambicana. Nesta medida, nas manifestações que aconteceram recentemente, boa parte da população disse clara e diretamente ao Presidente que quer que mude na sua forma de governar, essencialmente no que respeita à defesa e segurança. Armando Guebuza tem feito ouvidos de mercador e quer demonstrar à sociedade civil que, neste tabuleiro, ele é que ganha.
A instabilidade motivou o reforço policial, em particular na Estrada Nacional 1, na zona de Muxúnguè, centro do país
O quarto e último tabuleiro é o da sua relação com a comunidade internacional, na medida em que logo no início dos primeiros confrontos militares houve vários comunicados das várias chancelarias representadas aqui em Moçambique que eram comunicados muito fortes. Mas Armando Guebuza continuou a fazer ouvidos de mercador, demonstrando à comunidade internacional que, no território nacional, ele é o galo, ele é quem manda e faz.
São esses quatro pontos que Armando Emílio Guebuza deverá resolver, tendo como principal enfoque a questão da sucessão, a questão das eleições autárquicas e a questão dos confrontos militares na zona centro de Moçambique.

DW África: Se Armando Guebuza e as forças governamentais conseguirem controlar o país e aniquilar militarmente a RENAMO, poderia esse cenário servir de passaporte ao Presidente para impor alguém da sua confiança para candidato às próximas eleições presidenciais, em 2014, como por exemplo a sua esposa, Maria da Luz Guebza?
Exército moçambicano atacou a base da RENAMO em Satunjira, em outubro, o que motivou a fuga para parte incerta do líder da RENAMO
HV: Sim. Fala-se de muitas individualidades que são, todas elas, muito próximas ao próprio Presidente Guebuza. Obviamente que uma situação de vitória militar, liderada por Armando Emílio Guebuza, pode desequilibrar um bocadinho mais as forças dentro do próprio partido FRELIMO. E demonstrar que, em função disso, a mão de Emílio Guebuza tem uma maior vantagem e hegemonia para apontar o próximo inquilino do Palácio da Ponta Vermelha.

DW África: E também se o exército moçambicano conseguir resultados positivos frente à RENAMO, será um motivo para isolar os contestatários de Armando Guebuza no seio da FRELIMO?

HV:
Eu não tenho muitas dúvidas de que Armando Emílio Guebuza vai jogando nestes tabuleiros todos. Ainda na tentativa de aniquilar os contestatários internos, vem circulando por aqui uma carta contra os ditos “goeses”, que são parte da FRELIMO, mas que têm sido uma voz bastante viva ao contestar algumas medidas de Armando Guebuza.

Em clima de tensão, que estratégias movem Presidente de Moçambique?

Estou a falar, por exemplo, do Óscar Monteiro e do Rebelo, que tiveram uma ação muito forte dentro da própria FRELIMO, principalmente no pós-independência. Mas hoje o próprio Presidente vem colocando essas figuras de lado, apontando, em parte, como os apóstolos da desgraça. Portanto, é possível que essa vitória sobre a RENAMO sirva também para demonstrar que Armando Emílio Guebuza é o único galo que canta quer dentro do partido FRELIMO quer a nível da sociedade moçambicana.

DW África: Os ataques realizados pelo exército moçambicano contra a RENAMO podem enfraquecer a imagem de Armado Emílio Guebuza, que já é muito criticado no país?

HV:
Esta é uma leitura possível. Se os resultados destes confrontos militares, desta guerra não declarada que Moçambique está a viver hoje, vão realmente contra ou a favor da imagem de Armando Emílio Guebza. Penso que é um bocadinho difícil de prever. Mas neste momento concreto, os dados apontam para uma grande perda de popularidade do Presidente Armando Emílio Guebuza.

DW.DE

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