Uma novela de cordel na presidência do Conselho de Ministros. A opinião de Pedro Cruz
Há um momento do crescimento em que os miúdos querem ir nadar para a piscina dos grandes.
Faz parte e é natural.
(quando somos pequenos queremos ser grandes, quando já somos grandes, gostávamos de voltar a ser pequenos)
E, por fim, chega o dia de entrar na piscina dos grandes.
É preciso ter alguns cuidados. Estar vigiado por adultos, ter noção da profundidade das águas, não ir de cabeça, não fazer piruetas no mergulho e perceber a dimensão do espaço à volta.
No limite, é um pouco humilhante mas às vezes avisado, levar umas braçadeiras, só por segurança.
Os miúdos da jota chegaram à piscina dos grandes.
Deixaram as guerras dos congressos das juventudes, saltaram das juntas de freguesia e das câmaras municipais, das distritais e das concelhias, onde todos se conhecem e trocam favores de lugares, nomeações e emprego para candidatos que perdem eleições e não sabem fazer mais nada porque são "jovens políticos de carreira".
Entraram na presidência do Conselho de Ministros.
Coisa pouca.
É o lugar de onde se comanda politicamente o Governo, onde estão os mais próximos do primeiro-ministro, a sua tropa de combate e de confiança.
Mas não levaram braçadeiras.
Mergulharam logo de cabeça, com saltos de pirueta sem medir a profundidade.
E mandaram vir os amigos, as namoradas, os primos, os filhos dos amigos, os camaradas da jota, os colegas de faculdade.
Uma festa. Todos juntos na piscina dos grandes como se não houvesse amanhã.
O adulto que deveria estar a vigiar os miúdos anda distraído.
Deixou-os sozinhos, à vontade, sem controlo.
Faz lembrar os putos que vão para o sul de Espanha nas férias da Páscoa.
Só que a Presidência do Conselho de Ministros não é Lloret del Mar, o Governo não é uma estância balnear e o Estado não é uma piscina.
Ou é?
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