domingo, 7 de abril de 2019

O ciclone IDAI e nossa reputação

O ciclone IDAI e nossa reputação
O ciclone IDAI veio descobrir a nossa pobreza, expor a nossa incompetência, despir o nosso orgulho e escangalhar o pouco que restava da nossa reputação. Somos um país que se julga país, quando, na verdade, de país apenas temos nome. Somos uma nação que ainda não passou de um projecto de uma nação. Gritámos e reclamámos que somos patriotas, quando queremos dar golpes corruptos sobre a nossa pátria.
O ciclone reforça a minha reclamação e a reclamação de muitos excluídos de participar na construção de um país de todos e para todos. A partir de hoje, porque atingimos o grau zero de reputação, o Governo deve deixar de olhar para os que pensam diferentes como oposicionistas e como "eles" contra "nós". Deve olhar "eles" como aqueles que querem construir uma nação e um país no qual todos sonham viver. Devemos construir um país em que os moçambicanos não sonhem abandonar, mas aquele que todo o cidadão que esteja fora não veja a hora de regressar ao seu país. Tínhamos chegado a esse nível, mas alguns que se julgam mais patriotas retrocederam o país para níveis humilhantes. Hoje, o moçambicano no exterior sofre bullying, é visto como aquele país em que o seu governo "escondeu uma dívida", aquele país com taxas de juros mais altas do mundo, aquele país amaldiçoado, onde acontece todo o tipo de maldade, aquele inferno.
Já houve tempo que em as notícias eram sobre milhares de estrangeiros repatriados semanalmente. Éramos procurados, porque éramos a terra prometida.
O ciclone IDAI despiu-nos. Andámos com uma mão a cobrir os nossos órgãos genitais e outra a cobrir o nosso traseiro. Todos nós. Explico porquê.
1. Em 44 anos de independência andámos em conflitos entre nós. Andámos a investir em forças armadas, forças policiais e em Serviços de Segurança para controlar os Mabundas e compania que criticam a nossa governação. Investimos nessas instituições para assegurarem as nossas vitórias eleitorais.
2. Quando o IDAI nos fustigou, não fomos nós que salvamos os nosso maravilhoso povo. Foram estrangeiros: sul-africanos, europeus, americanos, asiáticos. Foram as organizações das Nações Unidas como PMA que alugaram helicópteros e aviões de carga. Não foram os militares, polícias nem sises altamente equipados. Estes têm mais armas e carros blindados para disparar e espancar os indefesos.
3. Quando o IDAI nos despiu as calças e toda a nossa roupa interior, foram as ONGs que combatemos que foram nos salvaram e continuam a salvar-nos.
4. Os sul-africanos e os ocidentais vieram fazer o que nós não conseguimos fazer: trouxeram seus avião para salvar milhares de pessoas, enquanto nós discutíamos se Daviz Simango foi ou não convidado ao Conselho de Ministro da Beira. Enquanto os ocidentais e sul-africanos salvavam o nosso povo, o nosso Presidente, em vez de disponibilizar o seu helicóptero para a salvamento das pessoas, sobrevoava as zonas afectadas, assistindo às pessoas penduradas nas árvores e nos tectos quão fotojornalista em plena actividade.
5. Enquanto não sabíamos o que fazer e o nosso povo bebia a mesma água turva que o matava, eles abriram furos de água e purificavam a mesma água, tornando-a potável.
6. Quando as doenças nos deixavam desesperados e nus, com as duas mãos nas mesmas posições, eis que eles drenam toneladas de medicamentos e vacinas para cólera. Nós sempre assistindo. Enquanto a fome espreitava e nós, sempre improdutivos, apareceram eles para nos dar de comer.
7. Quando esses donativos vinham em dinheiro e em espécie, emergiu outro problema. Ninguém confia em nós porque somos ladrões, corruptos, imorais e amorais. Os que nos ajudam, em vez de se preocupar em angariar donativos, tinham de se preocupar com a nossa falta de integridade, com a nossa capacidade e competência em roubar mesmo perante um fiscalizador. Tinham de nos pressionar para encontrarmos um auditor que pudesse servir de fiscal, um guarda, um sentinela, porque senão os seus donativos não chegavam aos necessitados. Humilhante. Somos humilhados pela nossa incompetência e pela nossa falta de integridade.
8. Enfim, nós somos incompetentes. Não conseguimos produzir a nossa comida, não conseguimos construir infra-estruturas hidráulicas que amortecesse o impacto das cheias como tem acontecido sempre que os rios enchem, não temos mecanismos de evacuação das pessoas, não temos mecanismos de resgates das pessoas, não conseguimos purificar a água, nem tirar as pessoas sobre os tectos e árvores.
Então, o que nós sabemos? Ahhhh, boa pergunta. O que sabemos é roubar aos pobres, violentar os pobres e indefesos que reclamam, sequestrar e assassinar à luz do dia os que nos querem iluminar com o seu conhecimento. O que nós sabemos perfeitamente fazer é inventar prioridades para roubar. Investir em forças de defesa e segurança para garantir os nossos resultados eleitorais e controlar os que nos criticam. O que nós sabemos bem é ameaçar, deter e acusar jornalistas que nos fiscalizam.
Mais o que nós mais bem sabemos fazer é não fazer nada. O resultado é esse: o IDAI despiu-nos.
Sobre a auditoria às comidas, acompanhem os comentários de Ana Gomes. A Cruz Vermelha portuguesa está a auditar os seus donativos. Intervenção bastante contundente.
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No espaço de comentário no Jornal de Domingo da SIC Notícias, Ana Gomes analisa a tragédia em Moçambique, o caso Rui Pinto, o Brexit e as declarações de António Costa sobre o euro.
Comentários
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  • Tome Mutombo Muito Forte.
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  • Cremildo Nhoela Boa Mabunda falou toda verdade
  • Abel Philip O mensagem que vale a pena lêr, o texto com grande liçao, parabéns Lázaro Mabunda....

    *Estou de acordo contigo, de um tempo para cá, Moçambique tem se destacado internacionalmente atravez de roubo financeiro, desabamento da lixeira de Hulene, prisao dos Changs, hoje IDAI.
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  • Idelson Dino Salomão Mabunda O texto esta bem resumido e esse ladroes tinham que lerem e terem o texto em fisico
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  • Jofrice Albino Moz Nem mais... Tudo dito.
  • Benvindo Chaguala Como nação somos uma vergonha...
    Somos a HUMILHAÇÃO da ESPÉCIE HUMANA. ..
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  • Manuel Mungulume Muito bem colocado, cabe aos inconscientes ganhar a consciência!
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  • Anselmo Acacio Escreveu bonito mas trouxe nada novo, escreveu com coração de mulher magoada. Meus senhores todos males ja foram identificados, todos criticam ate vezes sem conta doqui criticam e os outros batendo palmas com comentários como: 1. Bem colocado. 2. Somos uma vergonha
    3. Falou e disse. 4. Assino em baixo..... Por ai por ai.
    Que tal se os críticos em cada erro, colocassem uma ideia solução?
  • Manuela Goucha Soares Gostei de ler Lázaro Lazaro Mabunda . Mas é preciso que continue a falar e a escrever
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  • Lourenco Timba Ponto parágrafo.
  • Sergio Real bem dito meu grande camarada.espero q o povo viva o grito.
  • Manuel Guiza-guiza Isaac-g O pior cego é aquele que não quer ver, não sei prq q o Anselmo Caio ñ quer aceitar q é isso que estamos a viver e q somos conhecidos pelos nosso catos macabro, somos corruptos, lados, aproveitadores dos podres e indefesos, etc
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  • Baltazar Vasco Boa reflexão, mano Lazaro Mabunda. Pura realidade. Eu subscrevo-me!

    Quando eu crescer, quero ser igual a você!
  • Arlindo Alfredo Macheque A Renamo tem k governar.
  • Arlindo Chissale Estamos na rasta de onde viemos e cabe a nos, decidir o que queremos...
  • Ulsaya Maguibanyane Muitíssimo bem, Lazaro Mabunda. Tiraste um retrato/foto excelente do que somos por conta de um grupelho.
  • Stanley Mundundu Ixi.... Rx completo
  • Nina Cossa Muito profundo
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  • Yaqub Sibindy O nível requerido, numa solução política do tipo raio X, sobre a situação caótica em que se encontra mergulhada à Nação Moçambicana, passa por uma mudança obrigatória da equipa que governa e do próprio sistema governamental que está a frente da Administração do País há mais de 40 anos!

    Não há solução intermediária para manter ainda a Frelimo no Poder!

    A Administração quarentona da Frelimo tem que partir em Outubro/2019, infelizmente a Oposição Liderada pela Renamo, não está a levar à sério à agenda da Mudança Governamental sugerida pelo PIMO formalmente desde 2016! 

    Renamo, pensa que a Agenda da mudança governamental em Moçambique, é simplesmente uma agenda doméstica do PIMO, isso não é verdade. Mudança Governamental é uma agenda pública que supera balizas de interesses partidários! 

    É preciso que os moçambicanos, em plena praça pública, comecem a discutir plenamente às estratégias para a Mudança Governamental no País e Planificar um NOVO MOÇAMBIQUE e a Renamo pela sua posição geoestratégico eleitoral, deve assumir publicamente a moderação do debate sobre a pacífica e ordeira Mudança Governamental em Moçambique!

    Depois do PIMO ter manifestado ao público moçambicano que à presente crise política do País, comprovada pela institucionalização da corrupção e gatunagem governamental como sistema normal da Governação do País, o PIMO disse, já é chegado a hora da destruição vertical do Edifício da Administração Corrupta da Frelimo e no mesmo terreno Planificar a construção de um NOVO MOÇAMBIQUE, verdadeiramente de justiça do Estado de Direito e Democrático! 

    Sai mais barato para os moçambicanos destruir essa ruína da Frelimo, nas eleições gerais deste ano e unidos, construir uma nova Agenda de Governação NOVO MOÇAMBIQUE!
    Nenhuma descrição de foto disponível.
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  • Estêvão Manhiça Vergonhoso... Apadrinhamos e naturalizados a corrupção... Em todos os sectores há gente (do governo ou do partido) a tirar vantagens sem olhar para os prejuízos que está/vai causar aos mais vulneráveis...são tantos como tu ò Lázaro que tentaram mostrar uma nova luz...alguns até foram silenciados... Neste país é mais fácil renovar a frota de gente que só contribui para encargos financeiros ao Estado que equipar a proteção civil... Não há bombeiros a altura, não há serviços de resgate, não há nada... Não fossemos vizinhos da Àfrica do Sul estávamos na tanga... É mais fácil sair uma equipe sul africana para apoiar que uma equipe de Maputo...isto é vergonhoso...
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    • Lobao Joao Mas nos tambem apoiamos ANC e os sul-africanos na sua luta contra o Apartheid. Se fosse no tempo do apartheid esse apoio viria? tenho muitas duvidas
    • Arnaldo Mendes Lobao Joao numa situação de calamidade, costuma-se deixar de lado certas diferenças
  • Francisco Cruz Apoiado essa e exaltacao a Patria
  • Zod Charles Disse e como disse.
  • Joao Nhampossa Disse e muito bem ilustre, dirigentes deste país gostam muito do "faz de conta".
  • José João Muianga Muianga Estamos à beira dum precipício.
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  • Joao Andre Nhatsumbo Palavras sábias.
  • Adriano Novela Descrição exacta do que somos.
  • Noémia Xerinda Retrato triste, humilhante mas, fiel da situação actual.
    • Lobao Joao Minha senhora ele te chamou de corrupta. Disse todos, incluindo ele.
    • Arnaldo Mendes Lobao Joao Chamou os da Frelimo que nos governam (?) a 43 anos
  • Hilario Simbine 😭😭😭🙈
  • Almiro Matias Langa Hummmmmmmmmm os jornalistas não devem ser imparciais???
  • Dercio Gimo Força ai este pais precisa de pessoas cm mente brilhante e nao de espertinhos
  • Mahamad Hanif Mussa Lazaro Mabunda, gostaria de republicar este texto mas com devido crédito. Por isso, clarifica-me uma coisa: o texto é uma transcrição do conteúdo da SIC ou é da tua outoria? Muito agradeço. Abraço
  • Mauricio Da Conceicao mas esta e a nossa realidade o nossos diregentes so sabem roubar
  • Násio Mangue Um DNA da governação, situação triste🤕.
    • Gosto

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